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CAPÍTULO 4 – O SALÁRIO-MATERNIDADE E SUAS PECULIARIDADES NO

4.2. A Lei de Benefícios e seu regulamento

4.2.5. Valor do benefício

4.2.5.1. Emenda Constitucional n.º 20, de 15.12.1998, e sua inaplicabilidade ao salário-maternidade

A Emenda Constitucional n.º 20, de 15.12.1998, foi responsável pela chamada Reforma da Previdência Social, uma vez que alterou dispositivos concernentes ao recolhimento de contribuições e ao pagamento de benefícios, nos regimes geral e dos servidores públicos, bem como no que tange ao regime de previdência complementar.

Para nós interessam apenas as modificações referentes à limitação máxima do valor dos benefícios, estabelecido à época em R$ 1.200,00, e, por conseqüência, sua aplicação ao salário-maternidade.

O legislador constituinte derivado não compreendeu o alcance da norma, quando da sua edição, quer dizer, o prejuízo que poderia ocasionar com a sua aplicação.

Diante disso, o STF – Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 1.946224, de 03.04.2003, entendeu que a

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Vale salientar que, no Senado Federal, há um projeto de lei, de n.º 90/99, que prescreve como crime a cessão onerosa do útero de mulher para a gestação de filho alheio, culminando uma pena de reclusão, de um a três anos, bem como pagamento de multa.

224 Nesse sentido, segue a Ementa da ADIN n.º 1.946, de abril de 2003: “Direito constitucional.

Previdenciário e processual civil. Licença-gestante. Salário. Limitação. Ação Direta de Inconstitucionalidade do art. 14 da Emenda Constitucional n.º 20, de 15.12.1998. Alegação de violação ao disposto nos artigos 3.º, IV, 5.º, I, 7.º, XVIII, e 60, § 4.º, IV, da Constituição Federal. (...) A pura e simples aplicação do art. 14 da EC 20/98, de modo a torná-la insubsistente, implicará um retrocesso histórico, em matéria social-previdenciária, que não se pode presumir desejado. 3. Na verdade, se se entender que a Previdência Social, doravante, responderá apenas por R$ 1.200,00

alteração trazida pela referida emenda constitucional estabelecia forma de discriminação à mulher trabalhadora, motivo pelo qual o artigo 14 da EC n.º 20/98 não poderia ser aplicado ao benefício salário-maternidade, uma vez que estabelecia nítida afronta à igualdade de condições entre homens e mulheres no momento da contratação laboral, contrariando, destarte, o direito fundamental prescrito no artigo 5.º, inciso I, da Carta Política de 1988.

Essa desigualdade de tratamento ocorria porque o salário-maternidade da trabalhadora seria pago pelo INSS – Instituto Nacional de Seguro Social, até o limite máximo estabelecido em lei para pagamento dos benefícios, e o excedente ficaria a cargo da empresa. Quer dizer, seria desvantagem para o empregador contratar mulheres nos quadros de trabalho de sua empresa, uma vez que teria prejuízo, caso sua empregada engravidasse.

Criavam-se, destarte, duas facetas discriminatórias e atentatórias contra a ordem constitucional pátria: a primeira, em relação à possibilidade de emprego para as mulheres; a outra, relacionada com a diminuição de natalidade no país, uma vez que as empresas exigiam, como efetivamente exigiram, que as suas empregadas não engravidassem, pois, caso o fizessem, seriam despedidas do trabalho. Estabelecia-se, com isso, uma limitação da liberdade das mulheres, limitação essa não disciplinada pela Carta Política de 1988, único instrumento capaz de estabelecer limitações nas liberdades individuais e coletivas dos indivíduos.

Sendo assim, e em razão do prescrito no artigo 7.º, inciso XVIII, da Lei Magna, verificou-se que o valor do salário-maternidade não poderia conter qualquer limitação, uma vez que a Previdência Social deveria efetuar o pagamento integral do benefício, correspondente ao valor do salário da empregada, independentemente da

(um mil e duzentos reais) por mês, durante a licença da gestante, e que o empregador responderá sozinho pelo restante, ficará sobremaneira facilitada e estimulada a opção deste pelo trabalhador masculino, ao invés da mulher trabalhadora. Estará, então, propiciada a discriminação que a Constituição buscou combater, quando proibiu diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão, por motivo de sexo (art. 7.º, inc. XXX, da CF/88), proibição que, em substância, é um desdobramento do princípio da igualdade de direitos, entre homens e mulheres, previsto no inciso I do art. 5.º da Constituição Federal. Estará, ainda, conclamando o empregador a oferecer à mulher trabalhadora, quaisquer que sejam suas aptidões, salário nunca superior a R$ 1.200,00, para não ter de responder pela diferença. (...) A Ação Direta de Inconstitucionalidade é julgada procedente, em parte, para se dar, ao art. 14 da Emenda Constitucional n.º 20, de 15.12.1998, interpretação conforme a Constituição, excluindo-se sua aplicação ao salário da licença-gestante, a que se refere o art. 7.º, inciso XVIII, da Constituição Federal. 6. Plenário. Decisão unânime”. Decisão retirada do site www.stf.gov.br, acesso em 26.04.2004.

quantia paga, obedecendo, por conseguinte, a prescrição constitucional de garantia do salário (“sem prejuízo do emprego e do salário”).

Essa normatização vigorou até o ano de 2003, quando, conforme mencionado anteriormente, foi editada a Lei n.º 10.710, de 03.08.2003, que estabeleceu um limite ao valor do salário-maternidade pelo artigo 248 da Carta Constitucional Histórica.

A partir dessa novel legis o valor do benefício salário-maternidade passou a obedecer ao limite prescrito no artigo 37, inciso XI, da Lei das leis, que assim preceitua:

“A remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandatoeletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal225.

Além do dispositivo acima mencionado, o artigo 14 da Emenda Constitucional n.º 20/98 afrontou o princípio da igualdade estabelecido no artigo 5.º, inciso I, e, por conseqüência, o parágrafo 4.º do artigo 60 da Lei das leis, cláusula pétrea do nosso sistema constitucional.

O Supremo Tribunal Federal, na ADIN n.º 939, já se posicionou no sentido da possibilidade de declaração de inconstitucionalidade de emenda constitucional que contrarie o texto originário da Constituição da República de 1988. Dessa forma, qualquer, norma derivada que estabelecer diretrizes contrárias ao ordenamento fundamental será abolida do sistema normativo pátrio.

No documento COBERTURA E DO ATENDIMENTO MESTRADO EM DIREITO (páginas 127-129)