A Reforma trouxe a necessidade, quer para protestantes, quer para católicos, de legitimarem suas posturas teológicas historicamente.
Os cristãos reformados, no rastro da dimensão teológica do livre exame das Escrituras, e ansiando construir laços com o cristianismo primitivo seguem a vertente humanista em seu retorno ao passado e na releitura dos antigos textos gregos e latinos.
Já os católicos redimensionam a escrita da História da Igreja, para uma dimensão extrovertida, voltada ao público leigo, mais erudita e demonstrativa, enfim com um caráter apologético de reafirmação da ligação direta entre Cristo e a Igreja.
Paralelamente a isto, se inicia uma nova historiografia voltada para o conhecimento e a denúncia das heresias, e para a inserção dos movimentos reformistas numa linhagem de movimentos heréticos e de contestação da autoridade divina da Igreja Católica.
Os historiadores protestantes têm uma visão maniqueísta do passado: à Igreja primitiva e santa opõem uma Igreja «medieval» onde tudo que existe não passa de «barbárie e horrível desordem» (Teodoro de Beze). Se os historiadores católicos se interessam pelas heresias de outros tempos, é para melhor confundirem com elas as do presente e as condenarem de forma análoga. A polémica historiográfica não é mais esclarecedora do que a disputa teológica (CARBONELL, 1987, p. 91-92).
Esta disputa historiográfica, embora acrescente enriquecimento de informação, exploração de novos territórios, abertura de recursos coletivos à produção historiográfica, também promove sua “contaminação” pelo espírito da polêmica.
Mas a historiografia protestante derivada desse processo surge num patamar de maior afinação com a lógica racionalista e burocrática da historiografia renascentista, apontando para a possibilidade de uma história e uma historiografia cristãs não definidas pela apologética institucional católica e para o triunfo do racionalismo, como você verá na próxima Unidade
T e o r i a d a H i s t ó r i a 1 83 UNIDADE 4
Faça uma síntese esquemática da produção histórica hagiográca na Idade Média.
1.
Construa, a partir do texto estudado, um texto-síntese sobre os reexos na escrita da História da
2.
passagem do espaço da Igreja para o espaço do Estado como campo de hegemonia social. Elabore uma reexão sintetizando as semelhanças e apontando as diferenças entre os
3.
pensamentos de Chaunu e Le Goff sobre a escrita da História no Renascimento citados no início
do texto estudado na Seção 4.
A partir da denição das “ciências auxiliares” da História, faça uma reexão sobre sua utilidade no
4.
processo de escrita e ensino da História na contemporaneidade.
Há hoje, na prática da escrita e do ensino da História, espaço para uma construção historiográca
5.
religiosamente denida? Por quê?
Nesta Unidade IV: A Historiograa Medieval e Renascentista, você estudou as principais formas de
escrita histórica durante a Idade Média.
Seu percurso iniciou com a discussão, até hoje acesa entre os historiógrafos, sobre a possibilidade de
consciência histórica na Idade Média.
A seguir, na Seção 2, você pôde constatar a força da historiograa cristã providencialista na produção da história medieval, em suas diversas temáticas e variadas formas de expressão, como a hagiograa, as histórias eclesiásticas e as cronologias.
A terceira seção mostrou o início da transição da hegemonia social e política na Europa da Igreja para o Estado, e as inuências que isso teve na historiograa européia, com a criação de novos espaços e objetos não mais necessariamente ligados à Igreja. É o campo fértil para o surgimento das cronologias reais, de uma história política e de uma prática mais diversicada do historiador, que de narrador do
passado passa a ser, também, um analista da sociedade, um conselheiro do Príncipe.
Na Seção 4, você viu a importância do período do Renascimento para a constituição de uma nova forma de escrever a História na Europa. Ali, foi possível perceber que a proposta historiográca de uma Nova História não foi absolutamente original, por esta carregar em si permanências de formas e concepções da Antigüidade Clássica e da Idade Média.
Você também pôde acompanhar a contribuição original do Renascimento para a historiograa moderna, efetivada na construção de um corpo de saberes auxiliares da História; na preocupação com a recolha, organização e guarda de documentos e formação de arquivos, principalmente arquivos públicos; e com a elaboração de construções teóricas totalizantes sobre a natureza e as possibilidades de escrita da
História, como as de Jean Bodin e Lancelot de la Popelinière.
Pôde conhecer a mudança de espaço e campo de trabalho dos historiadores dos mosteiros e
palácios episcopais para as instâncias burocráticas do Estado. Viu como essa mudança inuenciou decididamente os objetos de escrita da História, que se deslocaram, de forma cada vez mais intensa, dos assuntos religiosos para os políticos.
E, nalmente, você conheceu o surgimento de uma nova concepção de escrita da História no campo do cristianismo, a história protestante, e as relações de disputa de hegemonia no campo cristão
estabelecidas entre católicos e protestantes.
U n i v e r s i d a d e A b e r t a d o B r a s i l 84 UNIDADE 4
metódicas e mesmo epistemológicas da escrita da História contemporânea. Ali, estão lançadas as bases de uma escrita da História crítico documental, centrada nas questões de Estado e suas áreas conexas, que acabam dando o perl a uma historiograa ainda bastante importante na contemporaneidade.
Mas a dimensão incipiente dessa forma mais “metódica” de escrita da História e a permanência
bastante forte das formas historiográcas medievais tornaram a História um dos alvos preferidos da “revolução” epistemológica ocorrida na Europa do século XVII. Mas isto você verá na Unidade V a seguir.
T e o r i a d a H i s t ó r i a 1 85 UNIDADE 4
U n i v e r s i d a d e A b e r t a d o B r a s i l 86 UNIDADE 4
T e o r i a d a H i s t ó r i a 1 87 UNIDADE 4