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Capítulo II: Acção da Direcção dos Estudos Menores e da Real Mesa Censória

2.2. A Direcção Geral dos Estudos Menores no Reino e no Ultramar

2.2.1. Tomás de Almeida, Director-Geral dos Estudos Menores

Escassas são as notícias relativas a esta personalidade. Nomeado pelo Decreto de 6 de Julho de 1759, o Principal Tomás de Almeida não foi claramente uma escolha ao acaso. Além de ser sobrinho de uma alta individualidade, o seu homónimo D. Tomás de Almeida, primeiro cardeal patriarca de Lisboa, aquele que iria estar à frente da recém- criada Direcção Geral dos Estudos Menores era, também ele, uma dignidade eclesiástica. Constatamos, pela carta régia de nomeação, que detinha uma posição próxima do rei, fazendo parte do seu Conselho – como o fora D. Luís de Almeida, 3º conde de Avintes, seu pai – e sendo sumilher da cortina. Este último cargo, de natureza honorífica, estava reservado a poucos, não sendo sinónimo de «criado». Implicava, na verdade, ser uma pessoa de grande confiança por parte do rei. O sumilher ou reposteiro- mor era de facto considerado um «ofício nobre», função geralmente atribuída aos «principaes do Reino»104.

Além deste cargo, Tomás de Almeida fora, ainda ao tempo da sua nomeação em 1759, «Principal Primário» ou «Principal Decano da Santa Igreja de Lisboa». O seu

104

cf. OLIVEIRA, Luiz da Silva Pereira, Privilégios da Nobreza e Fidalguia de Portugal, [1806], Lisboa, Associação da Nobreza Histórica de Portugal, [2ª ed. facsimilada], 2002, pp. 53-54.

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nome constava já de uma lista relativa aos cónegos presbíteros de Lisboa respeitante ao período de 24 de Dezembro de 1716 a 16 de Maio de 1739105. Banha de Andrade explica ainda como surgiu o título de «Principal», fruto de uma mutação de certos títulos de dignidades eclesiásticas conferidos:

“[...] a 3 de Outubro de 1738, o Papa Clemente XII outorgou a faculdade de os cónegos da Patriarcal usarem mitra e trajarem como bispos; e em 31 de Agosto de 1741, ao unir o Arcebispado de Lisboa Oriental ao Patriarcado, substituiu os títulos das antigas dignidades e dos cónegos por Principais da Santa Igreja de Lisboa, a fim de que se assemelhassem, de algum modo, aos cardeais da Cúria Romana. Foi assim que o cónego D. Tomás de Almeida passou a denominar-se Principal de Almeida desde 4 de Dezembro de 1738.”106

A título de curiosidade, também o seu tio beneficiara deste quadro de mudanças quando, um ano antes, sendo Patriarca de Lisboa Ocidental, lhe fora concedido o título de dignidade cardinalícia, factos que, no seu conjunto, devem ser entendidos no conjunto das relações – e tensões – diplomáticas entre D. João V e a Santa Sé.

O título de Decano (do lat. decanus, i.e., aquele que chefia um grupo de dez monges) ou Deão, por seu turno, era geralmente atribuído à primeira figura dos capítulos catedrais, tendo como funções presidir ao cabido na ausência do bispo, e, por vezes, substituir outros prelados na sua ausência ou inclusivamente devido a incapacidade para o exercício de funções. Assumia ainda uma participação activa “em todos os negócios importantes para a canónica, e representava-a no exterior”107. De acordo com o direito canónico, a figura do Decano possui a titularidade de uma igreja, podendo acumular ainda com outra que lhe tenha sido atribuída anteriormente. Não raro, existem cardeais decanos, além de ser uma figura associada ao Colégio Cardinalício. É eleito dentre os cardeais de ordem episcopal que têm o título de uma Igreja suburbicária (cânon 352, §2)108.

105

ANDRADE, A. A. Banha de, Contributos para a História da Mentalidade Pedagógica Portuguesa, Lisboa, INCM, 1982, p. 592.

106

Idem, ibidem, p. 592.

107

Ana Maria Rodrigues, “Dignidades Eclesiásticas”, in JORGE, Ana Maria et al. [coord.], Dicionário de História Religiosa de Portugal, [C-I], Rio de Mouro, Círculo de Leitores, 2000, p. 67.

108

Cân. 352 - § 1. Ao Colégio dos Cardeais preside o Decano e, quando impedido, faz as suas vezes o Subdecano; o Decano, ou o Subdecano, não tem poder algum de governo sobre os demais Cardeais, mas é considerado como o primeiro entre iguais.

§ 2. Vagando o ofício de Decano, os Cardeais com o título de uma Igreja surburbicária, e só eles, sob a presidência do Subdecano, se estiver presente, ou do mais antigo, elejam um deles para desempenhar as funções de decano do Colégio; apresentem o nome ao Romano Pontífice, ao qual compete aprovar o eleito.

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Já em termos pedagógicos, o Decano era o professor mais antigo de uma Faculdade, com direito a intervir em assuntos relativos à sua direcção109. Procurando estabelecer um paralelo com as funções exercidas por um principal Decano da Igreja, percebemos que, acima de tudo, se tratava de um cargo de destaque, considerado o primeiro entre iguais. As suas funções são sobretudo a nível de chefia e não propriamente de ordem prática (por exemplo, dirigir os ofícios litúrgicos, gerir o coro ou organizar procissões, actividades da incumbência do chantre).

Estamos, claramente, perante alguém que enveredou pela vida eclesiástica, mais concretamente perante um secular, uma alta individualidade da Igreja Católica em Portugal. Teria sido apadrinhado por seu tio, o cardeal patriarca? Luiz da Silva Pereira Oliveira será, de todos os autores, aquele que melhor esclarece e que mais detalhes acrescenta face ao cargo de Principal. Trata-se, na verdade, de uma condecoração conferida pelo rei e que confere nobilitação dentro das chamadas «Dignidades da Igreja» ou Dignidades Eclesiásticas. O Principal da Basílica Patriarcal de Lisboa é, precisamente, um dos casos mencionados pelo autor. O próprio Patriarca de Lisboa fora também nomeado pelo rei, possuindo, consecutivamente, a graduação com Nobreza Civil da primeira Ordem110. Encontramos disso testemunho no Diário de 6 de Novembro 1731 da autoria do Conde da Ericeira, D. Francisco Xavier de Menezes:

“Fala-se muito em provimentos de Bispados, e em que El-Rei quer ilustrar mais os meios Cónegos da Patriarcal, mas ainda se não sabe se os Benefícios dos providos em Roma serão confirmados, nem o de D. Luís de Sousa que tinha já as suas Bulas está corrente.”111

Com efeito, só mais tarde se confirmaria tal medida régia.

Cf. Código de Direito Canónico, Capítulo III: Dos Cardeais da Santa Igreja Romana.

www.ucp.pt/site/resources/documents/ISDC/Col%C3%A9gio%2520Cardinal%C3%ADcio.doc

109

Partindo de um título honorífico, com o tempo alcançou uma autoridade jurídica, com uma acção de certo modo equivalente à de um director de uma Faculdade. Não se tratava de um cargo vitalício, mas com nomeação por períodos de três anos, embora com possibilidade de reeleição. Ainda hoje se conserva este cargo, nomeadamente em Faculdades Pontifícias. D. Monteiro, “Decano”, in Enciclopédia Verbo Luso-brasileira de Cultura, vol. 6, Lisboa, Verbo, 1988, pp. 863-864.

110

OLIVEIRA, Luiz da Silva Pereira, Privilégios da Nobreza e Fidalguia de Portugal, [1.ª ed. 1806], Lisboa, Associação da Nobreza Histórica de Portugal, [2ª. ed. facsimilada], 2002, p. 39.

111

Informação patente nas Memórias de D. Francisco Xavier de Menezes, 4.º conde da Ericeira, fundador daquela que viria a ser em 1720 a Real Academia da História. Transcritas pelo embaixador Eduardo Brasão, que encontrou o diário na Biblioteca da Ajuda e o transcreveu, com as abreviaturas desenvolvidas e a ortografia actualizada. Eduardo Brazão, «Diário do 4.º conde da Ericeira, D. Francisco Xavier de Menezes (1731-1733)», Biblos Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Vol. XVII – Tomos I (1941), págs. 109-115; e Tomo II (1941), págs. 567-572.

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Não nos restam dúvidas de que tio e sobrinho, Cardeal e Principal, gozavam de alta reputação, tendo-lhes sido atribuídas estas condecorações pelo Rei. Contudo, uma vez provenientes de família já nobilitada, alcançaram assim o estatuto de Dignidades Eclesiásticas. Ponderemos então as motivações que terão presidido à designação do Principal D. Tomás de Almeida para o cargo de Director dos Estudos.

Antes de mais, como já aqui observámos, enquanto Principal Decano da Igreja de Lisboa, ocupava já uma posição de destaque, afirmando-se como uma dignidade eclesiástica. Era ainda um indivíduo de extrema confiança por parte de Sua Majestade, além de ser proveniente de família altamente nobilitada, facto que, ainda assim, por si só, nada poderá significar. Ponderemos pois sobre a sua formação académica:

“[...] terá frequentado as Humanidades no Colégio de Santo Antão, ingressando na Universidade de Évora, no curso de 1721-1722, regido pelo P.e Francisco Ferreira, muito possivelmente na qualidade de Alumnus et Convictor do Real Colégio da Purificação [...]. Bacharelado em 25 de Março de 1724, incorporou-se no grau de bacharel em Artes, da Universidade de Coimbra, a 5 de Maio de 1725, sendo também colegial de São Paulo. Graduou-se em Artes a 13 de Junho desse ano, depois de licenciado em 19 de Maio, entrando assim em Teologia, em que se licenciou a 16 de Julho de 1731 e doutorou em 29 do mesmo mês.”112

De facto, em 1724 era já bacharel em Artes pelo Colégio do Espírito Santo de Évora e em 1728 era porcionista no Colégio Real de Coimbra, matriculado na Faculdade de Teologia, sendo admitido no Colégio de S. Paulo naquela mesma cidade em 1731. O seu percurso passou, como se observa, por vários colégios jesuítas, achando-se todas estas datas e factos atestados em documentação do AHP113.

Patente, em papel, num documento existente em Évora, o brasão ou selo de armas do Director dos Estudos Menores, apesar de não possuir cores, ostenta uma série de elementos que conseguimos identificar. Ao centro, em destaque, o brasão da família114. Não na sua totalidade, mas apenas a dobre cruz e os seis besantes. O escudo é ladeado por duas figuras afrontadas. Este conjunto é encimado por o que parece ser uma mitra episcopal. Tratando-se de uma dignidade eclesiástica – Principal da Igreja de Lisboa - possui um capelo - um chapéu com guarnição de cordões entrelaçados, que,

112

ANDRADE, A. A. Banha de, Contributos para a História [...], pp. 592-593.

113

Cf. a resposta ao Requerimento de D. Tomás de Almeida ao Reitor do Real Colégio. [Coimbra?], 16 de Dezembro de 1728. AHP, Ms., Caixa 7, n.º 9.

114

A título de curiosidade, refira-se que o brasão dos Almeida se encontra na Sala do Palácio de Sintra, logo na primeira linha, em redor das armas dos reis de Portugal.

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pelo número de nós se identifica o grau de autoridade. Tem o mesmo número de nós de um brasão de uma diocese ou arquidiocese.

Figura 1 - Capelo115

Figura 2 - Reprodução aproximada do selo branco com as armas do Director Geral dos Estudos116

Detentor de amplos poderes políticos e financeiros com vista a uma pretensa acção reformadora eficaz, a acção do Director Geral parecia privilegiar o contacto pessoal, na medida em que ele próprio se encarregara de aplicar alguns exames de candidatos à docência – “ou l’échange épistolaire avec les personnes de ses connaissances que par des filières administratives”117

. Uma das suas primeiras medidas terá consistido, no que se reporta pelo menos ao ensino no Brasil, em reunir

115

O número de nós no brasão do Principal Tomás de Almeida era em menor número.

116

Existente na Carta de nomeação de um Professor Régio de Gramática Latina em Évora. Lisboa, 28 de Outubro de 1759. BPE, Ms., Cod. CIX/1-18, n.º 16

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informações quanto ao estado em que a educação se encontrava ou como fora deixada pelos jesuítas até à data da sua expulsão – contexto que, ademais, como o próprio Tomás de Almeida viria a revelar mais tarde, era desconhecido por parte do Director Geral118.

Na sua primeira relação anual119 enquanto Director dos Estudos, Tomás de Almeida sublinha ser ainda uma fase precoce para se avaliar os resultados da aplicação das reformas. Apesar de ser sua função «visitar» as aulas, i.e., inspeccionar o seu funcionamento (surpreendendo os envolvidos, pois iria em datas não divulgadas), Tomás de Almeida deixa antever que tal não lhe terá sido inteiramente possível – ou pelo menos, na dimensão que desejaria, em estreito cumprimento das reformas. Com efeito, achando-se privado de recursos humanos para este efeito, viu-se obrigado a recorrer a outra estratégia: à análise de trabalhos de alunos, muito embora estivesse ciente de os dados poderem ser falseados. A este propósito, comenta que houve textos forjados das mais diversas maneiras, sendo que verificou, noutros casos, grandes limitações na redacção.

Empenhado no estreito cumprimento das ambições do Estado na esfera educativa, mandou criar cadeiras para todos os estudos, o que pressupõe igualmente as cadeiras de ler e escrever, ainda que o maior destaque recaísse sobre outras áreas de ensino. Entretanto, as aulas ainda decorriam sem que houvesse acesso aos livros recomendados, existindo problemas na sua difusão tanto no reino como no ultramar. Tomás de Almeida justifica que os impressores se ocupavam da difusão de tantos outros títulos que não os manuais tornados obrigatórios, para além de os seus meios não serem dos mais avançados. Existirá ainda uma outra razão de fundo: a da inexistência de uma imprensa régia, a qual viria a surgir somente décadas mais tarde120. Enquanto a impressão continuava fora da alçada do Estado, as impressões e encadernações eram

118

ANDRADE, A. A. Banha de, A Reforma Pombalina dos Estudos Secundários no Brasil, São Paulo, Saraiva/ Universidade de São Paulo, 1978, p. 5.

119

Lisboa, 6 de Agosto de 1760. ANTT, Ministério do Reino, mç. 3483.

120

O problema da impressão de livros escolares veio mais tarde a ser ponderado já na última vintena de setecentos, através da criação da Casa Literária do Arco do Cego (1799-1801), por iniciativa do Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, D. Rodrigo de Sousa Coutinho (1755-1812). Apesar da sua curta existência, esta instituição ocupou-se da impressão de várias centenas de obras de carácter escolar, tendo como destino o Brasil.

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feitas por particulares, achando-se as contas destas despesas nos documentos do Tesoureiro desta Directoria121.

Esta Directoria carecia de mais recursos humanos, uma vez que a área em que se pretendia implementar as reformas era extremamente vasta, sendo numerosos e rigorosos os mecanismos de controlo impostos pela legislação122. Nesta perspectiva, tornava-se claramente essencial delegar poderes em comissários com a faculdade de subdelegação, cargo de que nos ocuparemos mais adiante.

Eis um outro procedimento que importa acrescentar aos já descritos: os professores régios só eram nomeados por carta régia, competindo ao Director Geral fazer chegar a proposta ao Rei por meio de Consulta. O professor tinha ainda de se submeter, após ter sido nomeado, a um juramento na Chancelaria, na presença do Director Geral dos Estudos. Era nem mais nem menos do que uma «profissão de fé», devendo jurar sobre os evangelhos, de acordo com o que o Papa estabelecera123. Contrariamente ao referido por Levy Cardoso, os professores embora estivessem subordinados ao Director Geral dos Estudos, não era a eles que cabia

“avaliar o progresso dos estudos, fornecer relatórios anuais ao soberano sobre a situação dos mesmos, cuidar de advertir e corrigir os professores que porventura não estivessem cumprindo as determinações previstas na lei, além de ter que informar ao rei quais os mestres reincidentes que deveriam ser castigados [...]”.124

Tratar-se-á por certo de engano, pois todas estas atribuições dizem respeito aos comissários subdelegados para o efeito. Assim, os professores só em casos excepcionais se dirigiam directamente ao Director Geral. Por outro lado, quando a autora refere que este estaria directamente subordinado a Sua Majestade, importa chamar a atenção para a intervenção do próprio Sebastião de Carvalho e Melo, bem como do Solicitador da Directoria, junto de quem Tomás de Almeida tomaria parecer.

121

AHIN/AINCM, Directoria-Geral dos Estudos, cx. 4.

122

Alude-se ainda à questão do selo, algo fundamental na documentação de carácter oficial, como aqui se declara.

123

Cf. Carta de nomeação de um Professor Régio de Gramática Latina em Évora, de D. José I [inclui selo com as armas do Director Geral dos Estudos]. Lisboa, 28 de Outubro de 1759. BPE, Ms., Cod. CIX/1-18, n.º 16.

124

CARDOSO, Tereza Maria Rolo Levy, As luzes da educação: fundamentos, raízes históricas e prática das Aulas Régias no Rio de Janeiro (1759-1834), Bragança Paulista, Universidade de São Francisco, 2002, p. 119.

82 2.2.2. Natureza dos cargos existentes

Alguns autores, desconhecendo os meandros do controlo educativo de setecentos, afirmam que, anteriormente ao período de 1772, não existiria propriamente uma «direcção dos estudos», mas apenas um «director». Seria ele o único responsável pela organização dos estudos menores, ainda que apoiado por comissários nomeados para o efeito. Tal radica essencialmente de uma leitura literal e exclusiva do Alvará de 4 de Junho de 1771, onde se alude precisamente ao facto de se necessitar de «uma corporação», a fim de que a responsabilidade não mais recaísse “nas forças de uma só pessoa”.

Eis, na verdade, o que sucedia. A prática docente permanecia vigiada, sendo controlada de perto primeiramente pelo Director-Geral dos Estudos, nomeado por Carta régia de 6 de Julho de 1759. Nesse mesmo ano são igualmente nomeados vários Comissários de Estudos, os quais viriam a exercer funções tanto em Portugal como no Império Ultramarino, tendo por missão examinar os candidatos ao ensino da Gramática Latina, do Grego e da Retórica. O interesse pela instrução primária parecia, à data, ainda pouco nítido.

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Figura 3 – Hierarquia do controlo educacional ao tempo da Direcção dos Estudos Menores

Existiam, ainda, várias entidades jurídico-administrativas envolvidas neste processo de implementação de uma nova lógica educativa no Brasil. Assim, não poderemos deixar de incluir:

- os Tribunais da Relação da Bahia e do Rio de Janeiro, a cada um dos quais se agregavam determinadas capitanias;

- as Câmaras Municipais, também encarregues de, a partir da verba de que dispunham, proceder aos pagamentos dos ordenados dos docentes régios, pelo menos ao tempo de D. Maria I;

- as Casas dos Contos, encarregues da gestão dos pagamentos dos professores e mestres régios;

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- o Desembargo do Paço, encarregue da emissão de «bilhetes»125;

- a Chancelaria, onde os professores e mestres régios prestavam juramento126.

Conseguimos apurar a existência de vários cargos que auxiliavam de perto o director na aplicação das reformas educativas: o Secretário, o Tesoureiro, o Solicitador, o Meirinho, o Examinador e o Comissário.

Comecemos, pois, pela figura do Secretário da Directoria. Certamente confrontado com um enorme volume de trabalho, Tomás de Almeida cedo requereu a colaboração de um Secretário, propondo para tais funções o P.e Luís Francisco de Sousa, em carta datada de 24 Agosto 1759, obtendo o parecer favorável de Sua Majestade a 29 do mesmo mês127. Além de ser pessoa da confiança do Principal Almeida, possuía as competências certas para o exercício destas funções, pois tratava-se nem mais nem menos do que o «Secretario da Congregação da S.ª Igreja de Lisboa». A proximidade entre ambos é óbvia, pertencendo ao corpo de eclesiásticos da Igreja de Lisboa.

Quanto à natureza das suas funções, seria encarregue da “expedição dos negocios pertencentes à Direcção dos Estudos”, o que implicava a redacção e expedição de “bilhetes às partes para a Chancelaria”, de cartas de nomeação aos professores e mestres providos por Sua Majestade, “alem de Comissões para estes Reynos, e seus Dominios”, entre outro tipo de registos que fosse necessário efectuar. Seria também ele um interlocutor privilegiado, chegando até si as queixas dos professores. Uma vez na posse dessa correspondência, agiria como mediador desses dados que faria depois chegar ao Director dos Estudos128. Fora ainda incumbido de proceder a uma relação dos livros e papéis pertencentes à Directoria aquando da mudança de instalações. Seria, sem dúvida, responsável pela organização da documentação existente nesta instituição:

“O P.e

Luis Fran.co de Souza Secretario desta Directoria G.al dos Estudos vá em Comp.ª de Joze Antonio da Costa e Araujo ao Collegio Real dos Nobres e fará hũ inventario de

125

Cf. Carta de José de Seabra da Silva de Moraes, solicitador da Directoria, a Tomás de Almeida. Lx., s.d. BPE, Ms., Cod. CIX/1-18, n.º 23.

126

Cf. Carta de nomeação de um Professor Régio de Gramática Latina em Évora, de D. José I. Lisboa, 28 de Outubro de 1759. BPE, Ms., Cod. CIX/1-18, n.º 16.

127

AGAL, Códice n.º 174/1, “Director Geral – Consultas – 1759 TÈ 1770”, doc. n.º 3.

128

Propomos a leitura da Carta de António Felix Mendez ao P.e Luís Francisco de Sousa, Secretário da Directoria dos Estudos. Caza [Bairro da Esperança?] - Lx, 28 de Outubro de [17--]. BPE, Ms., CIX/1-18, pacote 19.

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todos os Livros, papeis, e mais trastes que se acharem nas Casas q estão destinadas p.ª