PARTE III O QUADRO DE ESCUTA NO CENTRO DE UMA PRÁTICA DE
SEÇÃO 3 TRANSFORMAR-SE: PROCESSO DE ATUALIZAÇÃO DE SI
É preciso encontrar a forma de inscrição biográfica de novas experiências que modificam a configuração anterior e levam a uma transformação de percepção do mundo, dos outros e de si mesmo. [...] Um choque biográfico pode levar, em pouco tempo, a uma modificação radical das manifestações exteriores de personalidade, dando lugar à reconfiguração do projeto de si (DELORY-MOMBERGER, 2008, p. 133).
O quadro de escuta caracteriza-se como uma atividade biográfica que possibilita a inscrição em novas experiências, pois o confronto com a história do outro, seus projetos e a maneira como lida e/ou pretende lidar com as frustrações (não deu certo!/ e se não der certo?), podendo ocasionar um choque biográfico e gerar transformações exteriores de personalidade e do projeto de si.
O QE5 é antecedido por um momento centrado na leitura do texto
Lembranças mal lembradas, de Martha Medeiros. Esse texto compõe as atividades
que dão suporte à reflexão, e é chamado de insumo de reflexão no LAQVi, trazendo uma temática para a discussão e a apropriação das próprias experiências.
A atividade biográfica pautada nas lembranças mal lembradas teve a seguinte formatação e foi socializada, tornando-se objeto de composição do QE5:
Quadro 37- Recordações
IFRN – Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Campus Ipanguaçu
Curso FIC Laboratório de Aprendizagem e Qualidade de Vida Mediadora: Luciana Medeiros da Cunha
Participante: Franqueza
RECORDAÇÕES SOBRE O QUE NÃO DEU CERTO OU SAIU DIFERENTE DO PLANEJADO ATÉ 2018
Recordações Justificativa Possibilidades de rota
“Uma pizza em Natal”. “Paguei vinte reais e tinha um cabelo”.
“Era pra ter ido lá reclamar e não tive coragem”.
“Meu namorado fez pouco de mim com um chocolate”.
“Eu estava querendo e ele comeu”.
“Deveria ter deixado para lá”. “Minha mãe bateu em mim
porque eu disse palavrão”.
“Eu só tinha três anos e repeti depois que ela disse”.
“Foi bom! Eu não sabia, e isso somou na minha vida”. “Aprender a andar de
bicicleta aos dez anos”.
“Eu me senti mal porque todo mundo dizia que eu não iria conseguir”.
“Isso foi bom para a minha vida”.
“Meu irmão jogou uma pedra na minha cabeça”.
“Porque peguei o pedaço de bolo dele”.
“Deveria ter pedido”. “Relacionamentos que não
deram certo”.
“Eu era muito inocente”. “Ter mais amor próprio. Era o que faltava”.
minha mãe visse o que eu via”.
“Brigas com uma amiga”. “Eu era muito ingênua por tentar as coisas como ela queria”.
“Tentei ser mais eu e fazer o que estava ao meu alcance. Não era a melhor amizade da minha vida”.
“Tentativa de estupro”. “Mexeu muito comigo e fiquei com medo”.
“Conversar com alguém para tirar isso de mim e tirar esse peso”.
“Morte de amigo”. “Ele era um amigo e eu gostava dele”.
“Dar tempo”. “Ir para a recuperação em
Algoritmos pela primeira vez”.
“Me motivou a acordar”. “Não deixar as coisas para última hora”.
“Meus professores não acreditam em mim (alguns)”.
“Me magoou por me comparar”.
“?” Fonte: dados da pesquisa.
Conforme descrito no contrato para a participação do LAQVi, os participantes tinham liberdade para realizar uma atividade, ou não. Esse foi um dos dois momentos, no decorrer do curso, que Franqueza se recusou a socializar os registros com o grupo, participando da composição do QE5 somente como ouvinte. Percebe-se a existência de muitas recordações de caráter íntimo que, de acordo com Franqueza, podem ser apresentadas no âmbito da pesquisa sem qualquer constrangimento.
Optou-se pelo percurso de Franqueza para representar a totalidade do trabalho de pesquisa-formação, e a participante deixou os registros no arquivo da pesquisa, reafirmando a autorização após o curso, considerou mais coerente explicitar os registros dela.
Cabe esclarecer que os registros foram sempre individuais e particulares, não cabendo à pesquisadora-formadora, no decorrer do processo, consultar o material produzido, já que, naquele momento, havia um interesse maior no processo. Nesse sentido, algumas produções não socializadas geraram surpresa e reforçaram a ideia de acompanhamento do ponto de vista formativo e, não, terapêutico.
Na perspectiva de apreender o processo e materializar os resultados, o contato com os dados aconteceu de maneira mais direta durante o processo de seleção e organização dos dados. Dadas essas explicações, volta-se a atenção para o QE5.
Quadro 38– QE5 da participante Franqueza QE5- Ressignificações de vida
IFRN – Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Campus Ipanguaçu
Curso FIC Laboratório de Aprendizagem e Qualidade de Vida Mediadora: Luciana Medeiros da Cunha
Participante: Franqueza
Narrador O que chamou a minha atenção
O que lembra as minhas reflexões (recordações e possibilidades)
O que apresentou e me fez pensar diferente e/ou inspirou mudanças de atitude.
Amizade “A situação com os pais”.
“Alguém gritar comigo e eu me sentir mal’.
“?”
Abnegação “?” “Entrar no IF; perder
amigos”.
“?” Divergente “A ressignificação
das lembranças”.
“Perda. “Lembrar das coisas boas com as pessoas”.
Erudição “A maneira como falou de mudar”.
“?” “?”
Audácia “?” “Perda”. “Pensar o agora, pois o amanhã
é incerto”. Fonte: dados da pesquisa.
É possível observar que as dores ligadas às perdas ganharam destaque no QE5 de Franqueza, destacando como fatos marcantes e de identificação a morte de pessoas queridas. Os processos de busca e de inscrição biográfica são protagonizados pela capacidade de alguns colegas em relação à ressignificação, o que culmina com possíveis estratégias para lidar com a vida, especialmente, com as perdas: “lembrar das coisas boas com as pessoas” e “pensar o agora, pois o amanhã é incerto”.
A maneira como os colegas lidaram ou pretendem lidar com a dor permitiu que Franqueza vislumbrasse uma atitude diferente da indicada na atividade que antecedeu o QE5 - “dar tempo”. Trata-se da ampliação do repertório de estratégias para a gestão do eu, as quais influenciam diretamente no processo de atualização de si.
A participante Audácia expôs o que Erudição chamou de “as decepções nas áreas variadas da vida” (o que chamou a minha atenção), bem como a maneira como vinha lidando com as frustrações “rancor, medo, tristeza, culpa” (o que chamou a atenção de Amizade na socialização de Audácia), e destacou a necessidade de mudança observada por Divergente: “não se aprende mais com os erros, mas podemos consertar” (o que chamou a atenção de Divergente em relação à Audácia). As experiências do outro geram inscrições pessoais que podem ter como desdobramento a reconfiguração do projeto de si. Desse modo, o choque biográfico, gerado pelo confronto com as inúmeras decepções de Audácia, tem como
consequência a ampliação do repertório dos possíveis eus no contexto de situações adversas e/ou inesperadas: “não me apegar tanto, deixar livre, ser alguém para alguém e aproveitar o agora”; “aprendemos a não ser como aquela pessoa que nos faz sofrer”; “que é necessário lidar com as perdas e usar as possibilidade se estar com quem se gosta” (registro O que me fez pensar diferente, dos outros participantes ao ouvir Audácia).
Fazendo um apanhado dos registros dos participantes em relação ao QE5, observa-se que, Amizade, por exemplo, é tocado pela abordagem das lembranças mal lembradas, ou seja, pela leveza com a qual se abordam questões consideradas negativas (o que chamou a minha atenção) – “jeito alegre em falar”, “carinho e achar boba a sua lembrança” e “maturidade e carinho”.
Esse participante se identifica (o que lembra a minha história) com aqueles que, ao seu ver, demonstraram maturidade, especialmente, nas questões familiares, reforçando uma atitude de “redimensionar algo que é normalmente ruim e tentar me superar” (o que me fez pensar diferente). Abnegação, por sua vez, é arrebatado pelos fatos que se relacionam com a compreensão de si, daqueles que narram “a forma como ele percebeu que era crítico”, “a forma como ela deu sentido ao acontecimento”, “a mulher não ter deixado ela estudar” e “a forma como os pais se separaram”.
Abnegação sempre declarou que era tímido e que gostaria de trabalhar esse aspecto em si mesmo, por isso voltou a atenção para a maneira como os outros interpretam a si mesmos e exteriorizam sua personalidade. Não é à toa que o participante cumprimenta a si mesmo no título do seu projeto de vida “Oi, Abne”, ele está ávido por conhecer-se.
Ainda em relação à Abnegação, destacam-se os processos de identificação e de inscrição em processos de busca (o que lembra a minha história), os quais se materializam em tomadas de consciência e de atitude (o que me fez pensar diferente). Ele se reconhece como alguém que é influenciado pelos amigos, observando que as experiências referentes aos relacionamentos com pessoas queridas apresentam uma faceta dele que envolve um “deixar levar-se” (observação da pesquisadora).
O conteúdo dos seus registros, quanto ao comando O que lembra a minha história, ocasiona algumas constatações em relação a si - “as amizades nos mudam por completo”, “não chorei no velório”, “separação dos meus pais” e “as doenças de quem amamos” -, culminando com tomadas de decisão que podem gerar a
reconfiguração de si e do projeto de vir-a-ser - “melhorar para si e não para os outros”, “dar liberdade às pessoas” e “agir diferente de quem nos atingiu” (o que me fez pensar diferente).
O quadro de escuta possibilita aos participantes a inscrição em um “processo de apropriação de seu poder de formação” (PINEAU, 1983), possibilitando “o agir sobre si mesmo [..], dando-lhes os meios de inserir sua história no sentido e na finalidade de um projeto” (DELORY-MOMBERGER, 2014, p. 315). O processo de reflexão que acontece gradualmente, devido à estrutura do QE, desdobra-se no aprofundamento das próprias experiências que, por sua vez, originam novas experiências e processos de ressignificação, os quais implicam no vir-a-ser e na ampliação do quadro de autoformação.
A composição do sexto QE acontece na mesma lógica do QE5 e direciona os participantes à realização de leituras diversas, cuja temática refere-se às relações com o outro e com o mundo, funcionando como insumos de reflexão. Os textos lidos, aliados ao diálogo com o grupo, dão suporte a uma atividade biográfica vinculada à identificação dos princípios que norteiam as atitudes de cada um, revelando, posteriormente, no QE6, um repertório em relação ao saber-viver do grupo.
Quadro 39- Princípios que orientam a minha vida IFRN – Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Campus Ipanguaçu
Curso FIC Laboratório de Aprendizagem e Qualidade de Vida Mediadora: Luciana Medeiros da Cunha
Participante: Franqueza
PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM A MINHA VIDA
PRINCÍPIOS JUSTIFICATIVA
“Respeitar os mais velhos”. “Sempre ouvi minha mãe dizer que não admitia que eu e meus irmãos desrespeitássemos nossos avós e os mais velhos da nossa comunidade”. “O que eu não quero para mim, não faço
para os outros”.
“Aprendi com os livros, os desenhos de heróis e com os meus irmãos”.
“O que não é meu, não é meu”. “Não importa se são 10 centavos ou 10 mil reais, eu aprendi que se eu quero que me devolvam algo, tenho que fazer o mesmo. Exercitei isso com os meus irmãos”.
“Perdoar”. “Apesar de tudo, tentar esquecer as
mágoas. Aprendi isso com os vilões dos desenhos e com os meus irmãos”. Fonte: dados de pesquisa.
A atividade biográfica referente aos princípios de vida foi realizada por todos os participantes, mas dois deles não puderam participar da socialização devido a outras atividades. A composição do QE6 deu visibilidade aos movimentos de partilha e de instrumentalização do grupo no que se refere ao saber-viver.
Quadro 40 - QE6 da participante Franqueza/Princípios que orientam a vida. IFRN – Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Campus Ipanguaçu
Curso FIC Laboratório de Aprendizagem e Qualidade de Vida Mediadora: Luciana Medeiros da Cunha
Participante: Franqueza
Narrador O que chamou a minha atenção
O que lembra a minha vida
O que me fez pensar diferente.
Audácia “Acolher”. “Respeitar os mais
velhos”.
“Perdoar o próximo”. Erudição “A religião”. “Seja melhor do que
ontem”.
“Base familiar”. Abnegação “Tudo passa”. “Apesar de tudo,
precisamos seguir em frente”.
“É preciso deixar partir”.
Fonte: dados da pesquisa.
O QE6 toma como foco as relações com o outro e com o mundo, e Franqueza focaliza questões de ordem subjetiva no momento da escuta, por isso sintetizou aquilo que chamou a sua atenção em ações pessoais (“acolher”), estratégias partilhadas (“a religião”) e interpretação da realidade (“tudo passa”). Ela se identifica com os outros participantes (o que lembra a minha história) nos elementos que englobam o lidar com o outro e com as próprias frustrações - “respeitar os mais velhos”; “seja melhor do que ontem” e “apesar de tudo, precisamos seguir”. Nesse sentido, trabalha na consolidação de princípios que nasceram no âmbito familiar, nas leituras e nos filmes ou desenhos que assistia.
Franqueza demonstrou, durante o LAQVi, um vínculo muito forte com os desenhos animados que envolviam heroísmo e, por conseguinte, estratégias de sucesso. Identifica-se com músicas e histórias nas quais os pais encorajam os personagens, bem como com aquelas em que o próprio personagem assume a condição de vencedor (projeto de vir-a-ser).
As lacunas correspondentes aos comandos O que me chamou a atenção e O que lembra a minha história demonstram que a identificação/construção, o aprimoramento e a consolidação de princípios acontecem em meio às relações. O QE, enquanto dispositivo de mediação biográfica, possibilita o exercício inerente à identificação, à construção e à solidificação de princípios que realizamos ao longo da vida, potencializando a compreensão e a instrumentalização de si em relação ao fazer cotidiano (saber-viver).
O comando O que me fez pensar diferente, intrinsecamente relacionado aos anteriores, funciona como síntese do processo de estruturação de si no âmbito da temática Princípios de vida. O QE6 favorece a compreensão e a fundamentação de quem reflete e dá suporte às decisões em diferentes níveis, ajudando Franqueza a assumir a busca por desenvolver a capacidade de perdoar, valorizar a base dada pela família e desapegar-se.
A socialização da atividade biográfica de Franqueza enfatizou a família, especialmente o convívio com os irmãos, e isso foi observado por Erudição como uma maneira de aproveitar as situações do cotidiano com vistas à constituição de si - “a importância dos laços familiares e dos irmãos para a construção do eu” (o que chamou a minha atenção). Erudição identifica-se com Franqueza quanto à “importância da família” (o que lembra a minha história) e amplia a sua percepção sobre os relacionamentos familiares, propondo-se a “gerar aprendizado através de coisas que talvez não tenham sido tão boas” (o que me fez pensar diferente).
Erudição se propõe, desde o início, a se autoconhecer e a estabelecer relações que agreguem valor aos envolvidos, daí a compreensão e a decisão de estar atento à “necessidade de dar atenção à forma como cada um merece respeito” e à “necessidade de ser mais empático e não julgar sem conhecer a mente do outro” (a socialização de Audácia e de Abnegação fizeram Erudição pensar diferente). Ele, assim como Franqueza, ressalta os “saberes subjetivos e não formalizados que os indivíduos utilizam na experiência de sua vida e em suas relações sociais” (DELORY- MOMBERGER, 2014, p. 315), tomando-os como propósito do eu-atual em prol do vir- a-ser.
Audácia, assim como Abnegação, busca um encontro consigo mesma. Ela demonstra sentir-se perdida, e ele descuidado consigo mesmo. Nesse aspecto,
ambos destacam os princípios familiares e religiosos explicitados pelos colegas como suporte e orientação para a vida (o que lembra a minha história).
Enquanto Audácia se identifica com os ensinamentos oriundos do contexto religioso e familiar, Abnegação se identifica com os desdobramentos dos princípios que remetem ao modo de agir com o outro: “ser educado com todos”, “se importar com as pessoas” e “ajudar o próximo”. Audácia decide aprender mais com os outros, agregar valor à vida de quem convive, ressignificar as decepções e não julgar o outro. Já Abnegação faz um único registro, “aproveitar o agora” (o que me fez pensar diferente).
Os participantes realizam tomadas de decisão e de responsabilidade coerentes com a justificativa para a participação do LAQVi, Audácia quer encontrar um rumo na vida e Abnegação deseja cuidar mais de si. O QE assume a função de “favorecer a explicitação da subjetividade de cada um, quer dizer, utilizar ao máximo os efeitos de contraste ou de semelhança entre os dizeres em presença [...]” (JOSSO, 2010, p. 253), visando ao esclarecimento de si e dos próprios propósitos.
Nesse contexto, os QE “servem de referenciais explicativos e compreensivos para interpretar as realidades da vida, operar escolhas, ter um horizonte” (JOSSO, 2010, p. 264), cooperando com o processo de emancipação dos participantes à medida que assumem a própria formação dentro da perspectiva da formabilidade, ou seja, da capacidade de mudança (DELORY-MOMBERGER, 2018) e do aprender a aprender (JOSSO, 2010).
A atividade biográfica que fundamentou a construção do sétimo QE foi o projeto de vida atualizado. Os participantes elaboraram três projetos ao longo do curso, mas somente o primeiro e o terceiro foram socializados e materializaram a composição de QE, sendo o último um produto da consulta aos projetos elaborados, anteriormente, no LAQVi.
O último projeto de vida foi elaborado pelos participantes em 14 de fevereiro de 2019, sete meses após a elaboração do primeiro (julho de 2018). O espaço-tempo entre a elaboração do primeiro e do último projeto possibilitou a ampliação do repertório de experiências no LAQVi e fora dele, subsidiando a atualização de si.
Quadro 41- Última versão do projeto de vida produzido no LAQVi. IFRN – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Curso FIC Laboratório de Aprendizagem e Qualidade de Vida Mediadora: Luciana Medeiros da Cunha
Participante: Franqueza
PROJETO DE VIDA
TÍTULO A VIDA NO MEIO DO CAMINHO
JUSTIFICATIVA Eu quero criar esse projeto para poder dar um novo rumo à minha vida, já que houve mudanças um tanto extremas, e o que eu quero agora não tem muito a ver com o que eu almejava em julho de 2018.
OBEJTIVOS 1. Concluir faculdade;
2. Fazer Mestrado; 3. Ser professora do IF; 4. Continuar solteira; 5. Organizar a casa nova; 6. Fazer novos amigos; 7. Ser mais compreensiva;
8. Diminuir a minha pressão sobre mim; 9. Escrever o meu livro;
10. Ler mais;
11. Ter um emprego antes de me formar; 12. Fazer umas loucuras de vez em quando.
METODOLOGIA 1. Estabelecer metas;
2. Pensar antes de agir; 3. Esforçar-me mais; 4. Não perder a cabeça; 5. NÃO DESISTIR;
6- Organizar melhor a minha vida.
CONCLUSÃO Com base nas minhas novas experiências, creio que, se continuar com foco e esforço que tenho, poderei dar continuidade sem me abalar tanto e poderei colher os bons frutos dos meus planejamentos.
Fonte: dados da pesquisa.
O QE7 é último quadro de escuta, o qual é composto mediante a socialização do projeto de vida atualizado. A sua composição dá visibilidade ao reenquadramento dos objetivos dos participantes, colaborando para a compreensão de que a projeção de si, articulada à composição do QE, envolve construções (de si e do vir-a-ser) sempre provisórias, requerendo atualizações conscientes e emancipatórias.
Quadro 42– QE7 da participante Franqueza
QE7 - Última versão do Projeto de vida produzido no LAQVi IFRN – Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
Campus Ipanguaçu
Curso FIC Laboratório de Aprendizagem e Qualidade de Vida Mediadora: Luciana Medeiros da Cunha
Participante: Franqueza
Narrador O que chamou a minha atenção
O que lembra a minha vida
O que me fez pensar diferente
Audácia “Definição de metas em sua vida”.
“Faculdade”. “Montar um hotel e uma clínica”.
Abnegação “Aproveitar a viagem”.
“Se sair bem na faculdade; ser professor do IFRN”.
“Viajar e se cuidar”.
Divergente “Os sonhos e a sua coragem”.
“Conhecer
pessoas novas e estar bem consigo mesma”.
“Conhecimento interno, ignorar coisas fúteis”.
Erudição “Foco; Sorte ou azar: não podemos saber”. “Estabilidade financeira”.
“Estudar outras coisas além da minha carreira”.
Amizade “Relacionamento com outras pessoas”.
“Faculdade e casa própria”.
“Não perder o foco; ser menos rude”.
Fonte: dados da pesquisa.
O contexto de vida dos participantes é, no momento da construção do PV 3, diferente daquele em que foi elaborado o primeiro projeto. Alguns já têm a vaga garantida em uma instituição de Ensino Superior e relatam novas perspectivas que, embora ainda estejam articuladas com os propósitos para participar do LAQVi e do projeto inicial, apresentam conquistas parciais. É como se os processos de busca nos quais se inscreveram e as estratégias adotadas ao longo do Laboratório estivessem materializados.
O projeto de Audácia, aquela que se sentia perdida, chama a atenção de Franqueza, justamente, pelo estabelecimento de metas detalhadas que vão além da vida acadêmica. Algo semelhante acontece com Abnegação que inspira o registro “aproveitar a viagem” (o que me chamou a atenção) e apresenta algo concreto em favor de si e do agora, conforme tomada de decisão relatada em quadros de escuta anteriores (o que me fez pensar diferente).
Outro fato que chamou a atenção de Franqueza diz respeito à perspectiva de Amizade buscar “se relacionar com outras pessoas”, remetendo à afirmação no primeiro projeto de que não queria ter relacionamentos sólidos. Os processos de