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3.1 BREVE HISTÓRICO DA TELEVISÃO BRASILEIRA

3.1.2 TVs Conectadas: o Modelo Pago e o Modelo Gratuito

O SBTVD ainda levará pelo menos mais três anos para se consolidar no país, se não houver expansão do prazo para desligamento do sinal analógico. Nesse curto período, o Brasil precisa subsidiar a compra de conversores para populações carentes118, divulgar o sistema

visando esclarecer a população e estimular a produção de conteúdos interativos, dentre outras iniciativas. Além disso, é preciso viabilizar o acesso a linhas de investimento para pequenas emissoras, que têm dificuldade na obtenção de crédito por meio do Programa de Apoio à Implementação do Sistema Brasileiro de TV Digital (Protvd)119.

117Disponível em: <http://www.teleco.com.br/glossario.asp?termo=faturamento+da+TV+por+assinatura>. Acesso em: 20 out. 2010.

118Segundo notícia publicada na Folha Online do dia 7 de fevereiro de 2013, o Governo pretende estabelecer uma política de distribuição de conversores digitais para todas as famílias que possuem o bolsa família. A previsão é de que, para os demais, o preço do equipamento seja de aproximadamente R$ 100,00. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1227276-governo-estuda-dar-bolsa-novela-para-levar-tv-digital-a- baixa-renda.shtml>. Acesso em: 14 fev. 2013.

119O Programa de Apoio à Implementação do Sistema Brasileiro de TV Digital (Protvd) foi anunciado em 2007 e prevê que até 31 de dezembro de 2013 sejam destinados R$ 1 bilhão ao financiamento de empresas interessadas em investir na implantação do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre. O programa foi subdividido em três linhas de financiamento: o Protvd Fornecedor, que destina recursos para fabricantes de software e componentes eletrônicos; o Protvd Radiofusão, que financiará o setor de radiofusão televisiva para construção de

infraestrutura digital e de estúdio; e o Protvd Conteúdo, voltado para a produção de conteúdo exclusivamente nacional. Disponível em: <http://www.folhadaregiao.com.br/Materia.php?id=62369>. Acesso em: 6 set. 2012. Nota: Até o dia 15.02.2013, não foram encontrados dados relativos ao montante concedido e às empresas beneficiadas. Nem mesmo no Relatório Anual do BNDES a informação está acessível.

Enquanto a TV Digital interativa via radiodifusão aberta e gratuita se desenvolve a um ritmo menor que o esperado, as TVs conectadas via internet seguem conquistando o mercado, com um modelo de comercialização que envolve produtores de software e aplicativos, provedores de conteúdo e fabricantes. Não obstante a tendência de crescimento, elas ainda são um fenômeno que carece de literatura específica no que toca a definições quanto a produtos e serviços no contexto da cadeia de valor, aspectos de qualidade e segurança, estratégias de mercado, conteúdo, operadores e padronizações (ANGELUCI, 2011).

Quando se fala em modelos de negócios, são as TVs conectadas que trazem a maior contribuição ao desenvolverem e testarem soluções aplicáveis também à TV Digital interativa via radiodifusão. A produção e as lojas de aplicativos, o t-comércio, a publicidade digital e os serviços on demand são exemplos de como é possível diversificar o uso da televisão, de forma interativa e convergente.

Isso não significa que a TV conectada tenha propiciado a criação desses modelos. Em alguns casos, sim, mas a questão é que o crescimento neste segmento foi mais rápido porque o sistema está baseado no acesso à internet via banda larga. O desenvolvimento deste setor está naturalmente mais adiantado que a implantação do ISDB-TB, não exigindo investimentos na conversão do sistema, infraestrutura, educação, etc., como é preciso no SBTVD.

Não quer dizer também que, pelo rápido processo de expansão, ela represente concorrência ou ameaça à Televisão Digital interativa viabilizada pelo Ginga. A rigor, a TV conectada deve ser enxergada sob a mesma ótica das TVs por assinatura. Embora ofereça programação aberta, qualquer ato que envolva interatividade e conexão só prosperará se houver um serviço de banda larga, que hoje no Brasil é considerado caro120, lento121 e ruim. No Quadro 2 estão destacadas as principais diferenças entre os dois modelos.

120 Em estudo encomendado pelo Comitê Gestor da internet (CGI.b), foi verificado, em 2011, que o brasileiro paga uma mensalidade de aproximadamente US$ 31 por um pacote ilimitado de banda larga fixa para ter acesso a um link de apenas 512 kbps a um custo médio de US$ 61 por Mbps. O lançamento do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), em 2010, que visava massificar o acesso à internet, por meio da oferta de conexão de banda larga com velocidade de 1 megabit por segundo (Mbps) a preços que variam entre R$ 29,80 e R$ 35,00, parece não ter surtido o efeito esperado até o final de 2012. Dados de um relatório recente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) indicaram redução nas vendas desses planos e uma evasão de assinantes para outras modalidades não populares. Dentre as causas estariam a baixa velocidade de download e a busca por maior franquia móvel. Dados disponíveis em: <http://www.teletime.com.br/19/10/2011/brasil-tem-um-dos- piores-servicos-de-banda-larga-do-mundo-segundo-unctad/tt/245910/news.aspx> e

<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed731_internet_de_baixo_custo_enfrenta_resistencia_ dos_consumidores>. Acesso em: 13 fev. 2013.

121 Um estudo da empresa de servidores de banda larga Akamai, divulgado em maio de 2012, constatou que a velocidade média da conexão no Brasil ainda está abaixo da média mundial, com taxas médias de 1,8 Mbps (megabits por segundo), enquanto a média no restante do globo e de 2,3 Mbps. Relatório disponível em: <http://www.akamai.com/stateoftheinternet/>. Acesso em: 13 fev. 2013.

Quadro 2 – Quadro comparativo entre os sistemas ISDB-TB e TV Conectada

ISDB-TB TV conectada

Transmissão Broadcast Transmissão Broadband

Alcança 96% da população. Cobertura total do sinal até 2016.

Banda larga não alcança todo território. Problemas com velocidade

de conexão. Custo reduzido à compra de um

conversor com Ginga ou troca de um aparelho. Não há mensalidade.

Gastos com compra de dispositivo de recepção, pagamento de mensalidade

de internet. Apresenta boa robustez (plena), se há

cobertura do sinal digital e ausência de área de sombra.

Robustez variável. Depende de infraestrutura, velocidade, qualidade

do sinal e qualidade de usuários ao mesmo tempo.

Qualidade superior em áudio e vídeo Qualidade de áudio e vídeo dependente das condições da banda

larga. Alto poder de contribuição no

processo de inclusão sócio-digital, com maior ação do governo e outras

entidades na produção do sistema.

Tem baixo impacto na inclusão sócio- digital, haja vista a necessidade de

pagamento de mensalidade.

A publicidade, caso se reverta da TV analógica para digital, é um grande diferencial, pois responde por 64,7%

do total de investimentos no setor. Embora a tendência seja de queda de

audiência, a rentabilidade desse modelo ainda não foi afetada.

A publicidade no mercado da internet conta com apenas 5% do total de investimentos no setor122. Mas há forte

tendência de crescimento, especialmente por que o custo da publicidade ainda é barato para o

anunciante.

Fonte: Angeluci (2011, adaptado, atualizado e com complementações)

O comparativo entre os sistemas ISDB-TB e a TV conectada via internet é interessante, dentre outras coisas, sob o ponto de vista da concorrência e da possibilidade de que o crescimento nas vendas da TV conectada prejudique o projeto de expansão da TV Digital aberta via radiodifusão. Não se trata da expansão da infraestrutura, cobertura de sinal e desligamento do sistema analógico, mas, sim, do alcance da audiência necessária à construção de modelos de negócios que financiem a transmissão aberta, de forma autônoma e sustentável.

Sobre isso, também é preciso observar com cautela o que chamamos de “crescimento” das TVs conectadas no Brasil. Não obstante o aumento da procura por televisões conectadas, cujos números são apresentados no decorrer desta pesquisa, é preciso verificar se realmente os recursos de conexão oferecidos nestes aparelhos se tornam atraentes aos olhos dos internautas.

122 Neste tópico, tanto para TV analógica quanto para internet, os dados referem-se ao período de janeiro a outubro de 2012.

Nos Estados Unidos, um relatório divulgado pelo grupo NPD/Connected Intelligence Application & Convergence123 identificou o baixo interesse dos telespectadores em utilizar os recursos de conexão com internet para acessar redes sociais, games, compras, navegar na internet e consultar arquivos em rede, via Smart TV. Para todas essas atividades, menos de 10% dos entrevistados afirmaram utilizar a televisão conectada.

Figura 26 – Pesquisa NPD sobre uso das Smart TVs nos EUA.

Fonte: The NPD Group Blog

De outro modo, cerca de 60% dos usuários consultados pelo PND Group afirmam utilizar as Smart TVs para acessar conteúdos OTT – Over-The-Top124, principalmente

123 Fonte: Internet connected TVs are used to watch TV, and that’s about all. Blog NPD Group. Disponível em: <https://www.npdgroupblog.com/internet-connected-tvs-are-used-to-watch-tv-and-thats-about-all/>. Acesso em: 22 abr. 2013.

124 OTT streaming, onde OTT significa “acima do topo”, é a entrega de conteúdos de áudio e vídeo em

produções de áudio e vídeo. A tradução desse comportamento pode induzir à conclusão de que o público deseja televisores completos, com conexão e serviços de internet, mas ainda prefere utilizar a televisão em sua função primordial, que é a de proporcionar entretenimento audiovisual.

A adesão aos OTTs representa um hábito desenvolvido pelo uso da internet para acesso a sites como o Youtube, em computadores e dispositivos móveis. Esse comportamento é disseminado, sobretudo pelo público jovem, que se distancia cada vez mais da rigidez do fluxo televisivo e aprende a buscar vídeos ou fragmentos de uma programação disponíveis inclusive em sites das grandes redes de televisão.

Figura 27 – Site da CNN e menu de conteúdo OTT

Fonte: www.cnn.com

Um fator impeditivo à ampliação do uso das Smart TVs, para além da oferta de áudio e vídeo, está relacionado com a usabilidade desses aparelhos. O controle remoto ainda representa uma barreira à navegação na internet via televisão conectada, e qualquer outra operação que exija maior interação do telespectador com a tela grande acontece com maior facilidade por meio de um dispositivo complementar.

Esses aparatos tornam a relação com as TVs inteligentes muito mais fácil e ainda potencializa a exploração de conteúdos em diversos formatos. Mas compromete o principal valor que tem uma TV conectada, que é justamente a possibilidade de reunir em um só aparelho recursos que até então só se viabilizariam em computadores mediados pela internet.

ou infraestrutura fornecida pelo operador, uma vez que o OTT é transportado através de protocolos de dados regulares da internet aberta, em redes não gerenciadas. Disponível em:

<http://sterlingdobrasil.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=58:ott-over-the-top-um- caminho-sem-volta&catid=1:noticias>. Acesso em: 22 mar. 2013.

A dependência de outros dispositivos, que não é inicialmente a proposta de serviços dos fabricantes de TVs conectadas nem o seu principal modelo de negócios, promove uma “terceirização” da interatividade, provocada em parte pelo distanciamento da tela fixa e pela dificuldade de uso do controle remoto para navegar na internet. Dessa forma, a proposta inicial de oferecer conexão direta precisa ser revista, bem como os modelos de negócios.

Buffone (2012) explica que há mais de seis tipos de dispositivos para acesso à internet nas TVs inteligentes, além da própria TV: os consoles de games, Blu-rays, Set-top- boxes125, TiVo126 e alguns receptores de áudio e vídeo. Esses aparelhos representam 29% dos acessos à internet em associação com a televisão, enquanto a conexão direta via Smart TV é realizada por apenas 15% dos usuários estadunidenses.

Para Honan (2012), a escolha de outros dispositivos conectados à TV, principalmente os consoles de games, para baixar conteúdo da web, é explicado pelo fato de que “as Smart TVs são muito complicadas”. Esta seria também uma das explicações para o crescimento do uso de dispositivos portáteis na função de segunda tela, por meio dos quais a interação torna- se muito mais fácil e rápida. A baixa procura, destacada na Figura 26, por aplicativos de redes sociais, compras e outros serviços baixados diretamente nas TVs conectadas é um indício das dificuldades de interação com a grande tela.

Tais aspectos são relevantes à análise do futuro das TVs inteligentes e, no caso brasileiro, ao desenvolvimento da TV Digital interativa conectada via radiodifusão, pois é preciso respeitar os hábitos de consumo do telespectador, antes de qualquer decisão quanto à produção e a oferta de conteúdos. Por trás disso tudo, residem dificuldades na formatação de um modelo de negócios próprio das TVs conectadas.

O avanço da tecnologia digital permite uma imensidão de recursos que são fartamente explorados pela nova geração de telespectadores, que foge ao fluxo televisivo e encontra abrigo na internet. Porém quanto mais se consolidam essas novas formas de consumo, menos adequados se tornam os modelos de negócios construídos em ambiente analógico.

125 Conversor Set-top box (STB) ou power box é um equipamento que se conecta a um televisor e a uma fonte externa de sinal e transforma este sinal em conteúdo, no formato que possa ser apresentado em uma tela. Esse conteúdo pode abranger vídeo, áudio, páginas da internet, interatividade e jogos, entre outros. Um Set-top box digital se faz necessário para a recepção de transmissões de TV Digital em televisores que não disponham de conversor integrado. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Set-top_box>. Acesso em: 28 mar. 2013. 126 TiVo é uma marca popular de gravador de vídeo digital (DVR – Digital Video Recorder), que pode também ser chamado de gravador de vídeo pessoal (PVR – Personal Video Recorder). Trata-se de um aparelho de vídeo que permite aos usuários capturar a programação televisiva para armazenamento em disco rígido (HD), para visualização posterior. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/TiVo>. Acesso em: 28 mar. 2013.