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Uma historiograa protestante?

No documento Teoria Da Historia I (páginas 83-88)

 A Reforma trouxe a necessidade, quer para protestantes, quer para católicos, de legitimarem suas posturas teológicas historicamente.

Os cristãos reformados, no rastro da dimensão teológica do livre exame das Escrituras, e ansiando construir laços com o cristianismo primitivo seguem a vertente humanista em seu retorno ao passado e na releitura dos antigos textos gregos e latinos.

 Já os católicos redimensionam a escrita da História da Igreja, para uma dimensão extrovertida, voltada ao público leigo, mais erudita e demonstrativa, enfim com um caráter apologético de reafirmação da ligação direta entre Cristo e a Igreja.

Paralelamente a isto, se inicia uma nova historiografia voltada para o conhecimento e a denúncia das heresias, e para a inserção dos movimentos reformistas numa linhagem de movimentos heréticos e de contestação da autoridade divina da Igreja Católica.

Os historiadores protestantes têm uma visão maniqueísta do passado: à Igreja primitiva e santa opõem uma Igreja «medieval» onde tudo que existe não passa de «barbárie e horrível desordem» (Teodoro de Beze). Se os historiadores católicos se interessam pelas heresias de outros tempos, é para melhor confundirem com elas as do presente e as condenarem de forma análoga. A polémica historiográfica não é mais esclarecedora do que a disputa teológica (CARBONELL, 1987, p. 91-92).

Esta disputa historiográfica, embora acrescente enriquecimento de informação, exploração de novos territórios, abertura de recursos coletivos à produção historiográfica, também promove sua “contaminação” pelo espírito da polêmica.

Mas a historiografia protestante derivada desse processo surge num patamar de maior afinação com a lógica racionalista e burocrática da historiografia renascentista, apontando para a possibilidade de uma história e uma historiografia cristãs não definidas pela apologética institucional católica e para o triunfo do racionalismo, como você verá na próxima Unidade

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Faça uma síntese esquemática da produção histórica hagiográca na Idade Média.

1.

Construa, a partir do texto estudado, um texto-síntese sobre os reexos na escrita da História da

2.

passagem do espaço da Igreja para o espaço do Estado como campo de hegemonia social. Elabore uma reexão sintetizando as semelhanças e apontando as diferenças entre os

3.

pensamentos de Chaunu e Le Goff sobre a escrita da História no Renascimento citados no início

do texto estudado na Seção 4.

 A partir da denição das “ciências auxiliares” da História, faça uma reexão sobre sua utilidade no

4.

processo de escrita e ensino da História na contemporaneidade.

Há hoje, na prática da escrita e do ensino da História, espaço para uma construção historiográca

5.

religiosamente denida? Por quê?

Nesta Unidade IV: A Historiograa Medieval e Renascentista, você estudou as principais formas de

escrita histórica durante a Idade Média.

Seu percurso iniciou com a discussão, até hoje acesa entre os historiógrafos, sobre a possibilidade de

consciência histórica na Idade Média.

 A seguir, na Seção 2, você pôde constatar a força da historiograa cristã providencialista na produção da história medieval, em suas diversas temáticas e variadas formas de expressão, como a hagiograa, as histórias eclesiásticas e as cronologias.

 A terceira seção mostrou o início da transição da hegemonia social e política na Europa da Igreja para o Estado, e as inuências que isso teve na historiograa européia, com a criação de novos espaços e objetos não mais necessariamente ligados à Igreja. É o campo fértil para o surgimento das cronologias reais, de uma história política e de uma prática mais diversicada do historiador, que de narrador do

passado passa a ser, também, um analista da sociedade, um conselheiro do Príncipe.

Na Seção 4, você viu a importância do período do Renascimento para a constituição de uma nova forma de escrever a História na Europa. Ali, foi possível perceber que a proposta historiográca de uma Nova História não foi absolutamente original, por esta carregar em si permanências de formas e concepções da Antigüidade Clássica e da Idade Média.

Você também pôde acompanhar a contribuição original do Renascimento para a historiograa moderna, efetivada na construção de um corpo de saberes auxiliares da História; na preocupação com a recolha, organização e guarda de documentos e formação de arquivos, principalmente arquivos públicos; e com a elaboração de construções teóricas totalizantes sobre a natureza e as possibilidades de escrita da

História, como as de Jean Bodin e Lancelot de la Popelinière.

Pôde conhecer a mudança de espaço e campo de trabalho dos historiadores dos mosteiros e

palácios episcopais para as instâncias burocráticas do Estado. Viu como essa mudança inuenciou decididamente os objetos de escrita da História, que se deslocaram, de forma cada vez mais intensa, dos assuntos religiosos para os políticos.

E, nalmente, você conheceu o surgimento de uma nova concepção de escrita da História no campo do cristianismo, a história protestante, e as relações de disputa de hegemonia no campo cristão

estabelecidas entre católicos e protestantes.

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metódicas e mesmo epistemológicas da escrita da História contemporânea. Ali, estão lançadas as bases de uma escrita da História crítico documental, centrada nas questões de Estado e suas áreas conexas, que acabam dando o perl a uma historiograa ainda bastante importante na contemporaneidade.

Mas a dimensão incipiente dessa forma mais “metódica” de escrita da História e a permanência

bastante forte das formas historiográcas medievais tornaram a História um dos alvos preferidos da “revolução” epistemológica ocorrida na Europa do século XVII. Mas isto você verá na Unidade V a seguir.

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No documento Teoria Da Historia I (páginas 83-88)