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dades concretas, o que conduz ao assumir de cargos de direção (em três dos quatro casos essa função é a presidência, pelo facto de se ter assumi- do uma postura ativa e fundamental em todo o processo de constituição legal da associação).

Figura 6 - Síntese da trajetória ‘B’

Tomada de iniciativa: organização e realização de atividades (âmbito informal)

Identificação de necessidades ↓ Vontade em manter ativismo

Constituição de associação juvenil ↓ Assunção de cargos de direção

Uma outra trajetória alinhada à trajetória ‘B’ é a da Sara. A sua história associativa começa, igualmente, de modo muito informal, sendo uma forma de responder a uma necessidade muito concreta e pontual que se lhe colocou num dado momento (anga- riar dinheiro para uma viagem de finalistas). O sucesso dessa primeira experiência e

os laços de amizade que subsistiram entre o grupo promotor dessa atividade susci- taram o interesse em desenvolver novas ações.

Entretanto o 9.º ano acabou e aquela escola era preparatória e cada um foi para o seu lugar… (…) mas ficaram estes laços e começámos a organizar-nos fora da escola e então constituímos uma associação que era a “Associação de Jovens do Kapa”. Reuníamo-nos na casa de uma das pessoas e qual era o objetivo? o objetivo era fazer trabalho de apoio à comunidade, eventos… (…), fazíamos um café concerto mas não era só o fazer, o tocar, tinha que estar associado a qualquer coisa (…) por exemplo, queríamos fazer recolha de roupa, então as pessoas iam ver o espetáculo e levavam uma peça de roupa. Depois participámos na semana da juventude. (…)

Foi assim que foi acontecendo, pelo menos durante um ano e meio, dois anos. Só que… também tem a ver com a minha história de vida familiar, os meus pais são de Moçambique, vieram para Portugal na altura da descolonização, sentia um bocado no discurso uma mágoa, o ter que vir para um país e começar tudo do zero, com uma criança no colo, o dormir no aeroporto e ter que ir para o forte de Peniche, um percurso…, e pronto, as questões da imigração sempre tiveram… sempre foram uma preocupação, sempre foi uma coisa que tive mui- to sensível e que tem que ver com estas histórias todas, não é?, desde os avós aos pais e por aí adiante… E este ano e meio foi muito giro mas depois já… para mim… comecei a sentir outras necessidades… (Sara)

É o “começar a sentir outras necessidades” e a sua conjugação com a vontade de manter uma intervenção cívica, onde sobressai a ligação à vivência familiar da imi- gração, que funcionam como impulso para a jovem estar atenta a outras oportunida- des que possam ir ao encontro desse sentimento. Ao contrário dos casos anteriores, em que os jovens criam as “suas” associações, neste caso a oportunidade de pros- seguir os seus objetivos chega com o convite de um membro de uma associação que já operava num bairro próximo do seu local de residência.

Importa chamar a atenção para o significado que esta associação assume na sua trajetória uma vez que a faz perceber que “é mesmo isto!”, por se tratar de uma associação cuja prioridade é o trabalho social num bairro onde a população é maio- ritariamente imigrante de origem africana. Com efeito, este convite corresponde ple- namente à sua vontade de fazer “trabalho de apoio à comunidade”, que já vinha das experiências anteriores, e às suas “outras necessidades” resultantes da história de imigração da família.

Então, em 1998, em março, a associação de jovens fez um evento no campo da bola, no mês da juventude, e eu conhecia duas pessoas que moravam aqui no bairro (…), pessoas que já vinham do outro grupo da comissão de finalistas, já me conheciam, eles convidaram amigos, e foram para esse evento. (…) No final, o Duarte veio ter comigo, eu não o conhecia (…): “Ah, temos que (…) ver aí uma coisa!…” e eu “Ah, ‘tá bem, ‘tá bem, depois a gente fala, e assim…”, mas ficou, ficou…

Mas, pronto, fizemos esse evento em 1998, em março, houve essa aborda- gem, ficou-me no ouvido, (…) entretanto vim cá (…), um bocado numa de ir ver o que era, o que faziam (…). Tudo ainda muito em bruto, não é? Mas achei que era isto! Disse “‘Espera lá! Acho que é isto! porque aqui têm muita maté- ria-prima para se trabalhar!” Então comecei a vir com mais frequência para participar (…) o pessoal queria era sair, ir para a rua, fazer umas coisas! Lem- bro-me que foi um bocado esse trabalho de pesquisa, de procurar o que se podia fazer…

(…) Comecei depois a colaborar efetivamente e mais no terreno com explica- ções. (…) O facto de eu vir com mais regularidade, já tem a ver com a minha formação, que ia aumentando, o facto de ser uma pessoa muito autodidata, de procurar, comecei a ter um outro papel aqui dentro, se bem que eu sempre gostei muito de estar no terreno, estar com as pessoas, a fazer juntamente com elas. Mas tendo em conta que já era uma associação constituída, que já tinha regras, alguns formalismos, eu também comecei a encabeçar algumas coisas. Quando entrei para os corpos da associação entrei como secretária (…) e depois (…) passei a vice-presidente da associação. (Sara)

Com o início do voluntariado na associação, a trajetória da Sara desenrola-se de modo muito semelhante aos casos englobados na trajetória ‘B’, uma vez que rapida- mente evolui para uma colaboração mais regular e intensa, em torno da organização de várias atividades, e culmina na assunção de um cargo diretivo. Mas tendo em conta que difere das outras situações pelo facto de neste caso não ter havido uma participação na constituição de uma associação de raiz, optou-se por identificar o seu percurso de modo autónomo (vd. Figura 7). Destaca-se aqui o facto de ter exis- tido um convite para a adesão à associação, o qual se revestiu de uma importância fundamental, quer em termos objetivos, por oferecer uma oportunidade a alguém que andava em busca dela, mas também por o trabalho que lhe é permitido realizar convergir com o sentimento que a liga às questões da imigração, que “sempre foram uma preocupação” e que sempre foram algo que viveu de modo “muito sensível”.

Figura 7 - Síntese da trajetória ‘B.a’ Tomada de iniciativa: organização e realização de atividades (âmbito informal)

Identificação de necessidades ↓ Vontade em manter ativismo

Convite de adesão a uma associação ↓ Experiência em várias atividades

Progressiva responsabilização ↓↑ Assunção de cargos de direção

Não explorando neste ponto as motivações e as razões que conduzem à participação associativa (vd. ponto 1.3., adiante), colocamos todavia a hipótese de várias das traje- tórias apresentadas poderem expressar disposições que emergem a partir de uma identificação com a história da imigração vivida no seio da família e de sentimentos de pertença às culturas africanas, onde se enraízam as origens familiares.

Em síntese, relembra-se que as trajetórias associativas de descendentes de imi- grantes aqui retratadas se iniciaram na juventude, antes da maioridade, em grande parte fruto da informalidade subjacente às redes de convivialidade dos seus espa- ços de residência e às sociabilidades juvenis. Em dois casos houve uma experiência prévia ao voluntariado das jovens, enquanto crianças beneficiárias da intervenção associativa.

A proposta de análise das trajetórias ‘A’ e ‘B’ e suas variantes teve em conta dois cri- térios fundamentais, que constituíram a base da distinção entre elas:

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