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3 O SISTEMA DAS TRANSFERÊNCIAS INTERGOVERNAMENTAIS NO

3.3 A composição do sistema das transferências intergovernamentais

3.3.5 Uma análise sobre os critérios legais socioeconômicos e

3.3.5.1 Transferências com critérios socioeconômicos

Os critérios socioeconômicos são aqueles que se compõem por elementos que avaliam aspectos sociais e econômicos do ente federativo receptor, por exemplo, população, renda per capita, território, PIB per capita, conforme se visualiza no Quadro n. 04 abaixo:

Quadro 4 – Transferências intergovernamentais e critérios de distribuição e de afetação socioeconômicos

TRANSFERÊNCIAS TIPO CRITÉRIOS DE DISTRIBUIÇÃO

Fundo de

Participação dos

Municípios (FPM)

Redistributiva Livre

Os arts. 90 e 91 do CTN estabelecem que 10% devem ser compartilhados entre os Municípios das Capitais e 90% entre os Municípios restantes.

A parcela referente aos Municípios das Capitais deve ser distribuída, conforme um coeficiente individual de participação, fruto do fator “representativo da população” e do fator “representativo do inverso da renda per capita” do respectivo Estado em que o Município se localiza. Já os 90% são distribuídos “em razão direta à população” e “inversa à renda per capita”, segundo um coeficiente individual de participação, regulamentado pelo Decreto n. 86.309 de 1981.

Fundo de Participação Dos Estados e do Distrito Federal (FPE) Redistributiva Livre

O art. 2º, incisos I e II, da LC n. 62/1989 determina que 85% serão distribuídos entre os entes federados integrantes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e 15% aos Estados das regiões Sul e Sudeste. Depois dessa fase, cumprem-se os arts. 88 a 90 do CTN que determinam a distribuição de 5% proporcionalmente à superfície de cada entidade participante (prevista pelo IBGE) e 95% proporcionalmente ao coeficiente

individual de participação, resultante do produto do fator representativo da população pelo fator representativo do inverso da renda per capita de cada entidade participante (indicada pela FGV). Ressalta-se que os coeficientes individuais dos estados e do distrito federal estão dispostos em Lista do Anexo Único da Lei n. 62/1989. Todavia, recentemente foi aprovado no Senado o projeto de lei n. 240/2013, sendo parte do texto objeto de sanção, resultando na LC n. 143/2013, a qual alterou a LC n. 62/1989, e no art. 2º, incisos I a III, determina que até 31 de dezembro de 2015 se mantêm a aplicação dos coeficientes individuais dos estados e do distrito federal previstos no Anexo Único da LC n. 62/1989 e a partir de 1º de janeiro de 2016, cada entidade federativa terá um repasse mínimo referente ao valor recebido em 2015, com a variação acumulada do IPCA, acrescido de 75% da variação real do PIB do período anterior ao ano considerado para base de cálculo; e caso haja parcela excedente será distribuída proporcionalmente aos coeficientes individuais de participação das entidades subnacionais conforme dois fatores representativos: população e inverso da renda domiciliar per capita.

Fundo Nacional do Sistema Único de Saúde (FNS-SUS)

Redistributiva Condicionada

Com base na Lei 8.080/1990, 70% dos recursos são transferidos aos municípios e o restante aos estados, em razão direta ao tamanho da população e à concentração de oferta de serviços prestados. Valor fixo per capita é transferido aos municípios para financiar ações básicas de saúde.

Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Básico (FUNDEB) Redistributiva Condicionada

O FUNDEB foi criado pela Emenda Constitucional nº 53/2006 e regulamentado pela Lei nº 11.494/2007 e pelo Decreto nº 6.253/2007. É formado por parcela financeira de recursos

federais e por recursos provenientes dos impostos e

transferências dos estados, distrito federal e municípios, vinculados à educação por força do disposto no art. 212 da Constituição Federal, quais sejam: Fundo de Participação dos Estados (FPE), Fundo de Participação dos Municípios (FPM), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializados, proporcional às exportações (IPIexp), Desoneração das Exportações (LC nº 87/96), Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD), Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), cota parte de 50% do Imposto Territorial Rural (ITR) devida aos municípios. Também compõem o fundo as receitas da dívida ativa e de juros e multas incidentes sobre as fontes acima relacionadas.

A verba federal é disponível a título de complementação financeira, com o objetivo de assegurar o valor mínimo nacional por aluno/ano (R$ 1.414,85 em 2010) a cada estado, ou ao distrito federal, em que este limite mínimo não for alcançado com recursos dos próprios governos. Os recursos são transferidos aos estados, distrito federal e municípios, conforme proporção do número de alunos matriculados nas respectivas redes de educação básica pública presencial, multiplicado pelos fatores de ponderação aplicáveis.

Fundo Nacional de

Assistência Social

(FNAS)

Redistributiva Condicionada

Conforme art. 4 do Decreto n. 7788 de 15.08.2012 que regulamenta a Lei n. 8742 de 7.12.1993, os recursos repassados pelo FNAS serão transferidos, de forma regular e automática, diretamente os fundos de assistência social dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, independente de celebração de convênio, ajuste, acordo, contrato ou instrumento congênere, observados os critérios aprovados pelo CNAS, à vista de avaliações técnicas periódicas, realizadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à

Fome. São condições para transferência de recursos do FNAS aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (i) a instituição e o funcionamento de Conselho de Assistência Social;(ii) a instituição e o funcionamento de Fundo de Assistência Social, devidamente constituído como unidade orçamentária; (iii) a elaboração de Plano de Assistência Social; e (iv) a comprovação orçamentária de recursos próprios destinados à assistência social, alocados em seus respectivos fundos de assistência social. Conforme art. 6, os recursos transferidos do FNAS aos fundos dos Estados, Distrito Federal

e Municípios serão aplicados segundo prioridades

estabelecidas em planos de assistência social, aprovados por seus respectivos conselhos, observada, no caso de transferência a fundos municipais, a compatibilização com o plano estadual e o respeito ao princípio da equidade.

Fundo de Compensação de Exportações (FEX), chamada de Cota Parte IPI exportação. Compensatória ou Redistributiva Livre

10% da receita do IPI são distribuídos aos estados com base na contribuição de cada um para o total das exportações nacionais; 25% da parcela dos estados nesse fundo são entregues aos municípios segundo os mesmos critérios aplicados à repartição do ¼ da cota-parte do ICMS (lei estadual).

Cota-Parte do ITR Devolutiva

Livre

50% da arrecadação são distribuídos aos municípios proporcionalmente à localização dos imóveis rurais.

Cota-Parte do IPVA Devolutiva

Livre

50% da arrecadação são distribuídos aos municípios com base na origem do recolhimento do imposto.

Cota-Parte do IOF- Ouro

Devolutiva Livre

30% da arrecadação são distribuídos aos estados e 70% aos municípios com base na origem da produção.

Cota-Parte do ICMS destinada aos municípios (70% dos 25% destinados aos municípios). Devolutiva Livre

75% dos recursos arrecadados pelo ICMS permanecem ao Estado e 25% da receita são distribuídos aos municípios da seguinte forma: ¾ ou 75% com base no valor adicionado fiscal (VAF) do município, isto é, a diferença entre o valor das saídas e entradas de mercadorias, acrescido das prestações de serviços de transportes e comunicações no Estado.

Transferências da Lei Kandir – LC 87/1996 (ICMS) Compensatória Ou Redistributiva Livre

Montante anualmente definido no orçamento federal é repassado aos estados com base nas estatísticas de exportação de produtos primários e semielaborados; 25% da parcela de receita recebida pelos estados são distribuídos entre os municípios com base nos mesmos critérios aplicados à repartição do ¼ da cota-parte do ICMS (lei estadual).

Transferências Voluntárias Depende do Acordo, Termo de Adesão ou Termo de Cooperação ou Contrato.

Recursos do orçamento da União distribuídos por meio de convênios, contratos ou termos de adesão. Conforme o art. 25 da L. C. n. 101/2000, as transferências voluntárias são “a entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou destinado ao Sistema Único de Saúde”.

Fonte: Elaborada pela autora com arrimo na Constituição Federal de 1988, nas legislações específicas que regulam as transferências e sites oficiais do Ministério da Fazenda (2013) e do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) (2013).

Conforme se compreende da leitura do Quadro n. 04, predomina no sistema brasileiro de transferências intergovernamentais os critérios de patilha socioeconômicos em detrimento dos critérios de partilha mistos, ou seja, econômicos

e socioambientais. Em outras palavras, no sistema pátrio predomina o uso de critérios de partilha redistributivos tradicionais, pautados no vetor do desenvolvimento econômico.

Logo, a redistribuição da receita está pautada predominantemente no conceito limitado de desenvolvimento abalizado nos vetores: tamanho populacional, território e renda per capita ou PIB per capita.

Entretanto, entende-se que a equalização fiscal ou a redistribuição regional da receita deve se pautar em outros critérios socioeconômicos e até mesmo ambientais, tendo em vista a responsabilidade social dos entes federativos, exigidos pela atual Carta Política.

Nas transferências devolutivas o critério para distribuição da receita é regressivo, pois consiste na participação direta do ente político beneficiário no fato jurídico tributário que gera a obrigação tributária de competência de outro ente federativo, logo, são exemplos, a cota-parte do ITR, cujo critério para repasse é a localização do imóvel rural e a cota-parte do IPVA cujo repasse ocorre conforme os veículos automotores que transitam no município.

Também nas transferências compensatórias os critérios de partilha são socioeconômicos, visto que retratam uma compensação por perda de receita, visando evitar impactos financeiros negativos em algumas entidades federativas quando ocorrem mudanças no sistema tributário ou pela exploração de recursos minerais e de hidrelétricas, de propriedade da União, mas dentro de territórios destas entidades subnacionais.São exemplos: o FEX para compensar a perda de receita pelo processo de desoneração fiscal sobre os produtos industrializados e a Lei Kandir - LC 87/96, para compensar financeiramente os estados com a perda do ICMS em face da desoneração fiscal sobre os produtos industrializados, primários e semielaborados destinados ao exterior.

No que concerne às transferências redistributivas, como o FPE e o FPM os critérios de partilha são também limitadamente socioeconômicos.

O FPE possui, atualmente,dois fatores que determinam a distribuição dos recursos do FPE/DF: 1) o tamanho da população; e 2) a renda per capita. Tais critérios de partilha foram atualizados recentemente em julho de 2013, mediante a LC n. 143/2013, todavia, ainda permaneceram no aspecto socioeconômico.

Tendo como paradigma o desenvolvimento sustentado, observa-se a necessidade de atualização dos critérios de partilha dos Fundos no intuito de abranger outros fatores socioeconômicos e também socioambientais relevantes.

Já existem propostas no Congresso Nacional atribuindo critérios ambientais, como o Projeto de Lei 351/2002, conforme será visto a seguir. Também há diversos trabalhos na atualidade demonstrando que os critérios atuais do FPE não vêm gerando a devida equalização fiscal e o arranjo jurídico tem sofrido pouca modificação.42 Logo, faz-se mister uma alteração da legislação brasileira e já há diversas propostas apresentadas no Congresso Nacional aguardando análise e discussão na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal.

Após a decisão do STF na ADI n. 1.987/DF determinando a atualização da Lei Complementar que regulamenta o FPE/DF até junho de 2013, o Congresso Nacional passou a discutir o tema e aprovou o Projeto de Lei n. 240 de 2013, o qual originou a Lei Complementar n. 143, publicada no DOU em 18 de julho de 2013, a qual substitui o critério do PIB per capita para renda per capita e eliminou o fator do tamanho do território. Entretanto, ainda permanecem outras propostas no Congresso Nacional aguardando debate.

Da mesma forma ocorre com o FPM o qual possui como critérios o tamanho populacional e o inverso do PIB per capita, em que pese seja possível a adoção de outros critérios socioambientais para tornar uma redistribuição de receita considerando as responsabilidades sociais dos municípios.