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IX Salão do MAM – 2002/2003: critérios de seleção “parciais e heterogêneos”, a fluência do acesso à arte.

3. Arte Contemporânea na Bahia: das fendas da tradição cultural, novos mecanismos e expressões de reconhecimento da cultura.

3.2. O Salão do MAM, a crítica e o incentivo financeiro: o aceleramento do experimental e o desaparecimento do quadro.

3.2.9. IX Salão do MAM – 2002/2003: critérios de seleção “parciais e heterogêneos”, a fluência do acesso à arte.

No IX Salão, com 1697 inscritos, menos que a versão anterior, vale citar o posicionamento do crítico e diretor do Museu de arte Contemporânea de Niterói, Luiz Camillo Osório, componente da comissão julgadora, em relação aos critérios de seleção:

Os salões de arte são uma instituição tradicional. Eles são sempre parciais e heterogêneos, produtos de uma seleção um tanto ao quanto arbitrária, realizada por uma comissão de jurados que negocia entre si “critérios” em busca de um consenso difícil e precário (MAM, 2002).

O Salão do MAM inicia seu projeto com a busca de representação das tendências contemporâneas e depara-se com sua desestabilidade, sobretudo em um território carente de crítica e público especializado. Se, de fato, as intenções do MAM foram capazes de gerar empreitadas paralelas de produção, discussão, e difusão de bens visuais, isso seria matéria para uma nova pesquisa, centrada em movimentos paralelos, ambientes próprios. Do ponto de vista institucional, nem a Bienal do Recôncavo25, nem os Salões Regionais26 conseguiram gerar uma seqüência objetivada, capaz de aperfeiçoar público, pessoal e mercado.

Pode-se constatar que o Salão do MAM, ainda não é capaz de possibilitar um conjunto de ações que culmine num número considerável de indivíduos discutindo, produzindo e potencializando público. O setor educativo tem um programa de monitoria para estudantes, e segundo Heitor Reis, muitas escolas marcam visita, porque os jovens gostam de ver arte contemporânea.

25 A Bienal do Recôncavo, acontece desde 1991, realizada no Centro Cultural Dannemann, na

cidade de São Felix, no Recôncavo baiano.

26 Os Salões Regionais da Bahia acontecem desde 1992, nos Centros Culturais do Estado,

As escolas primárias, primeiro e segundo grau, vêm porque o menino gosta. Não adianta trazer para ver o acervo, falar do modernismo brasileiro, da importância da Semana de 22. Nada, zero, não tem mais concentração. Agora ele vai querer saber aquilo que ele acha estranho, a estranheza que bate porque o mesmo questionamento intelectual que um adulto tem, que isso é transformado na arte contemporânea, a criança tem esse questionamento em cima de tudo. Ela quer saber o que é a máquina, o que é a luz, o que é a camisinha (2005 s/p).

Ao tratar da arte contemporânea, estes aspectos levantados pelo atual diretor da instituição, a educação reflexiva e questionadora propiciada pelo Museu, devem gerar um resultado a médio e a longo prazo, em um público específico.

A existência de eventos como o “Festival da Livre Expressão Sexual” (2003), a primeira e a segunda edição do “Salão de Maio: interferências urbanas” (2004 e 2005) (Figura 28), o “Atack +” (2004), pode ser considerada a oxigenação de determinadas propostas das linguagens contemporâneas, que, para existirem, não necessitam do cubo branco na sua apresentação. Propostas que aproximam a arte

do público, alheio às tendências artísticas, que proporcionam uma relação direta entre artista e transeunte, porque

na maioria das vezes, tem a cidade como suporte. Talvez uma forma mais democrática de gerar uma relação estética e suas implicações extra-estéticas.

Em relação aos tradicionais salões de arte, é possível dizer que possuem uma lógica bastante desgastada, antiga e que sempre foi terreno de experimentações. Essa lógica, às vezes, é foco de atenção de alguns artistas, como o do paranaense Newton Goto que executa um trabalho em processo, chamado “Arte para Salão” (2000), onde o artista constrói, ao longo do tempo, uma espécie de manual para que se consiga entrar nos salões. Levanta questões como conhecer o curador ou, ao menos, seu gosto, seus artistas preferidos, etc. Outro exemplo é “Cura dor” do grupo pernambucano ALEPH. O trabalho consiste em todos os trabalhos recusados por um determinado salão que ficam dentro de pastas, em um arquivo de ferro para pastas suspensas. Até mesmo estas operações serão absorvidas por algumas curadorias. No texto para IX Salão do MAM, Camillo Osório, questiona se:

(...) teria sentido um salão sem rejeitados? Do mesmo modo que só se faz arte porque não se sabe defini-la, só há salão na medida em que há possibilidade da recusa e o desconforto diante dela. De certo modo a graça dos salões é existir uma tensão entre a razão dos selecionados e aquela dos excluídos. Deste desentendimento nasce alguma fagulha para se continuar a pensar e a fazer arte (MAM, 2002).

Ainda que o Salão da Bahia não estimule eventos paralelos, eles existem em outras configurações que não as de uma mostra institucional. Camilo Osório, talvez, estivesse referindo-se a um determinado trabalho que tem como título, “Rejeitados”. Não há obra, apenas uma rede de artistas que rejeitaram a autoria ao renegar a identidade dos membros, disponibilizando apenas um blog para os expectadores que, diante de um computador ligado à rede, poderiam entender algo mais do trabalho: http://geocities.yahoo.com.br/rejeitadosnonono. No entanto, ao acessar o blog, os grupos estão todos revelados através das mensagens comuns a esse tipo de meio de comunicação. São revelados, inclusive, nomes dos integrantes dos grupos que formaram os “Rejeitados”. Controvérsia ou estratégia de marketing?

Entre os baianos participantes desse Salão, dois são premiados: Ayrson Heráclito e Paulo Pereira,

observando que este último adquire o prêmio pela terceira vez, com um trabalho que demonstra um diferencial dos

trabalhos apresentados anteriormente: pintura no I e II

Salão; escultura no III, IV e V, sendo premiado no III, V e no IX Salão, quando participa com uma instalação. Enquanto sua produção apresentada, até então, era, na maioria das vezes, esculturas delicadas e

primorosamente trabalhadas, o último trabalho, que foi premiado, é uma espécie de apropriação do formato de caixotes de feira, empilhados, como são encontrados, normalmente, quando estão vazios (Figura 29).

Outros baianos participantes são Gaio, com uma instalação bidimensional de pintura presa à parede, Neyde Lantyer com fotografia, e Ieda Oliveira com uma instalação de 8m², em forma de um imenso jacaré, coberto com casca de jaca. 3.2.10. X Salão da Bahia – 2003/2004: a projeção efetivamente possibilitada. Figura 30 Figura 29

No X Salão, as inscrições continuaram diminuindo, foram 1535. Com 05 baianos selecionados, Eriel Araújo - premiado, Grupo Moral, Tonico Portela, Zélia Nascimento, e Vauluizo Bezerra – premiado com uma instalação de participação conceitual, ou seja, a indagação do expectador sobre a forma do elemento apresentado, modificado e inviabilizado, um piano fora de suas proporções (Figura 30). Com o trabalho “O artista precisa de sorte?”, com a pergunta feita em cartões de jogo da sorte, como Loto, Sena, etc., o Grupo Moral ironiza com sutileza e questiona os critérios de seleção de um salão, tema abordado no tópico do IX Salão.

O nível das participações nos salões, em relação ao reconhecimento, aumentou. Em geral, os artistas já possuem um currículo amplo, e se ainda não têm uma produção já reconhecida, têm a oportunidade de deslanchar, de ter a carreira projetada.

É importante ressaltar a qualidade das montagens, da manutenção do acervo, e a

responsabilidade na profissionalização do corpo

técnico. Marcus Lontra coloca no texto do catálogo do X Salão:

(...) o Museu de Arte Moderna equipou-se adequadamente, de acordo com os padrões determinados pela museologia contemporânea, principalmente no que se refere à conservação e restauração das obras que integram o acervo, à construção de reservas técnicas adequadas e à capacitação e valorização dos profissionais envolvidos.em todos o setores e atividades da instituição (MAM, 2003).

As informações, aqui relatadas, são provenientes dos catálogos do Salão da Bahia, realizado pelo MAM, não significando que estes são os únicos pontos de vista sobre as atividades do Museu, nem que o MAM promova as únicas atividades importantes que oxigenaram a produção e discussão relativas à arte contemporânea na Bahia. Entretanto, por um motivo já expresso, os Salões do MAM são um conjunto de atividades que possibilita analisar o surgimento de uma produção de importância no cenário nacional.

Muitos artistas que participaram dos Salões, hoje, estão compondo mostras importantes, como Rosana Palazyan, que participou do III Salão do

MAM, com três aquarelas, e participou do V com uma instalação, onde bonecas de pano branco eram bordadas com cabelo humano e intituladas “O que você quer ser quando crescer?”, e, recentemente, a artista participou da XXVI Bienal Internacional de São Paulo (2004/2005), com a instalação “O Realejo” (2003- 2004) (Figuras 31), e, no mesmo período expunha seus trabalhos em uma mostra individual no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. Houve, também, processos precoces de alguns artistas, como os baianos Maxim Malhado e Ieda Oliveira, por exemplo, que participaram de versões mais recentes do Salão do MAM, e ambos também participaram da última Bienal de São Paulo.