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1 INTRODUÇÃO

2.2 Teorias da motivação

2.2.1 Teorias Gerais do Conteúdo

2.2.1.1 Teoria das Necessidades de Maslow

Existem várias teorias para explicar o comportamento motivado do ser humano. A teoria da hierarquia das necessidades de Maslow é a teoria com mais visibilidade e que exemplifica da melhor forma, como as motivações influenciam o comportamento humano (Lopes, 2011).

Abraham Maslow era um psicólogo norte-americano que nasceu em 1908, natural de Nova Iorque, Estados Unidos da América. Maslow publicou em 1954 a obra Motivation and Personality, expressando a sua teoria sobre as necessidades humanas e a sua organização, que se tornou conhecida como a Teoria da Hierarquia das Necessidades. Maslow tornou-se num dos autores mais citados e criticados por estudiosos do comportamento organizacional, no capítulo do estudo da motivação no

TEORIAS DA MOTIVAÇÃO TEORIAS DO CONTEÚDO GERAIS TEORIA DAS NECESSIDADES (Maslow) TEORIA DAS NECESSIDADES (McClelland)

ERG Teoria de Alderfer

ORGANIZACIONAIS TEORIA DA NECESSIDADES (Herzberg) TEORIA DAS CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO (Hackman e Oldham) TEORIA X e Y (McGregor) TEORIAS DO PROCESSO GERAIS TEORIA DA EQUIDADE (Adams) MODIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL (Luthans e Kreitner) ORGANIZACIONAIS TEORIA DA DEFINIÇÃO DE OBJECTIVOS (Locke e Latham) TEORIA DA EXPECTATIVA (Vroom) TEORIA DA AVALIAÇÃO COGNITIVA (Deci)

trabalho (Sampaio, 2009). O psicólogo norte-americano elaborou uma teoria da motivação centrada no conceito da autorrealização que segundo o autor, transmite o desenvolvimento máximo dos potenciais de cada ser humano, cada pessoa podendo atingir a sua autorrealização na medida em que procura atualizar os seus potenciais (Maslow, 1954). Maslow defendia também que se o ser humano se contentar com menos do que seu potencial, será infeliz pelo resto da vida (Maslow, 1954).

Será necessário, para uma correta interpretação da teoria das necessidades de Maslow, compreender que diferentemente do que se pensa, os seus estudos sobre motivação humana tinham em vista o desenvolvimento de uma teoria que pudesse servir de base para a compreensão do homem inserido na sociedade, e não se aplica facilmente quando reduzida ao especto da vida laboral (Sampaio, 2009).

Para Maslow (1954; p.63) o “indivíduo é um todo integrado e organizado”, por consequência só se pode falar da “motivação da pessoa como um todo”. O autor prossegue dizendo que “o típico impulso, ou necessidade ou desejo, não está e provavelmente nunca estará associado a uma base somática específica, isolada”, concluindo que “considerando todas as evidências que temos em mãos, é muito pouco provável que compreendamos totalmente o desejo de amar, não importa o quanto saibamos sobre o impulso da fome”. O autor prossegue dizendo “noutras palavras, portanto, o estudo da motivação deve ser, em parte, o estudo dos objetivos últimos ou desejos ou necessidades humanas” (Maslow, 1954; p.66).

Maslow tenta assim estabelecer o conceito de necessidades, o que origina uma problemática a resolver, pois as necessidades estando relacionadas com a cultura, o ser humano pode desejar inúmeras coisas, como uma companheira, casa, apartamento, carro, cão, gato, dinheiro, água, revistas, etc.. Na sua bibliografia, Maslow refere que há várias trajetórias culturais para um mesmo objetivo. Portanto, os desejos conscientes, específicos, locais e culturais, não são tão importantes na teoria da motivação quanto os objetivos mais básicos e inconscientes (Maslow, 1943). Maslow utiliza a gratificação das necessidades para organizá-las numa hierarquia de preponderância, e ao adotar a gratificação como critério, afasta-se da teoria da privação do comportamentalismo clássico (Sampaio, 2009). “A gratificação torna-se um conceito tão importante como a privação na motivação, porque ela livra o organismo da dominação de uma necessidade mais fisiológica, permitindo então a emergência de outros objetivos mais sociais” (Maslow, 1954; p.84).

Da análise de Pereira (1999) sobre Maslow ele conclui que o ser humano possui como parte intrínseca da sua constituição, não somente necessidades fisiológicas, mas também verdadeiramente psicológicas e que estas necessidades ou valores estão relacionados uns com os outros de forma hierárquica e, segundo o desenvolvimento, ordenado de acordo com a força e prioridade. Maslow defende que as pessoas são motivadas pelo desejo de atingir ou manter as várias condições nas quais encontram a satisfação para as suas necessidades (Maslow, 1943).

O psicólogo norte-americano limita o papel da motivação no comportamento humano ao referir que as motivações são apenas uma classe de determinantes do comportamento. Ao mesmo tempo em que o comportamento é motivado, ele também é quase sempre determinado biológica, cultural e situacionalmente (Maslow, 1943). Ao referir tal facto, conclui-se que além dos motivos, há muitos outros determinantes do comportamento humano, o que torna impossível controlar totalmente o comportamento de trabalhadores a partir da teoria de motivação de Maslow.

Segundo Sampaio (2009), para Maslow, a motivação está associada à ideia de um propósito, uma finalidade, um objetivo, que incomoda, que motiva a pessoa até ser atingido. Uma necessidade é algo do mundo interno das pessoas cuja privação a mobiliza e cuja gratificação, mesmo que parcial, possibilita a emergência de uma nova necessidade. Maslow (1954, p.69) defende que “o homem é um animal que deseja e raramente atinge um estado de completa satisfação, exceto por um curto período de tempo. Assim que um desejo é satisfeito, outro explode e assume o seu lugar”.

Classificação das Necessidades

Na sua teoria da motivação, Maslow classifica as necessidades da seguinte forma:

 Necessidades fisiológicas – são necessidades tais como a fome, a sede, o sexo, o sono, de abrigo. Embora comuns a todas as pessoas, elas requerem diferentes gradações individuais para a sua satisfação. A nível organizacional refletem-se nas necessidades de condições físicas (aquecimento, ar, alimentação, etc.).

 Necessidade de segurança – segundo Maslow esta é uma classificação grosseira, e considera que o conceito de segurança compreende uma certa estabilidade, entendimento e controlo dos padrões de mudança do ambiente em

que a pessoa se encontra (Maslow, 1954). São exemplos de necessidades de segurança a simples necessidade de estar seguro dentro de uma casa, seguro contra a doença, o perigo, a dependência, o desemprego, o roubo, o desejo de estabilidade. Englobam um ambiente físico, emocional e financeiro seguro e livre de violência, na preocupação com o futuro da manutenção do emprego.

 Necessidade de pertença e amor – entendidas como a partilha de afeto com pessoas num círculo de amizade e intimidade. Estas necessidades ligam-se aos vínculos afetivos, às ligações afetivas. Na organização refletem o desejo de bom relacionamento com os colegas de trabalho, em participar em grupos de trabalho e o sentido de pertença.

 Necessidade de estima – Maslow divide estas necessidades em dois conjuntos. No primeiro, ele situa o desejo de realização, adequação, competência, que possibilita confiança com relação ao mundo, independência e liberdade. No segundo conjunto, ele situa a busca de reputação ou prestígio, status, reconhecimento, atenção, importância ou apreciação (Maslow, 1954).

 Necessidade de autorrealização – parafraseando Maslow, “o que os humanos podem ser, eles devem ser: eles devem ser verdadeiros para com a sua própria natureza” (…), “temos de ser tudo o que somos capazes de ser, desenvolver os nossos potenciais” (Maslow, 1954; p.22).

 Necessidades de conhecer – as necessidades de conhecer são “um desejo de entender, de sistematizar, de organizar, de analisar, de procurar por relações e significados, de construir um sistema de valores” (Maslow, 1954; p.97).

 Necessidades estéticas – são os impulsos à beleza, à simetria e, possivelmente à simplicidade, à inteireza e à ordem. Maslow afirma que observou essas necessidades em crianças saudáveis, mas que se encontram indícios dela em todas as culturas e em todas as idades (Maslow, 1954).

Estas são as sete grandes categorias que compreendem as necessidades, denominadas como básicas por Maslow. É de referir que na maioria dos livros de

comportamento organizacional as duas últimas categorias são negligenciadas (Sampaio, 2009). A hierarquia de Maslow “deixa implícito o pressuposto antropológico de que o homem tem uma propensão para o autodesenvolvimento e o desenvolvimento pessoal” (Gondim & Silva, 2004; p.150).

Na sua teoria, Maslow classifica as categorias como superiores e inferiores e por isso surge a hierarquização das necessidades como conceito de base. Na sua obra, o psicólogo norte-americano faz a seguinte questão, “mas o que acontece aos desejos de um homem quando há suficiente pão e quando sua barriga está cronicamente cheia?” (Maslow, 1954; p.83). A resposta à pergunta e mantendo o raciocínio lógico desenvolvido por Maslow será o aparecimento de outras necessidades, ditas pelo próprio, superiores que dominam o organismo mais do que a fome fisiológica; e quando estas necessidades são satisfeitas, emergem novamente outras necessidades ainda mais superiores. Parafraseando Maslow (1954, p.83), “isto é o que eu quero dizer quando afirmo que as necessidades humanas básicas estão organizadas numa hierarquia de relativa preponderância”.

Apesar de Maslow estipular uma hierarquia das necessidades, ele admite a ideia de múltipla motivação, em que os motivos atuam de forma simultânea na pessoa, influenciando-a diferentemente ao mesmo tempo (Sampaio, 2009). A preponderância das necessidades fisiológicas é explicada por Maslow em casos extremos em que “o organismo está extremamente e cronicamente faminto ou sedento” (Maslow, 1954; p.83). “De facto, o que Maslow salientou, foi que as necessidades humanas não ascendem à hierarquia em sequência ordenada, ou seja, todas as necessidades estão sempre presentes, mas a sua importância relativa varia gradativamente de um nível baixo para um alto, conforme o nosso padrão de vida se eleva. Ao pensar a respeito da motivação humana, é importante reconhecer que os seres humanos estão sempre a sentir necessidades de vários tipos” (Kondo, 1994; p.17).

Maslow desenvolveu uma teoria da preponderância hierárquica das necessidades, em que a influência de uma necessidade estaria associada à gratificação relativa de outra considerada inferior. Trata-se de uma teoria dinâmica onde as pessoas se encontrariam sob o domínio das influências de suas necessidades, que se alternam ao longo da vida (Sampaio, 2009).

Na sua bibliografia, Maslow confirma o escrito anteriormente onde afirma que “nós falamos muito de como esta hierarquia possui uma ordem fixa, mas finalmente isto não é tão rígido como nós sugerimos” (Maslow, 1954; p.98).

O psicólogo adiciona ainda um fator que influencia a hierarquização e a preponderância das necessidades, quando aborda a questão da gratificação parcial. Segundo Maslow, uma necessidade de nível inferior poderia ser parcialmente gratificada, reduzindo o seu poder motivador a ponto de se tornar menos influente que necessidades superiores menos gratificadas (Sampaio, 2009).

Medir com precisão níveis de necessidades e de gratificações é extremamente difícil, senão impossível, o que dificulta a operacionalização da teoria da hierarquia de Maslow, principalmente para grupos ou coletivos de pessoas (Sampaio, 2009).

Embora esta teoria esteja fundamentada numa lógica intuitiva, a realidade é que os testes empíricos desta teoria foram limitados e estudos recentes mostram que o seu poder de previsão pode ser ambíguo (Lashley & Lee-Ross, 2003). São escassas as evidências empíricas da teoria de Maslow. “Algumas das proposições de Maslow foram totalmente rejeitadas, outras receberam apoio, (…) a teoria não dá conta da especificidade cultural em matéria de valorização das necessidades, quer em termos de conteúdo, quer de priorização” (Ferreira et al., 2001; p.298). Outra implicação importante da teoria de Maslow refere-se ao facto de revelar que a diversidade do grau hierárquico de uma necessidade existente nas pessoas varia consoante as situações, o que faz com que os desempenhos sejam diferentes de indivíduo para indivíduo. “Baseada mais em perspetivas lógicas e clínicas acerca da natureza humana, do que em resultados de investigação, alguns autores apelidam esta teoria de mais filosófica do que empírica” (Ferreira et al., 2001; p.298).

Em termos práticos, a teoria de Maslow sugere que os gestores devem preocupar-se com a identificação do nível de satisfação das necessidades dos seus colaboradores, para, dessa forma, poderem responder à questão: como motivar os colaboradores? (Cunha et al.,2007).

Síntese da Teoria das Necessidades de Maslow

 A motivação é explicada a partir das necessidades básicas.  Necessidades não são desejos nem impulsos.

 Necessidades básicas são inconsistentes, mas sua dinâmica pode ser revelada a partir dos desejos que as pessoas expressam.

 As necessidades básicas estão hierarquizadas, mas a hierarquia não é universal nem rígida.

 Um desejo consciente pode ser motivado por mais de uma necessidade básica.  Gratificações parciais de um nível da hierarquia possibilitam a influência a

necessidades de níveis superiores.

 A satisfação plena, se existir, é temporária.

 A motivação é um fenómeno global, por isso a entidade empregadora pode criar condições para a gratificação de necessidades no trabalho, embora não seja possível controlar o comportamento dos empregados.

 São sete as necessidades básicas, que se indicam por ordem de preponderância:

Figura 4: Pirâmide hierárquica das necessidades de Maslow (elaboração própria).