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Suporte empírico do modelo de PR

PARTE I: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 4- Saúde Mental e Sem Abrigo 1 A pobreza e a saúde mental

4. Patologia Dual

5.2. Modelos de tratamento das patologias aditivas

5.2.1. A Prevenção da Recaída

5.2.1.1. Suporte empírico do modelo de PR

Embora a Prevenção da Recaída (PR) não previna, um deslize, melhor que outro tipo de tratamento é considerada mais efectiva na “Gestão da Recaída,” isto é, no atraso do primeiro deslize e na redução da intensidade e duração dos deslizes que ocorrem antes da consolidação da abstinência. A PR é particularmente efectiva na manutenção dos efeitos do tratamento a longo prazo (dois ou mais anos). A PR será mais efectiva para os consumidores mais deteriorados, incluindo aqueles com grau de dependência mais severa, com maiores níveis de efeitos negativos e com maiores défices nas estratégias de coping. Ao longo dos últimos 25 anos, a PR tem prestado um importante tratamento heurístico (Carroll, 1996). A autora concluiu que a PR para o tabaco, álcool, haxixe, cocaína, que era mais eficaz que o

Capítulo 4:Saúde Mental e Sem Abrigo

não tratamento - grupos controle e igualmente eficaz que os outros tratamentos activos (por exemplo, a terapêutica de suporte, grupo de apoio social, psicoterapia interpessoal). Na sua análise, Carroll (1996) também discute três temas que emergiram como sendo especialmente promissores para a aplicação efectiva PR. Primeiro, Carroll constata que a PR é mais eficaz do que as outras alternativas disponíveis na redução da frequência, intensidade e duração dos episódios de recaída. Em segundo lugar, vários estudos, evidenciam que a PR é particularmente eficaz em manter os efeitos do tratamento a longo prazo. Com base nestes resultados qualitativos, Carroll (1996), Irvin (1999) conduziram uma meta análise sobre a eficácia das técnicas de PR na melhoria de resultados psicossociais da toxicodependência (Irvin, Bowers, Dunn, & Wang, 1999). Vinte e seis estudos representando uma amostra de 9504 participantes foram incluídos na revisão bibliográfica, que se centrou sobre consumo de álcool, tabagismo, politoxicodependência e de consumo de cocaína. A PR foi demonstrada como uma intervenção bem sucedida para a redução do uso da substância e melhoria da adaptação psicossocial. Em particular, foi mais eficaz na politoxicodependência e no uso de álcool, do que era no tratamento do consumo de cocaína e tabaco, embora estes resultados devam ser interpretados com cautela devido ao pequeno número de estudos avaliando consumo de cocaína.

A PR foi igualmente eficaz em diferentes modalidades de tratamento, incluindo indivíduos, grupos e tratamento conjugal, apesar de todos esses métodos serem mais eficazes no tratamento do álcool. Irvin, Bowers, Dunn & Wang (1999) concluíram que os resultados indicam que a PR é altamente eficaz tanto no tratamento das perturbações pelo abuso do álcool como nas perturbações pelo abuso de outras substâncias.

O modelo de recaída desenvolvido por Marlatt e colaboradores (Marlatt & Gordon, 1985) apurou que estados emocionais negativos e a exposição a pressão social para beber eram mais comummente identificados como situações de alto risco para recaída (Lowman, et al., 1996), conforme figura 7.

Capítulo 4:Saúde Mental e Sem Abrigo Resposta de confrontação Situação de risco Sem resposta de confrontação Aumento da auto-eficácia Redução da auto-eficácia Expectativa de resultados

positivos (para Uso inicial efeitos iniciais da da substância) substância Probabilidade reduzida da recaída Efeito de violação da abstinência: conflito de dissonância e auto-atribuição (culpa e percepção deperda de controlo) Aumento da probabilidade de recaída

Figura 7: Modelo cognitivo-comportamental do processo de recaídas

Relativamente a situações de risco a PR postula que “qualquer situação que represente uma ameaça ao controle do indivíduo e aumente o risco de recaída potencial” (Marlatt, 1993, p. 117). O autor afirma também que há indícios de situações primárias de alto risco associadas com a recaída, estados emocionais negativos (35%), pressão social (20%) e conflito interpessoal (16%). Se o indivíduo é capaz de executar uma resposta de enfrentamento eficaz na situação de alto risco, a probabilidade de recaída diminui e a auto-eficácia aumenta, bem como a confiança na própria habilidade para lidar com novas situações. O inverso, entretanto, também é verdadeiro.

A probabilidade de recaída, segundo Marlatt (1993, p. 118), “é maior no indivíduo que tem expectativas positivas em relação ao uso de drogas, baseado nos efeitos positivos imediatos de experiências anteriores (pois os efeitos negativos frequentemente são negligenciados)”. Para ultrapassar as dificuldades identificadas Marlatt & Gordon (1993) sugeriram programas de auto-controlo, baseados nos princípios da teoria da aprendizagem social, que combina procedimentos de treino de competências comportamentais, intervenções cognitivas e mudança no estilo de vida.

Capítulo 4:Saúde Mental e Sem Abrigo

As estratégias quer globais como específicas, que compõem o programa podem ser distribuídas em cinco categorias: Processos de avaliação; Insight / Sensibilização Técnicas; Coping Skills/Formação; Estratégias cognitivas; Modificação e Estilo de Vida (Wanigaratne, Wallace, Pullin, Keaney, & Farmer, 1995).

Os procedimentos de avaliação de PR são concebidos para ajudar os clientes a apreciar a natureza do seu comportamento aditivo em termos objectivos, para medir a motivação para a mudança, e para identificar situações de alto risco e outros factores de risco que aumentam a probabilidade de recaída.

As técnicas de Insight / Sensibilização são concebidas para proporcionar crenças alternativas sobre a natureza do processo de mudança (ou seja, a vê-lo como um processo de aprendizagem) e através do auto-controlo ajudar os clientes a identificar os seus padrões de emoção, pensamento, comportamento, bem como, a forma como estes se relacionam com o processo de mudança. A Formação/Coping Skills incluem estratégias para fazer face a situações de alto risco. As estratégias cognitivas são utilizada para introduzir o enfrentamento e a reestruturação cognitiva para lidar com impulsos e craving, a fim de identificar sinais de alerta precoce, e para as

primeiras reacções ao lapso (reestruturação do AVE).

Por último, estratégias de modificação do estilo de Vida (e.g., meditação, relaxamento, exercício físico), são destinadas a reforçar a capacidade de reduzir a frequência e intensidade dos impulsos e craving que muitas vezes são o produto do stress e ansiedade causada por um desequilíbrio do estilo de vida. A articulação entre estas estratégias específicas de intervenção e a prevenção da recaída encontra- se esquematizada na figura 8.

Podemos afirmar que as estratégias específicas focalizam-se em factores precipitantes imediatos do processo de recaída, enquanto as estratégias globais são voltadas à mudança de estilo de vida, identificação e enfrentamento de determinantes de recaída. Tanto as estratégias específicas como as globais podem ser divididas em treino de habilidades, reestruturação cognitiva e intervenção no estilo de vida.