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Terceira fase da pesquisa historiográfica da vida de Jesus

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2 DITOS HISTORIOGRÁFICOS DE JESUS DE NAZARÉ

2.1 Fases da pesquisa histórica da vida de Jesus

2.1.3 Terceira fase da pesquisa historiográfica da vida de Jesus

No fim do século XIX se inicia a terceira fase das investigações do Jesus Histórico. Este momento é marcado por um colapso na pesquisa. No ano de 1901, o estudioso do Novo Testamento, William Wrede, publicou a obra O Segredo Messiânico afirmando que Jesus não poderia ter realmente dito para seus discípulos e outros indivíduos se calarem em relação às curas realizadas.

No início do Séc. XX, o livro Die Formgeschichte des Evangeliums (A narrativa da forma dos evangelhos), de Martin Dibelius, deu origem ao método da “Crítica da Forma”,

175 THEISSEN; MERZ, 2002, p. 23. 176 Ibid., p. 112.

posteriormente desenvolvido por outros estudiosos, o que fortaleceu a busca de construção de um Jesus segundo os moldes historiográficos. Influenciado pelo novo método, o pensador Carl Schmitt defendeu que quase todos os detalhes de tempo e lugar nos evangelhos tinham sido construídos artificialmente pelos escritores não sendo, necessariamente, históricos. Os aspectos comuns à maior parte da Crítica da Forma eram177:

1º - A suposição de que a tradição oral das palavras e feitos de Jesus sofreram adição.

2º - A suposição de que o “Sitz im Leben” da Igreja Primitiva controlava o conteúdo e a maneira pela qual os relatos do evangelho foram escritos.

3º - A crença de que os escritores dos evangelhos tomaram emprestado aspectos de outra literatura antiga e incorporaram a seu relato.

4º - A suposição de que o racionalismo havia abolido completamente a possibilidade de milagres.

5º - A conclusão de que bem pouco nos evangelhos podia ser considerado como narrativa histórica confiável.

Em 1906, Albert Schweitzer (1875-1965) publicou a obra A Busca do Jesus Histórico. Este escrito é um balanço historiográfico que analisa todas as obras produzidas objetivando a reconstrução da vida de Jesus, escritas desde o fim do século XVIII e todo o século XIX. Schweitzer descreveu que as várias construções da pessoa de Jesus, fruto da teologia liberal, competiam entre si como que apresentando o ideal ético mais digno de se almejar.

Sua análise, em relação às propostas de outros pesquisadores do Jesus Histórico, era que elas só haviam obtido resultados negativos. Eles tinham atualizado Jesus, vestindo-lhe roupas modernas e seus interesses, se conscientes ou não, eram descobrir em Jesus algo de relevante para eles, para os seus próprios tempos históricos, além da constatação de que na maioria das obras havia ausência de elementos escatológicos (ou apocalípticos).

O Jesus Histórico proposto pelas pesquisas de Albert Schweitzer era a figura de um indivíduo que se afirmou como messias, apareceu publicamente pregando a ética do Reino de Deus, com a proposta de fundar o Reino dos Céus na terra e que morreu em desespero sem ver o fim da presente era ou inauguração do Reino dos Céus.

Utilizando-se da abordagem da Crítica da Forma, porém sendo mais otimista em relação à oralidade, Schweitzer defendia que o material escrito nos evangelhos preservou muito da oralidade original, podendo ser identificada nas frases curtas, repetição de palavras, na recorrência de fórmulas orais sempre repetidas. Segundo Schweitzer o estrato mais antigo

e mais bem preservado estava nos ensinamentos escatológicos atribuídos ao Nazareno. Ou seja, para ele, nós nos aproximamos mais das palavras originais de Jesus quando estudamos as narrativas ou afirmações escatológicas178.

Nessa fase também surgiu W. Wrede demonstrando a impossibilidade de distinguir entre a história de Jesus e o Cristo pós-pascal. K. L. Schmidt falava do caráter fragmentário dos evangelhos e da criação posterior de um quadro cronológico e geográfico dos evangelhos desenvolvido por Marcos.

Por aquela época também surgiu a “Escola de Religiões Comparadas” cujo principal representante foi Max Müller e sua conhecida “teoria naturalista”. Essa escola foi responsável em traçar paralelos entre os primeiros cristãos e outros grupos religiosos do Mediterrâneo oriental. Também propôs que os escritores dos evangelhos, influenciados por lendas pagãs sobre homens divinos, conferiram poderes a Jesus na hora da redação179.

Nesta fase inclui-se a pessoa de R. Bultmann a partir de 1919. Apesar de não ter interesse na construção de um Jesus segundo a historiografia, suas investigações contribuíram para análise crítica do conteúdo dos Evangelhos. À semelhança de Strauss, ele abordava a narrativa evangélica em uma perspectiva mitológica. A diferença seria que, para Strauss, a verdade do mito estava na ideia dos evangelistas enquanto que para Bultmann encontrava-se no “querigma” um “chamado de Deus” vindo de fora. Ele também argumentou que o ensino de Jesus não era relevante para uma teologia cristã, dado o seu caráter judaico. As reflexões de Schweitzer influenciaram decisivamente o teólogo Rudolf Bultmann, maior nome daquele período conhecido como “Não Busca” ou “Não Busca do Jesus Histórico” que durou cerca de cinquenta anos.

De acordo com Bultmann, o que interessava para os indivíduos não era o Jesus Histórico, mas o Cristo da fé, o Salvador. Do ponto de vista histórico, a única coisa que fazia sentido em sua reflexão era que Jesus existiu. Segundo o mesmo, a busca do Jesus Histórico deveria ser vista como impossível, em termos metodológicos, e desnecessária do ponto de vista teológico180.

Bultmann defendia que não se podia chegar ao conhecimento de quase nada sobre a vida real da pessoa de Jesus, uma vez que as primeiras fontes cristãs (os evangelhos) não são

178 CHEVITARESE, A. L.; FUNARI, P. P. A. Jesus histórico. Uma Brevíssima Introdução. Rio de Janeiro:

Klíne Editora, 2012, p. 46.

179 MCDOWELL; WILSON, 1998, p. 18. 180 CHEVITARESE; FUNARI, op. cit., p. 49.

confiáveis, sendo, antes, fragmentárias e de conteúdo lendário. Nessa direção, ele argumentou que os pesquisadores são órfãos de fontes sérias sobre a vida do Nazareno181.

A crença na inexistência de milagres e que pouco nos evangelhos poderia ser considerado histórico foi bastante difundida por Bultmann e seus seguidores. Eles também afirmaram que caso alguém antes ou no tempo de Jesus pudesse ter dito algo que os evangelhos atribuíssem a Jesus, então estas, provavelmente, não seriam palavras do Cristo.

Entre os anos 1919 e 1921, Martin Dibelius e Rudolf Bultmann publicaram trabalhos analisando as várias unidades individuais dentro das tradições dos evangelhos, enfatizando a sua forma em lugar do seu conteúdo. Os poucos atos e palavras de Jesus foram publicados em um folheto intitulado Jesus and the Word182.

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