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3 DOAÇÃO DE ÓRGÃOS 3.1 BREVE HISTÓRICO

4. DOAÇÃO DE ÓRGÃOS POST MORTEM

4.4 TRATAMENTO DADO EM OUTROS SISTEMAS UMA BERVE ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MODELOS DE ALGUNS PAÍSES.

4.4.1 Sistema espanhol

Primeiramente, cumpre analisar o sistema espanhol, pois é este o sistema por excelência já que tem produzido maior eficácia na captação de órgãos em todo o mundo.

Atualmente, é considerado como possuidor da melhor estrutura de captação e transplante de órgãos, com 34 doações por milhões habitantes.137

Tal sistema é regido pela lei n. 30, de 27 de outubro de 1979, regulamentada pelo Real Decreto n. 426, de 22 de fevereiro de 1980.

Inicialmente, a mencionada lei irá tratar da gratuidade da doação138, tratamento semelhante ao adotado pelo Brasil. Como se sabe, o art. 1º da lei 9.434/97139, bem como o art. 14 do Código Civil pátrio permitem a doação de órgãos desde que seja gratuita140.

Com relação à doação de órgãos entre vivos, a referida legislação dispõe, em linhas gerais, que o doador deve ser maior de idade, com plena capacidade mental e que, tendo sido previamente informado das consequências de sua decisão, manifeste- a de forma expressa, livre e consciente.141

137 ESPANHA é recordista em transplante. Disponível em: <http://fantastico.globo.com/Jornalismo>. Acesso em: 22 jun. 2009. Reportagem do programa Fantástico da Rede Globo, exibido em 03 de maio de 2009.

138 2 Artículo primero. La cesión, extracción, compensación, intercambio y trasplante de órganos humanos, para ser utilizados con fines terapéuticos, sólo podrán realizarse con arreglo a lo establecido por la presente Ley y por las disposiciones que se dicten para su desarrollo.Artículo segundo. No se podrá percibir compensación alguna por la donación de órganos. Se arbitrarán los medios para que la realización de estos procedimientos no sea en ningún caso gravosa para el donante vivo ni para la familia del fallecido. En ningún caso existirá compensación económica alguna para el donante, ni se exigirá al receptor precio por el órgano trasplantado.Artículo tercero. El Ministerio de Sanidad y Seguridad Social autorizará expresamente los Centros sanitarios en que pueda efectuarse la extracción de órganos humanos. Dicha autorización determinará a quién corresponde dar la conformidad para cada intervención.

139 Art. 1º “A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida ou post

mortem, para fins de transplante e tratamento, é permitida na forma desta Lei”.

140

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.

141 Artículo cuarto La obtención de órganos procedentes de un donante vivo para su ulterior injerto o implantación en otra persona podrá realizarse si se cumplen los siguientes requisitos: a. Que el donante sea mayor de edad. b. Que el donante goce de plena facultades mentales y haya sido previamente informado de las consecuencias de su decisión. Esta información se refería a las consecuencias previsibles de orden somático, psíquico y psicológico, a las eventuales repercusiones que la donación pueda tener sobre su vida personal, familiar y profesional así como a los beneficios que con el trasplante se espera haya de conseguir el receptor. c. Que el donante otorgue su consentimiento de forma expresa, libre y consciente, debiendo manifestarlo, por escrito, ante la autoridad pública que reglamentariamente se

De outra sorte, no tocante à doação de órgãos post mortem, assunto que nos interessa, a legislação espanhola, em alguns pontos parece assemelhar-se à legislação brasileira e, em outros, distancia-se bastante

É que o Real Decreto n. 426, de 22 de fevereiro de 1980, em seu artigo 6º dispõe que os órgãos de falecidos serão retirados desde que obedeçam a alguns requisitos.

Dentre eles, se encontra a necessidade de haver um centro integrado que possibilite que o órgão captado seja transplantado para a pessoa mais idônea, segundo critérios eficazes determinados pela ciência142.

Uma vez criado o centro integrado de transplante, o decreto supramencionado determina que as pessoas que necessitam de transplante sejam inscritas no programa de transplantes e doação de órgãos, devendo para tanto serem devidamente informadas dos riscos do procedimento.

Para isso, foi criada a ONT (Organização Nacional de Transplante) que se situa junto ao Ministério da Saúde em Madrid e funciona 24 horas por dia, contando com uma equipe de profissionais de saúde capacitados143.

determine, tras las explicaciones del Médico que ha de efectuar la extracción obligado este también a firmar el documento de cesión del órgano. En ningún caso podrá efectuarse la extracción sin la firma previa de este documento. A los efectos establecidos en esta Ley, no podrá obtenerse ningún tipo de órganos de personas que, por deficiencias psíquicas o enfermedad mental o por cualquier otra causa, no puedan otorgar su consentimiento expreso, libre y consciente. d. Que el destino del órgano extraído sea su trasplante a una persona determinada, con el propósito de mejorar sustancialmente su esperanza o sus condiciones de vida, garantizándose el anonimato del receptor.

142 Artículo 6 La extracción de órganos u otras piezas anatómicas de fallecidos sólo podrá realizarse en los centros sanitarios expresamente autorizados para ello por el Ministerio de Sanidad y Seguridad Social. Deberán reunir las siguientes condiciones y requisitos: 1. Una organización y régimen de funcionamiento interior que permita asegurar la ejecución de las operaciones de extracción de forma satisfactoria. 2. El personal médico y los medios

143 ROCHA, Eduardo. O “modelo espanhol” de transplantes: uma idéia a ser copiada pelos

brasileiros? Revista Virtual de Medicina, [S.l.], v. 1, n. 2, ano 1, abr - jun de 1998. Disponível

Os transplantes são realizados em sua maioria em hospitais públicos que possuam equipe de captação.

O sistema funciona da seguinte forma:

1. O hospital que captou o órgão doado tem a preferência para encontrar o receptor dentre aqueles inscritos no programa e que estejam em suas dependências.

2. Não havendo receptor compatível naquele hospital, a ONT vai ser contatada para interferir na distribuição do (s) órgão (s) doado (s).

3. A ONT vai então buscar, dentre os inscritos em hospitais do mesmo estado e em outros estados, qual receptor que apresenta maior compatibilidade com o doador.

Em resumo, a Espanha criou um sistema integrado de captação e transplantes de órgãos, cuja finalidade é transplantar os órgãos captados para o receptor com maior compatibilidade dentro daqueles inscritos no programa.

Com isto, não restam dúvidas que no sistema espanhol, não há espaço para que o doador escolha o receptor de seus órgãos, uma vez que os receptores dos órgãos doados serão aqueles previamente cadastrados no sistema e cujos exames demonstrem compatibilidade com o doador.

Note-se que, no sistema espanhol, há uma ordem de preferência que deverá ser seguida. Os órgãos doados primeiramente devem ser oferecidos ao hospital que captou o órgão doado e somente diante da ausência de receptor compatível naquela instituição é que a ONT é chamada para encontrar o receptor compatível.

Como se sabe, no Brasil, a lei 9.434/97, em seu art. 10144, afirma que transplante só se fará com o consentimento do receptor inscrito na lista única de transplante; e o Dec.2268/97, em seu art. 30, aduz que os tecidos, órgãos ou partes do corpo humano não poderão ser transplantados para receptores que não forem

144 Art. 10. O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do receptor, assim inscrito em lista única de espera, após aconselhamento sobre a excepcionalidade e os riscos do procedimento.

indicados pelas CNCDOs145. Vê-se que no Brasil, também não há a possibilidade de receptor que não esteja na lista única de transplante.

Contudo, na Espanha não há a chamada “lista única de espera” nos moldes da brasileira. Ao revés, o órgão transplantado, conforme já mencionado, destina-se primeiramente a receptores inscritos no hospital que captou o órgão e só depois é que irá para receptores inscritos em outra lista.

De outra sorte, a legislação espanhola, assim como a brasileira, adotou o critério da morte encefálica.

Insta frisar que, embora as legislações espanholas e brasileira apresentem semelhanças, na prática, o sistema brasileiro nem de longe consegue alcançar os resultados de doações e transplantes obtidos pelo sistema espanhol. Talvez, a explicação esteja na confiabilidade do sistema espanhol, enquanto no Brasil, conforme disposto no tópico anterior, a lista única é burlada em muitos casos.