• Nenhum resultado encontrado

PARTE I – O PROBLEMA E OS FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

PARTE 2 TEMPO, TÉCNICA E ESPACIALIDADE DA INDÚSTRIA DE

A busca pela construção de um histórico do setor de celulose e papel tem por objetivo encontrar em sua trajetória elementos que subsidiem a análise da atual dinâmica territorial deste setor de atividade. Não há a pretensão aqui de reconstruir a história deste setor da indústria em suas minúcias, apenas a concatenação de eventos considerados relevantes à pesquisa. Logo adverte-se para a característica de que fatos que em outras possibilidades de análise poderiam ser abordados serão aqui desconsiderados.

A premissa subjacente à elaboração do mesmo é a de que o cenário atual do setor, composto por fatores como o padrão de concorrência inter-empresarial, a integração vertical, baseada em um modelo agroindustrial gerido pelas próprias empresas em todas as etapas, bem como o desenvolvimento tecnológico do setor, e a atratividade do território nacional para a atuação do capital estrangeiro e toda a dinâmica territorial desenhada por estas indústrias resultam de uma trajetória com eventos que perpassam ações individuais de atores relacionados ao setor e políticas estatais que buscavam formatar o mesmo, permeados pelo desenrolar de um arcabouço institucional responsável por criar, junto a fatores materiais, as possibilidades e os limites de tal história.

No sentido de dar relevo ao movimento de transformação do setor e as respectivas transformações territoriais decorrentes, no que diz respeito à escalas de atuação e padrões de localização decorrentes de demandas territoriais, buscou-se estabelecer uma periodização. Assim como a região, a idéia de período subentende um processo de classificação ou generalização (WISHART, 2004), baseado em alguns critérios que permitam a inteligibilidade. Assim sendo, são possíveis periodizações diversas, de acordo com os enfoques pretendidos. O critério para a definição dos marcos temporais que definem os períodos buscou estabelecer uma relação entre eventos de natureza administrativa, tecnológica, econômica ou política e repercussões de ordem territorial. Desta forma, trata-se de uma periodização que busca traçar um paralelo entre tempo histórico e espaço geográfico.

Num nível de análise mais geral, pode-se dividir a história territorial do setor de celulose e papel em dois grandes períodos, baseados em padrões de localização. Por sua vez, estes dois grandes períodos da história territorial estão diretamente relacionados com dois momentos bastante distintos da história técnica e

organizacional do setor. O primeiro momento, caracterizado pela desintegração produtiva, ou seja, uma produção nacional de papel baseada em matéria-prima (celulose) importada. As exceções representadas por poucas empresas que buscaram produzir celulose estavam também marcadas pela necessidade de utilizar recursos das florestas nativas, evidenciando a inexistência de uma conexão entre transformação industrial e produção primária.

A partir de um somatório de ações individuais de empreendedores do setor, mas, sobretudo a partir do papel do Estado, tem-se um segundo período caracterizado por mudanças no desenho desta indústria, que defendemos ter assumido um caráter agroindustrial. Como veremos adiante, as grandes empresas do setor, as quais concentram a maior parte da produção, organizam-se numa integração vertical baseada na aquisição de terras e cultivo de florestas de espécies homogêneas para posterior exploração da madeira e produção de celulose e papel.

A partir destes dois momentos ou períodos organizacionais, pode-se estabelecer uma periodização de caráter espacial. O primeiro seria aquele que intitulamos da localização induzida. Num cenário de produção voltada exclusivamente para um mercado interno ainda em formação e inexistência de qualquer impulso no sentido de cultivar florestas para produzir a matéria-prima a ser utilizada, ou seja, a madeira, a localização das indústrias respondia a duas necessidades fundamentais, a saber:

a) A proximidade aos grandes mercados de trabalho e de consumo localizados no eixo São Paulo - Rio de Janeiro, para aquelas indústrias produtoras de papel a partir de celulose importada.

b) O acesso à fontes de matéria-prima, no caso brasileiro as matas de araucárias, (Araucaria angustifolia) e florestas de espécies exóticas cultivadas previamente por outras atividades econômicas, para aquelas indústrias que davam os primeiros passos rumo à integração vertical.

O segundo período chamamos de localização seletiva. Com o advento da atuação das empresas na produção florestal, gradativamente estas passaram a

operar em pontos do território nacional de acordo com novos fatores, já que eliminava-se, de um lado, o imperativo do acesso à matéria-prima das florestas nativas e, de outro, a partir da ampliação do mercado interno e da geração de excedentes exportáveis a partir dos anos 1970, a necessidade da proximidade dos mercados consumidores do eixo Rio de Janeiro – São Paulo tornava-se relativa.

Entretanto, esta periodização com um nível de generalização mais elevado emerge de um segundo nível de análise de caráter mais particular, para o qual propomos a seguinte periodização:

a) Origens do setor: não-integração b) Integração extrativa

c) Integração Agroindustrial espontânea d) Integração Agroindustrial Incentivada

Figura 7Periodização territorial e técnico-organizacional do setor de celulose e papel.

Fonte: Elaborado pelo autor.

É importante ressaltar que, para fins analíticos, a periodização apresenta-se como uma sequência de eventos. Neste sentido, adverte-se que muitas

transformações, especialmente as de caráter técnico e produtivo, vinham sendo gestadas desde períodos anteriores, tornando-se mais intensas e relevantes posteriormente. O critério para o momento da mudança do período baseou-se na observação da passagem de ações isoladas, de caráter experimental ou em pequena escala por parte das empresas para comportamentos mais abrangentes ou, ainda que isolados, em escalas de produção muito significativas para a realidade nacional.

Do ponto de vista institucional, veremos o progressivo surgimento de instituições, a começar por aqueles responsáveis por impelir as ações individuais, portanto de caráter propositivo. Posteriormente, a variedade de insituições torna-se mais ampla, o que nos permite associar a história do setor a um processo de complexificação institucional, delimitando as características do uso do território na produção de celulose.

CAPÍTULO 4. DA INDÚSTRIA DE PAPEL NÃO-INTEGRADA À