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4.1 Sistemas de Gestão da Qualidade em Serviços Médico-Hospitalares

4.2.5 Tendências da Acreditação Nacional para os Serviços Médico-Hospitalares

A divulgação realizada pela ONA nos últimos anos aliada à disponibilização de acesso ao Manual de Acreditação às Unidades de Serviços Médico-Hospitalares, via Ministério da Saúde, vem possibilitando uma rápida disseminação dos conceitos e princípios da Acreditação Nacional pelo país. O apelo educacional associado a este processo tende a gerar como conseqüências futuras o mau uso da sistemática e interpretações inadequadas pelas Unidades interessadas em participar do processo nacional de Acreditação(SCHIESARI; KISIL, 2003).

Diante desse cenário, a solução atual encontrada pela ONA foi intensificar, via Agências Acreditadoras, a administração de cursos preparatórios de formação dos profissionais envolvidos nos serviços médicos-hospitalares em avaliadores internos (auditores internos) em uma estratégia que visa homogeneizar os conhecimentos acerca da sistemática de Acreditação da ONA. Contudo, tal estratégia que, inicialmente, revelou-se benéfica para a evolução da Acreditação, vem dando margem à realização de consultorias o que corrompe o propósito inicial dessa ação (SCHIESARI; KISIL, 2003).

Esse tipo de situação pode suscitar dúvidas quanto à observância das normas reguladoras que proíbem a concomitância de consultoria por parte da Agência Acreditadora

durante o processo de avaliação. O caráter voluntário da Acreditação brasileira tem a atrair Organizações de Saúde com maior grau de comprometimento. No entanto, a não vinculação a programas de estímulo, seja por pagamento diferenciado, seja por outros tipos de vantagem, limita a participação de Unidades de Serviços Médico-Hospitalares devotadas à GQ e aos princípios da Acreditação (SCHIESARI; KISIL, 2003).

Em contrapartida, diferentemente do que ocorre em outros países, existe, o processo brasileiro vem sendo contestado por fontes pagadoras e pelo público. Ambos questionam o princípio da Confidencialidade, que busca garantir maior segurança às Organizações de Saúde participantes. Dessa forma tem-se o incipiente movimento no sentido de buscar o acesso aos resultados das avaliações. Em outros países, o sigilo das avaliações foi quebrado em nome do interesse público (BORBA; KLIEMANN NETO, 2008).

Apesar dos esforços realizados pelos atores envolvidos no processo brasileiro de Acreditação (ONA, Agências Acreditadoras, Unidades de Serviços Médico-Hospitalares), o mesmo ainda encontra-se em um estágio incipiente. Por isso, cada um desses atores tendem a enfrentar dificuldades. As Agências Acreditadoras que utilizam modelos externos de avaliação tendem, eventualmente, a misturar padrões e práticas em um primeiro momento. Já profissionais ligados á certificação ISO ou a prêmios de GQ, podem ter dificuldade na clara separação de suas funções (BORBA; KLIEMANN NETO, 2008).

Independentemente da dificuldade no seguimento dos padrões, estes começam a orientar as práticas realizadas em diversas Unidades do setor médico-hospitalar, sendo utilizados, cada vez mais, como instrumentos de avaliação e de gestão. Dessa forma, as perspectivas para a segunda década dos anos 2000 são de que a Acreditação altere os rumos das práticas associadas à assistência médico-hospitalar (SCHIESARI; KISIL, 2003).

Sinais claros dessa tendência de assimilação de padrões e mudança de práticas são: estímulo à formação de comissões relacionadas à avaliação e/ou melhoria da prática assistencial, formação de avaliadores (auditores) internos ONA, conhecimento dos padrões, utilização do Manual de Acreditação para o planejamento estratégico institucional, etc(MACHADO; KUCHENBECKER, 2007).

Apesar dos esforços dos atores do processo de Acreditação, atualmente, poucos são os incentivos governamentais e dos compradores privados para que uma Unidade adote tal certificação. Tal fato se deve a falta de casos que comprovem a melhoria dos resultados da assistência médico-hospitalar por meio das práticas propostas pela Acreditação (VECINA NETO; MALIK, 2007).

Outros desafios a serem enfrentados demandam a necessidade de visão de longo prazo. Em geral, são desafios relacionados à busca pelo controle eficaz de custos e melhoria da eficiência dos processos e atividades das Unidades de Serviços Médico- Hospitalares. Isto implica uma nova disposição gerencial que utilize informações e ferramentas que auxiliem na redução de custos, erros médicos e elevem o desempenho(MACHADO; KUCHENBECKER, 2007).

Por isso, a implantação da ferramenta Seis Sigma emerge como uma alternativa de destaque no enfrentamento de tal desafio. A disseminação e consolidação da aplicação dessa ferramenta no setor médico-hospitalar configuram-se como tendência, especialmente em Unidades do setor privado (BOARIN PINTO et. al, 2010).

O Seis Sigma é uma estratégia gerencial disciplinada e quantitativa baseada em técnicas estatísticas que busca aumentar drasticamente a lucratividade das Organizações, sejam elas do setor de serviços ou bens de consumo, por meio da melhoria da qualidade dos processos e da redução do nível de defeitos/erros em produtos ou serviços (BOARIN PINTO et. al, 2010).

Unidades de Serviços médico-hospitalares tem obtido importantes melhorias a partir do uso do Seis Sigma, como: aumento da lucratividade, redução dos desperdícios, redução de erros em faturas internas, melhor rendimento e eficiência dos setores da Unidade e redução do tempo de internação dos usuários (BOARIN PINTO et. al, 2010).

O cumprimento de requisitos legais e a garantia de acesso e de integralidade na assistência apresentam-se como desafios de longo prazo para as Unidades de Serviços Médico-Hospitalares. Assim, a criação de sistemas regulatórios surge como importante tema a ser futuramente avaliado. No setor privado, a preocupação regulatória é anterior e sua regulamentação gerou melhorias na eficiência e no controle de acesso (MACHADO; KUCHENBECKER, 2007).

Quanto à garantia da integralidade da assistência médico-hospitalar, não existe integração entre os componentes do setor (Unidades Médico-Hospitalares, Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Pronto-Atendimento, etc.). Além disso, o Estado não tem atuado no sentido de promover a integração entre os envolvidos, nem para incentivar relacionamentos que produzam retorno financeiro às partes. Para isto, seria fundamental identificar todos os atores envolvidos, as insuficiências na remuneração de cada um e o aporte financeiro que necessitam (MACHADO; KUCHENBECKER, 2007).

O modelo atual de desfragmentação e a falta de atuação do Estado favorecem a busca por novas formas de financiamento na medida em que todos os atores do setor estão

insatisfeitos. Desse modo, a realização de terceirizações, alianças e parcerias surgem como novas formas de relacionamento e deve ganhar destaque a médio e longo prazo, podendo reverter o cenário insatisfatório e gerar ganhos administrativos e financeiros aos envolvidos(VECINA NETO; MALIK, 2007).

Atualmente, ocorre um distanciamento entre o setor privado e o SUS, gerando como conseqüência o fechamento de leitos hospitalares. Tal fato representou não só um redimensionamento da demanda de usuários, mas também, a incapacidade de se construir uma visão realista e coerente de futuro durante toda a primeira década do século XXI (VECINA NETO; MALIK, 2007).

Em contrapartida, para a segunda década do século, Unidades de Serviços Médico-Hospitalares privadas que dispõem de tecnologias sofisticadas e as operadoras da assistência médica supletiva ligadas à medicina de grupo deverão buscar a implementação de práticas como a atenção gerenciada e gestão de casos. Neste contexto, mecanismos de avaliação externa ISO 9001 e Acreditação (ONA e Joint Commission) são importantes aliados, pois auxiliam no monitoramento dos resultados, processos, da eficiência e no conhecimento dos custos (VECINA NETO; MALIK, 2007).

Esses mecanismos de avaliação são abordados, comparativamente, na sessão subseqüente a partir das características próprias de cada um.