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CAPÍTULO 3 – REFERENCIAÇÃO EM TEXTOS DA OLIMPÍADA DE

3.3. Texto 3 O descanso eterno

O descanso eterno

(L1) O lugar onde vivo é uma cidade do interior do Amapá chamado Oiapoque. É uma cidade muito amistosa, tem diversidades e também adversidades. Recebe seus visitantes de maneira hospitaleira.

Hoje me sinto como se estivesse nascido aqui. Em toda cidade existem problemas e o problema (L5) aqui refere-se ao lugar onde jaz os habitantes. Pode até ser um assunto um pouco mórbido, talvez seja por isso que poucas pessoas falam sobre isso, às vezes é lembrado quando infelizmente falece alguém, pois as pessoas que aqui habitam não estão tendo o direito de serem sepultadas na cidade onde dedicaram suas vidas, tiveram seus filhos.

Devido o cemitério haver 20.000 m² aproximadamente e ter mais de meio século de (L10) existência não há mais espaço para sepultamentos. Há quase dez anos, as pessoas estão sendo enterradas em cima de covas abandonadas. Com a ausência de manutenção de familiares torna-se possível ocupar esses lugares o que é de fato lamentável.

Uma vila militar próxima ao município cedeu 50 covas para que o problema fosse resolvido, mas infelizmente até agora não foi. Para agravar mais a situação, a cota se esgotou e (L15) as pessoas voltaram a ser enterradas no precário cemitério da cidade, uma por cima da outra.

Cabe às nossas autoridades competentes, tomar alguma providência em relação a esse problema. Pensando nisso, deveriam contratar uma empresa que fizessem um levantamento em busca de outro local na cidade e construíssem um cemitério digno.

(L20) Apesar disso, somos um povo alegre, sempre buscando uma vida melhor na esperança da cidade prosperar para que nossos filhos e netos possam ter orgulho daqui.

O texto 3 apresenta como tema um problema existente na cidade de Oiapoque: a falta de vagas no cemitério. Em seu desenvolvimento, destacamos dois referentes: O

lugar onde vivo (Oiapoque) (L1) e problema (de falta de vaga no cemitério em Oiapoque) (L4)

● Sobre o referente O lugar onde vivo = Oiapoque (L1)

No início do texto o autor introduz o referente O lugar onde vivo (Oiapoque) e o mantém em evidência por meio de estratégias de repetição, elipse e expressões nominais acompanhadas de artigo ou pronome.

A retomada por repetição do referente Oiapoque(L1) ocorre por meio do item lexical cidade que aparece nas linhas (L1), (L7,8), (L15),(L19),(L20,21). No entanto, o substantivo cidade, núcleo da expressão que compõe, ora aparece com artigo definido a

cidade (L 7,8, L15, L19, L20, 21), ora com artigo indefinido como em uma cidade do interior do Amapá (L1), uma cidade muito amistosa (L1, L2). O uso do artigo

definido indica que se trata de um referente ativado e de conhecimento do interlocutor/ leitor.

Por sua vez, a reativação por artigo indefinido revela a intenção do autor de dar uma explicação ou esclarecimento ao seu interlocutor/leitor, supondo que ele careça disso, razão pela qual aparece no parágrafo inicial do texto. Ainda, vale destacar que a expressão indefinida uma cidade muito amistosa (L1, L2) ao ter o núcleo modificado pelo uso do adjetivo amistosa antecedido do advérbio de intensidade muito aponta para uma opinião do autor com valor positivo ou meliorativo (Blikstein 2003[1985])

Uma outra estratégia utilizada pelo autor para manter em evidência o referente

O lugar onde vivo = Oiapoque (L1) é o uso das elipses no trecho

(Oiapoque) tem diversidades e também adversidades. (Oiapoque) Recebe seus visitantes de maneira hospitaleira (L1),(L2), (L3).

Também o advérbio aqui (L4), (L5), (L7), (L21) funciona anaforicamente propiciando a reativação e a manutenção do foco no referente Oiapoque.

Ainda se destaca o uso de quase sinônimos na reativação e manutenção do referente em foco como ocorre com a substituição de a cidade (L7,8, L15, L19, L20,21) por o município (L13).

Ancorados no referente O lugar onde vivo = Oiapoque (L1) houve a ativação do referente os habitantes (L5), uma anáfora indireta baseada em esquemas cognitivos e modelos mentais e, portanto, sustentada no conhecimento pressupostamente compartilhado com o interlocutor/leitor. O referente os habitantes na progressão do texto é mantido em foco por meio das expressões nominais as pessoas (L7), um povo

alegre (L20). Este último expressando uma posição comvalor positivo ou meliorativo no dizer de Blikstein (2003) pelo uso do adjetivo alegre.

● Sobre o referente o problema (de falta de vaga no cemitério em Oiapoque) (L4):

O referente o problema constitui um rótulo que prospectivamente refere-se à falta de vaga no cemitério de Oiapoque (L9, L10), ao fato de

as pessoas que aqui habitam não estão tendo o direito de serem sepultadas na cidade onde dedicaram suas vidas, tiveram seus filhos.

O referente se mantém no texto por meio da estratégia da repetição como podemos observar em: o problema (L13), esse problema (L17). Tanto o artigo definido quanto o pronome demonstrativo que acompanham o nome núcleo da expressão apontam para o referente como elemento já introduzido no texto e, portanto, presente na memória do interlocutor/leitor.

Também a expressão definida a situação (L14) serve para reativar o referente o

problema. Porém, diferentemente deste que carrega de forma marcada um valor

Além disso, observamos que a expressão um assunto um pouco mórbido (L5) promove uma recategorização do referente que, na sua forma, revela uma posição negativa - ainda que modalizada - do autor em relação ao assunto discutido.

Com base no referente o problema (de falta de vagas no cemitério) foram ativados no texto novos referentes como, por exemplo, o cemitério (L9), uma anáfora indireta construída com base em modelos cognitivos.

Contudo, em um segundo momento, esse referente é reativado no texto pela expressão o precário cemitério da cidade(L15), uma anáfora direta que expressa no uso do adjetivo precário uma avaliação negativa do autor, ou, segundo Bliksten(2003), um valor negativo ou pejorativo.

Em um terceiro momento, o cemitério é recategorizado como um cemitério

digno (L19). A recategorização ocorre na parte do texto em que o autor propõe solução

para o problema discutido e seria resultado da atuação “de nossas autoridades competentes”. De um precário cemitério a um cemitério digno é o movimento sugerido na proposta do autor que revela a transformação do referente com a solução do problema. Nessa operação, ganha especial destaque o papel dos adjetivos precário e

digno e dos respectivos valores negativo e positivo que imprimem ao dizer.

3.4. Texto 4  

Pátria amada Brasil

(L1)"Todos juntos pra frente Brasil, Brasil salve A seleção...", "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...". Embalados por este ritmo frenético que só o brasileiro possui, nós estamos aqui outra vez, parados e vivendo a emoção de torcer pela seleção canarinho. Nossa criatividade não tem limites para demonstrar o amor à pátria; os problema sociais no país, na (L5) cidade ou no bairro já não existem mais, e se existem são esquecidos, tamanha é a euforia gerada pelo campeonato mundial de futebol.

Em Macapá, capital do Amapá, não é diferente. A cidade se transforma, as cores verde e amarela tomam conta das ruas, avenidas, conversas de esquina, as escolas têm seus horários adaptados

aos jogos da seleção, o comércio é invadido por um exército de formiguinhas (L10)vorazes a procura de algum "suvenir" para fazer parte de suas armaduras de torcedores.