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CAPÍTULO 1 – PRINCÍPIOS GERAIS DO SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL

1.5. Princípios gerais do Sistema de Seguridade Social

1.5.4. Solidariedade

A solidariedade é princípio diretor do Sistema de Seguridade Social e tem por escopo o auxílio daqueles que podem financeiramente, àqueles que não têm condições financeiras suficientes para arcar com os prejuízos decorrente dos riscos que os atingem. Quer dizer, “o ônus das prestações deve recair, preferentemente, sobre o conjunto da sociedade, ou de setores seus, especialmente dotados de recursos, em abundância que autorize sua escolha como esteio da despesa pública da Seguridade Social”52.

No sistema de seguridade social há duas vertentes do princípio da solidariedade. A primeira é geral e está prescrita no artigo 3.º, inciso I53, da Carta Constitucional de 1988, e diz respeito ao objetivo social do sistema, que mais se identifica com um cunho filosófico idealizado pela Lei das leis. A segunda vertente desse norte maior é específica do Sistema de Seguridade Social – Solidariedade no Custeio –, preceituado no artigo 19554 do Texto Maior. Esta forma de ajuda integrada

52

Feijó COIMBRA, Direito previdenciário brasileiro, p. 48.

53

“Art. 3.º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária.”

54 “A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da

lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidente sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II – do trabalhador e dos demais segurados da

no custeio consubstancia-se numa exigência atuarial do sistema, quer dizer, toda a sociedade, direta ou indiretamente, bem como o Estado, contribui para a manutenção do sistema de acordo com as regras ditadas no referido dispositivo.

A partir da solidariedade no custeio, a Previdência Social adotou o sistema de repartição, no qual todos contribuem para alcançar o ideal securitário, que é a proteção integral, independentemente de a pessoa que necessita de proteção contribuir ou não para a Previdência Social. Nesse sentido, Paul Durand55 aduz que o sistema de repartição “repousa na idéia de solidariedade entre indivíduos e entre gerações”.

Nesse diapasão, Ilídio das Neves56, ao prelecionar acerca do acordo entre gerações, aduz que

“está na base dos regimes de repartição financeira com que hoje funcionam os sistemas e que permite que em cada momento os encargos com as prestações da população idosa, já retirada do mercado de trabalho, sejam assegurados pela população activa.”

Ainda sobre o modelo de repartição, Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari57 ensinam que “cabe à atual geração de trabalhadores em atividade pagar as contribuições que garantem os benefícios dos atuais inativos, e assim sucessivamente, no passar dos tempos”.

Feijó Coimbra58 afirma que “o ônus das prestações deve recair, preferentemente, sobre o conjunto da sociedade, ou de setores seus, especialmente dotados de recursos em abundância que autorize sua escolha como esteio da despesa pública da Seguridade Social”.

previdência social; III – sobre a receita de concursos de prognóstico; IV – do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.” Além dessas receitas, podemos ainda mencionar a alteração trazida pela Emenda Constitucional n.º 41, de 31 de dezembro de 2003, que estabelece como receita a contribuição dos inativos: “Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo”.

55 Paul DURAND, La politique contemporaine de la sécurité sociale, p. 306. 56

Ilídio das NEVES, Direito da segurança social, p. 24.

57

Carlos Alberto Pereira de CASTRO e João Batista LAZZARI, Manual de direito previdenciário, p. 43.

As duas vertentes (a geral e a especial) do princípio da solidariedade desempenham papel crucial no alcance do ideal prescrito na Constituição da República de 1988, que é a proteção integral dos atores sociais, com arrimo no objetivo da universalidade da cobertura e do atendimento. Isso ocorre porque, quando a sociedade e o Estado unem forças para amparar determinadas situações de necessidade, solidarizando-se, verifica-se uma maior rapidez no processo de proteção social, que tem por finalidade atingir a justiça social.

Essa diretriz constitucional conduz à seguinte conclusão: aqueles que dispõem de mais recursos financeiros devem contribuir com um valor proporcional às suas riquezas com o intuito de ajudar no financiamento da proteção daqueles que se encontram suscetíveis ao atingimento dos riscos sociais59.

O princípio da solidariedade se mostra mais efetivo na Assistência Social e na saúde, elementos componentes do Sistema de Seguridade Social que não exigem contribuição das pessoas para que possam fazer jus aos benefícios e serviços. Aqui o Estado atua como o supridor das necessidades, conforme se infere do Texto Magno.

Na Assistência Social, a Carta Magna de 1988 dispensa proteção social àquelas pessoas que não têm condições de contribuir para o sistema em razão do seu baixo nível de vida ou de condição física que impeça de trabalhar.

“Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças e adolescentes carentes;

III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária.”

59

Ver a tese de doutoramento de Heloísa Hernandez Derzi, A morte e seus beneficiários no regime geral de previdência social, capítulo II, que trata do conceito de risco.

A Assistência Social é, portanto, um direito subjetivo assegurado pela Lei das leis às pessoas nas condições acima delineadas. O seu objetivo, dessa forma, é o de garantir o mínimo vital ao ser humano60.

Nesse sentido, Feijó Coimbra61 afirma que

“a idéia de um seguro social, desse modo, surgiu como forma de cooperação de toda a sociedade para atender às carências do cidadão escassamente provido de recursos, pela convicção de que a situação de miséria de uma classe social reflete-se, indesviavelmente, sobre a sociedade inteira.”

A saúde é outra forma de concretização da solidariedade, na qual as pessoas podem exigir do Estado a prestação, preventiva e curativa, sem que haja necessidade de verter contribuições para os cofres públicos com a finalidade de exigir o seu direito ao atendimento médico digno.

O Sistema de Seguridade Social deve ter como um dos objetivos a serem observados para a concreção de seus objetivos primordiais o princípio da solidariedade e, de conformidade com o que preleciona Ilídio das Neves62,

“nos regimes de segurança social, fundamentalmente voltados para a protecção econômica, predomina a técnica da garantia de rendimentos, quer de rendimentos de substituição, compensatórios das remunerações do trabalho, ainda influenciada, em vários e importantes aspectos, por regras idênticas às da protecção previdencial ou mesmo semelhantes às do seguro contratual, quer de rendimentos mínimos, que exprime a atribuição de um rendimento estritamente social numa base exclusiva de solidariedade.”

60

Aqui, entenda-se, o mínimo para garantia da sua dignidade e de vida saudável.

61

Feijó COIMBRA, Direito previdenciário brasileiro, p. 61.

CAPÍTULO 2 – O SISTEMA DA SEGURIDADE SOCIAL E SEUS