• Nenhum resultado encontrado

O turismo é apresentado no contexto das áreas naturais protegidas como um dos incentivos para contribuição com a gestão e desenvolvimento desses espaços, que apesar de possuírem como principal objetivo a conservação de recursos naturais e a biodiversidade, também se constituem em possibilidade de melhor desenvolvimento socioeconômico e valorização da cultura local.

Segundo Sonaglio (2006) nas áreas naturais protegidas do Brasil, o ecoturismo2 ocorre de maneira expressiva, tendo em vista as características dessas áreas que constituem o principal atrativo para esse tipo de turismo. Para a autora, essa atividade contribui no processo de conservação da natureza, no entanto, ao perder o equilíbrio e harmonia da relação turismo e as áreas naturais, acarreta efeitos danosos aos recursos naturais.

O SNUC (2000) enfatiza a importância do turismo para esses espaços, e de forma a colaborar, Brasil (2011, p. 8) acrescenta que a visitação em unidades de conservação é uma forma de aproximar a sociedade e despertar o interesse em conservação da natureza, considerando a possibilidade de contato e recreação com o ambiente natural, e que:

O turismo é capaz de dinamizar as economias locais e incrementar os recursos financeiros para manutenção de unidades de conservação. O grande desafio, no entanto, é desenvolver o turismo responsável e integrado à diversidade sociocultural, aos conhecimentos tradicionais e a conservação da biodiversidade.

De acordo com Faraji & Aghajani (2010) o turismo contribui com áreas naturais protegidas, pois a atração de visitantes reforça os recursos naturais como valiosos, bem como, acredita-se que o turismo tem potencial para aumentar o reconhecimento do público e espalhar a sensibilização dos problemas ambientais. Além disso, o turismo na visão das autoras traz contribuição financeira direta com as taxas de entradas dos parques coletadas de turistas ou operadores turísticos que podem auxiliar na proteção e gestão das áreas.

Brasil (2011, p. 13) cita ainda algumas contribuições das UCs para o desenvolvimento do País, onde o turismo e visitações se encaixam nesse contexto: “A visitação nos 67 Parques Nacionais tem potencial para gerar entre R$ 1,6 bilhão e R$ 1,8 bilhão por ano; A visitação nos 144 Parques Estaduais tem o potencial para atrair cerca de 1,4 milhões de pessoas, o que poderá gerar entre R$ 90 milhões e R$ 103,3 milhões”.

2

O ecoturismo é entendido por Beni (2001) como uma atividade que ocorre do deslocamento de pessoas para áreas naturais delimitadas e protegidas, seja pelo Estado ou com parcerias de associações, onde sua utilização deve ser controlada e pautada em um planejamento de uso sustentável dos recursos naturais e culturais existentes nesses espaços.

Apesar dos benefícios do turismo e da visitação estarem relacionados principalmente à abordagem econômica, é possível relacionar esses aspectos de forma intrínseca com a manutenção desses espaços, onde a criação e manutenção dessas áreas ainda de acordo com Brasil (2011) evitaram a emissão de pelo menos 2,8 bilhões de toneladas de carbono, e também 35% da água captada para consumo humano depende das UCs.

Para Eagles, McCool, & Haynes (2002), o turismo se apresenta como uma possibilidade de contribuição para o melhor desenvolvimento das áreas naturais protegidas, mas também possui potenciais riscos para essas áreas, dessa forma, serão apresentados com base nestes autores, os potenciais benefícios (quadro 3) e riscos (quadro 4) do desenvolvimento de atividades turísticas nas áreas naturais protegidas em diferentes aspectos. Quadro 3 – Potenciais benefícios do turismo em áreas naturais protegidas

Potenciais benefícios do turismo em áreas naturais protegidas

Oportunidades econômicas

a) Aumenta os empregos para os residentes locais; b) Aumenta a renda;

c) Estimula novas empresas de turismo; d) Obtém novos mercados;

e) Melhora os padrões de vida; f) Geração de receitas fiscais locais.

Proteção natural e cultural

a) Protege processos ecológicos e bacias hidrográficas; b) Conserva a biodiversidade;

c) Contribui para proteção, conservação e valorização dos recursos do patrimônio cultural e construído;

d) Transmite valores de conservação, através da educação e interpretação; e) Ajuda a comunicar e interpretar os valores do patrimônio natural e a construir

uma herança cultural aos visitantes e residentes das áreas;

f) Apoia a investigação e o desenvolvimento de boas práticas ambientais; g) Melhora as instalações locais, transporte e comunicações.

Qualidade de vida

a) Promove valores estéticos, espirituais e outros relacionados ao bem-estar; b) Apoio à educação ambiental para visitantes e habitantes locais;

c) Estabelece ambientes atraentes para destinos, tanto para os residentes como para visitantes;

d) Melhora a compreensão intercultural;

e) Encoraja o desenvolvimento da cultura, do artesanato e das artes;

f) Encoraja as pessoas a aprender as línguas e as culturas dos turistas estrangeiros; g) Encoraja as pessoas locais a valorizar a sua cultura e ambientes locais.

Fonte: Eagles et al (2002), adaptado pela autora, 2016.

Diante da perspectiva dos potenciais benefícios do turismo em áreas naturais protegidas, Eagles et al (2002, p.24) relata que pensar no turismo dentro do contexto de áreas naturais protegidas proporciona efeitos advindos de Oportunidades Econômicas, atrelados principalmente ao aumento de emprego e renda nas localidades, no entanto, para isso acontecer, é preciso considerar dois aspectos: “1 – deve haver produtos e serviços para os turistas gastarem dinheiro, e 2 – é necessário minimizar a quantidade de serviços que escapa da área local”. Sendo assim, além de ser preciso planejar a oferta de produtos e serviços para

os visitantes/turistas, também é necessário buscar aporte dessa oferta baseado na produção e prestação da própria comunidade do entorno.

Os autores ainda complementam a discussão listando algumas diretrizes para captação desses benefícios econômicos, podendo ser citados: a) aumentar as compras por visitantes, com o fornecimento de mais produtos produzidos localmente, causando aumento da despesa dos visitantes e também crescendo a renda local; b) fornecer guias, acreditando que atividade turística em áreas protegidas necessita de informações intensivas, gerando oportunidades para serviços de guiamento; c) realização de compras de comidas e bebidas cultivadas localmente, contribuindo para o fornecimento de renda para os agricultores locais; d) eventos de acolhimento, podendo tratar sobre obras de artes, artesanato, festivais da cultura local, entre outros.

Se tratando dos benefícios gerados na dimensão Proteção Natural e Cultural, Eagles et al (2002, p. 27) defende a ideia de que o turismo dentro de UC’s possibilita a reversão dos valores financeiros acarreados para a manutenção das áreas, mais além, “indiretamente, demonstrando o valor econômico que o turismo de área protegida pode trazer para um país ou região, ele pode construir apoio público e político para a conservação do patrimônio natural”. No ponto de vista cultural, acredita-se que os turistas por vezes, procuram experiências autênticas, sendo então possível incentivar a comunidade local a manter ou recuperar tradições, ao mesmo tempo em que enriquece a experiência dos visitantes/turistas dentro dessas áreas.

Sobre a dimensão de Qualidade de Vida os autores defendem a ideia de que o turismo em áreas naturais deve ser desenvolvido para proteger o que já se tem de positivo, e abordar os aspectos que precisam melhorar para as comunidades do entorno. Dessa forma, acredita-se que as instalações e serviços para o turismo tendem a serem melhoradas e que isso também irá beneficiar as condições de vida dos moradores locais, de maneira mais específica, Eagles et al (2002) cita algumas melhorias como: a) comunicações e acessos; b) educação, onde algumas áreas protegidas fornecem treinamentos de linguas diferentes, e de habilidades, onde as comunidades podem ser inseridas; c) cuidados da saúde, serviços médicos que podem ser melhorados para funcionários e visitantes das áreas, mas que também poderão ser compartilhados com a comunidade local.

Dessa forma, entende-se que o turismo contribui em diferentes aspectos para as áreas naturais protegidas, e que essa contribuição atinge não apenas a dimensão econômica, mas também a proteção ambiental, cultural, e a melhoria da qualidade de vida das comunidades nos entornos. Apesar dos efeitos econômicos do turismo ganhar maior visibilidade em grande

parte dos casos, é possível compreender que este, direto e indiretamente, também proporciona incentivo à conservação e educação ambiental em áreas naturais protegidas, bem como, incentiva a maior valorização do patrimônio cultural desses espaços.

Ao que compete à permissão para visitação nas UC’s, ações que potencialmente são impactantes de forma negativa estão relacionadas principalmente com o volume e a frequência de visitação, e a natureza das atividades que são desenvolvidas. Além disso, existe um aspecto fundamental a ser considerado nesse contexto, que é o grau de sensibilidade e comprometimento dos visitantes com a conservação ambiental (Vallejo, 2013).

Ainda de acordo com Vallejo (2013), entre os impactos mais comuns derivados das visitações e atividades turísticas nas UCs estão: compactação ao longo das trilhas, produção de lixo, depredações, pichações, congestionamentos, difusão de hábitos urbanos, a oferta de empregos que normalmente é temporária e não absorve a maioria dos moradores durante baixa temporada, e a perda de autenticidade e integridade quando algumas tradições culturais são comercializadas para os turistas.

No entanto, na complexidade do turismo, os resultados advindos da prática da atividade podem acarretar riscos e prejuízos para as áreas naturais protegidas, no que compete aos aspectos econômicos, socioculturais e ambientais. No quadro 4 é possível perceber alguns desses efeitos.

Quadro 4 – Potenciais riscos do turismo em áreas naturais protegidas

Potenciais riscos do turismo em áreas naturais protegidas

Econômico O turismo traz uma demanda maior por serviços, bens e instalações, e por serviços básicos, de forma que, esse fato reflita no aumento também de custos, podendo assim interfir no modo de vida dos moradores locais;

A realização de visitação também aumenta os custos para gestão da área.

Sociocultural Pode ocorrer também a comercialização das tradições e cultura local, resultando na perda da autencidade e integridade, além disso, ocorrem riscos sociais quando existem fortes contrates entre riquezas (turistas) e a pobreza (comunidade).

Ambiental Os riscos ambientais do turismo em áreas naturais protegidos perpassam por seis elementos: ecossistema; solo; vegetação; água; ar e vida de animais selvagens. Dessa forma, a construção de infraestruturas, a compactação de solo, os transportes e congetionamentos, a maior demanda por água doce e a alteração no comportamento dos animais selvagens, podem ser citados como, riscos potenciais do desenvolvimento do turismo nessas áreas.

Fonte: Eagles et al (2002), adaptado pela autora, 2016.

Percebe-se por meio do quadro 4 que apesar da contribuição econômica do turismo ser vista por vezes como o principal benefício responsável pelo incentivo da prática turística nas áreas naturais protegidas, essa dimensão também pode ser convertida em alguns efeitos negativos, como aumento dos custos para os moradores locais, bem como, para a gestão desses espaços. De acordo Eagles et al (2002) o turismo aumenta a demanda por bens, serviços e instalações, também cresce a demanda por serviços básicos, como saúde e

segurança, isso resulta possivelmente em maiores encargos fiscais para a comunidade local. Os autores ainda chamam atenção para a existência de casos que os custos financeiros elevam tanto que os residentes chegam a não ter mais como viver na localidade, esses casos tendem a ocorrer em áreas em que os residentes tem baixos rendimentos financeiros do que os visitantes.

Sobre os riscos socioculturais, os impactos são mais visíveis no sentido da perda da autenticidade e integridade, principalmente, quando as práticas culturais são transformadas em “mercadorias” para o turismo. Outro fator a ser considerado para Eagles et al (2002,p.31) é que: “Um número crescente de turistas pode perturbar as atividades da comunidade e competir por locais de recreação e outros serviços. O desenvolvimento do turismo mal planejado pode levar a um maior congestionamento, lixo, vandalismo e crime”.

Ainda sobre o encontro entre visitantes e visitados, Krippendorf (2009) atenta para uma questão nesse contexto, não se pode esquecer que algo dificulta um contato verdadeiro entre esses dois atores, que é principalmente o fato de ambos se encontrarem em situações completamente diferentes.

Krippendorf (2009) defende ainda, que existe um egoísmo dos dois atores referente ao contato entre ambos, o turista pelo fato de não buscar essencialmente o encontro com o morador local, pois o desejo prioritário é de descanso e anticotidiano. E sobre os visitados, Ruschamann (2010) diz que esses tendem a esquecer de que os visitantes também possuem uma identidade cultural, pelo fato de priorizar e generalizar esses como turistas tolerados apenas pelos benefícios econômicos, ocasionando efeitos de arrogância cultural e uma vulgarização das manifestações tradicionais.

Na dimensão ambiental é notável que os possíveis riscos reflitam em elementos que englobam os diferentes aspectos da natureza (ecossistema, vegetação, água, ar, solo e animais selvagens). É relevante destacar que os impactos nessas áreas podem ser por vezes irreversíveis ou de recuperação lenta, o que causa ainda maior preocupação no sentido de ser indispensável o planejamento e gestão para o desenvolvimento do turismo em UC’s que permitem a visitação. Entre os principais impactos causados devido a perspectiva do turismo nessas áreas Eagles et al (2002) destaca a construção de alojamentos, centros de visitantes, infraestrutura de outros serviços que tem impacto direto no meio ambiente.

E virtude da multidisciplinaridade e abrangência das discussões sobre turismo, é compreensivo que o mesmo traga consigo diferentes abordagens e facetas que perpassam por aspectos consideravelmente contribuintes para as localidades que conseguem desenvolver

essa atividade, mas ao mesmo tempo, se não planejado e gerido corretamente, danos e prejuízos podem ser irreparáveis.

Faraji & Aghajani (2010, p. 4) diz que apesar do turismo e o meio ambiente em diversas situações parecerem “inimigos”, esses podem ser dois “amigos próximos”, porém, para isso: “precisa-se planejar corretamente e também ter a cooperação de todas as outras organizações ou indústrias que estão relacionadas ao turismo, direta e indiretamente”.

Nessa perspectiva, entende-se que no turismo, assim como em demais atividades, o planejamento se faz indispensável, tendo em vista que, necessita-se buscar equilibrar e ordenar as ações e relações existentes nos âmbitos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Entendendo que nesses quatro âmbitos havendo a falta de planejamento e gestão adequada, os resultados do turismo possivelmente não serão satisfatórios para nenhum dos agentes envolvidos nessa atividade.

3.3 PERSPECTIVA DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO EM ÁREAS NATURAIS