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A ruptura da Diarquia Smetona-Voldemaras; a construção de um regime por A Smetona

No documento TESE DE DOUTORAMENTO Lisboa Junho, 2013 (páginas 128-131)

Em Setembro de 1929, a diarquia constituinte Smetona-Voldemaras conheceria um fim; como a organização Geležinis Vilkas (Lobo de Ferro) patrocinada pelo Primeiro- Ministro ameaçasse constituir-se num Estado dentro do Estado e em veículo de uma

290 Tendo em vista a preparação dos projectos-lei e a organização das leis em vigor, previa-se a existência

de um Conselho de Estado (art. 54). Seria instituído com a Lei n.º 1813 de 21 de Setembro de 1928.

291 Atente-se, porém, na abertura a um discurso corporativista: no art. 90.º previa-se que «a certos ramos

especiais da economia» fosse legislativamente garantida «uma autonomia especial», devendo ser criadas «Câmaras de agricultura, de comércio, de indústria, de trabalho», bem como câmaras que colaborariam «com o Governo na regularização da vida económica».

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ideia fascista, Smetona afasta Voldemaras, tornando-se o novo protagonista director da refundação da ordem292. A. Smetona prosseguira o ensaio construção de um regime em novos moldes, com a articulação de novos esquemas de ordem não liberais.

Culminando um movimento de limitação da actividade dos partidos políticos, iniciado logo nos primórdios de 1927, o Ministro da Administração Interna decretaria, a 6 de Fevereiro de 1936, com base numa nova lei em tema de associações emanada no primeiro dia desse mês e cujo art. 48.º autorizava a dissolução destas «por razões de segurança do Estado e das pessoas», a dissolução de todos os partidos políticos, excepto a União Nacionalista (Tautininku sajunga; Tautininkai)293.

A representação política foi redesenhada fazendo passar um princípio individualista por um conjunto de mediações que o qualificavam. Uma lei eleitoral 25 de Novembro de 1931 regulamentaria, dando sequência ao constitucionalmente previsto, a eleição do Presidente da República por representantes extraordinários da Nação, estabelecendo que tais representantes deveriam ser eleitos em reunião dos Conselhos comunais, municipais

292 Não obstante, Smetona havia sido feito membro honorário de tal organização. Como quer que seja,

Smetona substituiria Voldemaras no cargo de Primeiro-Ministro pelo seu cunhado, Tubelis (sobre Voldemaras, vide: Kristina Valčlkonis, Augustinas Voldemaras, em Lituanus Lithuanian Quarterly

Journal Of Arts And Sciences, vol. 30, n.º 3, 1984 – http://www.lituanus.org/1984_3/84_3_06.htm). A admiração de Smetona pelos princípios do fascismo constituiu uma admiração qualificada: «O Nacionalismo é a base do fascismo. Consequentemente, se queremos introduzir o fascismo, teremos em primeiro lugar e acima de tudo levar em linha de conta as propriedades da nossa própria nação. Os italianos têm o seu mármore, os alemães o seu ferro, ao passo que nós temos a nossa argila…O Palácio da Nação pode ser construído a partir de qualquer material, desde que o Palácio tenha estilo. E o nosso estilo só pode ser um estilo nacional lituano. Nenhum outro serviria» (discurso proferido no congresso de 15 de Dezembro de 1933) – apud Piotr Lossowski, The Ideology of Authoritarian regimes (The Baltic States

1926-1934-1940), em Janusz Zarnowski, Dictatorships in East-Central Europe 1918-1939, Polish Historical Society, Kraków, 1983, p. 197). Um uso violento/fisicalista da política era posto de parte; o racismo e o anti-semitismo eram negados como princípios de ordem.

293 Na órbita da União Nacionalista, viriam a estar duas importantes organizações formalmente autónomas

mas que dela não deixavam de ser cúmplices: uma organização de juventude – a «Jovem Lituânia» («Jaunoji Lietuva») – e uma guarda nacional de voluntários (a Sauliu sajunga, união de carabineiros, numa tradução aproximada; a qual acabaria por ser posta na dependência do exército). Ver entradas intituladas Riflemen’s Union e Young Lithuania em Saulius Sužied lis, Historical dictionary of Lithuania,

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e de distrito294. Nos termos de uma lei eleitoral de 9 de Maio de 1936 que curava da disciplina das eleições legislativas, os candidatos às mesmas deveriam ser propostos pelos Conselhos de Distrito – ou municipais em certos casos –; só depois de assim seleccionados, os candidatos seriam posteriormente submetidos a votação popular295. O espírito das instituições cristaliza: «Os nacionalistas lituanos colocaram a categoria da Nação no mais alto pedestal»296. A Lei «sobre a segurança da Nação e do Estado», de 8 de Fevereiro de 1934, possibilitaria a implementação coerciva de uma ortodoxia pública centrada na comunidade política. Atente-se, por exemplo, no teor dos seus primeiros artigos: «Quem ofenda ou cause ultraje à Nação lituana ou ao Estado Lituano será punido com simples pena de prisão ou com uma pena podendo ir até aos quatro anos de trabalhos forçados» (art. 1.º); «Quem ofenda ou cause ultraje ao emblema do Estado Lituano, o Vytis, à bandeira nacional, à bandeira do Estado ou à bandeira militar, ou a uma outra insígnia lituana honrada e respeitada pela nação lituana ou pelo Estado Lituano pelo seu significado simbólico, é passível de simples encarceramento ou de uma pena podendo ir até aos quatro anos de trabalhos forçados» (art. 2.º); «quem procure perturbar ou enfraquecer a lealdade dos cidadãos do Estado Lituano, a sua consciência da unidade do Estado, a sua resistência, ou ainda a consciência nacional lituana, é punido com simples encarceramento. (…)» (art. 3.º)297.

294 Ver Lithuanie/Élection présidentielle en Lithuanie en 1931, em Annuaire de l'institut international de

droit public-1932, 1932, pp. 688 a 702. A eleição presidencial teve lugar a 11 de Dezembro de 1931 (a 14 de Setembro de 1938, A. Smetona viria a ser novamente eleito Presidente).

295 Ver Lithuanie/Loi sur les élections à la Diete (Seimas) du 9 Mai 1936, em Annuaire de l'institut

international de droit public-1937, 1937, pp. 413 a 431. A idade de voto aumentaria; um requisito censitário baseado na propriedade foi também introduzido. Note-se que um conjunto de leis de 1929 e 1931 haviam possibilitado o controlo do funcionamento órgãos do governo local pelo Ministério do Interior. A 10 de Junho de 1936 teria lugar a eleição de um novo Parlamento (o primeiro nos termos da Constituição de 1928) – composto por 41 representantes.

296 P. Lossowski, The Ideology of Authoritarian regimes (The Baltic States 1926-1934-1940), cit., p. 185. 297Ver o referido acto legislativo em Lithuanie, em Annuaire de l'institut international de droit public-

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A Constituição de 1938: «Presidentocrazia», ortodoxia pública

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