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3.4.1 A Trajetória de Ângelo, seu encontro com Osho e as meditações com o Daime

Ângelo, que nasceu no norte da Itália, narra da seguinte forma seu encontro com a filosofia de Osho:

Eu estava viajando para a Índia , mesmo como daimista viajei muitas vezes, quatro vezes para a Índia, então eu encontrei o Osho, que no papel sempre criticou o cristianismo, que não deveria ser compatível com o Santo Daime, mas na realidade é muito compatível. Além das aparências, ele é um grande personagem da história contemporânea, um grande mestre, ou pelo menos uma grande mente para quem não acredita que ele seja um mestre .Ele é um cara de uma grandeza tão luminosa , de tanta alegria de vida, vontade de viver . Foi um encontro maravilhoso.Eu não encontrei ele pessoalmente, mas eu encontrei a história dele.

Ângelo, que é terapeuta - apesar de sempre afirmar que sua profissão na verdade é ser

um viajante - , tomou o Daime pela primeira vez em 1986, em Porto Seguro, Bahia, mas fora

de um contexto ritual. Em 1991 participou de um trabalho com o Santo Daime, na Igreja Flor de Luz, com o Padrinho Jonas, no momento que o Flor de Luz não era ainda uma Igreja, mas um núcleo do Santo Daime (Barra Funda , São Paulo-SP) .

Em uma de suas viagens para a Índia - por solicitação do Pad. Jonas Frederico - Ângelo , acompanhado de outros daimistas, leva alguns litros de Santo Daime e organiza um trabalho por lá. Após iniciarem o ritual e beberem o daime, Ângelo recebe a seguinte miração, que irá marcar o início dos trabalhos de Osho em Daime:

A gente teria cinco mestres envolvidos na história. Desde o Padrinho Jonas, o Padrinho Alfredo, o Padrinho Sebastião, o Mestre Irineu e o Osho, que fazem um pacto do Astral para permitir a história com a condução do Mestre Irineu , com a intervenção do próprio Osho .

Os cinco mestres: Padrinho Jonas, Padrinho Alfredo, Padrinho Sebastião, Mestre Irineu e o Osho se encontram no Astral e, em conjunto, resolvem passar para Ângelo a missão de iniciar os trabalhos de Meditação em Daime . Interessante notar que será esta miração, entendida como verdadeira, que fundamentará a estruturação desta nova modalidade de trabalho no interior do Santo Daime – CEFLURIS.

Assim, Ângelo prossegue viajando pela Índia , tomando Daime com as pessoas :

Tomamos Daime com o povo de lá. Alguns, mesmo, ficando vislumbrados com as mirações da experiência, então foi um trabalho muito valioso.

Ao retornarem ao Brasil, Padrinho Jonas confirma a veracidade das mirações recebidas por Ângelo, dos cinco mestres se encontrando no Astral :

Chegando ao Brasil, eu mostro a história para o Padrinho Jonas. E o Padrinho Jonas confirma a história, confirma as mirações recebidas. Então nós voltamos para a Índia com 30 litros de Daime, mas você nem imagina as dificuldades para levar 30 litros daqui na Índia ... Mas foi feito graças e aí fomos para a Índia e abrimos esse ponto de acordo com as instruções e o Padrinho Jonas falando do Astral. Mas chegou uma hora que não se sustentou, por que lá no Ashram tem que declarar , assinar, que você não faz uso de expansores de consciência, numa palavra mais genérica,droga . Então por causa da Lei Indiana, que é muito rígida, é rigorosa, sabendo que os ocidentais usariam um chá, poderia gerar sérios problemas de funcionamento, por isso tivemos que fechar o trabalho e voltar para o Brasil .

Por sérios problemas de funcionamento, entenda-se “problemas com as autoridades da Índia”.

Berenice, uma senhora moradora do Céu de Midam que também contribuiu com sua participação nos trabalhos daimistas na Índia, lembra que os rituais com o Santo Daime neste

país foram interrompidos devido à probabilidade das prisões. Ela refletiu em uma das entrevistas : “Imagina como deve ser as condições de uma prisão na Índia ?!” . Eles, então, retornam ao Brasil, relatam as dificuldades para o Padrinho Jonas, que fica feliz com a tentativa, com o que foi desenvolvido na Índia e com o que denomina “contato ocidente- oriente” :

E aí conto de novo a história para o Padrinho Jonas. O Padrinho Jonas já se sentiu satisfeito da missão, desse contato ocidente-oriente , que duas pessoas inexperientes tenham feito e pela mensagem recebida também.

Ângelo Scalvi.

Dessa forma, Ângelo inicia em São Paulo os encontros de Osho em Daime, como parte dos trabalhos de Daime no Brasil . Havia a Concentração, o Bailado, e o trabalho de Osho em Daime também, conforme nos afirma.

Atualmente, até entre os fardados há os que criticam o trabalho de Osho em Daime, argumentando que, havendo o Mestre Irineu por aqui nunca precisariam “importar” um mestre do Oriente. Outros afirmam que no trabalho de Daime com meditações do guru indiano acabam por perder-se, pois estariam sem o “corrimão” que são os hinos e a ritualística tradicional dos trabalhos oficiais, não sendo possível, assim, se firmarem no ritual. Por esse mesmo motivo, pessoas novatas e as não fardadas, costumam passar pelo trabalho de Osho em Daime com mais tranqüilidade e espontaneidade que os fiéis que estão há mais tempo no grupo.

Do outro lado, há também críticas dos seguidores de Osho, mesmo porque este não admitia o uso de qualquer substância expansora de consciência em suas meditações e em seus

ashrams . O estado de iluminação – segundo os sannyasins – deveria ser alcançado pelo

perseverança e dedicação individual. Consideravelmente, o daime propiciaria uma queima de etapas, facilitando e encurtando este longo caminho da iluminação pessoal. Vale ressaltar, que segundo os relatos de Ângelo, o trabalho de Osho em Daime foi proibido na Índia, quando as autoridades e os líderes religiosos souberam do uso deste expansor de consciência entre as pessoas daquele país.

Mesmo com a não continuidade dos trabalhos espirituais com o Daime na Índia, a influência da religiosidade oriental ficava clavada na Cosmologia Daimista do Céu de Midam. A incorporação de elementos da filosofia do líder indiano Osho ficariam evidentes.