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Tempos de deslocamento por transporte público

No documento POR UMA CIDADE ABERTA (páginas 154-158)

7. Mobilidade Urbana a Partir de Dados Reais

7.4 Linhas isócronas no transporte público

7.4.1 Tempos de deslocamento por transporte público

Usando como base o horário mais crítico do dia em Belo Horizonte, às 19:00, foram consultados os tempos previstos para deslocamento usando transporte público para os mesmos novecentos pontos da seção acima. O resultado comparado aparece na Figura 35.

Figura 35 – No mapa à esquerda, linhas isócronas para deslocamentos em automóveis partindo da Praça Sete de Setembro, em Belo Horizonte, às 19:00 (imagem já apresentada anteriormente, reproduzida aqui para referência); no mapa à direita, as linhas isócronas para deslocamentos usando transporte público no mesmo horário. Fontes: Waze, à esquerda, e Google Maps, à direita.

Na seção anterior, a escala de representação de cores teve como limite máximo a marca de 60 minutos, sendo suficiente para representar os tempos de deslocamento à área

88 Application Programming Interface, termo já referido anteriormente. Apesar da disponibilidade da API, há uma limitação de 2500 solicitações diárias por usuário, além do que é necessário contratar pacotes de consultas a APIs da Google. Este limite inviabiliza, por exemplo, a criação de websites que consultem a base de dados do Google Maps para criar mapas isócronos abrangentes a partir da demanda do usuário.

153 delimitada em quase todas as situações estudadas. Ao aplicar a mesma escala para os tempos de deslocamento usando transporte público, a gradação de cores aparece apenas em uma pequena parte central do mapa; inferior, em área, à linha de quinze minutos dos deslocamentos por carro. Da forma como está, a imagem mostra uma diferença acentuada nos tempos de deslocamento necessários para quem usa transporte público e para o automóvel particular. A Figura 36 mostra os mesmos mapas com escala de cores ajustada para melhorar a legibilidade do mapa de transporte público.

Figura 36 – O mesmo mapa da Figura 35, com a escala de cores ajustada para permitir legibilidade do mapa de linhas isócronas no transporte público.

Neste caso, a escala de cores foi triplicada, de forma que as manchas vermelhas, que antes representavam deslocamentos superiores a 60 minutos, agora representam tempos superiores a três horas. Com esta escala de cores, o mapa de deslocamentos em automóvel fica virtualmente monocromático, apresentando cor levemente avermelhada apenas no canto leste-sudeste, em área acessível de carro apenas por estradas de terra. As duas imagens representam a marcada quantidade de tempo que as pessoas que dependem do transporte público gastam a mais, por dia, do que quem circula de carro, independentemente da região da cidade em que mora.

Para permitir uma leitura da forma como os tempos se comparam, os tempos do transporte público foram divididos pelos tempos de carro para cada um dos 900 pontos; os resultados aparecem em índices que indicam a proporção de tempo que se gasta no percurso para cada ponto usando cada meio de transporte. Desta forma, um índice de 2 em uma área

154 a que se chega de carro em trinta minutos indica que, pelo transporte público, este tempo seria de uma hora. O mapa com estes índices aparece na Figura 37.

Figura 37 – Proporção do tempo de deslocamento necessário para se chegar a cada ponto usando transporte público e usando carro, às 19:00, em Belo Horizonte, partindo-se da Praça Sete de Setembro. Fonte: Waze/Google Maps.

Nas solicitações de trajetos em transporte público, o Google Maps calcula diferentes formas de deslocamento: a pé, de ônibus, de metrô, ou qualquer combinação entre elas, e fornece a opção que seja mais rápida. Não se verificou, em nenhum dos 900 pontos, área a

155 que seja mais rápido se deslocar usando transporte público. A área escura no meio do mapa, única com índices inferiores a 2, corresponde a áreas em que a forma de acesso mais rápida é exclusivamente a pé. As manchas azuis escuras correspondem às áreas com índices entre 2 e 3, e coincidem quase exclusivamente com trajetos feitos total ou parcialmente pela única linha de metrô da cidade. As áreas em azul claro, com índices entre 3 e 4, predominam na região da Pampulha; na região do Barreiro, a sudoeste, predominam índices entre 4 e 5; e a Zona Sul tem predomínio de índices superiores a 6. Há de se considerar que o ponto central aqui determinado, na Praça Sete de Setembro, tem acesso fácil a grandes corredores viários que ligam ao norte da cidade. Ainda que algumas vias ao sul tenham faixas exclusivas para ônibus, todas as linhas de ônibus que se deslocam neste sentido percorrem vias compartilhadas com automóveis. Desta forma, uma dinâmica paradoxal surge de forma mais acentuada: quanto pior o trânsito, maior o ganho potencial de tempo com o uso do automóvel, e quanto maior o uso de automóveis, pior o trânsito, inclusive para os ônibus. Em situações normais, a piora de um modo de transporte resulta no aumento do uso da forma alternativa; neste caso, a piora no trânsito serve apenas para estimular um número maior de veículos nas ruas.

No caso dos deslocamentos ao sul, as linhas que indicam a mudança de índices se acumulam em uma parte próxima ao ponto central; isso indica a existência de uma barreira, ali, onde a disputa entre carros e ônibus é mais acentuada. Ou seja: a predominância de índices altos no sul do mapa decorre, em grande parte, de uma barreira de difícil transposição para o transporte público na região central da cidade. Isso explica uma parte importante da existência de favelas nesta região: se morar em qualquer parte ao norte desta barreira, a pessoa que trabalhe ali e dependa de transporte público gastará uma quantidade desproporcional a mais de tempo em trânsito.

As áreas com maior proximidade de linhas do mapa, ao sul, correspondem a algumas das áreas com maior renda média na cidade; são elas, também, algumas das que têm associações de bairro mais atuantes (como citado anteriormente), e aquelas onde o trânsito tem melhorado nos últimos meses, conforme indica a Figura 34 na página 141. Isto reforça a hipótese de que maior disponibilidade de tempo resulta em maior engajamento político da população e, como consequência, a colocação em prática de políticas que resultem em uma exacerbação destas diferenças.

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