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Riscos naturais e movimentos de vertente no contexto geomorfológico do maciço antigo Português.

Capítulo C1 Os problemas do estudo dos movimentos de vertente na constituição de um sistema de informação geográfica.

1. Riscos naturais e movimentos de vertente no contexto geomorfológico do maciço antigo Português.

Desde sempre a análise dos movimentos de vertente coloca a ênfase em dois factores domi nantes: a precipi tação e a litologia. No contexto regional a li tologia aparece como sendo o factor diferenci ador das áreas que env olv em maior ou menor probabilidade de ocorrênci a de movimentos de materi ais na v ertente. A rgilas, areni tos argilosos e margas são consideradas as rochas que potenci am maiores condições para o desenv olvimento deste tipo de ev olução de v ertentes. A s regiões sedimentares aparecem como sendo as que desenvolvem maior número de movimentos de vertente sendo, portanto , as que oferecem riscos mais elevados.

Em contraparti da, as rochas dominantes no maciço antigo Português, os granitóides e os metassedimentos, não são considerados como rochas que env olv am grandes riscos no que se refere à ev olução de vertentes. Estes ti pos de litologia aparentemente não se encontram identi ficados com uma ev olução geomorfológica muito marcada pela presença de movimentos de vertente. O conjunto bibliográfico que recolhemos é disso reflexo.

Conforme foi referido no capítulo B1, a litologia domi nante no N de Portugal corresponde às rochas granitóides e aos complexos

metassedimentares. Com efeito, a área experimental do nosso trabalho (a área de Guimarães) apresenta franca dominância de grani tóides, alternando com estreitas faixas de metassedimentos. Dá-se especi al destaque ao granito de Guimarães, que corresponde, a E, ao grani to de Amarante (ver ponto B.2.).

A pesquisa de trabalhos de i nvesti gação realizados em áreas de afloramentos de granitóides consti tuiu um primeiro passo nos nossos estudos. A dificuldade de encontrar bibliografi a sobre movimentos de v ertente ocorridos em áreas com estas características tornou-se evidente. De facto, a investigação da i nstabilidade de vertentes em áreas com afloramentos de rochas cristalinas, por comparação com áreas sedimentares é abi ssal. Um simples percurso feito nas actas dos principai s encontros sobre ev olução de vertentes, teses e trabalhos neste âmbi to, espelham esta realidade.

A ideia de i nexistênci a de movimentos de v ertente, ou a sua redução às áreas montanhosas é evidente em grande parte das sínteses publicadas sobre este tema. Em 1997 foi publicado um volume com o título de

"Geomorphological Hazards of Europe"24. Nesse volume, A . Brum Ferreira et al

(1997, p.398) expressam a ideia de que "…o maciço Hercínico é, de longe, o mais extenso (70% do total da área) e é também o mais estável no que diz respei to aos movimentos de vertente. ... Os grani tos aparecem princi palmente no Norte, onde as superfícies planas são encaixadas por elevadas e declivosas vertentes de v ales". No entanto, não deixa de referir que é nessas v ertentes que se encontram as condições geomorfológicas propícias ao desenvolvimento de movimentos de vertente, facilitado pela "... rede de fracturação da rocha e por uma forte e i ntensa preci pi tação". Embora considere que os metasedimentos não são tão extensos como no sul, referem

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que as "... descontinuidades múltiplas nestas rochas – estratificação, xistosidade e planos de fracturação – são fav oráv eis aos deslizamentos planares, mas também aos fluxos de terras afectando pri ncipalmente solos argilosos de áreas menos declivosas".

A falta de estudos detalhados sobre alguns movimentos em vertentes nas áreas de maciço anti go é frequentemente justi ficada pela fraca densidade populacional dessas áreas pelo que o risco a eles associado é reduzido. "Com excepção do N W, onde a densidade da população

usualmente excede os 200 habi tantes por Km2, o maciço hercínico está

fracamente pov oado com densidades em geral com menos de 50 habi tantes

por Km2. Ao mesmo tempo, as maiores obras de engenhari a são raras nesta

área, o que pode ser considerado, no essenci al, uma zona de fraco risco" (A . Brum Ferreira et al., 1997, p.399).

A ausência deste ti po de trabalhos faz-se senti r noutros países da Europa. Um pouco por todo o lado é possível encontrar trabalhos sobre ev olução actual de vertentes em áreas sedimentares, com predominância de li tologias relacionadas com materi ais muito finos, em geral argilosos ou silto- argilosos.

É possív el, no entanto, v erificar algumas referênci as à exi stência de movimentações em vertentes cuja litologia se basei a em rochas cristalinas. Na Áustria, Embleton-Hamann (1997) afi rma que a maior parte das ocorrências se verifica em áreas sedimentares ao contrario do que acontece nas áreas de rochas cristalinas.

Na Inglaterra, C. Embleton e D. Brunsden (1997) referem que 1,9% dos deslizamentos ocorrem em rochas grani tóides e 5,3% em xistos (p.190).

Estes autores apresentam alguns factores que determinam a ocorrência de movimentos em vertentes nestas condições, e consideram que a espessura do rególito, a profundidade crítica, as propri edades do solo e a química da água que ocupa os espaços v azios resultantes da porosidade dos solos são factores determinantes no desenv olvimento dos movimentos de vertentes.

I . Games, A . Bognar e R. Lazarevic (1997, p. 494), na antiga Jugoslávia, referem que as v ertentes mai s susceptíveis aos deslizamentos são as dos calcários e as das rochas ígneas maciças sem, no entanto, concretizar as condições de ocorrênci a.

Ainda segundo B. Ferrei ra (1997, p. 398) as causas fundamentais da ocorrência de instabilidade nas v ertentes consti tuídas em áreas de maciço anti go resulta da forte e i ntensa precipi tação conjugada com declives elevados, de densa rede de fracturação, solos argilosos e ai nda de desconti nuidades múltiplas tal como os planos de estrati ficação, xistosidade e fracturação.

A transposição directa das condições de ocorrência de evolução de v ertentes em áreas sedimentares para áreas de rochas cristalinas ou metamórficas conduz, necessariamente, a erros e simplificações abusivas. Ao longo dos extensos afloramentos de grani tóides do N de Portugal desenvolveram-se condições geográficas, nomeadamente nos aspectos li tológicos, radicalmente diferentes das formações das regiões sedimentares. As formações resultantes das alterações dos granitóides consti tuem um dos factores mai s relevantes para a ocorrência de movimentos de v ertente no N de Portugal.

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onde o relevo apresenta declives menores, a tendência para o desenvolvimento de movimentos nas v ertentes não é muito grande, excepto quando se realizam obras de engenhari a ou se promove a expansão da construção urbana. Nas secções médias dos vales do NW português, com fundo amplo e plano mas de vertentes com declive acentuado, a expansão urbana v ai ocupando sectores com declives elevados. As obras promovidas vão provocando inúmeras interv enções que degradam a estabilidade das vertentes, criando novas condições ao desencadeamento de movimentações de materi ais, nomeadamente quando promov em uma alteração radical da rede de drenagem e infiltração ao longo da vertente.

Nas cidades médias do NW português é possív el o alargamento progressivo das áreas construídas em relevos de declives elevados. A expansão urbana é cada vez maior e a utilização de áreas com declives elevados (chegando mesmo ati ngir os 20º) parece ser uma tendênci a inalterável. Esta realidade coloca-nos perante o problema do ti po de dinâmica de vertentes que vai resultar dessa i ntervenção humana. Podemos colocar questões relacionadas com o tipo de drenagem desenv olvida de modo artificial, nomeadamente quando se procede à concentração da drenagem em ravinas colmatadas por materi ais argilosos e blocos de grandes dimensões, ou com aterros não consolidados.

Embora as condições naturai s não sejam as mais indicadas para a classificação destas áreas como sendo de forte ri sco, o ti po de i nterv enção humana pode transformá-las em áreas de probabilidade de risco elev ado. São estas transformações resultantes da intervenção antrópica que tornam uma incógnita a di nâmica de v ertentes em áreas de forte expansão peri-urbana no NW de Portugal e exigem estudos detalhados sobre as alterações nelas

promovidas.

R. Si dle e al., em 1985, referem-se a esta questão afirmando que "…quando práti cas intensivas de uso dos solos são propostas para terrenos potenci almente i nstáveis torna-se necessário desenvolv er metodologias que promovam i nformação detalhada e específica nos locais onde sejam necessári as. Os levantamentos no terreno, nomeadamente reconhecimento da topografia, geologia, hidrologia e i ndicadores de instabilidade rev elada pelo coberto vegetal são essenci ais para planeamento local e de pormenor…" (p.100). O reconhecimento das áreas onde existe um potenci al de instabilidade não é possível sem o recurso ao reconhecimento das condições naturai s de ocorrência de instabilidade em áreas semelhantes.

Perante esta constatação, e com este ti po de litologia dominante, quai s as condições morfológicas, hídricas ao nível do solo e à superfície, de coberto vegetal, de micro-relevo, etc, que poderão contribuir para a ocorrência de instabilidade ao nív el das vertentes?

Resulta, portanto, importante o estudo das condições geográficas de ocorrênci a de movimentações ao nível das vertentes onde a i ntervenção humana esteja reduzida ao mínimo indispensável, na região Norte. A identificação dessas condições, em áreas de montanha, é essenci al para que, em áreas de declives menores, se identi fiquem os problemas prováveis decorrentes de um aumento artificial dos declives, ou forte concentração de drenagem induzida pela interv enção antrópica. Neste caso, trata-se de tentar entender qual a importânci a da acção humana como agente geomorfológico, o que é tarefa fundamental na consti tuição de um SIG ao nível da defi nição dos riscos naturai s de ev olução de vertentes, em áreas de forte expansão urbanística.

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O conjunto de i nformação que se consti tui como entrada em SIG, capaz de promover a definição dos riscos naturai s em vertentes, vai depender, no essencial, do estudo das condições geográficas de ocorrência de movimentos nas v ertentes. Esta é a razão fundamental para seu o estudo no N de Portugal, em regiões de maciço antigo.

2. O estudo das condições geográficas de ocorrência dos movimentos de