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4 A MODELAGEM DO LEITOR NAS SEÇÕES DE NOVA ESCOLA

4.3 As seções de leitura focal

“Fala, Mestre!”, “Grandes Pensadores” e “Pense Nisso” são seções que apresentam um layout muito semelhante entre si. A página não é tão colorida como nas seções anteriores (predominam as cores preta, cinza e vermelha). Wysocki (2004) explica que as cores podem ser empregadas visando dar um ar de seriedade ou formalidade, tal como ocorre em textos acadêmicos.

Outra característica dessas seções é que o leitor é interpelado pelas fotografias (em geral, há apenas uma cada página) ou sua atenção é chamada pelos “olhos”49, destacados com tamanho de fonte maior e cor cinza ou colocados em retângulos de cor vermelha. Um outro elemento que aparece na página é uma coluna com um pequeno texto em negrito (no canto esquerdo), na qual o editor faz algum comentário ou alerta o leitor para determinado aspecto da temática abordada (FIG. 9).

FIGURA 9 - Elemento visuais que interpelam a leitura – “olhos” e coluna de texto com comentário do editor.

Fonte: NE, nº 198, 2006, p. 62.

O uso mais comedido de cores e fotos pode conferir, como afirma Wysocki (2004), um ar de seriedade ao texto, e isso, conseqüentemente, favorece a realização de uma leitura que focaliza as idéias, o que é bastante diferente da leitura global proposta nas seções descritas anteriormente.

49 Ο olho é um recurso visual colocado no meio da massa de texto, para ressaltar trechos e substituir quebras; é muito

Os textos que compõem essas três seções exigem do leitor uma atenção maior porque fazem uma exposição sobre determinadas concepções teóricas ou apresentam vocabulário técnico e conceitos de diferentes campos do saber. O leitor se depara com uma página praticamente composta por textos verbais, e isso poderia trazer dificuldades para a leitura, tornando-a cansativa e, até mesmo, desencorajando o leitor a realizá-la. Para que isso não aconteça, o editor lança mão do contraste50, que pode ser empregado pela tipologia. Williams (1995) apresenta seis possibilidades para usar o contraste somente pelas fontes. Isso ocorre quando se varia o tamanho, a estrutura, a forma, o peso (espessura dos traços), a direção ou a cor. O contraste de peso é, segundo o autor, uma das melhores formas para organizar uma informação, como ocorre, por exemplo, em sumário que usa negrito e espaçamento do índice remissivo. Com o contraste criado pelo tipo bold (negrito), ele poderá localizar pontos-chave e identificar com mais facilidade as informações, o que tornará a leitura mais interessante. O autor afirma que, se o contraste não for óbvio aos olhos do leitor, vai parecer um erro, portanto, não se pode ser tímido ao usar esse recurso, justamente porque se pretende acrescentar algum atrativo visual à página ou criar uma hierarquia entre os elementos desta. O leitor deve ser capaz de compreender rapidamente a maneira por meio da qual as informações foram estruturadas, por meio do fluxo lógico que organiza os elementos. O contraste não deve confundir o leitor, mas, sim, ajudar a localizar os pontos-chave de um texto.

Observamos, nas três seções de análise focal, que o contraste de peso e tamanho da fonte é empregado no título e no lead dos textos. Notamos ainda que algumas palavras são destacadas no lead (com negrito e cor vermelha), e que elas, por vezes, funcionam como a idéia principal do texto51.

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O contraste, um dos conceitos básicos do design, é empregado para chamar a atenção, criar interesse sobre uma página, auxiliar na organização das informações.

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A modelagem do leitor nas seções de Nova Escola

FIGURA 10 - Emprego de contraste pela tipologia e cor na seção “Fala, Mestre!”

Fonte: NE, nº 198, 2006, p. 17.

A entrevista veiculada pela seção “Fala, Mestre!” (nº 198) é organizada em três colunas (FIG. 10). As perguntas feitas pelo repórter são grafadas em negrito, e, abaixo delas, vemos o sobrenome do entrevistado em caixa alta e cor vermelha. Esse modo de dispor o texto em colunas, destacar as perguntas e grafar outros elementos com negrito e cor acaba otimizando o olhar do leitor, de maneira que ele possa identificar na massa do texto onde estão as perguntas e, conseqüentemente, selecionar as que serão lidas.

Nessa seção há somente fotos do “mestre”, o entrevistado focalizado, e elas estão em conformidade com o tom mais argumentativo do texto, pois o mostram gesticulando com as mãos como se estivesse explicando, definindo e fazendo relações52.

O editor cria estratégias também na seção “Grande Pensadores”, que é aquela que traz um tom acadêmico em sua linguagem (FIG. 11). O autor focalizado na edição de dezembro é Pierre Bourdieu. A seção é composta por um texto, que focaliza algumas idéias do autor, e por três grandes boxes que mostram os dados biográficos (box “Biografia”), o engajamento do

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Não apresentaremos a análise da seção “Pense Nisso”, pois ela traz basicamente os mesmos elementos gráficos de “Fala, Mestre!” – foto do colunista, uso do contraste de tamanho e peso no título e subtítulo. Neste último emprega-se também a cor para destacar algumas palavras e, por fim, a disposição do texto em colunas.

autor em certas lutas sociais (box “Bourdieu e seu tempo”) e o vínculo de algumas idéias do autor com a escola (box “Bourdieu e a escola”) (FIG. 12).

FIGURA 11 - Visão global da primeira página da seção “Grandes Pensadores”.

FIGURA 12 - Elementos visuais (boxes, coluna e olho) na seção “Grandes Pensadores”.

Fonte: NE, nº 198, 2006, p. 59. Fonte: NE, nº 198, 2006, p. 62.

A partir da leitura global da página verificamos que o leitor pode ler somente os boxes ou somente o texto que trata da teoria do autor e que se estende por toda a seção. Vimos também que os textos dos boxes são destacados na página com negrito e que, em dois deles, há uma foto. Essas características fazem com que estes sejam colocados em primeiro plano, em detrimento do texto com a apresentação teórica e dos conceitos que fundamentam determinadas idéias de Bourdieu. A hierarquia na leitura é proposta dessa forma, talvez porque o editor imagine que o leitor de Nova Escola queira ver a aplicabilidade da teoria veiculada nos textos e conhecer algo da vida dos autores. Desse modo, parece que o editor corresponde a esse provável desejo do leitor.

A última seção analisada, “Na dúvida? Pergunte” (nº 198), é composta por diferentes elementos gráficos que, aparentemente, indicam uma leitura rápida. No entanto, não é o que ocorre, pois seu principal elemento visual é um infográfico (ilustração técnica) que responde à pergunta enviada pelo leitor “Como se organiza uma biblioteca?”, no caso da edição nº 198 (FIG. 13).

A modelagem do leitor nas seções de Nova Escola

No infográfico, que ocupa uma página e meia, podem-se ver a planta de uma biblioteca e explicações ao leitor (a partir de pequenas legendas que saem de diversas partes do texto) de como essa biblioteca deve se organizar em seus mais diferentes aspectos, a saber: o mobiliário e sua localização no espaço físico; a organização do acervo, os espaços para leitura e estudo, as estantes. Há, ainda, orientação sobre questões da estrutura física (umidade e pintura).

FIGURA 13 - Seção “Na dúvida? Pergunte”

Fonte: NE, nº 198, 2006, p. 24-25.

É possível ver na página à direita dois boxes com respostas a duas questões de leitores. O texto é grafado com negrito, e as perguntas são destacadas pelo contraste de peso na tipologia e cor (vermelha). Podemos afirmar que, por mais que a seção seja uma das páginas mais coloridas da revista e empregue recursos que favorecem uma leitura global (contraste de peso na tipologia, boxes), o infográfico demanda maior atenção do que as demais. Segundo Wysocki (2004), a função deste elemento é explicar de forma mais dinâmica um processo, um fenômeno, ou, neste caso, a organização de um espaço.

Ao longo da análise observamos que em todas as seções o editor busca otimizar a leitura, organizando as informações em boxes e empregando diferentes tipos na página. O que diferencia, portanto, as seções que demandam leitura focal e as seções de leitura rápida é o uso mais ou menos comedido de cores na página, o tamanho das porções de texto e o próprio conteúdo temático.

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