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Trabalhos que tratam da formação e os saberes docentes do professor de

3 SABERES DOCENTES: DIMENSÕES EPISTEMOLÓGICAS, LIMITES E

3.7 Os saberes docentes no campo da música

3.7.6 Trabalhos que tratam da formação e os saberes docentes do professor de

Se tratando dos estudos sobre a formação dos professores de instrumento, (MOREIRA, 2014) realizou uma pesquisa com um professor de violão que atuava havia 29 anos numa escola de música em Santa Catarina. O objetivo da pesquisa foi investigar como o professor organizava, adaptava e representava o conhecimento musical e técnico-instrumental de modo a transformá-lo em conteúdo apreensível e compreensível para seus alunos. Em sua investigação o autor evidencia que o repertório musical utilizado pelo professor era o fim e ao mesmo tempo o meio para desenvolvimento técnico musical e também de repertório do aluno. O professor transmitia esses conhecimentos de diversas formas, através de analogias, demonstrações, explanações e metáforas. Os saberes do professor foram adquiridos através da sua longa experiência com ensino de violão e, principalmente, através de seus professores de violão, que ainda eram as principais fontes de conteúdo, formas e estratégias de ensino que o professor utilizava atualmente.

Partindo de uma problemática bastante similar à de (MOREIRA, 2014), (BEZERRA, 2014) realizou um estudo com professores das oficinas de instrumento das Escolas Parques de Brasília, com o objetivo de conhecer as ações dos professores, descrevendo quem eram, como se viam, como aprendiam e como organizavam e desenvolviam suas aulas e quais os principais desafios enfrentados por eles. Com a pesquisa, a autora constata que os professores que atuavam nessa realidade não possuíam uma formação específica em cursos de licenciatura ou bacharelado em música, e que em suas práticas pedagógico-musicais eram bastante influenciados pelas formas em que aprenderam o instrumento. Nessa perspectiva, eles desenvolviam o ensino de instrumentos tomando como base as formas que aprenderam, as experiências de ensino vividas nas Escolas Parque, as trocas de conhecimentos entre os colegas e as capacitações de que alguns deles participaram (MOREIRA, 2014).

A autora faz menção aos saberes docentes, informando que no caso desses professores, os saberes docentes foram construídos a partir das experiências vividas no ambiente de trabalho através de relações de tentativa-erro-tentativas na sala de aula, e nas trocas de saberes com os colegas. A partir dessas ações os professores iam se constituindo professores de instrumento.

Tratando ainda sobre a formação do professor de instrumento, se enquadra nesta categoria um estudo realizado por (AMATO, 2014) sobre o regente de coral, que, mesmo não sendo um profissional que se debruça especificamente ao ensino de um instrumento, lida indiretamente com ensino da voz em grupo. Nesse estudo, a autora buscou investigar quais são as principais habilidades requeridas por parte do regente coral com relação à gestão de recursos humanos e à organização e condução do trabalho em coros. Para isso, a autora realizou a aplicação de questionários com 19 estudantes de graduação (licenciatura e bacharelado) da Faculdade de Música Carlos Gomes que frequentavam as disciplinas de Regência Coral e Prática Coral.

Nessa pesquisa, a autora faz menciona o conceito de saberes docentes ao buscar caracterizar as habilidades e competências do regente de coro através da aplicação dos questionários, que tinham como objetivo medir a importância de 11 saberes que o regente precisa ter para atuar com corais. E que em resumo são: 1-saber comunicar; 2-saber agir; 3- saber liderar; 4-saber motivar; 5-ter visão estratégica; 6-saber assumir responsabilidades; 7- saber aprender com os coralistas; 8-saber aperfeiçoar-se; 9-saber comprometer-se; 10-saber estimular a criatividade do coral; 11-saber mobilizar recursos materiais. Entre os 11 saberes, os que foram apontados como essenciais para os alunos sujeitos da pesquisa são os relacionados à organização do trabalho e à administração dos recursos humanos. A pesquisa

ainda aponta que conhecimentos extramusicais relativos à liderança e motivação se mostraram como essenciais na opinião dos alunos, mas que, na maioria das vezes, não são valorizados nem abordados no estudo específico da regência.

Também tratando sobre o regente de coral, (FRANCHINI, 2014) procurou identificar os saberes necessários à prática do regente do coro juvenil. A partir da pesquisa, a autora percebeu que esses regentes não possuem formação inicial em música, mas através da formação continuada: em cursos, festivais e demais formações pontuais, os docentes desenvolvem habilidades e competências para atuar com coros juvenis. Segundo a autora, os saberes docentes dos regentes englobam as quatro tipologias de saberes apontadas por Tardif (2007), os saberes da formação profissional, os saberes curriculares, disciplinares e experienciais, ligados à liderança, motivação e trabalho em grupo.

Tendo como foco os professores de instrumento, (CARVALHO, 2004) realizou uma pesquisa para conhecer e discutir como 10 professores ensinavam, aprendiam e avaliavam em um curso de instrumento musical para crianças. Nesse estudo, a autora constata que os saberes docentes desses professores eram construídos na prática e para a prática, e os ex-professores desses profissionais eram os que mais exerciam influência na atuação profissional dos professores em sala de aula. A autora relata que, no decorrer da trajetória profissional dos professores sujeitos da pesquisa, eles construíram um contraponto entre a influência de seus ex-professores, suas práticas e a prática dos seus pares, compartilhadas em alguns momentos no ambiente de trabalho.

Sobre os professores bacharéis em piano, (ARAÚJO, 2006) investigou os saberes que norteavam a prática pedagógica de três desses profissionais. A autora aponta que os saberes docentes desses profissionais eram construídos ao longo de suas histórias de vida a partir de diferentes fontes sociais. O que diferencia os saberes de cada sujeito envolvido na pesquisa é a temporalidade, pois cada sujeito mobilizava e adaptava seus saberes conforme o seu tempo de atuação profissional com ensino de piano e suas experiências, tanto formais no âmbito do curso de bacharelado em piano, como experiências informais vividas no cotidiano, como performers.

Ainda no mesmo eixo temático, (GEMESIO, 2011) se propôs a estudar os saberes docentes de professores de piano em início de carreira. Nessa pesquisa, a autora constata que no início da carreira esses profissionais mobilizam saberes construídos nas experiências como alunos e também como professores, antes de cursarem o ensino superior. Além disso, por se tratar de uma fase da carreira ainda bastante instável, os professores estão sempre iniciando e reiniciando suas experiências com o ensino de piano, o que acarreta em uma mobilização e

criação de saberes durante a prática, que a todo tempo perpassa por mudanças. A cada papel que assume em cada trabalho, o professor de piano, ele acaba moldando seus saberes de acordo com cada contexto e redirecionando a construção de seus saberes docentes no ambiente de trabalho.

Outro estudo realizado sobre os saberes docentes de professores de instrumento é um ensaio publicado por (WEBER; GARBOSA, 2014), sobre o bacharel professor de instrumento. Nesse ensaio, as autoras analisam diversos trabalhos publicados sobre o tema, e revelam que, durante a formação inicial, os professores bacharéis desenvolvem saberes ligados à performance instrumental, que são conhecimentos sobre a técnica, expressão musical, postura, preparo emocional para apresentações públicas, etc. As autoras chamam esse saber de “saber da performance”. Além desses, existem os saberes da função pedagógica, que são construídos durante a prática de viabilização de ensino do instrumento e através de cursos específicos ligados à pedagogia do instrumento, que acontecem fora dos cursos de bacharelado em instrumento.

Essa pesquisa ainda revela que a literatura que trata sobre essa área há alguns anos vem alertado para a necessidade de os cursos de bacharelado acrescentarem em suas grades de ensino disciplinas que contemplem uma formação pedagógica, pois, mesmo não sendo esse o foco de atuação do bacharel, na maioria dos casos, é onde este profissional vai atuar ao se deparar com as oportunidades de atuação em sua área.

Ainda sobre o mesmo tema, (BELLOCHIO, 2009), no intuito de estudar os saberes docentes de professores de música, realizou uma pesquisa para conhecer e entender os saberes docentes que educadores musicais consideravam importantes quando atuavam em escolas básica e escolas de música de Santa Maria/RS. Nesse trabalho, a autora revela que boa parte dos professores participantes da pesquisa atuava nas escolas específicas de música com ensino de instrumento e tinha formação em curso de bacharelado em instrumento.

Ao verificar-se os dados da autora referente aos professores de instrumento, foi percebido que mesmo não possuindo uma formação para o ensino, os saberes docentes desses profissionais eram construídos no próprio ambiente de trabalho, durante o exercício da docência. Além disso, a autora salienta a necessidade de os cursos de bacharelado começarem a enxergar o ensino de música como uma alternativa de atuação profissional dos bacharéis, pois muitos estão desperdiçando essa opção de atuação por não possuírem uma formação adequada para trabalhar com o ensino.

As pesquisas realizadas sobre a formação dos professores de instrumentos demonstram que a tradição da aprendizagem musical transmitida de professor para aluno é tida como a

principal fonte de saberes mobilizados pelos professores no ensino de instrumento. Os professores se espelham nos seus mestres e ensinam da mesma forma que aprenderam o instrumento, partindo do pressuposto de que, se funcionou com eles, também funcionará com os seus alunos. Além disso, os saberes advindos da experiência vivida no ambiente de trabalho também são apontados como fontes de mobilização de saberes docentes. Muitos desses professores não possuem formação em cursos de licenciatura e, quando se comprometem em conduzir um processo de ensino e aprendizagem, é através do “acerto, erro e acerto” que eles vão construindo seu fazer pedagógico-musical.

A partir dessas constatações, alguns autores identificam a necessidade de se considerar na formação de professores instrumentistas saberes extramusicais, que possam dar respaldo para que estes conduzam seus trabalhos com uma maior eficácia, de forma a contribuir para educação musical. Conhecimentos ligados à motivação dos alunos, administração de grupos, didática, empreendedorismo, gestão de pessoas, etc. são conhecimentos que podem ajudar esse profissional em sua prática profissional. Essa perspectiva é vista por outros autores, como (DEL BEN, 2003), como algo necessário para os cursos de bacharelado em música, pois muitos profissionais, ao concluírem seus cursos, não encontram, muitas vezes, um mercado favorável para atuarem como performers, então, acabam caindo na área do ensino, geralmente, sem preparo algum. Por isso, os cursos precisam incluir em seus currículos disciplinas que possibilitem a esses profissionais atuarem com o ensino.

3.7.7 Trabalhos que tratam da formação e dos saberes docentes de professores de música

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