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4. APRESENTAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA E DO PROGRAMA

5.3. Avaliação das ações de permanência e êxito segundo os

5.3.3. Acolhida

5.3.3.3 Tema “Demandas por Melhorias na Comunicação”

O tema categoria “Demandas por Melhorias na Comunicação” é referente a demandas levantadas pelos estudantes nos grupos focais referentes a melhorias na comunicação institucional, que interfere no desenvolvimento da acolhida entre equipe de servidores e discentes, e possui 52 menções nas oito entrevistas. A

melhoria da comunicação institucional é tema contemplado no PPE, nas ações gerais, mais enfatizado em uma dimensão específica nomeada “Comunicação Interna” com seis ações propostas, e em medidas interventivas relativas a fatores internos à instituição.

O discurso dos estudantes quanto ao tema “Demandas por Melhorias na Comunicação” trata de insatisfações quanto a dificuldade para resolução de demandas entre estudante e servidores, bem como uma burocracia para resolver assuntos administrativos e buscar diálogo com a equipe, como exemplificado nas falas a seguir:

(...) eu estudava em escola pública, eu vejo que lá tinha coisas que eram totalmente mais fáceis por ser pública, e não era pra ser, e aqui por ser uma Rede Federal é totalmente difícil, tipo, tem coisas que a gente nem... tem coisas que na escola pública tinha a maior facilidade. Conversar com o diretor, chegava a isso acontecer do que aqui, no caso, que é federal. Tipo a gente não tem essa facilidade de chegar “oh, a gente quer isso” e vai acontecer. (...). Aqui, tipo, se você vai fazer uma coisa tem processo, pra você chegar pra conversar com uma pessoa tem que passar por tal pessoa. Sair do IF é uma coisa totalmente... são coisas que em outras escolas não tem e a gente vê com total facilidade só não aqui, tipo, um processo muito grande pra poder entrar em um acordo (E32; Grupo Focal 05).

Poderia ter sido feito, tanto na questão dos alunos terem feito um congresso geral com todos os alunos, é, dizendo o que é que tava acontecendo, precisava ser feito isso, aquilo outro, ter chamado tanto o pessoal da coordenação, professores, diretor e ter feito uma conversa geral com todos os alunos, que é uma coisa que também falta muito no campus de Itapipoca, um diálogo entre alunos e a coordenação, é como, se tivesse tido esse diálogo, tudo teria se resolvido, como várias outras coisas que acontecem dentro do campus, é, por exemplo, se tivesse tido esse congresso dos alunos, falado a situação da quadra, lógico que todo mundo ia ver, olha, precisa mesmo achar outro lugar pra treinar já que a quadra não tem condições de treino e não tem como ajeitar a quadra né, porque aquela questão de dinheiro, essas coisas e é um processo muito demorado (E36; Grupo Focal 06).

Há ainda dificuldades de comunicação em relação à participação em eventos extraclasse, necessários para a qualidade e diversidade do clima institucional, e assuntos cotidianos.

Tem uma certa falta de comunicação com quem é da noite. Às vezes tem algum evento e a gente nem sabe de nada, horário. Tá desinformado. Pronto, mais ou menos isso. É tipo, ao mesmo tempo que a gente tem uma assistência muito grande, às vezes quem estuda de noite, não sei se vocês já perceberam, a gente é meio... tipo, eu entendo que o integrado são adolescentes, lógico tem uma atenção. Tipo o IF tá como responsável pelos alunos, né. Eles são menores também. Até entendo que a gente seja mais assim, é só adulto e tal, mas às vezes falta tipo mais comunicação com a gente (E43; Grupo Focal 07).

Ainda, há demandas dos estudantes em estarem presentes em espaços de diálogos entre pais e servidores e demandas de repasse de informações cotidianas:

O que eu acho que não acontece aqui, é que uma reunião de pais para saber sobre a construção do IF, os alunos não podem participar. Quem convive mais aqui dentro da própria instituição são os próprios alunos. E a gente é privado de participar da reunião com os nossos próprios pais (E4; Grupo Focal 01).

Olha em relação, falando aí em professor, em relação um ponto negativo que eu acho que no IFCE que já teve dias, o menino aqui da sala sabe, a gente chegar aqui querer estudar e quando chegar o professor não tá, mas eu não sei se foi por causa da... se é sazonal esse problema, agora que nós estamos no S1, ou se ele é frequente. (...). Essa parte da interação, eu queria salientar uma coisa, tem professor que adere e tem professor que não e eu acho isso aí errado, se o IFCE tá relacionado com alguma interação era pra todo professor aderir. Porque a gente ficava naquela “rapaz será que vai ter aula? Será que fulano vai dar aula? Será que fulano não vai dar aula?” (E19, Grupo Focal 03).

Das ações do campus registradas na Plataforma Gestão Proen referentes à comunicação, foram encontradas as seguintes propostas: prover sistema de comunicação aos pais; fortalecer o sistema de comunicação interna entre comunidade, campus e Reitoria; e avaliar formas de ampliação da comunicação entre instituição e estudantes, como o uso de redes sociais, website institucional, sistema interno de TV e etc (GESTÃO PROEN, 2019). As ações destacadas não possuem maiores detalhes de metodologia, nem atualização do percentual de cumprimento da atividade. A partir das fundamentações acerca de uma educação transformadora e autonomista, pontua-se que a melhoria de comunicação no campus é peça fundamental para promover uma educação dialógica e um âmbito educacional em que os estudantes sejam participativos e se sintam pertencentes e acolhidos.

5.3.3.4. Tema “Relação entre Estudantes”:

O último tema acerca da acolhida a ser aqui abordado, emergente nos grupos focais, foi a “Relação entre Estudantes”. Segundo a entrevista mediante questionário, 76,7% (174 estudantes) responderam que a relação entre os colegas é

um fator positivo ou muito positivo à permanência no campus, sendo a média das respostas equivalente ao fator positivo à permanência. 17,2% (39 estudantes) responderam que a relação com os colegas é indiferente à permanência, e 4,8% (11 estudantes) responderam que a relação com os colegas influencia negativamente ou muito negativamente à permanência no campus.

Os discursos emergentes nos grupos focais apontam para uma relação entre os estudantes de ambiguidades: ora de competição e exclusão, por vezes descrita pelos estudantes como "percepção de classes" (E1, Grupo Focal 01), ora de respeito às diversidades, cooperação e acolhida. Seguem os relatos mais significativos dos entrevistados nos grupos focais, que representam tal ambiguidade no discurso quanto à acolhida entre estudantes. O primeiro relato aponta para uma aproximação entre estudantes conforme a classe social em que se identificam. O segundo relato mostra situações de competitividade entre colegas e baixa cooperação. Já o terceiro e quarto relatos trazem a experiência de estudantes quanto à cooperação e ao respeito entre colegas, e o quinto relato traz a observação de um estudante em relação às novas turmas comparadas aos veteranos, da mudança de conduta dos estudantes, da exclusão e intolerância para experiências de inclusão e respeito às diversidades no campus.

[A acolhida] É dividida em classes. (...). Como exemplo, você nunca vai ver um estudante de Edificações, do 7º semestre, que são os “bam-bam-bans”, ricos “para caraca”, com um de Mecânica, por exemplo. Existe [acolhida], mas é por classe (E4; Grupo Focal 01).

No semestre passado minha turma, a gente tinha essa competição, sabe? Quem era mais expert, sabe? E o que acontecia: na turma, na sala, digamos que todo dia tinha uma discussão, porque “fulano” queria ser mais esperto que “cicrano”, “beltrano” não sabendo o conteúdo aí não tinha ninguém pra ajudar mesmo o professor tá ali, todo dia tinha essa discussão, quer dizer, tinha uma disputa pra quem tinha o conhecimento melhor (E17; Grupo Focal 03).

A nossa sala... nossa sala é desse tamanho onde todo mundo se ajuda, onde todo mundo colabora, onde todo mundo se fala, ninguém tem vergonha de ninguém, porque, como o menino falou se tinha vergonha de falar em público, mas tá perdendo esse medo, porque ninguém intimida ninguém, ninguém menospreza ninguém então é um clima agradável (E1; Grupo Focal 03).

Pelo menos a gente não vê né, esses comentariozinhos, essas coisas, se aceitam bastante né, não é aceitam mas é, respeitam muito né, aqui, tanto os outros (E38; Grupo Focal 06).

Chegou os s1 agora. Esse s1 me traz uma esperança tão grande. Porque chega lá em cima cheio de “sapatão” e “viado” e acolhe todo mundo. Chega uma pessoa com necessidade, “e aí pessoal vamos se reunir e ajudar essas pessoas ali?”. Tá ensinando muito para os veteranos. (...). Muito mesmo. Estão realmente mostrando que vieram pra revolucionar. Têm alguns problemas? Tem, porque tá crescendo. É totalmente diferente das turmas que vieram até hoje. Turmas preconceituosas. Que oprimem as outras (E51; Grupo Focal 08).

Em consulta às ações do campus cadastradas na Gestão Proen, não foram encontradas ações específicas de facilitação da integração entre os estudantes. A ação cadastrada mais próxima ao tema se trata da promoção de espaços de diálogos pertinentes à adolescência, o Projeto “Tá Ligado”, em que são debatidos, entre temas variados, o combate ao bullying. A ação contempla a Medida de Intervenção 7, do PPE, referente à promoção de espaços de diálogos aos estudantes acerca de “temas próprios da adolescência; valores e contra-valores; assuntos motivacionais; saúde; educação; estudo e compromisso e outros julgados pertinentes” (IFCE, 2017a, p. 50).

Observa-se que a relação entre os estudantes afeta diretamente a qualidade da permanência, por desenhar o modo como se darão as experiências de acolhida discente, logo, a permanência simbólica na instituição: se excludente e competitiva, o que a impede, ou acolhedora e cooperativa, o que a promove. Não se defende nesta pesquisa que a escola deve ser o ambiente utópico de harmonia constante, em que nunca se encontrarão conflitos entre os discentes. Conforme Geertz (2008), os pensamentos humanos são antes conduzidos em termos de materiais objetivos da cultura comum, sendo a escola um espaço de integração destes pensamentos. Sendo assim, o contexto escolar é passível de lidar com os conflitos contemporaneamente vivenciados na sociedade e com as diversidades de valores, pensamentos, interesses e sentimentos de seus estudantes e da família. Enquanto tal, a escola precisa estar atenta a mediar tais conflitos de forma assertiva e produtiva quando possível, entendendo ainda que, por ser formada por profissionais, que também são sujeitos passíveis de falhas, de vivenciar conflitos e que nem sempre estarão preparados para mediar todos os problemas emergentes,

demandam capacitação, diálogo, formação continuada e partilha de experiências entre si.

Considera-se a potencialidade observada entre os discentes do campus para uma relação de cooperação e de inclusão das diversidades e que a escola exerce um papel mediador processo formativo dos discentes. Para que se estabeleça uma relação saudável entre os seus integrantes a fim de desenvolver um contexto positivo de permanência simbólica, sugere-se ações voltadas à facilitação da integração entre os estudantes e ao desenvolvimento de competências socioemocionais. Tais ações são compreendidas como facilitadoras do desenvolvimento de habilidades necessárias ao comportamento interpessoal, como a empatia, a assertividade, a gestão da ansiedade e da raiva, as competências de conversação e de resolução de conflitos (PORTUGAL, 2016).