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4. APRESENTAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA E DO PROGRAMA

5.3. Avaliação das ações de permanência e êxito segundo os

5.3.1. Fatores Individuais à Permanência e ao Êxito

5.3.1.2. Tema “Incentivos para ingressar e/ou permanecer na

Este tema trata dos fatores apontados pelos estudantes como influenciadores a ingressar e/ou permanecer na instituição. São relatados diferentes estímulos, como o anseio por uma qualificação profissional, motivação salarial, influência de amigos ou familiares, ou mesmo permanecer, sem identificação, para concluir o ensino médio sem ter de repetir o ano em outra escola. Neste sentido, entende-se que, para além de uma escolha institucional, houve uma escolha profissional prévia, no momento do ingresso, e também uma em desenvolvimento, durante a permanência do estudante, que lida com o curso técnico e avalia seus próximos passos (ou não os avalia, o que também é uma escolha).

A escolha profissional perpassa por vários fatores determinantes: fatores políticos, como o posicionamento da política governamental sobre a educação; fatores econômicos que determinam o mercado de trabalho, as oportunidades e o poder aquisitivo entre as classes sociais; fatores educacionais, que compreendem o sistema de ensino do país e como se dá seus investimentos; fatores familiares, com as expectativas e ideologias vigentes no núcleo familiar; e fatores psicológicos, que dizem respeito aos interesses, motivações, habilidades e o processamento das informações adquiridas. Cabe ao estudante reconhecê-los para uma tomada de decisão consciente quanto a que caminho profissional seguirá (SOARES, 2002).

Os relatos a seguir ilustram situações vividas pelos estudantes que são desafiadoras à permanência (o cansaço pela conciliação trabalho-estudos e o baixo rendimento acadêmico), mas superadas pelo objetivo de ter uma qualificação profissional ou algum ganho futuro que justifique a sua permanência.

Essa questão aí da gente que trabalha, né? Antigamente chegava no intervalo a gente ia sossegar, agora não, chega no intervalo pega o caderno ali e vai estudar pra poder vir pra cá mais tarde, porque não tem tempo de estudar, né? Final de semana, estuda. Chega no trabalho, assim que tem um tempinho vai lá dar uma olhada lá. Aí o onde é que vem aí o sonho, né? Ultrapassa barreiras, porque a pessoa trabalha o dia todinho, passa o trabalho vem direto pra cá aí quando chega aqui tome matéria, “tome” trabalho e a gente ainda naquela rotina. É muita força de vontade. E aí a gente, voltando pro lado do professor, a gente trabalha, o professor também tá ali trabalhando e tem professor que fica aqui, chega seis e meia da manhã, sete horas, fica aqui até às dez horas da noite. A gente, não é só a gente, os professores estão ali dando com as coisas também, né? (E22; Grupo Focal 04).

Acho que além da minha família, foi eu mesma. Eu comecei com zero em física, aí passou pra dois. Eu me lembro que fiquei feliz por tirar um dois em física. E aí foi aumentando. E aí o professor já foi mudando a dinâmica, explicando, porque ele fez aquilo no começo, ¨(...). E aí, teve um semestre que eu tirei dez em física. Aí chega eu me arrepio. Eu procurei suporte em mim mesma: "eu não vou desistir. Isso vai ser bom pra mim". E mesmo com todas dificuldades, eu acabei gostando do IF, tanto que eu tô sofrendo muito em saber que é meu último semestre (E52; Grupo Focal 08).

As motivações salariais também apareceram nos discursos, sendo o curso uma forma de possibilitar oportunidades salariais melhores e mudança de condição social:

E eu vim aqui por 3 motivos: primeiro pelo fato do salário, que eu achei bem atrativo, ainda mais de onde eu venho. Eu fui pesquisar quanto ganha o técnico de Mecânica, ele ganhava bem, e era do que eu estava atrás. E outra foi pela qualidade de ensino e outra foi pelas amizades. Foi no tempo que eu me aproximei do E4, e foi o que ele disse: “E3, vamos para cá, porque aqui tem uma opção melhor para gente talvez no futuro”. E eu disse “vamos”. (E3; Grupo Focal 01).

Como observado anteriormente, ocorre a não identificação pela instituição a alguns estudantes, e o fator motivador à permanência pode ser o longo tempo que o estudante de nível médio passa na instituição até tomar consciência de sua não identificação e o receio de ter de prolongar o ensino médio em outra escola:

Eu é por que tá quase terminando, tá no penúltimo, então eu acho que se eu tivesse no primeiro, se tivesse numa situação, por isso já teria saído. (...). Eu sempre pensei assim, aqui é por semestre, não é ano. Aqui em Itapipoca é muito complicado, por que as escolas são por ano. Eu sair daqui, por exemplo, se eu saísse ano passado, não teria espanhol. Se estudasse numa escola de ensino normal não encaixaria, entendeu? Eu teria que começar meio que de novo (E37; Grupo Focal 06).

Foram observados, ainda, os casos em que os estudantes são influenciados a ingressar por conta de amigos ou familiares, seja por recomendação, seja por verem nestas pessoas uma inspiração de carreira profissional:

Sempre quis fazer Mecânica Automotiva. Eu gostava muito de projeto de carro e moto, Hot Wheels... Eu tenho três primos que se formaram no SESI (Serviço Social da Indústria). Tem técnico em Mecânica Automotiva. E meu irmão que faleceu. Todos fizeram SESI e todos passaram. Todos ganham muito bem (E6; Grupo Focal 01).

(...) e eu conheci o IFCE pela minha melhor amiga, e ela viria para cá. Aí eu pensei “ótimo, vou ter que ficar perto dela!” Eu nem pensei tanto no curso (E10; Grupo Focal 02).

Ainda foram observadas situações em que a família é importante para incentivar o estudante a permanecer e apoiá-lo a enfrentar as adversidades vividas no curso:

Mas no início foi muito frustrante. Eu queria muito ir embora, chorei muito pra ir embora. Eu chorava querendo sair do IF. Minha vó, eu me lembro que minha vó falava: calma que vai dar certo, vamos concluir, você já começou (E51; Grupo Focal 08).

Apesar de ter sido traçado um perfil socioeconômico dos estudantes, há de se ressaltar a pluralidade de identidades que compõe a categoria estudantil. Portanto, cabe ao campus facilitar as condições em seu alcance que levem à permanência dos estudantes, aprimorando as condições que já são facilitadoras e buscando minimizar as interferências. Quanto à escolha do estudante em ingressar e permanecer no curso, é importante que sejam estimulados espaços de reflexão e de conversas sobre projeto de futuro, expectativas, dúvidas e incertezas e sobre como o curso pode ser uma fase proveitosa para concretizar o projeto. Tais ações podem ocorrer tanto em ações de orientação profissional como em partilha de experiências com os docentes sobre a carreira profissional, possibilidades de

atuação, mundo do trabalho, etc. As interferências à permanência e, logo, à concretização do projeto de carreira serão analisadas a posteriori em uma categoria específica.

A desmotivação com o curso ou com a instituição pode estar relacionada a diferentes fatores, muitas vezes associados, como as mencionadas a seguir pelo PPE:

Falta de identificação ou de afinidade com o curso; Desconhecimento ou pouco conhecimento sobre o curso escolhido; Falta de perspectiva profissional; Imaturidade da própria idade para escolha precoce da profissão; Falta de aptidão; Descontentamento de alguns estudantes dos cursos integrados que têm interesse em se preparar para o ENEM; Desmotivação ocasionada pelas sucessivas repetências; Desestímulo pela área de formação; O vínculo ao curso aconteceu por circunstâncias diversas e não por ser uma primeira opção; Desmotivação ocasionada em alguns cursos por ser de nível alto; Cursos mais teóricos que práticos; Dificuldade de aprendizagem nas disciplinas propedêuticas em especial, as de exatas e língua portuguesa; Dificuldade de aprendizagem nas disciplinas técnicas; Reprovações em disciplinas que são pré-requisitos (IFCE, 2017a, p.24).

É importante identificar os motivos ao desânimo e buscar minimizá-los ou eliminá-los se possível. Ainda, relembra-se a importância do trabalho coletivo pela melhoria do clima institucional, para que se desenvolva uma permanência simbólica de qualidade e minimize a possibilidade de não identificação com a instituição.

Quanto à família enquanto estimuladora à permanência, ressalta-se que é importante estabelecer vínculos estreitos entre instituição de ensino, estudantes e famílias. Segundo Fevorini (2009), é importante que as famílias e a escola estabeleçam uma relação de parceria, reciprocidade e simetria quanto à sociabilidade e formação de valores aos estudantes, sendo sugerido que os pais participem de atividades de socialização e formação. O PPE traz ações voltadas ao estreitamento do vínculo entre instituição e família, como remoldar e ressignificar atividades como a reunião de pais, além de promover mais eventos educativos à família.

Na Plataforma Gestão Proen, há como ação cadastrada relativa ao vínculo familiar a definição de ações sistemáticas de intervenção imediata envolvendo articulação com a família e, caso necessário, com a rede de proteção à criança e ao adolescente, para o engajamento da família no processo de ensino e

aprendizagem do discente (GESTÃO PROEN, 2019). Não há mais detalhes de metodologia nem percentual de cumprimento da atividade.