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2.   AS CADEIAS DE SUPRIMENTOS E O EFEITO CHICOTE 22

2.2   EFEITO CHICOTE 45

2.2.4   Soluções para reduzir o EC 61

 

    As soluções para reduzir ou mitigar o EC podem ser investigadas tanto usando ferramentas quantitativas quanto qualitativas. Entretanto, faz-se necessário, primeiramente, mensurá-lo (WANGPHANIC, 2008).

Sob um enfoque qualitativo, Lee, Padmanabhan e Whang   (1997a) sugeriram ações divididas em três grupos para reduzir o EC: compartilhamento de informação, alinhamento dos canais de distribuição e eficiência operacional.

Nienhaus, Ziegenbein e Schoensleben (2006) tornaram mais explícitas as ações direcionadas à redução do EC, dentre as quais destacam-se:

• redução do tempo necessário para determinar e avaliar as demandas previstas e reais;

• análise da contribuição de cada modelo de demanda, considerando os elos que integram a cadeia de suprimentos;

• melhoria na qualidade e na frequência de transferência de informações acerca da demanda entre os elos da cadeia de suprimentos;

• minimização de eventos promocionais, já que estes tendem a interromper o real processo de encomenda de produtos;

• identificação e eliminação das causas que levam ao cancelamento dos pedidos pelos clientes;

• adoção do Vendor Managed Inventory (VMI) em conjunto com o planejamento das necessidades do cliente para ajustar o nível do estoque; e

• introdução de outros métodos de gestão, a exemplo da política de reabastecimento contínuo, EDI e Efficient Consumer Response (ECR).

Ainda sob um enfoque qualitativo, Almeida (2014) desenvolveu um construto teórico abrangendo a confiança e a colaboração entre empresas para a mitigação do EC. Os resultados obtidos apontaram que os aspectos comportamentais, em relação aos parceiros que formam a cadeia de suprimentos, podem reduzir as causas operacionais do fenômeno, pois promovem

melhorias no compartilhamento de informações, na previsão de demanda e na política de reabastecimento.

Wikner, Towill e Naim (1991), utilizando a simulação em seus estudos, apontaram cinco cursos de ações a serem perseguidos para mitigar o EC: melhorar as regras de decisão de cada nível da cadeia de suprimentos, prover melhor ajustamento das regras entre os níveis, reduzir os atrasos de tempo, reduzir os níveis de distribuição e melhorar o fluxo de informação ao longo da cadeia de suprimentos.

Taylor (2005) enfatiza que a suavização da demanda, o desenvolvimento de sistemas com flexibilidade de resposta, a definição clara das políticas de estoques adotadas pela organização e a redução do número de canais de distribuição são procedimentos que tendem a reduzir o EC.

Campuzano-Bolarín et al. (2013) direcionaram seus estudos com o propósito de identificar técnicas alternativas para a previsão de estoques, por entenderem que a definição desta quantidade é uma das causas principais que ocasiona a amplificação da demanda. Concluíram que o uso da regressão Kernel consiste em uma alternativa para melhorar características importantes na cadeia de suprimentos, a exemplo do EC.

Sravani e Padmanabhan (2015) examinaram 24 cenários diferentes em uma cadeia de suprimentos de três níveis e verificaram que o aumento do parâmetro de suavização na previsão da demanda promove um impacto significativo no EC.

Centeno e Pérez (2008), por sua vez, centraram sua atenção na quantificação e análise do impacto das diferentes estratégias de gestão no EC, ou seja, gestão independente de previsão, gestão colaborativa da demanda e gestão colaborativa flexível da demanda. Considerando pequenas empresas no segmento de alimentação, concluíram que estratégias de colaboração são melhores em baixa sazonalidade, independente do método de previsão de demanda adotado e da natureza do prazo de ressuprimento.

Alguns estudos destacaram que o compartilhamento da informação entre os níveis da cadeia de suprimentos acerca da demanda reduz o EC (LEE; PADMANABHAN; WHANG, 1997b; BAGANHA; COHEN, 1998; CACHON, 1999; CHEN et al., 2000; CHEN; RYAN; SIMCHI-LEVI, 2000b; CROSON; DONOHUE, 2006; OUYANG, 2007; BARLAS; GUNDUZ, 2011; CONSTANTINO et al., 2015). Cachon e Fisher (2000) complementam essa recomendação destacando que a prática do EDI diminui o tempo de ressuprimento, favorecendo ainda mais a redução do EC.

Disney e Towill (2003), ainda focando o processamento da demanda, concluíram que a adoção do VMI pode reduzir a ocorrência do EC, reforçando a importância do compartilhamento de informações entre os elos que compõe a cadeia de suprimentos.

Os estudos que analisaram a formação dos lotes de compra na redução do EC explicitaram que as empresas devem priorizar a redução destes lotes, repercutindo no aumento da frequência de colocação dos pedidos de compra (CACHON, 1999; KELLE; MILNE, 1999; RIDDALLS; BENNETT, 2001; WARBURTON, 2004; POTTER; DISNEY, 2006; TANWEER et al., 2014)

Quanto à adoção de retornos na cadeia de suprimentos, Chatfield e Pritchard (2013) demonstraram que a decisão por permiti-los resulta em um nível significativamente maior do EC. Também concluíram que a variância do lead time contribui para esse efeito amplificador. Dias (2003), usando a DS, mostrou a oportunidade de reduzir o EC mediante a eliminação das compras especulativas, geralmente motivadas pela variação dos preços dos produtos, bem como de otimizar o custo total da cadeia de suprimentos a partir da redução do estoque de segurança. Para tanto, faz-se necessária a cooperação entre os elos da cadeia.

Mendonça (2004) também realizou simulações a partir da DS em seus estudos. Verificou que a estabilização dos preços tende a reduzir as variações da demanda, assim como a reposição de mercadorias gerenciada diretamente pelo fornecedor. Além do mais, a prática de uma gestão integrada da cadeia de suprimentos se torna mais oportuna do que a atuação isolada das partes que a compõe.

Sasaki (2009), ainda utilizando a DS, construiu um modelo do ambiente produtivo considerando uma cadeia de três níveis. Concluiu que a partir da variação do tempo para consumo, do tempo para ajuste do estoque e do lead time da produção pode-se reduzir o EC, melhorando o desempenho da cadeia de suprimentos.

O Quadro 3 sintetiza referências consultadas acerca do EC. Foi elaborado um comparativo enfatizando a ferramenta utilizada na pesquisa, a estrutura da cadeia de suprimentos analisada, as causas do EC investigadas e as soluções obtidas. Conclui-se que os estudos, em geral, focam uma estrutura de três níveis e com um produto único; consideram a demanda como sendo a principal causa do EC; e que a centralização da distribuição, o compartilhamento de informações, o uso da TI, bem como lotes menores de compra, associados a maior frequência de pedidos de compra, tendem a mitigar o EC.

Quadro 3: Síntese dos trabalhos desenvolvidos acerca do EC

Autor Ferramenta Estrutura da

cadeia de suprimento Causa do EC Solução Baganha; Cohen, 1998 Abordagem analítica Produto único. N varejistas e um distribuidor Processamento da demanda

Um sistema centralizado de distribuição tende a mitigar o EC Cachon, 1999 Abordagem analítica Produto único. N varejistas e um fornecedor Formação do lote

A política de formação de pedidos, considerando lotes menores de compra e com maior frequência, tende a mitigar o EC

Kelle; Milne, 1999 Abordagem analítica Produto único. N varejistas e um fornecedor Formação do lote

A redução do tamanho do lote e a frequência maior dos pedidos tendem a mitigar o EC

Cachon; Fisher, 2000 Abordagem analítica Produto único. N varejistas e um fornecedor Processamento da demanda

O compartilhamento de informações através do EDI pode melhorar a eficiência operacional, reduzindo o tempo de ressuprimento e os lotes de compra Chen et al., 2000 Chen; Ryan; Simchi-Levi, 2000b Abordagem analítica Produto único. Cadeia de suprimentos linear com 4 estágios Processamento da demanda

A centralização da informação pode mitigar o EC

Lee; Padmanabhan; Whang, 1997b Abordagem analítica Produto único. Um varejista e um fornecedor Processamento da demanda

O valor do compartilhamento da informação de demanda pode ser elevado quando as demandas são significativamente correlacionadas ao longo do tempo, a variância da demanda em cada tempo é alta e o tempo de ressuprimento é grande

Riddalls; Bennett, 2001 Abordagem analítica Produto único. Único estágio Formação do lote (pedido)

O EC é proporcional ao resto do quociente entre a demanda média e tamanho do lote. A definição do tamanho do lote próximo a taxa média da demanda pode mitigar o EC

Dias, 2003 Simulação Cadeia de

suprimentos com 2 estágios

Processamento da demanda

O EC pode ser mitigado mediante a eliminação de compras especulativas, sendo necessária a cooperação entre os elos da cadeia de suprimentos

Disney; Towill, 2003 Teoria de controle Produto único. Cadeia de suprimentos com 2 estágios Processamento da demanda

A adoção do VMI pode reduzir ou eliminar algumas das causas do EC Warburton, 2004 Abordagem analítica Um fornecedor e um varejista Formação do lote (pedido)

A correta parametrização do modelo do inventário pode mitigar o EC Chatfield et al., 2004 Simulação Cadeia de suprimentos linear multi-nível Processamento da demanda

O compartilhamento de informação que apresenta qualidade acerca da demanda reduz o EC

Mendonça, 2004 Mendonça; Andrade, 2005 Simulação Cadeia de suprimentos com 3 estágios Formação de

lote (pedido) A estabilização dos preços e a reposição gerenciada pelo fornecedor tendem a mitigar o EC. A prática de uma gestão integrada da cadeia de suprimentos é mais oportuna do que a atuação isolada das partes que a compõe Potter e Disney, 2006 Abordagem analítica e simulação Produto único. Cadeia de suprimentos com 2 estágios Formação do lote (pedido)

A redução do tamanho do lote, tanto quanto possível, reduz o EC Ouyang, 2007 Abordagem analítica Cadeias de suprimentos multi-níveis Processamento da demanda

O compartilhamento da informação sobre a demanda do cliente em toda a cadeia reduz significativamente o EC, mas não o elimina completamente

Sasaki, 2009 Simulação Cadeia de

suprimentos com 3 estágios

Processamento da demanda

A variação do tempo para consumo, tempo para ajuste do estoque e lead time da produção podem mitigar o EC Tanweer et al., 2014 Abordagem analítica Cadeia de suprimentos com 2 níveis, 5 produtos Processamento da demanda

A diminuição do tamanho do pedido, aproximando-o da demanda, reduz o EC Constantino et al., 2015 Simulação Cadeia de suprimentos multi-níveis Processamento da demanda

O compartilhamento de informações entre os elos da cadeia de suprimentos viabiliza o atingimento de um desempenho aceitável, em termos do EC

Sravani; Padmanabhan, 2015 Abordagem analítica Cadeia de suprimentos com 3 estágios Processamento da demanda

O aumento do parâmetro de suavização na previsão da demanda promove um impacto significativo no EC Fonte: Elaboração própria

Portanto, a presente pesquisa pode ser enquadrada nos grupos três e quatro acerca do estudos que tratam o EC, ou seja, modelo desenvolvido para quantificação da variabilidade da demanda e identificação de soluções para a sua mitigação, respectivamente. Assim como Wangphanich (2008), o desenvolvimento do modelo utilizou a simulação, a partir da DS. Dentre as variáveis que integram o modelo proposto destacam-se: demanda ações e calendário de promoção, representando a prática de ações promocionais que incidem em incrementos da demanda; pontos máximos e mínimos do estoque relacionados à classificação ABC; saldos de fornecimento considerados na composição do pedido de compra; saldos elevados de fornecimento e calendário de racionamento, atestando o racionamento no fornecimento dos produtos; lead time constante e variável; e estoque mínimo.