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CAPÍTULO 3 – REFERENCIAÇÃO EM TEXTOS DA OLIMPÍADA DE

3.4. Texto 4 Pátria amada Brasil

promove uma recategorização do referente que, na sua forma, revela uma posição negativa - ainda que modalizada - do autor em relação ao assunto discutido.

Com base no referente o problema (de falta de vagas no cemitério) foram ativados no texto novos referentes como, por exemplo, o cemitério (L9), uma anáfora indireta construída com base em modelos cognitivos.

Contudo, em um segundo momento, esse referente é reativado no texto pela expressão o precário cemitério da cidade(L15), uma anáfora direta que expressa no uso do adjetivo precário uma avaliação negativa do autor, ou, segundo Bliksten(2003), um valor negativo ou pejorativo.

Em um terceiro momento, o cemitério é recategorizado como um cemitério

digno (L19). A recategorização ocorre na parte do texto em que o autor propõe solução

para o problema discutido e seria resultado da atuação “de nossas autoridades competentes”. De um precário cemitério a um cemitério digno é o movimento sugerido na proposta do autor que revela a transformação do referente com a solução do problema. Nessa operação, ganha especial destaque o papel dos adjetivos precário e

digno e dos respectivos valores negativo e positivo que imprimem ao dizer.

3.4. Texto 4  

Pátria amada Brasil

(L1)"Todos juntos pra frente Brasil, Brasil salve A seleção...", "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...". Embalados por este ritmo frenético que só o brasileiro possui, nós estamos aqui outra vez, parados e vivendo a emoção de torcer pela seleção canarinho. Nossa criatividade não tem limites para demonstrar o amor à pátria; os problema sociais no país, na (L5) cidade ou no bairro já não existem mais, e se existem são esquecidos, tamanha é a euforia gerada pelo campeonato mundial de futebol.

Em Macapá, capital do Amapá, não é diferente. A cidade se transforma, as cores verde e amarela tomam conta das ruas, avenidas, conversas de esquina, as escolas têm seus horários adaptados

aos jogos da seleção, o comércio é invadido por um exército de formiguinhas (L10)vorazes a procura de algum "suvenir" para fazer parte de suas armaduras de torcedores.

Tudo gira em torno de uma única preocupação: a seleção do Brasil. A rotina de um país é alterada por alguns pares de chuteiras nacionais. Diante de tal entusiasmo gerado pela expectativa de mais uma conquista mundial, o hexa campeonato de futebol, a Prefeitura Municipal promoveu um concurso para incentivar os moradores de cada bairro a ornamentarem (L15) a rua ou avenida, onde vivem, com o tema da copa. Os três primeiros colocados seriam premiados com uma quantia em dinheiro, o 1º lugar receberia R$ 5.000,00, o 2º ficaria com R$2.000,00 e o 3º com 1.000,00. A notícia do concurso se espalhou feito rastilho de pólvora na cidade e a polêmica também, pois muitos eram a favor do concurso, outros contra.

Parte dos munícipes acham um despropósito por parte da prefeitura tal promoção, e (L20) encaram-na como uma afronta feita a eles, pois veem o concurso como mais uma estratégia criada para desviar as atenções dos reais problemas que a comunidade enfrenta diariamente, tais como: ruas e avenidas esburacadas, esgoto a céu aberto ou inexistentes, falta de creche nos bairros, atraso na coleta de lixo, proliferação de ratos e insetos transmissores de doenças como a dengue e a malária. No entanto, outros moradores veem o concurso como uma (L25) forma de expressar o seu amor a cidade e a seleção; mesmo estando aqui do outro lado do mundo. Na minha rua por exemplo, houve até reunião da comunidade para traçar a estratégia para tal empreitada e consequentemente ganhar a concorrência; algumas pessoas deixaram de lado suas tarefas particulares para dedicarem-se exclusivamente ao concurso e assim expressar o seu "Amor à Pátria". É indiscutível que a magia do futebol toma conta do povo brasileiro e (L30)consegue uni-lo em uma única vontade, em um só querer: ver o Brasil Campeão, apesar das adversidades enfrentadas no dia a dia como: desemprego, a falta de moradia e a precariedade do sistema de saúde. Porém, tudo isso é esquecido em nome dessa paixão nacional: O futebol.

Mas, essa magia ficou mais evidente para mim, quando percebi que mesmo as pessoas (L35)mais humildes da periferia de minha cidade, e que moram em palafitas construídas de forma desordenada sobre as áreas de ressaca, pequenos lagos, que formam um dos ecossistemas da Amazônia, inscreveram-se também no concurso promovido pela prefeitura. Durante o dia todo fiquei me perguntando o porquê daquela atitude, que segundo eles mesmo diziam "patriota". Inicialmente me questionei: o que leva uma comunidade desprovida de

(L40)qualquer assistência do poder público, salvo no período das eleições a tal devaneio? E, que têm além disso as pontes feitas de madeira como as ruas e avenidas de seus conformados casebres? É provável que muitas dessas pessoas tenham tirado o último tostão de seus bolsos para demonstrar a sua devoção ao lugar onde vivem e à Pátria. Não... definitivamente isso não é normal e ademais isso não é patriotismo, é falta de sensatez, talvez proveniente dos encantos de (L45)Baco, deus do vinho e da tão contagiante alegria. É a única explicação sensata que encontro para tal loucura.

Quero deixar claro que não sou contra o povo de expressar sua alegria e o seu amor a camisa amarelinha, mas a maneira de como o esporte é utilizado como um instrumento de alienação de massa, e não como forma de expressão patriótica. Pois, enquanto a seleção de futebol entrava (L50)em campo na África de Sul algumas decisões políticas importantes para o cenário econômico e social do país estavam sendo tomadas pelo Congresso Nacional como o projeto de lei que regulamenta a exploração de petróleo na camada pré-sal, o projeto de lei ficha limpa que torna inelegível políticos condenados pela Justiça em segunda instância, além de uma série de medidas provisórias que decidirão o rumo do Brasil. Na minha opinião, ser patriota não é uma (L55)coisa banal ou algo que a mídia semeia em nossas mentes como por exemplo uma data comemorativa ou um evento esportivo, é antes de mais nada ter amor a ela, e procurar servi-la dignamente e de maneira honrosa, dando exemplo de cidadania diariamente, desde um simples ato como não jogar papel de bala pelo vidro do carro a cobrança de melhores condições de vida para a comunidade. Contudo sei que não é uma tarefa muito fácil, amar um país assolado (L60)por escândalos que vão desde prostitutas pagas com dinheiro público para servirem deputados, e senadores a dólares escondidos na cueca; sem falar do famoso jeitinho brasileiro, que já virou marca nacional. Entretanto, não é impossível, quando se acredita em mudanças de atitudes, que vivem o bem coletivo e que veem o povo como o grande maestro na condução dessa orquestra sinfônica. Agora imagine se todos nós, nos uníssemos para agir pela (L65)sociedade de mesmo modo que nos organizamos para torcer pela nossa seleção... Eu já imaginei... O Brasil seria campeão em cidadania. É por isso que eu canto, não posso parar, por isso uma força me leva a cantar.

O texto 4 aborda a paixão pelo futebol como um problema dos brasileiros, em especial, na cidade de Macapá. No seu desenvolvimento, o texto apresenta três importantes referentes: Macapá(L7), seleção canarinho(L3) e o concurso

promovido pela prefeitura (L37).

▪ Sobre o referente Macapá:

O referente Macapá (L7) foi ativado e reativado no texto por meio das estratégias de repetição, pronominalização e expressões nominais acompanhados de artigo ou pronome.

A retomada do referente por repetição ocorre por meio das expressões nominais a

cidade(L 7), (L17,18) minha cidade (L35), chamando a atenção o uso do artigo a na

primeira expressão para marcar que o referente já é conhecido, e do pronome possessivo minha na segunda, para marcar a presença daquele que diz e seu envolvimento com o dizer.

Outra estratégia de referenciação que se destaca no texto é introdução de novos referentes ancorados em Macapá. Esses referentes como, por exemplo, a

prefeitura(L13), parte dos munícipes(L19), a comunidade(L21), outros moradores

(L24) são compostos por expressões nominais definidas e constituem anáforas indiretas baseadas em modelos cognitivos.

Nesse conjunto de anáforas indiretas chama a atenção em outros moradores (L24) o uso do pronome demonstrativo outros que, segundo Castilho e Elias (2012, p. 402), aponta para a alteridade dos referentes.

▪ Sobre o referente a seleção canarinho (L3):

O referente a seleção canarinho (L3) é introduzido no texto e sua retomada ocorre por repetição parcial como nas expressões a seleção do Brasil(L11), a

seleção(L25), a nossa seleção(L65). Nessa última, o uso do pronome possessivo de

primeira pessoa do plural indica participação, envolvimento do sujeito autor no que ele expressa. No conjunto dessas reativações, podemos dizer com base em Mondada(2003) que no processo referencial existe um ajustamento das palavras, porém esse ajuste não se faz diretamente em relação ao referente dentro do mundo, mas, sim, em relação ao quadro contextual.

Ancorado em a seleção canarinho, foi introduzido o referente a camisa

amarelinha (L47,48). Trata-se de uma anáfora indireta baseada em modelos cognitivos.

▪ Sobre o referente o concurso promovido pela prefeitura (L37)

O referente o concurso promovido pela prefeitura (L37) é introduzido no texto e mantido em foco por meio de estratégias de repetição e expressões nominais definidas e indefinidas.

A expressão nominal indefinida um concurso para incentivar os moradores

de cada bairro a ornamentarem a rua ou avenida, onde vivem, com o tema da copa

(L14, L15) introduz o referente no texto que passa a ser retomado por repetição parcial como observamos em o concurso(L17), o concurso promovido pela prefeitura (L37). Neste último caso, a especificação promovido pela prefeitura serve para situar a instituição responsável pelo evento imprimindo uma avaliação subjacente a este protagonismo da instituição.

No projeto de dizer do autor, ganha especial destaque a estratégia de rotulação construída por meio das expressões nominais:

Tal entusiasmo gerado pela expectativa de mais uma conquista

mundial, o hexa campeonato de futebol (L 12, 13)

um despropósito (L19), tal promoção (L19), uma afronta (L 20),

uma estratégia criada para desviar as atenções de problemas que a

comunidade enfrenta diariamente (L20, 21, 22).

os reais problemas (L21) essa paixão nacional (L32) aquela atitude (L38) tal devaneio (L40) tal loucura (L46)

única explicação sensata (L45)

Os rótulos são importantes pistas da avaliação que o autor faz sobre o assunto em discussão e essa orientação argumentativa ora ganha realce no nome núcleo (despropósito, afronta, devaneio, loucura), ora no adjetivo modificador do nome (reais, única e sensata). No conjunto do rótulos, o uso do pronome demonstrativo como operador de verificação é um traço que aponta para a focalização do objeto do discurso e para a sua identificação pelo interlocutor/leitor no universo de conhecimentos compartilhados.

Portanto, a observação do quadro referencial, em particular do seu funcionamento em um contexto de interação, aponta para a influência das expressões rotuladoras na orientação argumentativa do texto em questão.

3.5. Texto 5  

Calçoene e suas diversidades

(L1) Vivo num lugar chamado Calçoene, é tranquilo, mas por trás de toda essa tranquilidade há prostituição, corrupção, fome, mortes sem soluções que causam sofrimento e dor. Ele é bem explorado pelos habitantes e pelos turistas, pois é repleto de festividades e pontos turísticos.

A cada ano que passa o município está cada vez mais estruturado com prédios novos. A oferta (L5) de emprego se propõe através de concursos, gerando oportunidades aos munícipes de concluírem o nível superior em faculdades particulares com um preço acessível.

Nem tudo é perfeito, pois no município também existe pontos negativos como a escola em que estudo, a reforma está parada, falta professor não tem a quantidade adequada de ventiladores para atender a demanda de alunos; isso gera desconforto e prejudica a (L10) aprendizagem.

Outro ponto negativo é a prostituição infantil. Algumas meninas com menos de 14 anos já são mães ou já contraíram algum tipo de DSTs. A política aqui não difere dos outros locais, há políticos com promessas concluídas, outros cheios de ambições com um único objetivo: desviar dinheiro público deixando a população revoltada.

(L15) Mesmo cheio de problemas o povo calçoenense sempre foi guerreiro, de força para superar os obstáculos que a vida propõe.

O texto 5 tem como principal referente Calçoene (L1) apresentado como um lugar belo, porém com muitos problemas como prostituição, corrupção, fome, reforma de escola paralisada e falta de professores, que causam sofrimento, desconforto, dificuldade de aprendizagem e revolta na população local.

O referente é introduzido no texto e reativado por meio:

do pronome Ele (L2) que retoma o referente e o mantém em foco, como notamos no trecho

Vivo num lugar chamado Calçoene, é tranquilo, mas por trás de toda essa tranquilidade há prostituição, corrupção, fome, mortes sem soluções que causam sofrimento e dor. Ele é bem explorado[...]