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Um balanço dos trabalhos produzidos na Primeira República

Como se viu nos dois tópicos anteriores, o debate político sobre a reforma da Constituição de 1891 esteve presente ao longo de todo o período de sua vigência, o que se refletiu na produção doutrinária sobre o tema. A maior ou menor concentração desses discursos no tempo foi variável, crescendo de maneira considerável com o passar dos anos. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

229 LACERDA, P. M. de. Problema constitucional brasileiro. Revista Forense. v. LVIII. Belo Horizonte:

Imprensa Official do Estado de Minas Gerais, jan. 1931.

230

ROSA, O. Reorganização constitucional brasileira: programas de partidos e ideias individuais sobre a reforma constitucional. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1931.

231 O autor menciona ainda as opiniões de Viveiros de Castro, Carvalho Netto, J. M. Mac-Dowell (A

Reforma da Constituição, O Jornal, 5/10/1923). Cf. ROSA, O. Op. cit., p. 9.

232

De acordo com informações extraídas do CPDOC da FGV, o Partido Democrático Nacional nunca foi efetivamente criado, mas a partir do Partido Democrático de São Paulo (criado em 1926) é que surgiu uma comissão com esse intuito. Cf. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL. Partido Democrático de São

Paulo (PD). Disponível em: <

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos20/CrisePolitica/PartidoDemocraticoSP>. Acesso em: 19 set. 2014.

233 Cf. ROSA, O. Reorganização constitucional brasileira: programas de partidos e ideias individuais sobre a

reforma constitucional. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1931, p. 163-164.

234

Cf. ROSA, O. Op. cit., p. 160.

67 Tendo em vista essa circunstância, nesse tópico realizou-se um rápido balanço quantitativo dos trabalhos específicos sobre a reforma constitucional (livros e artigos publicados em periódicos jurídicos) produzidos no período da Primeira República.

Considerando-se os trabalhos analisados, os comentários e manuais de direito constitucional foram mais frequentes nas duas primeiras décadas após a promulgação da Constituição de 1891. Os trabalhos específicos que defendiam, criticavam ou debatiam a reforma constitucional foram mais escassos nesse primeiro momento, e muito mais frequentes nas duas últimas décadas de vigência dessa Constituição brasileira.

No gráfico abaixo, é possível verificar a evolução dos livros e artigos específicos sobre o tema da reforma constitucional na Primeira República. Saliente-se que, nessa contabilização, foram incluídos apenas os livros que tinham a reforma constitucional como um aspecto central de sua reflexão ou que representaram um marco importante no contexto intelectual daquele momento, porque geraram outros discursos que com ele dialogaram. Os livros com mais de uma edição foram contados apenas uma vez, quando da primeira publicação, e os livros específicos sobre a reforma constitucional aos quais não foi possível ter acesso, mas cujo título evidenciava tratar-se do tema, foram também contabilizados 236.

Gráfico 1 Distribuição no tempo dos livros e artigos específicos sobre a reforma constitucional na Primeira República (períodos de cinco anos)

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236 São eles: CARVALHO, A. B. F. de. Unidade nacional e federação: revisão constitucional. Rio de

Janeiro: Typ. do Jornal do Commercio, de Rodrigues & C., 1897; BREVES, A. A revisão da constituição

federal de 24 de fevereiro. São Paulo: Typ. a Vapor Paupério & Comp., 1901; MAIA, D. G. Reforma eleitoral. Recife: [s.n.], 1903; MACHADO, R. L. M. A revisão constitucional. São Paulo: Salesianas, 1916;

OSÓRIO, Joaquim Luís. Reforma constitucional. [S.l.: s.n.], 1922; SANTOS, J. Revisão constitucional. Bahia, 1926. 0 2 4 6 8 10 12 14

68 Como se nota, entre 1891 e 1895, houve dois trabalhos sobre a reforma constitucional237: o artigo de Alfredo Lima, cujo objeto foi o desenvolvimento de um dos tópicos do programa do curso de direito constitucional da Faculdade de Direito de São Paulo, e o livro de Assis Brasil, “Democracia representativa”, em que o autor já aponta a necessidade de se discutir uma reforma da Constituição de 1891, propondo inclusive alguns pontos para alteração.

Entre 1896 e 1900, foram identificados quatro trabalhos sobre a reforma constitucional238; entre 1901 e 1905239, houve três trabalhos sobre a reforma constitucional; entre 1906 e 1910240, foram identificados quatro trabalhos específicos sobre a reforma constitucional; entre 1911 e 1915241, houve três trabalhos importantes sobre o tema; entre 1916 e 1920242, foram identificados seis trabalhos.

Entre 1921 e 1925243, o número de trabalhos aumentou, passando para onze., concentrados especialmente em 1925. Vale lembrar que em 1924, iniciou-se o processo de !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

237 LIMA, A. M. de B. O. Direito público. Revista da Faculdade de Direito de São Paulo. São Paulo:

Typographia da Companhia Industrial de São Paulo, 1893; BRASIL, J. F. de A. Democracia representativa: do voto e do modo de votar. In: BROSSARD, Paulo (org.). Ideias políticas de Assis Brasil. 2. ed. Brasília, Rio de Janeiro: Senado Federal, Fundação Casa de Rui Barbosa, 1990.

238 Em 1896: BRASIL, J. F. de A. Do governo presidencial na República brasileira. 1. ed. Lisboa:

Companhia Nacional Editora: 1896. Em 1897: PRADO, E. P. da S. Anulação das liberdades políticas: comentário ao § 4 do art. 90 da constituição da República. São Paulo: Civilização, 1897; CARVALHO, A. B. F. de. Unidade nacional e federação: revisão constitucional. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Commercio, de Rodrigues & C., 1897. Em 1899: VILARES, A. A. V. de. Direito constitucional brasileiro: reforma das instituições nacionaes. Rio de Janeiro: Typographia, 1899.

239

Em 1901: BREVES, A. A revisão da constituição federal de 24 de fevereiro. São Paulo: Typ. a Vapor Paupério & Comp., 1901. Em 1903: MAIA, D. G. Reforma eleitoral. Recife: [s.n.], 1903. Em 1904: CORREA, I. S. A revisão constitucional. Rio de Janeiro: Typ. da Companhia Litho-typographia, 1904.

240

Em 1908: BRASIL, J. F. de A. Ditadura, parlamentarismo, democracia. In: BROSSARD, Paulo (org.).

Ideias políticas de Assis Brasil. 2. ed. Brasília, Rio de Janeiro: Senado Federal, Fundação Casa de Rui

Barbosa, 1990; SALLES, C. Da propaganda à presidencia. São Paulo: Casa Garraux, 1908. Em 1909: SILVA, F. B. R. Reconstituição política. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1909. Em 1910: FREIRE, J. de M. C. M. O voto secreto e a revisão constitucional. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1910.

241 Em 1912: OLIVEIRA, S. A. A verdadeira revisão constitucional: páginas de reação. Prefácio de Sylvio

Romero. Rio de Janeiro: Castilhos, 1912. Em 1914: TORRES, Alberto. A organização nacional. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1914; SOARES NETO, P. J. Da organização constitucional. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, 1914.

242

Em 1916: GONÇALVES, L. Reforma constitucional. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commercio, 1916; LACERDA, P. M. de. Lopes Gonçalves: reforma constitucional. Revista Jurídica. ano 1, n. 10, v. IV, out. 1916; LESSA, Pedro. O preconceito das reformas constitucionaes. Revista do Brasil, v. I, ano I, jan./abr. 1916; MACHADO, R. L. M. A revisão constitucional. São Paulo: Salesianas, 1916. Em 1917: LESSA, Pedro. O preconceito das reformas constitucionaes. Revista do Brasil, v. IV, ano II, jan./abr. 1917; RIBEIRO, J. C. G. A gênese histórica da constituição federal: subsídio para sua interpretação e reforma. Rio de Janeiro: Oficinas Graphicas da Liga Maritima Brazileira, 1917.

243

Em 1921: RODRIGUES, F. C. Velhos rumos políticos: ensaio contributivo para a revisão constitucional no Brasil. Prefácio de Alberto Rangel. Tours: E. Arrault e Cia., 1921. Em 1922: OSÓRIO, J. L. Reforma

constitucional. [S.l.: s.n.], 1922; VIANNA, F. J. de O. O idealismo na evolução politica do imperio e da

República. São Paulo: Bibliotheca d’O Estado de S. Paulo, 1922. Em 1923: ARRUDA, J. Reforma constitucional. São Paulo: Jornal do Commercio, 1923. Em 1924: CASTRO, R. de A. A reforma constitucional. Rio de Janeiro: Leite Ribeiro, Freitas Bastos, Spicer e Cia., 1924; AMADO, G. As

69 efetiva revisão da Constituição de 1891, concluído depois em 1926, o que pode indicar a razão para o aumento de reflexões sobre o tema.

Entre 1926 e 1930244, foram produzidos doze trabalhos sobre a reforma constitucional. Nesse momento, com o término da reforma constitucional de 1926, os números de trabalhos foram altos porque começam a surgir os trabalhos de sua análise e crítica. Enfim, em 1931 ainda houve três trabalhos com reflexões sobre a reforma da Constituição de 1891245.

Ao lado desses quarenta e cinco livros e artigos específicos sobre a reforma constitucional, o tema também foi objeto de tópicos de livros de direito constitucional do período. Esses discursos estavam menos relacionados à política constitucional daquele momento, porque voltados a outros objetivos.

O caminho percorrido até aqui revela que, em paralelo ao debate político travado sobre a reforma constitucional na Primeira República, a doutrina inseriu-se no debate produzindo uma série de reflexões sobre o tema ao longo dos quase quarenta anos de vigência da Constituição de 1891.

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República. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981; MIRANDA, Pontes de. Preliminares para a

revisão constitucional. In: CARDOSO, V. L. (org.). À margem da história da República. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981; VIANNA, F. J. de O. O idealismo da constituição. In: CARDOSO, V. L. (org.). À margem da história da República. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1981; NUNES, J. de C. A jornada revisionista: os rumos, as ideias, o ambiente - estudo crítico da constituição. Rio de Janeiro: Almeida Marques, 1924. Em 1925: MORAES, A. de. Uma proposta da reforma da constituição de 24 de

fevereiro de 1891. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais, 1925; AZEVEDO, J. A. M. de. A constituição

federal interpretada pelo Supremo Tribunal Federal. Rio de Janeiro: Revista do Supremo Tribunal, 1925.

244 Em 1926: STEVENSON, O. A reforma da constituição federal. São Paulo: Typ. Rio Branco, 1926;

SANTOS, J. Revisão constitucional. Bahia, 1926; NOGUEIRA, J. C. A. A reforma da constituição. Tese apresentada em concurso para provimento do cargo de professor catedrático de Instrução Moral e Cívica no Ginásio da Capital do Estado de São Paulo. São Paulo, 1926. Em 1927: VIANNA, F. J. de O. O idealismo da

constituição. Rio de Janeiro: Terra de Sol, 1927. Em 1928: LOPES, B. F. Projecto de reforma da constituição Federal. Belo Horizonte: Imprensa Official de Minas Gerais, 1928. Em 1929: ARAGÃO, A. M.

S. de. O poder judiciário na revisão constitucional. São Paulo: Saraiva, 1929; BRITTO, L. R. de. Revisão

constitucional. Rio de Janeiro: Typographia do Lycêo de Artes e Officios, 1929; NOBRE, F. Reforma constitucional. São Paulo: [s.n.], 1929; ORCIUOLI, H. A. Dois erros constitucionais. Rio de Janeiro: Leite

Ribeiro, 1929. Em 1930: VIANNA, F. J. de O. Problemas de política objetiva. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1947; SODRÉ, F. P. de A. O problema político brasileiro: pequena contribuição para a reforma constitucional, respeitadas as restricções do art. 90, § 4.o da Constituição de 24 de Fevereiro de 1891. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commercio, 1930; CARNEIRO, L. Crônica: organização constitucional brasileira. Revista Forense, jul./dez., 1930.

245 Em 1931: LACERDA, P. M. de. Problema constitucional brasileiro. Revista Forense. v. LVIII. Belo

Horizonte: Imprensa Official do Estado de Minas Gerais, jan. 1931; ROSA, O. Reorganização constitucional

brasileira: programas de partidos e ideias individuais sobre a reforma constitucional. Porto Alegre: Livraria

do Globo, 1931; OSÓRIO, J. L. Plano de uma constituição política presidencial federativa para a República

dos Estados Unidos do Brasil segundo o programa do Partido Republicano Histórico do Rio Grande do Sul.

70

3 OS ATOS DO DEBATE: MAPEAMENTO DOS DISCURSOS NO

DEBATE SOBRE A REFORMA CONSTITUCIONAL

No capítulo anterior, apresentou-se um panorama político da Constituição de 1891 e o desenvolvimento do debate sobre a reforma constitucional durante a sua vigência, listando-se os trabalhos de doutrinadores brasileiros sobre o tema. Nesse capítulo, os objetos de discurso contidos nesses livros e artigos foram apresentados de maneira sistematizada e por uma análise qualitativa dos textos produzidos, para a demonstração ao leitor da reconstrução dos debates produzidos naquele determinado contexto intelectual.

Essa exposição, por ter como intuito explicitar os objetos desses discursos e introduzir elementos para a avaliação dos conceitos mobilizados para tratar da questão, contém uma série de citações dos autores analisados. Cabe a ressalva, entretanto, de que tais citações têm o intuito de permitir ao leitor que afira os exatos termos utilizados pelos autores para discursar sobre determinada questão246.