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4. APRESENTAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA E DO PROGRAMA

5.3. Avaliação das ações de permanência e êxito segundo os

5.3.5. Interferências à Permanência

5.3.5.2. Tema “Gastos com os Estudos”

Os gastos com os estudos estão relacionados às dificuldades financeiras relatadas pelos estudantes para conciliar os estudos e ter uma qualidade de vida satisfatória. As opiniões acerca dos gastos para estudar foram equilibradas: 30,4% dos entrevistados (60 estudantes) responderam que os gastos para estudar são um fator indiferente à permanência. 24,7% dos entrevistados (56 estudantes) responderam que os gastos são um fator que influencia negativamente a permanência, enquanto 22% dos entrevistados (50 estudantes) responderam que os gastos são um fator que influencia positivamente a permanência. 14,5% dos entrevistados (33 estudantes) responderam que os gastos são um fator que influencia muito negativamente a permanência, e apenas 7,5% dos entrevistados (17 estudantes) responderam que os gastos são um fator que influencia muito positivamente a permanência. Observa-se, então que os gastos financeiros são um fator negativo à permanência, e que, pelo relato dos estudantes, as despesas interferem na rotina, descrita como cansativa, agravada pela necessidade de conciliação com o trabalho ou de tentar reduzir as despesas familiares.

A gente já não tem tempo para ficar estudando tanto, aí dorme tarde. A gente tenta dormir uma, duas, três, quatro horas para acordar cedo, voltar para escola, passar o dia novamente, arranjar o dinheiro do almoço, o dinheiro da gasolina, o dinheiro da passagem, a volta... e dormir de novo. Assim fica difícil ser uma pessoa sociável [risos] (E6; Grupo Focal 01).

No meu caso, para economizar dinheiro com lanche quando não tinha almoço, eu tinha que acordar umas 3:30 para fazer o meu próprio almoço. Ou seja, eu perdia completamente o meu sono. Eu ia dormir meia-noite, estudando, e acordava 3:30 para fazer meu almoço (E1; Grupo Focal 01)

Eu não falo por mim, porque eu moro aqui perto, mas assim as pessoas que moram longe, por exemplo, tem se o auxílio transporte, que ajuda bastante. Aí se tirar o auxílio transporte as pessoas vão vir como? O almoço até deu uma ajudazinha, porque as pessoas não tem gasto com almoço mas tipo transporte? Tem várias coisas. Mas gastava com almoço, gastava com transporte, gastava com a comida, aí tinha o transporte de volta ainda e eu acho que isso puxa muito na questão financeira por que tem muito aluno aqui que não podem, a renda familiar é baixa (E37; Grupo Focal 06).

Assim como relatado no discurso de E37, duas ações no campus se destacam enquanto ajuda de custo aos discentes: o fornecimento de almoço e lanche aos estudantes, e a oferta de auxílios estudantis. Ambas são ações atribuídas à Coordenadoria de Assistência Estudantil, setor responsável por garantir o cumprimento do Programa Nacional de Assistência Estudantil (Decreto 7.234/2010) nos campi, a fim de reduzir as desigualdades sociais, dar condição de participação democrática dos estudantes para sua formação cidadã, dentre outros objetivos (IFCE, 2015).

No questionário, os estudantes deram a sua opinião acerca da influência à permanência dos seguintes fatores: a ajuda de custo mediante auxílios e a qualidade da alimentação/cantina. Relembra-se aqui que apenas 10,57% (24 estudantes) recebem algum auxílio. Os lanches são concedidos diariamente aos estudantes de cursos técnicos e superiores, sendo ofertados industrializados, geralmente, sucos ou achocolatados com biscoitos, e o almoço é servido aos estudantes dos cursos integrados durante os dias com turnos de aula pela manhã e pela tarde, normalmente em três dias.

A priori, apenas os estudantes que recebiam auxílios foram convidados a responder a questão acerca da opinião quanto à ajuda de custo mediante auxílio. Porém, houve apenas 77 estudantes omissos, o que significa que vários estudantes não contemplados com auxílio deram a sua opinião. Pelos resultados, dos estudantes que não recebem nenhum auxílio, 43% dos entrevistados (56 estudantes) responderam que a ajuda de custo é indiferente à permanência no campus. 35,65% dos entrevistados (46 estudantes) responderam que a ajuda de

custo influencia positivamente ou muito positivamente à permanência. 13,17% dos entrevistados (17 estudantes) responderam que a ajuda de custo influencia negativamente ou muito negativamente à permanência no campus. Dos estudantes contemplados com auxílios, 45,8% dos entrevistados (11 estudantes) responderam que a ajuda de custo influencia positivamente à permanência, 29% dos entrevistados (7 estudantes) responderam que a ajuda de custo influencia muito positivamente à permanência, e 12,5% dos entrevistados (3 estudantes) responderam que a ajuda de custo é indiferente à permanência no campus. 3 entrevistados se omitiram.

Acredita-se que o maior resultado à indiferença no grupo dos estudantes não contemplados com auxílio se deve ao fato de que não há a vivência deste fator influenciando a permanência. Em compensação, hipotetizou-se que as respostas sobre a influência positiva e negativa dos auxílios retratam a demanda dos estudantes pela sua ampliação: os estudantes entendem a importância do auxílio para permanecer no campus, porém, além de não contemplar todos os estudantes no perfil para recebê-la, conforme resultado da amostra pesquisada, a ajuda de custo é insuficiente para cobrir os gastos. Esta hipótese foi constatada pelos relatos nos grupos focais:

Entrevistadora - Algum de vocês é beneficiado com algum auxílio? E6 - Sim, auxílio-transporte. Ajuda bastante É pouco, mas aquele pouco ajuda muito. E3 - Aquele pouco que você já não tira do seu bolso é muito (E6, E3; Grupo Focal 01).

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Primeiramente o que me ajuda a me manter aqui no campus é o auxílio [transporte] que eu recebo do campus para me deslocar da minha casa até a instituição. (...). Aproveitando aqui eu lembrei o que que dificulta eu me manter no campus né, a questão da minha vinda pro campus né, porque eu, mesmo eu recebendo auxílio, fica muito pesado pra mim (E36; Grupo Focal 06).

Entrevistadora: E como é assim ajuda? E32: Assim, ajuda. Ajuda e não ajuda, né. Porque se fosse pra mim ir e voltar. Pra ir pro meu interior é 10 reais aí se fosse pra ir e voltar todos os dias, seria 20 reais todos os dias aí tipo, contando total, com todo o auxílio dava 400 reais por mês só de transporte. Aí eu, não vou resolver isso e ficar indo pra casa só nos finais de semana, tipo, volto na segunda e volto na sexta pro interior, mas aí a passagem, quando você tem a carteirinha, tem topic que cobra menos mas lá pro interior é sempre 10 reais, não tem essa. Aí se não for alguém que seja muito caridosa, que desconte, mas aí o auxílio ajuda. Ai eu só pago... minha mãe faz a comida e eu só pago 100 por mês, o dinheiro do auxílio é

120. É pro auxílio transporte, aí dá pra pagar o transporte direitinho mas só se você souber conciliar (E32; Grupo Focal 05).

Quanto à alimentação, relembra-se que 31,22% dos entrevistados (69 estudantes) responderam que a qualidade da alimentação/cantina influencia positivamente à permanência; 24,8% dos entrevistados (55 estudantes) responderam que é indiferente à permanência no campus; 21,7% dos entrevistados (48 estudantes) responderam que a qualidade da alimentação/cantina influencia muito positivamente à permanência; 14% (31 estudantes) responderam que a qualidade da alimentação/cantina influencia negativamente à permanência; e 8,1% (18 estudantes) responderam que a qualidade da alimentação/cantina influencia muito negativamente à permanência. As respostas neste quesito foram mais equilibradas entre serem a cantina e a alimentação fatores positivos ou indiferentes à permanência. Para além das queixas relativas à infraestrutura e as alimentações ofertadas, os relatos dos estudantes trazem que a oferta do almoço ajudou a reduzir os custos dos estudantes, mas não eliminá-los.

No primeiro e segundo semestres, quando a gente não tinha o almoço, tinha que ter dinheiro todo dia para almoçar e pra gasolina (E6; Grupo Focal 01).

Entrevistadora - Então, quando chegou o almoço, facilitou? E2 - Facilitou entre aspas. Por quê? Teve o almoço, tudo bem, mas ainda tem o gasto de gasolina. Diminuiu um pouco, graças a Deus, porque não tinha mais que gastar com almoço (E2; Grupo Focal 01).

Observa-se que as ações de garantia da permanência material têm atingido um resultado positivo a um grupo limitado de estudantes, mas dependem diretamente do repasse de investimentos públicos. Para a gestão, há a clareza desta limitação do alcance do serviço, trazendo como solução a necessidade de priorizar o investimento nos serviços, haja visto o baixo recurso, que não cobre as demandas do campus:

Tem ações de infraestrutura, que impactam na permanência e êxito, a questão do almoço, temos alunos que o recurso é bem pouco, não dá pra atender com os auxílios pra todos, apesar da gente colocar recurso na AE

maior do que vem propriamente dito, nós não conseguimos atender a todos os estudantes que de fato precisam, então, mais uma vez entra aí a prioridade das prioridades (GESTORA 3, 2018, min 20:00 - 25:00, grifo da

Justamente por dependerem dos repasses orçamentários federais, estas ações estão à mercê do contexto político e econômico nacional, bem como dos interesses e das ideologias dos diferentes governos que assumirem a responsabilidade com esta política e seus programas. No tempo presente, o baixo repasse de orçamento, o congelamento de investimentos pela EC nº 95 e o contingenciamento de 30% do orçamento na educação interferem direta ou indiretamente no atendimento do programa de assistência estudantil. Mesmo o contingenciamento de 30%, que a priori afeta o orçamento das despesas de custeio, limita a oferta de auxílios e alimentação, pois cabe lembrar que uma das estratégias da gestão do campus é o remanejamento do orçamento às ações e serviços prioritários aos estudantes, como a Assistência Estudantil.