Sugestões metodológicas e didáticas para um currículo bilíngue

A proposta curricular deve ser pensada por toda a equipe de colaboradores da instituição, envolvendo, principalmente e intensamente, professores, coordenadores pedagógicos, orientadores educacionais, especialistas de educação especial/inclusão e direção educacional, sempre com o objetivo de contemplar a realidade local e propiciar aos alunos o pleno desenvolvimento da aprendizagem. De acordo com Moura (2010), o currículo é a ação que organiza o ensino, explícito ou implícito, de

fatos, conceitos, procedimentos e atitudes. Na construção de um currículo, é preciso dar atenção a quem seleciona o que deve ser ensinado e por quê. A autora coloca que o diálogo intercultural deve estar presente e a diversidade de ser e de estar no mundo devem ser, eles próprios, objetos de estudo e meio de interação entre os alunos. Assim, o que trago aqui são propostas que podem ser consideradas em projetos de implementação de currículos bilíngues na Educação Infantil, ou seja, do tipo precoce.

Convém lembrar que quando falamos de aprendizagem bilíngue, precisamos compreender o conceito de biletramento. Hornberger (1990, p. 213) coloca que biletramento é “toda e qualquer instância em que a comunicação ocorre em duas ou mais línguas em ou sobre a escrita”. Acrescenta ainda que “todos os processos de leitura, escrita, compreensão e fala ou gesticulação são inter-relacionados e se apoiam mutuamente” (HORNBERGER, 1990, p. 213) dentro do processo. Conforme Hornberger (2001), o biletramento é visto como eficaz na medida em que permite às crianças usufruírem dos três contínuos, ou seja, das habilidades orais e escritas, das habilidades receptivas (ouvir e entender, ler e entender) e produtivas (falar e escrever) e das habilidades de primeira e segunda língua em todos os momentos. Além disso, a autora (HORNBERGER, 2001) traz alguns aspectos relevantes para a educação bilíngue e que merecem ser levados em conta. A motivação exerce um papel fundamental: os laços afetivos e experienciais, a integração, a inclusão na comunidade, o brincar, o levar em conta o interesse e a responsabilidade de cada indivíduo como indivíduo, a atenção particular às habilidades e atenção ao aprendente. Da mesma forma é importante ter objetivos de aprendizagem mais amplos e sociais (atividades de cunho social, que o aluno vai usar em seu cotidiano), propósitos mais específicos e focalizados em tarefas, em que o professor aceita o posicionamento dos alunos, deixa-lhes a opção de usar uma ou ambas as línguas e culturas, promove a integração de diferentes alunos, define claramente as tarefas, dá mais ênfase ao significado das coisas do que, por exemplo, à ortografia. Utilizar gêneros textuais variados, ler em voz alta para os alunos, avaliar a leitura oral dos alunos e levar em conta que alunos estão em momentos distintos e diferentes são questões de impacto (HORNBERGER, 2001).

Hornberger (2001) fala também da interação, em que diferentes aspectos devem ser considerados: deve-se promover uma série de estruturas de participação; ativar conhecimentos prévios; desenvolver estratégias para sinalizar a compreensão

do contexto, para trabalhar suas características e refletir sobre elas; assentar-se de diferentes modos (usar diferentes formas sociais para desenvolver as atividades em sala de aula); deve-se promover o “barulho do trabalho” e entendê-lo como parte do processo; combinar o conhecimento oriundo da comunidade e da sala de aula e o conhecimento que os alunos têm de uma outra língua; estimular os alunos a pensar e a argumentar por meio de duas línguas; exigir precisão quando os alunos discutem sobre o texto.

Como para qualquer planejamento de aula na Educação Infantil, um ponto que deve ser observado é o tempo de concentração das crianças, que sabemos, conforme teorias de aprendizagem diversas e pela experiência da prática em sala de aula, girar em torno de 15 minutos entre os 2 e 4 anos de idade, aumentando progressivamente à medida que a criança se desenvolve. Dessa forma, penso que o seguinte modelo (quadro 15) possa ser um bom exemplo a ser seguido para se estabelecer uma rotina na turma. A proposta parte de fases de aula de 25 minutos, em que podem ser realizadas várias subfases, conforme sugestão de atividades proposta no quadro. Parece que, se o período de concentração das crianças é curto, é necessário observar duas questões centrais: proporcionar diversas atividades/tarefas em pouco tempo (dinamicidade) e planejar uma boa organização da sequência de momentos a serem proporcionados ao longo de um turno de aula. Segue abaixo, no quadro 15, o detalhamento da proposta de planejamento das aulas de um currículo bilíngue de imersão.

Quadro 15 - Proposta para o planejamento de aulas de um currículo bilíngue de imersão

Tempo Fase Atividades que podem ser realizadas,

organizadas em subfases

1. 25 minutos

Roda / Círculo da Manhã - Saudação

- Chamada (de diferentes formas) - Estado em que se encontra (Como

você está? Com jogos em que usa dados, entre outros)

- Tempo (da natureza) - Calendário

- Cantos

- Novidades / Fala livre (em alemão ou português)

- Vocabulário (Jogos de adivinhação, ...)

- Perguntas com partículas que iniciam com W (em alemão) (Atividades Interativas em Círculo, Atividades com Fantoches)

- Decorrer do dia / rotina: O que vamos fazer hoje?

- Falar rimas de cor, apresentar rimas novas (poemas curtos, ditos diversos)

2. 25 minutos

Fase Intermediária ou Aula de Música, de Danças, de Educação Física

- Desenhar, pintar, confeccionar, brincar, dançar, resolver uma folha de atividades, construir, amassar, etc.

3. 25 minutos

Roda/Círculo de Apresentação do Conteúdo (tudo que precisa ser introduzido, apresentado)

- Apresentação de um novo conteúdo ou de novo vocabulário (+- 4 palavras no nível 2 – depois

pode-se aumentar

progressivamente de acordo com a faixa etária dos alunos)

- Canção - História - Poemas - Teatros de Dedoches - Rimas 4. 25 minutos

Fase Intermediária ou Aula de Música, de Danças, de Educação Física

- Desenhar, pintar, confeccionar, brincar, dançar, resolver uma folha de atividades, construir, amassar, etc.

5. 25 minutos

Roda / Círculo de Assimilação / Consolidação (tudo que foi aprendido precisa ser assimilado)

- Cantar canções

- Decorar rimas e saber proferi-las - Retomar fichas de vocabulários - Atividades de interação na roda / no

círculo, para retomar estruturas frasais

- Bandolinos91

91 _{Bandolinos são jogos de cartas em que é necessário encontrar figuras que se correspondam em}

fileiras diferentes (na de cima e na de baixo) e que precisam ser conectadas por meio de um fio. A primeira figura é sempre o início do jogo. A partir dela parte o fio que precisa ser colocado por trás da

- Treinar / repetir (principalmente a fala)

6. 25 minutos

Fase Intermediária ou Aula de Música, de Danças, de Educação Física

- Desenhar, pintar, confeccionar, brincar, dançar, resolver uma folha de atividades, construir, amassar, etc.

7. 25 minutos

Roda / Círculo de Aplicação (a criança deve estar ativa, deve fazer)

- Assumir papéis em teatros e esquetes - Recortar - Criar - Cantar / Falar - Fazer 8. 25 minutos

Fase Intermediária ou Aula de Música, de Danças, de Educação Física

- Desenhar, pintar, confeccionar, brincar, dançar, resolver uma folha de atividades, construir, amassar, etc.

9. 25 minutos

Roda / Círculo de despedida (Função de elemento surpresa, proporcionar divertimento e significado, alegrar-se por esse momento, esperar por esse momento)

- Brincadeira / Jogo / Dança

- Canções em que é necessário fazer gestos, participar

- Bandolino - Quizz

- Retomada do que aconteceu ao longo do dia: O que fizemos hoje? - Canção de despedida

Fonte: A autora (2019).

Para que o modelo acima faça sentido e proporcione uma aprendizagem de qualidade, é fundamental que o professor seja um bom mediador desse processo, estabelecendo o fio condutor que vai relacionar uma fase à outra e trazer o devido sentido para o que se está desenvolvendo. Isso implica uma metodologia que configure ritmo à aula. Assim, há 3 momentos que são muito importantes de serem observados ao longo de cada fase, bem como ao longo de todo um turno: 1. Introdução (motivação e/ou orientação); 2. Desenvolvimento (introdução à ligação entre conteúdo, sentido e problema do conteúdo); e 3. Assimilação/Consolidação (resultados, perspectivas, treinar/exercitar e usar). É fundamental pensar na

carta até a segunda figura. Modelos podem ser vistos em: https://www.imgrum.pw/tag/Bandolino. Acesso em: 17 mar. 2019.

passagem de um momento a outro, de forma que haja uma fluência nessa transição. Para as crianças, é fundamental que consigam entender como se constitui a rotina, o que lhes ajudará a perceber a organização no tempo e no espaço. Por isso, a proposta acima pode ajudar na organização de uma aula que favorece a aprendizagem.