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ARQUI TETURA PARA SAÚDE

3.3 O projeto de edifícios de saúde

3.3.1 Ser Humano x Espaço Físico

Para se iniciar a discussão sobre arquitetura de ambientes de saúde é necessário que se entenda as relações entre ser humano e espaço físico. É também necessário se

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compreenda o sentimento de saúde versus o sentimento de doença, que alteram as relações entre os indivíduos e os espaços.

Rashid e Zimring (2008) apresentam em seu texto uma revisão bibliográfica comparando as relações entre ambiente interno e estresse em edifícios de saúde e edifícios de escritório. Concluem que uma das questões mais importantes a serem notadas é, provavelmente, a diferença entre pacientes em edifícios de saúde – talvez seus familiares, da mesma forma – e indivíduos saudáveis em escritórios. O estado de saúde do indivíduo pode influenciar suas relações com o ambiente construído.

“ Um sentimento de despersonalização, a falta de controle sobre o próprio corpo e uma dependência completa nos profissionais de saúde já tornam os pacientes vulneráveis ao estresse” (RASHI D E ZI MRI NG, 2008, p. 178). Devido a isto, os autores colocam que os pacientes e seus familiares sentem muito mais intensamente qualquer efeito negativo dos elementos do ambiente interno.

Some-se a isto o fato de que as necessidades ambientais de cada grupo de pacientes podem ser diferentes, dificultando o projeto. Pesquisas neste sentido encontram dificuldades “ [ ...] em conduzir um estudo controlado em unidades hospitalares envolvendo qualquer grupo particular de pacientes [ ...] ” . Os autores consideram que, devido a isto, este assunto tem recebido muito pouca atenção em pesquisas de projeto do ambiente. (RASHI D E ZI MRI NG, 2008, p. 178). Para eles, é geralmente necessário que haja uma colaboração efetiva entre os projetistas do ambiente e os pesquisadores, funcionários do hospital e pacientes e seus familiares, para que tais estudos se viabilizem.

No âmbito da psicologia ambiental, o atual modelo que explica a relação do homem com o ambiente é o transacional, que prioriza os objetivos dos indivíduos em determinada situação, ao invés do tradicional modelo onde o espaço determina a função (MELO, 1991, p. 87).

“ Esses objetivos são organizados e estruturados pelos processos sociais e/ ou organizacionais que, por sua vez, estão associados a determinadas ações que são desenvolvidas em lugares específicos. Dessa forma se reconhece que indivíduos envolvidos numa mesma situação possuem diferentes objetivos e são essas diferenças que vão justificar os diferentes critérios utilizados por eles na sua avaliação pelo mesmo ambiente” (MELO, 1991, p. 87).

Dentro de edifícios de saúde, existem diferentes usuários com diferentes objetivos. Assim, pode se depreender que a percepção do espaço por um familiar que visita um enfermo na UTI – com sentimentos de preocupação e tristeza – é distinta da percepção de um familiar que visita um bebê recém-nascido no berçário – com sentimentos de alegria e esperança. Da mesma forma, um hospital abriga pacientes que estão de passagem para um simples check up, e pacientes com enfermidades em estágios terminais. Os sentimentos destes pacientes são distintos.

Há vários anos já existem diversos estudos realizados em edificações de saúde no contexto da psicologia ambiental. Sommer (1973) apresenta em seu livro um estudo realizado numa enfermaria para senhoras idosas no Canadá, sobre a influência do espaço nas pacientes. Durante o processo, observou que as pacientes e equipe de enfermagem não foram ouvidas para a tomada de decisão, e as escolhas não levaram em consideração que os fatores ambientais pudessem ter influência terapêutica. As pacientes, segundo ele, não tiveram papel na organização do ambiente, mas foram organizadas por ele, e os ambientes resultantes não contribuíam para a integração social. Com algumas remodelações realizadas pelo autor, observou-se maior interação entre as pacientes.

Segundo Barreto (2005), a sub-área disciplinar da Psicologia Ambiental contribui para o re-estabelecimento da abordagem projetual envolvendo as variáveis do comportamento humano, devendo ser consideradas no processo de projeto participativo.

O Projeto Participativo – Co-design – é um método de projeto cuja principal característica é envolver o usuário como peça chave no processo de planejamento, de forma a transformar tanto o espaço físico como as pessoas que o utilizam (BRUNA et al, 2004).

A principal causa dos problemas de projeto arquitetônico e urbanístico contemporâneos, segundo Cherulnik (199323 apud BARRETO, 2005), é a falta de um conhecimento consistente acerca do usuário, de suas necessidades e de suas reações diante de determinadas condições ambientais, e também ao desconhecimento da experiência própria do usuário em relação a “ situações ambientais que não foram

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Cherulnik, P. Applications on Environment- Behavior Research: Case Studies and Analysis. New York: Cambridge University Press, 1993.

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vividas ou estudadas pelos arquitetos (eventualmente encarregados de desenvolver projetos e intervenções que atingem esses usuários)” .

Sommer (1973, p. 116 - 117) afirma que “ [ ...] o fato de perguntar às pessoas o que é que desejam quanto ao ambiente ajuda a superar a despersonalização e a alienação institucionais [ ...] ” e que “ [ ...] os levantamentos entre os oprimidos são duplamente importantes, pois não apenas estes são os consumidores mais numerosos, mas também aqueles que mais provavelmente se sentem impotentes e afastados das decisões [ ...] ”.

Segundo Devlin e Arneill (2003), os administradores de edificações de saúde compreendem cada vez mais que a saúde dos pacientes pode ser afetada pelo ambiente físico destas edificações, apesar de existir uma lacuna entre as descobertas das pesquisas científicas e as aplicações na prática. Os autores também colocam que são mais freqüentes os artigos que ligam projetos de edifícios de saúde e o bem-estar dos pacientes em periódicos especializados.

Para Carr (2009), um projeto de edificação de saúde de qualidade integra os requisitos funcionais e as necessidades humanas de todos os seus usuários – diversos tipos de funcionários, pacientes, acompanhantes, visitantes, entre outros.

Canter, (1972 apud MELO, 1991), Canter e Canter (1979b apud MELO, 1991), argumentar que a avaliação de todos os envolvidos no processo terapêutico – médicos, enfermeiras, terapeuta ocupacional, pacientes, parentes, visitantes, entre outros – é um fator importante de se considerar na realização de qualquer projeto arquitetônico, se o objetivo for criar um ambiente o mais favorável possível para o tratamento do paciente. Os autores salientam a existência de diferentes “ papéis profissionais”, que podem contribuir para uma avaliação distinta do mesmo ambiente. Assim, se for considerado apenas um destes “Environmental Role” , as inovações realizadas podem não resultar nos efeitos desejados, de forma que as alterações na estrutura do ambiente podem por um lado facilitar o trabalho de algum desses grupos mas por outro dificultar a atuação de outros grupos.