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PARTE II OS PROCESSOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA PESQUISA

SEÇÃO 3 SÃO OS PASSOS QUE FAZEM O CAMINHO

[...] quando se trata de acompanhar social e profissionalmente pessoas em fase de transição, faz-se necessária uma concepção global e integrativa da pessoa e da existência individual para compreender os processos que participam das condutas de mudança (DELORY-MOMBERGER, 2012a, p. 82).

Os participantes desta pesquisa-formação encontram-se em fase de transição. Todos são estudantes do último ano do Ensino Médio Técnico Integrado e preparam- se para o ingresso no Ensino Superior e no mundo do trabalho. A concepção global e integrativa dos participantes ocorreu por meio da compreensão dos processos que compõem o LAQVi e, nesse caso, das mudanças de conduta operacionalizadas pela utilização do QE. O passo a passo da organização dos dados possibilitou a construção de um caminho partilhado, o qual foi delineado paulatinamente.

A proposta de análise dos dados e, por conseguinte, de condução aos resultados diz respeito à apresentação do caminho percorrido por um dos participantes em diálogo contínuo com os outros. A ideia é oportunizar a articulação da concepção dos jovens envolvidos e das etapas do processo de pesquisa-formação, com foco na utilização do QE.

A interpretação realizada a partir do objeto de estudo, dos objetivos da pesquisa e da sistematização dos dados, em consonância com a tese, orientou a escolha da participante, cuja produção será mote para o diálogo. Além disso, contribuiu para a decisão de tomar o QE como referência para a problematização dos dados e para a elaboração dos resultados.

Dessa maneira, os QE de Franqueza são apresentados em sua integralidade e problematizados com os PV, os QH e as SR conforme os indícios observados, dando vazão à construção dos resultados. O percurso dessa participante será apresentado em diálogo com os processos vivenciados pelos outros estudantes, possibilitando a consolidação das interpretações e dos resultados.

Todos os participantes apresentaram um processo de construção de transformação durante o LAQVi e, de acordo com a tese defendida, por meio do uso do QE. Entretanto, a participante Franqueza destacou-se no sentido de materializar os próprios anseios, as mudanças desejadas e as inesperadas de maneira mais

objetiva, demarcando a (re)elaboração de planos e de conduta de maneira clara, contínua e producente.

A abordagem de análise toma como requisito a compreensão e o alcance das produções, o que justifica a apresentação das atividades biográficas desenvolvidas no LAQVi no início deste trabalho e a sua caracterização enquanto fonte de dados. Trata-se de produções que colocam o jovem que narra em uma dinâmica prospectiva, corroborando para a continuidade de um percurso que articula diretamente o presente e o futuro.

As incertezas e as perturbações que envolvem os processos de transição exigem reconfigurações, o que pode ser observado em caráter processual. O QE pode materializar as operações mentais desenvolvidas ao longo do processo, explicitando a dimensão performativa da fala de si, ou seja, da construção de si e do vir-a-ser a partir da enunciação.

Os processos de transição exigem atividade interna/externa intensa por parte de quem precisa mudar e/ou se adaptar, requerendo “confrontação-negociação- reconfiguração das imagens de si” (DELORY-MOMBERGER, 2012a, p. 81). A composição do QE pode colaborar efetivamente para a dinâmica na qual “os sujeitos buscam e elaboram respostas, experimentam estratégias, constroem significações [...] e participam, ao mesmo tempo, de sua própria transformação e da transformação de seu ambiente” (DELORY-MOMBERGER, 2012a, p 81), já que possibilita o distanciamento de si e o contato com outras experiências e significados.

Delory-Momberger (2012a) aponta o trabalho biográfico que as pessoas realizam sobre si mesmas e a dimensão performativa da fala de si como elementos importantes para a compreensão dos processos que ocorrem nos períodos de transição. Trata-se da possibilidade de investigar a maneira como os jovens “tendem a manter a continuidade de sua experiência e a coerência de seu percurso” (DELORY- MOMBERGER, 2012a, p. 79).

Os participantes, a partir do processo de mediação biográfica desencadeado pelo LAQVi, colocam em jogo os diferentes campos de interação (eu e o outro; eu comigo mesmo; eu e o meio; eu, o outro e o meio). Esse esforço resulta na construção de significados que constituem um programa de vida coerente com as próprias experiências.

O QE, em articulação com as etapas do LAQVi, oportuniza a reflexão sobre as trajetórias delineadas por biografias típicas – o que um estudante deve fazer depois

que concluir o Ensino Médio no IFRN? -, desencadeando o movimento rumo à construção de um percurso de vida que é complexo, multidimensional e inclui “a parte do sujeito”, ou seja, a sua participação ativa nos rumos da própria história (DELORY- MOMBERGER, 2012a).

Franqueza, ao longo do LAQVi, problematiza a trajetória delineada a partir de modelos de sucesso e compreende o próprio percurso em uma perspectiva autoral. O QE corresponde a um dispositivo de mediação biográfica que ajuda a construir, identificar ou, ainda, a “compensar uma carência de pontos de referência socioestruturais” (DELORY-MOMBERGER, 2012a, p. 85).

A análise dos dados desta pesquisa-formação permite a observação dos movimentos de configuração e reconfiguração a partir do QE. Os participantes revisam pontos de referências e, logo, os próprios projetos de vida mediante a escuta do outro “numa relação de colaboração de si e do mundo social” (DELORY- MOMBERGER, 2012a, p. 95).

A proposta de análise, aqui apresentada e materializada na Parte III, corresponde a “um quadro metodológico e experimental para pensar o modo pelo qual o sujeito se constrói como projeto” (DELORY-MOMBERGER, 2014, p. 346). O QE é um dispositivo de mediação biográfica que potencializa a compreensão de si e a construção do projeto de vir-a-ser, conforme trabalho de análise, tendo um papel fundamental no movimento permanente e aberto em prol da gestão de si.

PARTE III - O QUADRO DE ESCUTA NO CENTRO DE UMA PRÁTICA DE