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As vertentes são mui to complexas. Raramente é possível encontrar vertentes rectilíneas. Este facto resulta da influência de dois factores distintos : por um lado, a ev olução de v ertentes característica das áreas graníticas e, por outro, a i rregularidade da profundidade de alteração dos granitóides, que produz um criptorelevo que, uma vez exumado, transmi te à morfologia da v ertente essa irregularidade. O afloramento de um conjunto de bolas graníticas, a meia vertente, é um suporte mais que sufici ente para o desenv olvimento de patamares e rechãs. Desta forma se entende como é grande a complexidade das vertentes, sobretudo das que têm uma maior altura (fig. B3.7).

As vertentes altas e complexas existem um pouco por toda a área em análise, mas é a SE de Guimarães que adquirem maior desenvolvimento. Estas têm inúmeras rechãs e os declives são v ari ávei s, sendo, por vezes, extremamente fortes, ati ngindo valores superiores a 30º. Sendo vertentes de grande dimensão, apresentam um importante encaixe da rede hidrográfica, sobretudo de li nhas de

água de primeira, segunda e até tercei ra ordem (segundo A. Strahler). Com efei to, as ravinas e os barrancos são numerosos e entalham praticamente toda a vertente. Destes entalhes, é importante referir que muitos dos barrancos têm grande comprimento, abarcando várias sub-bacias hidrográficas. De todas destaca-se a v ertente da Penha (Fig. B3.7 e B3.8) que, com mais de 400m de altura, evidencia uma grande complexidade. Um dos exemplos elucidativos da sua degradação e complexidade é o entalhe da ribei ra da Costa (fi g. B3.9). Este encaixe adquire a profundidade de um v aleiro ao longo de quase toda a v ertente. Na metade inferior a ocupação humana é mais intensa e as intervenções que afectam a drenagem são mais profundas e frequentes. Junto à estalagem da Penha, no lugar da Costa, verifica-se importante acção do homem, o que se procurou representar na fig. B3.9. Os patamares agrícolas, muitas vezes murados, atrav essam a própri a linha de água, mas distribuem-se ao longo de todo o v alei ro. Mesmo junto à linha férrea (desactivada) construiu-se um patamar com materiai s desagregados, sobre o lei to do valeiro. Este patamar, sem qualquer protecção, tem uma altura superior a 30m e si tua-se sobre a linha de água, sem drenagem cuidada, já que só foi construído um pequeno dreno para escoar as águas da ribeira. Os materi ais que serv em de suporte ao patamar não foram compactados, nem se criou qualquer sistema de drenagem das águas que circulam internamente.

Esta v ertente, mui to próxima de Guimarães, constitui rá, brevemente, uma área de expansão urbana, mui to facilitada por boa acessibilidade.

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Arenas graníticas.

Fig. B3.7: Corte esquemático da vertente da Penha (Guimarães).

Fig. B3.8: Esboço morfológico da vertente da Penha (Guimarães). A área delimitada pelo rectângulo corresponde à área da fig. B3.9.

Fig. B3.9: Esboço morfológico da Costa (Penha – Guimarães).

Para além das i ntervenções já descritas muitas outras podem ser observ adas. A construção de vias de comunicação, a utilização dos solos e construção de patamares agrícolas consti tuem as intervenções mai s importantes nas áreas com declives mais fortes. A o contrári o de outras áreas desta pequena baci a hidrográfica, a metade superior tem uma densidade elevada de patamares agrícolas, o que supõe a existênci a de materi ais finos resultantes da alteração do grani to de Guimarães. O arranjo em patamares agrícolas propici a a infiltração, precisamente nas áreas de mai or declive. A o contrári o, as áreas envolv entes apresentam inúmeras bolas graníticas, evidenciando uma mai or erosão dos materi ais alterados.

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Fot. B3.1: Manto de alteração pelicular e bolas graníticas sem alteração.

Fot. B3.2: Manto de alteração na vertente da Penha sobreposto por depósito de vertente constituído por matriz argilosa e bolas de granito escorregadas ao longo da vertente. Na fotografia, à direita, o depósito de vertente colmata uma paleoravina. As bolas de granito que se situam no manto de alteração estão profundamente alteradas, mas as que se deslocaram ao longo da vertente são constituídas por granito de Guimarães são.

Fot. B3.3: Manto de alteração com espessura superior a 3m, próximo do sopé da vertente da Penha. Notam-se alguns blocos de granito bem conservado no interior do manto de alteração.

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Mais a N, em Azurém, a expansão urbana progride do topo da v ertente em direcção ao fundo do vale (fig. B3.10). Esta v ertente, de pequena dimensão, com cerca de 50m de altura, é rectilínea (fi g. B3.11). O manto de alteração domina ao longo da sua extensão e, à superfície, afloram mui tas bolas graníti cas, parcialmente expostas.

Fot. B3.4: A construção de patamares antrópicos retira o manto de alteração que suporta as bolas graníticas, permitindo a criação de situações propícias à ocorrência de movimentos de vertente.

O contacto com o fundo plano do vale do Selho faz-se por um ângulo vivo, denunci ando acção fluvial até à base da vertente. As i ntervenções humanas estão relacionadas com a urbanização, pela abertura de patamares com recurso à remoção do manto de alteração (fot. B3.4).

A construção de patamares antrópi cos promov e a alteração das condições hídricas da v ertente e poderá consti tuir um dos factores mais importantes de agravamento da susceptibilidade geomorfológica a movimentos

de vertente.

Arenas graníticas

Fig. B3.11: Corte esquemático da vertente de Azurém.

3 . O e n c a i x e d a r e d e h i d r o g r á f i c a e a f r a c t u r a ç ã o ( F i g . B 3 . 1 2 ) .

As grandes fracturas apresentam-se bem exploradas pelo encaixe da rede hidrográfica em quase toda a área de Guimarães. Os doi s sectores onde é menos evidente a dependência do encaixe da rede hidrográfica em relação à fracturação si tuam-se na área das cidades de Guimarães e Fafe. Correspondem, respectivamente, aos vales do Selho e à superfície degradada dos 600-800m. Nestas áreas, o encaixe da rede hi drográfica é fraco pelo que não permi te a adaptação do seu traçado à fracturação. Esse facto impede-nos de utilizar o traçado da rede hidrográfica como critéri o de identi ficação da rede de fracturação. Porém, em grande parte da área experimental o encaixe é importante e reflecte a adaptação da rede hidrográfica, quer à grande fracturação, quer à pequena fracturação.

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Um dos alinhamentos mais importantes ao longo dos quai s se encaixou a Ribª da Cabra e o rio Bugio (ambos afluentes do Vi zela, na depressão de Infantas/Jugueiros) é a falha Vigo/Régua de direcção NW/SE. Paralelamente a este ali nhamento, localizada na metade ocidental da área em análise, existe uma série de fracturas aprov eitadas por cursos de água de menor importânci a, afluentes do rio Vi zela. A pesar da importânci a deste alinhamento, a sua influência no traçado da rede hidrográfica limi ta-se aos encaixes dos já referidos Ribª da Cabra e Rio Bugio, na depressão de I nfantas/Jugueiros, e do Selho, a NE de Guimarães. É ao longo deste alinhamento que se faz o contacto entre os grani tos de Guimarães, a E, e os xistos e metagrauv aques, a W. Tanto no encaixe do Selho como na depressão de I nfantas/Jugueiros, as áreas baixas desenvolv em- se nos metassedimentos, e as v ertentes abruptas estão conservadas no granito de Guimarães. Recordamos, porém, que este grani tóide apresenta elevados índices de alterabilidade (v er Parte B, Cap.B1, Ponto 1), o que não é conciliável com o aspecto vigoroso das v ertentes, a não ser que consideremos que este se dev a a movimentos tectóni cos recentes. Nesse caso, eles terão de corresponder a um abati mento dos fundos da depressão de Infantas/Jugueiros e do v ale do Selho, já que as alti tudes dos relevos que os enquadram são semelhantes.

A passagem da rede hidrográfica da bacia do Vizela da superfície de Fafe para a depressão de Infantas/Jugueiros faz-se por uma série de gargantas, com direcção NE/SW, escav adas no grani to de Guimarães. O perfil longitudinal destes cursos de água apresenta uma inclinação importante ao longo das gargantas, em vivo contraste com o perfil a montante e a jusante. A s roturas de declives não coi ncidem com qualquer contraste li tológico e fazem-se no grani to

de Guimarães. Estes factos, sugerem que se processou um rejuvenescimento do relevo desta área, que permi tiu a i ndividualização de uma série de blocos, de pequena dimensão, morfologicamente individualizados pelo encaixe da rede hidrográfica. Nalgumas áreas, este processo ainda está numa fase inicial. É o caso da área a E da depressão de Infantas/Jugueiros e Guimarães.

Desta primei ra análise parece ser evidente que a tectónica é essenci al na definição das áreas deprimidas, ora pela rede de fracturação que propicia a alteração das rochas, ora pela possibilidade de promover um rejogo de blocos tectónicos com o sequente abatimento.

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