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4. APRESENTAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA E DO PROGRAMA

5.3. Avaliação das ações de permanência e êxito segundo os

5.3.3. Acolhida

5.3.3.2 Tema “Problemas de Acolhida”

Apesar dos dados obtidos pelas entrevistas apontarem uma avaliação positiva quanto à relação entre profissionais do campus e estudantes, as entrevistas nos grupos focais apontaram uma série de problemas na acolhida como fatores que atrapalham a permanência dos estudantes, sendo o tema “Problemas na Acolhida” abordado a seguir, dada a sua representatividade no discurso dos estudantes. Observa-se que as queixas quanto à acolhida são presentes nos discursos dos estudantes veteranos dos cursos integrados e tratam dos conflitos entre estudantes e equipe em relação à pouca autonomia dada aos estudantes e o estabelecimento das regras de convívio e institucionais, aparentemente pouco claras aos estudantes.

Uma das coisas que foram citadas foi que “aqui vai ser uma preparação para a faculdade”. Então, eu acho que a gente já devia ter uma independência maior, porque eu acho que, desde o começo, a gente deveria saber o que é o certo e o que é errado. Eu acho que muitas pessoas precisam aprender a ter essa consciência. Mas como a gente vai aprender, sendo que a gente aprende com erros? Mas quando a gente chegou, eles disseram que a gente ia aprender a ter responsabilidades, a gente ia aprender a ser responsável. No começo, a gente tava seguindo esse cronograma. (...). Muitas pessoas estão querendo desfazer aquilo que

foi dito no começo (...). A gente foi preparado de uma forma. Se mudar a forma radicalmente, como o que tá acontecendo aqui, vai ser frustrante para muitos. Acaba prejudicando as pessoas. (...). O segundo ponto que eu queria falar, é diante de alguns fatos que aconteceram. A gente acaba tendo um retrocesso de aluno. Os alunos acabam desistindo da instituição, Não por conta dos estudos, não por conta dos Professores, e sim por conta do tratamento da gestão ao aluno. Eu vi muitos casos de alunos vindo até mim dizendo que ia sair da instituição. E que saíram de verdade. A gente acaba perdendo aluno por causa desse tipo de coisa. Isso é uma perda enorme para a instituição. São pessoas que entraram com vontade de aprender, mas foram barrados por questão de tratamento. E acabaram desistindo de vários sonhos por conta disso (E4; Grupo Focal 01).

Eu não acho que teve suporte. Na época, a direção dizia "É porque vocês estão se tornando adulto e as coisas vão mudar mesmo". E que tudo ia melhorar e a gente ficou indo muito atrás, não teve tipo uma acolhida. Gente, vamos se reunir aqui, entender que mudou, o que IF funciona assim. Que no início só disseram assim: O IF funciona desse jeito. Mostraram um pouco do ROD [Regulamento de Organização Didática] pra gente, né? Disseram pra nossa família lá na frente que a gente ia ter estágio e que tudo ia ser do bom e do melhor. Aí f*** [Risos do grupo] - Mas é tipo isso. Eles não acolheram na prática, a gente na hora do desespero a gente corria pra lá, eles fazem tudo pra gente não sair, mas eles não fizeram de tudo pra gente não chegar a querer sair, tipo. Eles não cuidaram da gente pra gente

não ter que pensar em sair, eles só pensavam em olhar pra gente quando a gente já estava saindo. Querendo sair desesperadamente. Tanto que

muitas pessoas saíram. (...). Na nossa época a gente sofreu pra caramba, porque a gente só era punido, a gente começou a se comportar como um bando de robô mesmo. A gente chegava e quantas vezes a gente conversou. A gente tá sendo treinada aqui pra ser robô. A gente não pode ser isso. E hoje em dia a gente vê o grande cuidado em fazer as pessoas se tornarem humanas aqui dentro (E51; Grupo Focal 08. Grifo da pesquisadora).

Nota-se no discurso de E51, vide grifo, a necessidade de se discutir o conceito institucional de permanência. A preocupação em não evadir precisa dar espaço à preocupação cotidiana em permanecer na instituição, em buscar se apropriar de como os estudantes estão vivenciando as relações e o espaço acadêmico, solucionar entraves e construir fatores de engajamento. Trata-se de não só prevenir a evasão, mas de promover qualidade na permanência.

Houve também queixas em relação à condução da equipe em situações específicas, como a garantia de estágios, que, a priori, pode ser considerada uma falta de recurso, mas acabou por enfrentar também problemas de diálogo entre os estudantes para a resolução da demanda.

A gente chegar e ir atrás da direção, e eles olharem pra gente e dizer não tem [estágio], não é obrigado. Vocês têm que se virar. E, eu acho assim um erro tremendo, porque eles mandam a gente ser adulto e eles não fazem a gente ser adulto. A maioria das vezes eles botam a gente pra debaixo da asa, pra debaixo da asa e na hora de ser adulto, eles não ensinaram a

gente a ser adulto. Então, eu acho que é uma falha muito grande, acho que isso é muito frustrante também pra nossa família (...). Entrevistadora: E como é essa autonomia? E51 - Tipo, ensine a gente a viver. Tipo assim, a gente tem que ir atrás de estágio, certo? Que eles ensinem como a gente faz pra ir atrás. (E51; Grupo Focal 08).

Segundo a gestão, em entrevista para esta pesquisa, há a preocupação em tornar o campus um ambiente mais livre e diverso, havendo o entendimento de que a melhoria da infraestrutura e reforço de recurso financeiro e humano é capaz de prover o acolhimento aos estudantes.

(…) a primeira [ação] é sempre deixar o ambiente mais livre e mais plural possível, por exemplo, até no ano passado, autorizei que o Grêmio tivesse uma sala, o que é até meio difícil em alguns locais ter uma sala, e todas as atividades em que eles nos procuram, viabiliza a autorização pra que eles façam os movimentos que eles têm. É claro que a gente tá numa limitação muita grande de recurso e de equipe, porque seria ideal que se tivesse uma equipe pra apoiar eles e apoiar essas outras atividades (GESTOR 1, 2018; min. 25:00).

Observa-se também que, apesar dos relatos estudantis registrarem que a maioria da equipe se mostra acolhedora e de haver uma preocupação com a permanência dos estudantes focada na melhoria da infraestrutura e de recursos e serviços, as queixas apontadas quanto aos problemas de acolhida refletem uma dificuldade de diálogo entre a equipe de profissionais e estudantes acerca do cotidiano das regras de convivência dentro do campus, sendo as condutas profissionais discrepantes ao longo do tempo (haja vista a diferença de conduta entre o punitivismo anterior e a busca por humanização atual) e não uníssona entre os profissionais (haja vista a maioria de servidores acolhedora e uma minoria não acolhedora, mas que traz relatos de insatisfação estudantil), que parece ganhar grandes proporções no clima institucional.

A fim de solucionar os fatores que atrapalham a permanência, observa-se a necessidade da equipe em discutir e se alinhar quanto às regulamentações acadêmicas, regimento interno e acordos de convivência aos estudantes. Tal alinhamento pode ser fundamentado dentro da perspectiva da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire (1996), que traz a educadores condições ao ensino e à formação humana, como o alinhamento e a aproximação do discurso teórico, necessário a reflexão crítica, com a prática; o respeito à autonomia e à identidade do educando, no sentido dialógico de exercer o crescimento nas diferenças; o fazer

democrático da liberdade aliada à autoridade (não a liberdade sem limites, nem a liberdade asfixiada pelo autoritarismo); e o saber escutar e dialogar.

A fundamentação freireana aqui trazida pode orientar os servidores a atuarem no exercício da autonomia e da conscientização estudantil no usufruto do espaço institucional, exercendo um diálogo que envolva os estudantes na atualização das regras de convivência e os esclareça sobre a importância e funcionalidade de cada regra estabelecida para a própria convivência dentro do campus. A participação dos estudantes pode ser executada em ação que envolva a priori uma conversa entre professores e os estudantes, para que levem sugestões e demandas aos representantes de turma e de entidades estudantis, e que estes levem à equipe, para que seja planejada a atualização do regimento interno de convivência do campus. Ainda, sugere-se que os mecanismos de avaliação e feedback das ações dos profissionais seja encorajada aos discentes, para balizar o acompanhamento da equipe, aprimorando acertos e corrigindo erros.

Na plataforma Gestão Proen, há atividades cadastradas relativas ao acompanhamento aos estudantes e que têm como pano de fundo a relação da equipe de profissionais com os estudantes. Como exemplos encontrados, há uma ação de avaliação do acompanhamento realizado para reestruturá-lo, caso necessário; uma ação para garantir o funcionamento dos setores que trabalham com atendimento ao corpo discente; e outra ação que se propõe a realizar estudos com os docentes acerca de fatores que corroboram à evasão, relacionados à avaliação de aprendizagem, à relação professor-aluno e a aspectos didático-pedagógicos. As ações encontradas não possuem mais detalhes de sua execução, nem percentual de cumprimento atualizado. As propostas cadastradas podem ser revisadas e atualizadas segundo as demandas estudantis identificadas, para que ajudem a aprimorar o clima institucional e a relação entre servidores e estudantes.