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Um Aglomerado Estatístico de Traços?: Críticas ao Modelo

SOBRE A PERSONALIDADE

ANO AUTOR/INVESTIGADOR FACTORES DESCOBERTOS

3.3.2 Um Aglomerado Estatístico de Traços?: Críticas ao Modelo

Apesar da manifesta aceitação deste modelo, da sua compreensividade e abrangência, bem como dos seus mais recentes contributos teóricos, certo é que não está isento de críticas. Block (1995), um crítico notório do FFM, questiona não somente a metodologia que subjaz ao seu empirismo como também a Análise Factorial. Para além de acentuar que permanecem a descoberto questões como o número exacto de factores e a obtenção de rotações óptimas a partir dos factores escolhidos, adianta ainda que a análise factorial não reúne capacidades que permitam escolher entre a infinidade de alternativas que, na maioria das circunstâncias, assistem ao ser humano. Segundo o investigador, este tipo de opção requer não apenas uma argumentação conceptual e empírica mas, na essência, urge que "regressemos à tarefa de sermos psicólogos" (Block, 1995, p. 190). Nestes termos, apela aos psicólogos da personalidade para que, além da análise factorial, tenham em consideração outras fontes, como as observações prolongadas, os dados neurofisiológicos, os insights psiquiátricos e a introspecção.

Outro aspecto que por vezes ainda é levantado contra o FFM, prende-se com o distanciamento do modelo face às variáveis processuais, contextuais e construtivas. A este respeito, McAdams (1992) comenta que o modelo não tem em linha de conta a natureza contextual e condicional dos seres humanos. Todavia, a extinção deste argumento poderá residir nos escritos de McCrae & Costa (1995), que indicam que, para uma compreensão efectiva das diferenças individuais, os psicólogos da personalidade têm, forçosamente, que se debruçar sobre o funcionamento intra-individual. "De facto, será a combinação destas duas abordagens que irá moldar a próxima geração das Teorias da Personalidade" (p. 218). Como adiante será objecto de análise, a proposta

Personalidade da Mãe Prematura

teórica de Costa & McCrae (1996), ao enfatizar a importância dos processos, dá uns passos significativos neste sentido. São, de resto, os próprios autores que comentam que a mesma: "identifica as categorias de variáveis que uma teoria da personalidade completa deve abarcar" (p. 5 - sublinhado acrescentado).

De acordo com Lima & Simões (2000), uma das críticas frequentemente dirigidas ao Modelo dos Cinco Factores, nomeadamente na pessoa de Eysenck (1993), é a de que na taxinomia do Big Five estão omissos alguns elementos básicos, inviabilizando, assim, a sua aceitação como teoria científica. Na verdade, alguns autores referem que existe uma manifesta falta de especificidade na definição dos cinco factores. Levantam-se algumas vozes contra a subdivisão do modelo, visto ainda não existir consenso quanto aos diferentes subfactores. Ora, se esta última afirmação é verdadeira no que diz respeito aos subfactores, o mesmo se aplica aos meta-factores, recentemente propostos por Digman (1997).

Numa postura de manifesta oposição ao FFM, Loevinger (1994, p.6) afirma: "Não há razão para acreditarmos que na base da personalidade existe um conjunto de factores independentes e ortogonais a não ser que se acredite que a natureza está confinada a apresentar-nos um mundo de linhas e colunas". Encerra este argumento com a citada provocação: "Eu creio que há mais no céu e na terra que alguma vez sonhado pela filosofia factorialista da personalidade. Não podemos construir a avaliação da personalidade e a psicologia da personalidade exclusivamente naquilo que conseguimos penetrar através do filtro da objectiva ou de testes de papel e lápis". Em concordância com o apontado por Loevinger, Pervin (1993) denuncia que, no que respeita às emoções, embora as mesmas constem da definição de Costa e McCrae de "traços", estes autores não se têm debruçado sobre a ligação entre emoção e personalidade. Pervin afirma que a ênfase da Teoria dos Traços é posta mais na descrição do que na explicação^

Numa clara contraposição a esta crítica, Spirrison (1994) riposta que a força do FFM reside na sua capacidade de explicar a amplitude da estrutura da personalidade normal de uma forma parcimoniosa e que mesmo Costa e McCrae defendem que são necessárias mais do que cinco medidas para uma análise discriminada da personalidade. Desta postura resulta o facto do NEO- Pl-R facultar informação sobre 30 facetas que integram os 5 factores, permitindo uma leitura mais fina da estrutura da personalidade. Contribuindo para esta discussão, McAdams (1994, p. 303) contrapõe que os traços que encontram eco no FFM "representam as atribuições mais gerais e compreensivas - simples, comparativas e virtualmente não condicionais - que poderíamos desejar fazer, quando não sabemos, virtualmente mais nada sobre a pessoa; isto é, quando confrontados com um estranho".

Costa e McCrae jamais anunciaram que as 30 escalas de facetas do NEO-PI-R prefiguram um catálogo exaustivo dos traços da personalidade, mas sim que facultam uma amostra ampla de traços importantes que definem o FFM (Lang, McCrae, Angleitner et ai, 1998). Reforçando o enunciado, e em defesa do Modelo dos Cinco Factores, é premente assinalar que a maioria dos autores que se vinculam ao FFM jamais o consideraram como a última palavra a respeito da descrição da personalidade (McCrae & John, 1992; Costa & McCrae, 1995; Goldberg & Saucier, 1995). Segundo McAdams (1992, p. 329): "O modelo dos Big Five deverá ser encarado como um modelo importante no estudo da personalidade, mas não o modelo da personalidade".

Um princípio que muito se tem debatido e que se centra na questão supra descrita funda-se com uma aparente dicotomia: teoria - empirismo. Se, por um lado, é visível a discordância de alguns autores, tal como Briggs (1992) e Block (1995), quanto ao carácter ateorético do presente modelo, por outro, a corrente defensora do mesmo, reitera que num primeiro momento a descrição empírica da personalidade afigura-se prioritária. Somente após a realização plena desta etapa é possível construir as bases teóricas que alicerçam essa descrição.

Personalidade da Mãe Prematura

Na verdade, o grande avolumar de abordagens empíricas em torno dos cinco factores tem procurado, fundamentalmente, validar a sua existência com base em diversos procedimentos de índole estatística. Como esclarecem Lima & Simões (2000), são deveras recentes as abordagens que têm visado dar resposta às seguintes interrogações: 1) a razão de ser de cinco de factores; 2) o porquê destes cinco factores e não de outros; 3) qual a origem/base do modelo e 4) em última instância, qual o seu contributo para o estudo da personalidade. A solução destas questões permitiu responder aos autores supracitados quando, a respeito da massa de resultados empíricos, indagam se se está apenas diante de uma simples taxinomia de traços ou, mais ambiciosamente, diante de uma nova teoria da personalidade.