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3. A política externa dos EUA sobre drogas

3.5. Ronald Reagan (1981-89)

Na década de 1980, o tom belicista contra as drogas aumentou com o governo Reagan, responsável por implantar as maiores mudanças na leis e políticas de drogas dos EUA, desde a Lei Seca. Em resposta ao crescimento do uso de crack nas comunidades mais afetadas pela pobreza e ao medo insuflado pela crescente criminalidade, foram aprovadas penas mais severas para réus primários condenados por porte e consumo de drogas. Externamente, foi estabelecido um processo unilateral de certificação de países de acordo com colaboração com o combate ao narcotráfico e crimes associados (corrupção, lavagem de dinheiro).

Em 1981, o Congresso aprovou o Ato de Autorização de Defesa, também chamado de Emenda Nunn. Com a norma, foi criado um novo capítulo no título 10 do U.S. Code (um compêndio para consolidação e codificação por assunto e matéria de normas legais dos EUA) referente às Forças Armadas, para tratar do apoio militar às agências civis de aplicação da lei (UNITED STATES OF AMERICA, 2014). A emenda introduziu uma modificação na Lei de

Posse Comitatus de modo que agentes da lei poderiam fazer uso de informação, equipamento e instalações fornecidas por militares e que oficiais militares pudessem ser designados a operar e conservar esses equipamentos.

Senado em permitir o envolvimento de efetivos militares no serviço direto de investigação e interceptação de drogas. Alguns dispositivos limitavam as formas em que os equipamentos e pessoal militar poderiam ser empregados e delegavam ao Secretário de Defesa a edição de normas regulatórias para garantir que nenhum componente das forças armadas pudesse participar diretamente de missões de busca, interdição e apreensão. Além disso, uma cláusula limitava a assistência militar a um nível que não pudesse afetar adversamente o nível de preparo militar nacional (SCHEIPS, 2005, p. 439).

Com a Decisão Diretiva de Segurança Nacional de 1986, o narcotráfico foi classificado como uma ameaça letal à segurança dos EUA e a guerra às drogas foi, para todos os efeitos, imbuída da lógica de “conflito de baixa intensidade”. Medidas de interdição e erradicação de drogas seriam reforçadas nos países onde a matéria-prima era cultivada ou que constituíam entreportos. O combate às drogas foi incluído no planejamento da assistência externa. Agências do governo foram autorizadas a treinar, equipar, orientar financiar forças policiais conduzir operações antidrogas e Polêmicas operações como a Blast Furnace e

Snowcap na Bolívia, por exemplo, chegaram a ser objeto de acordos secretos.

Em 1988 foi aprovada a Lei contra o Abuso de Drogas que criava o Escritório de Política Nacional de Controle de Drogas (ONDCP, na sigla em inglês), órgão diretamente ligado à Presidência. Sua função primordial seria aconselhar o Presidente sobre questões de controle de drogas, coordena o financiamento das atividades de controle de drogas de todo o governo federal e produz a Estratégia Nacional de Controle de Drogas anual, que descreve os esforços da Administração para reduzir o uso, a fabricação e o tráfico de drogas ilícitas, a criminalidade e a violência associada à droga e as consequências para a saúde relacionadas com as drogas.

O ONDCP teria ainda por competência definir prioridades, implementar uma estratégia nacional e certificar os orçamentos federais de controle de drogas. Pela lei, a estratégia antidrogas deveria ser abrangente e fundamentada em pesquisas de modo a estabelecer metas de longo prazo e objetivos mensuráveis para reduzir o uso e o tráfico de drogas. Especificamente, determina que o uso de drogas deve ser controlado, impedindo os jovens de usar drogas ilegais, reduzindo o número de usuários e diminuindo a disponibilidade de medicamentos.

Departamento de Estado. A norma incumbiu ao Secretário de Estado a coordenação de toda assistência norte-americana dirigida à cooperação antidrogas. A continuidade e a execução de programas de assistência e cooperação internacional foi subordinada à aprovação pelo Congresso de um relatório anual intitulado International Narcotics Control Strategy Report (INCSR), documenta os esforços dos países e serve de base para o processo e certificação. Anualmente, a Presidência remete o relatório ao Congresso, com a lista dos países que são produtores ou pontos de trânsito de drogas ilegais que são certificados como elegíveis para receber assistência internacional dos EUA.

O Congresso, por sua vez, tem 45 dias para avaliar as determinações presidenciais e, caso assim decida, decretar resoluções específicas de desaprovação de um país. A certificação pode ser justificada com base em dois motivos: 1) por “interesses vitais nacionais” dos EUA que justificam a interrupção de sanções, a chamada waiver (renúncia) que permite a concessão de assistência ou ) pela “cooperação total” com o governo dos EUA na contenção do tráfico ilícito de entorpecentes ou pela adoção de “medidas adequadas em si mesmas” para prevenir a produção, o processamento, o tráfico de drogas e para combater atividades relacionadas (lavagem de dinheiro, suborno, corrupção), conforme previsto no Ato de Assistência Externa de 1961 (PERL, 1989, p. 25).

Um país que seja listado como grande produtor de drogas ou como país de trânsito no ano anterior não pode ser certificado como totalmente cooperativo a menos que tenha, em vigor, um acordo bilateral sobre entorpecentes com os EUA ou um tratado multilateral sobre o tema que possibilite a cooperação por meio de programas antidrogas. Enquanto algumas sanções podem ser aplicadas a critério do Executivo, algumas sanções podem ser aplicadas automaticamente se o presidente não emitir uma diretriz a um país grande produtor ou se o Congresso desaprovar alguma determinação para um país específico.

Dentre sanções mandatórias figuram: a suspensão de 50% dos recursos de toda a assistência internacional fornecida pelos EUA no ano fiscal corrente à exceção daqueles destinado a programas humanitários ou de controle de entorpecentes; suspensão total da assistência para os anos fiscais seguintes e voto contra concessão empréstimo em bancos multilaterais de desenvolvimento. Dentre as sanções discricionárias figuram: negação de tarifas preferenciais às exportações de um país sob o Sistema Geral de Preferências (SGP) e o

importação de produtos do país em questão; contingenciamento de transporte e tráfego aéreo entre os EUA e o país não certificado; retirada da participação dos EUA em quaisquer arranjos para desembaraço financeiro (PERL, 1989, p. 25-6).