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Teoria Da Historia I

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Academic year: 2021

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(1)

PONTA GROSSA - PARANÁ PONTA GROSSA - PARANÁ

2009 2009

LICENCIATURA EM

LICENCIATURA EM

MARCO AURÉLIO MONTEIRO PEREIRA

MARCO AURÉLIO MONTEIRO PEREIRA

 JANAÍNA DE PAULA

 JANAÍNA DE PAULA DO ESPÍRITO SANDO ESPÍRITO SANTOTO

RODRIGO CARNEIRO DOS SANTOS

RODRIGO CARNEIRO DOS SANTOS

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

História

(2)
(3)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD

Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD

Av. Gal. Carlos Cavalcan

Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 ti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PR- Ponta Grossa - PR

Tel.: (42) 3220 3163 Tel.: (42) 3220 3163 www.nutead.uepg.br www.nutead.uepg.br 2009 2009

Todos os direitos reservados ao NUTEAD Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância

Todos os direitos reservados ao NUTEAD Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância

-Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa,

Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, ParaParaná, Brasil.ná, Brasil.

Pró-Reitoria de Assuntos Administrativos

Pró-Reitoria de Assuntos Administrativos

Ariangelo Hauer Dias – Pró-Reitor

Ariangelo Hauer Dias – Pró-Reitor

Pró-Reitoria de Graduação

Pró-Reitoria de Graduação

Graciete Tozetto Góes – Pró-Reitor

Graciete Tozetto Góes – Pró-Reitor

Divisão de Programas Especiais

Divisão de Programas Especiais

Maria Etelvina Madalozzo Ramos – Chefe

Maria Etelvina Madalozzo Ramos – Chefe

Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e

Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distânciaa Distância

Leide Mara Schmidt –

Leide Mara Schmidt – Coordenadora GeralCoordenadora Geral

Cleide Aparecida Faria R

Cleide Aparecida Faria Rodrigues – Coordenadora Pedagógicaodrigues – Coordenadora Pedagógica

Sistema Universidade Aberta do Brasil

Sistema Universidade Aberta do Brasil

Hermínia Regina Bugeste Marinho –

Hermínia Regina Bugeste Marinho – Coordenadora GeralCoordenadora Geral

Cleide Aparecida Faria Rodrigues – Coordenadora Adjunta

Cleide Aparecida Faria Rodrigues – Coordenadora Adjunta

Curso de História – Modalidade a

Curso de História – Modalidade a DistânciaDistância

Myriam Janet Sacchelli –

Myriam Janet Sacchelli – CoordenadorCoordenador

Colaborador Financeiro

Colaborador Financeiro

Luiz Antonio Martins Wosiak

Luiz Antonio Martins Wosiak

Colaborador de Planejamento

Colaborador de Planejamento

Silviane Buss Tupich

Silviane Buss Tupich

Colaboradores em Informática

Colaboradores em Informática

Carlos Alberto Volpi

Carlos Alberto Volpi

Carmen Silvia Simão Carneiro

Carmen Silvia Simão Carneiro

Adilson de Oliveira Pimenta Júnior

Adilson de Oliveira Pimenta Júnior

 Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior

 Juscelino Izidoro de Oliveira Júnior

Osvaldo Reis Júnior

Osvaldo Reis Júnior

Kin Henrique Kurek

Kin Henrique Kurek

Thiago Luiz Dimbarre

Thiago Luiz Dimbarre

Thiago Nobuaki Sugahara

Thiago Nobuaki Sugahara

Colaboradores em EAD

Colaboradores em EAD

Dênia Falcão de Bittencourt

Dênia Falcão de Bittencourt

 Jucimara Roesler

 Jucimara Roesler

Colaboradores de Publicação

Colaboradores de Publicação

Anselmo Rodrigues de Andrade Júnior

Anselmo Rodrigues de Andrade Júnior – Diagramação– Diagramação

Denise Galdino de Oliveira – Revisão

Denise Galdino de Oliveira – Revisão

 Janete Aparecida L

 Janete Aparecida Luft – Revisãouft – Revisão

Colaboradores Operacionais

Colaboradores Operacionais

Edson Luis Marchinski

Edson Luis Marchinski

 Joanice de Jesus Küster d

 Joanice de Jesus Küster de Azevedoe Azevedo

 João Márcio Duran In

 João Márcio Duran Inglêzglêz

Maria Clareth Siqueira

Maria Clareth Siqueira

Mariná Holzmann Ribas

Mariná Holzmann Ribas

CRÉDITOS

CRÉDITOS

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Universidade Estadual de Ponta Grossa

 João Carlos Gomes

 João Carlos Gomes

Reitor

Reitor

Carlos Luciano Sant’ana Vargas

Carlos Luciano Sant’ana Vargas

 Vice-Reitor

 Vice-Reitor

Ficha catalográca elaborada pelo Setor

(4)

APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

Prezado estudante

Prezado estudante

Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas à nossa instituição e ao curso que

Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas à nossa instituição e ao curso que

escolheu.

escolheu.

 Agora, você é

 Agora, você é um acadêmico da um acadêmico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG),Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG),

uma renomada instituição de ensino superior que tem mais de cinqüenta anos de história

uma renomada instituição de ensino superior que tem mais de cinqüenta anos de história

no Estado do Paraná, e participa de um amplo sistema de formação superior criado pelo

no Estado do Paraná, e participa de um amplo sistema de formação superior criado pelo

Ministério da Educação (MEC) em 2005, denominado Universidade Aberta do Brasil

Ministério da Educação (MEC) em 2005, denominado Universidade Aberta do Brasil

(UAB).

(UAB).

O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) não propõe a criação de uma

O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) não propõe a criação de uma

nova instituição de ensino superior, mas sim, a articulação das instituições

nova instituição de ensino superior, mas sim, a articulação das instituições

públicas já existentes, possibilitando levar ensino

públicas já existentes, possibilitando levar ensino superior público de qualidadesuperior público de qualidade

aos municípios brasileiros que não possuem cursos de formação superior ou

aos municípios brasileiros que não possuem cursos de formação superior ou

cujos cursos ofertados não são suficientes para atender a todos os cidadãos.

cujos cursos ofertados não são suficientes para atender a todos os cidadãos.

Sensível à necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos superiores em

Sensível à necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos superiores em

nosso país, a Universidade Estadual de Ponta Grossa participou do Edital de Seleção UAB

nosso país, a Universidade Estadual de Ponta Grossa participou do Edital de Seleção UAB

nº 01/2006-SEED/MEC/2006/2007

nº 01/2006-SEED/MEC/2006/2007 e foi contee foi contempladas para mpladas para desenvolver seis desenvolver seis cursos decursos de

graduação e

graduação e quatro cursos de pósquatro cursos de pós-graduação na modalidade -graduação na modalidade a distância.a distância.

Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o MEC, a CAPES e

Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o MEC, a CAPES e

as universidades brasileiras, bem como porque a UEPG, ao longo de sua trajetória, vem

as universidades brasileiras, bem como porque a UEPG, ao longo de sua trajetória, vem

acumulando uma rica tradição de ensino, pesquisa e extensão e se destacando também

acumulando uma rica tradição de ensino, pesquisa e extensão e se destacando também

na educação a distância,

na educação a distância,

 A

 A UEPG UEPG é é credenciada credenciada pelo pelo MEC, MEC, conforme conforme PPortaria ortaria nº nº 652, 652, de de 16 16 de de marçomarço

de 2004, para ministrar cursos superiores (de graduação, seqüenciais, extensão e

de 2004, para ministrar cursos superiores (de graduação, seqüenciais, extensão e

pós-graduação

graduação lato sensu lato sensu))na modalidade a distância.na modalidade a distância.

Os nossos programas e cursos

Os nossos programas e cursos de EaD, apresentam elevado padrão de qualidade ede EaD, apresentam elevado padrão de qualidade e

têm contribuído, efetivamente, para a democratização do saber universitário,

têm contribuído, efetivamente, para a democratização do saber universitário,

destacando-se o trabalho

se o trabalho que desenvolvemos que desenvolvemos na formação inicial e na formação inicial e continuada de continuada de professores. professores. EsteEste

curso não será diferente dos demais, pois a qualidade é um compromisso da Instituição

curso não será diferente dos demais, pois a qualidade é um compromisso da Instituição

em todas as suas iniciativas.

em todas as suas iniciativas.

Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias, materiais e

Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias, materiais e

mídias próprios da educação a distância que, além de facilitarem o aprendizado, permitirão

mídias próprios da educação a distância que, além de facilitarem o aprendizado, permitirão

constante interação entre alunos, tutores, professores e

constante interação entre alunos, tutores, professores e coordenação.coordenação.

Este curso foi elaborado pensando na formação de um professor competente, no

Este curso foi elaborado pensando na formação de um professor competente, no

seu

seusaber saber , no seu, no seusaber saber fazer fazer  e no seu e no seufazer saber fazer saber . T. Também foram ambém foram contemplados aspectoscontemplados aspectos

éticos e políticos essenciais à formação dos profissionais da educação.

éticos e políticos essenciais à formação dos profissionais da educação.

Esperamos que você

Esperamos que você aproveite todos os recursos que aproveite todos os recursos que oferecemos para facilitar ooferecemos para facilitar o

seu processo de aprendizagem e que tenha muito

seu processo de aprendizagem e que tenha muito sucesso na trajetória que ora sucesso na trajetória que ora inicia.inicia.

Mas, lembre-se:

Mas, lembre-se: você não está sozinhovocê não está sozinho  nessa jornada, pois fará parte de uma  nessa jornada, pois fará parte de uma

ampla rede colaborativa

ampla rede colaborativa  e poderá  e poderá interagir interagir   conosco sempre que desejar, acessando  conosco sempre que desejar, acessando

nossa Plataforma Virtual de Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias

nossa Plataforma Virtual de Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias

disponíveis para nossos alunos e professores.

disponíveis para nossos alunos e professores.

Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua aprendizagem é o nosso

Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua aprendizagem é o nosso

principal objetivo.

principal objetivo.

EQUIPE DA UAB/ UEPG

(5)
(6)

SUMÁRIO

PALAVRAS DO PROFESSO

R 9

OBJETIVOS &

  EMENTA 9

O CONCEITO DE HISTÓRIA

11

SEÇÃO

1-

HISTÓRIA 12

SEÇÃO

2 -

HISTORICIDADE 14

SEÇÃO

3 -

HISTORIOGRAFIA 17

A HISTORIOGRAFIA NOS PRIMÓRDIOS E NA ANTIGUIDADE

ORIENTAL

21

SEÇÃO

1-

 AS SOCIEDADES SEM ESCRITA: UM DIÁLOGO CRÍTICO 22

SEÇÃO

2 -

MITOS DE ORIGEM E CRÔNICAS REAIS 27

SEÇÃO

3 -

O EXTREMO ORIENTE: O CASO DA CHINA 30

A HISTORIOGRAFIA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA

37

SEÇÃO

1 -

 A HISTORIOGRAFIA NA GRÉCIA ANTIGA 39

SEÇÃO

2 -

 A HISTORIOGRAFIA EM ROMA 47

SEÇÃO 3

 -

 A HISTORIOGRAFIA CRISTÃ ANTIGA 52

A HISTORIOGRAFIA MEDIEVAL E RENASCENTISTA

65

SEÇÃO

1 -

POSSIBILIDADE DE CONSCIÊNCIA HISTÓRICA NA IDADE MÉDIA 66

SEÇÃO

2 -

 A HISTORIOGRAFIA CRISTÃ MEDIEVAL 68

SEÇÃO 3

 -

 A HISTORIOGRAFIA LAICA 72

SEÇÃO

4 -

 A HISTORIOGRAFIA RENASCENTISTA 77

A HISTORIA ENTRE A FILOSOFIA E A CIÊNCIA

87

SEÇÃO

1 -

 A CRISE DA HISTÓRIA NO SÉCULO XVII 88

SEÇÃO

2 -

HISTÓRIA E ERUDIÇÃO 91

SEÇÃO

3 -

HISTÓRIA E FILOSOFIA 95

PALAVRAS FINAI

S 101

REFERÊNCIAS

103

NOTAS SOBRE OS AUTORE

(7)
(8)

PALAVRAS DO PROFESSOR

 A disciplina que você iniciará agora, Teoria da História I, faz parte

dos componentes teórico-historiográficos do nosso curso de Licenciatura em História. Ela é a primeira parte de um núcleo que é formado pelas disciplinas de Teoria da História I, II, III, e IV, onde são tratados temas pertinentes às concepções históricas e à escrita da História desde os primórdios até a contemporaneidade.

Este conjunto de disciplinas se propõe a um olhar sobre a história da  história, ou, melhor dizendo a história da produção históricanas diversas

culturas humanas, com ênfase para as componentes da tradição judaico-cristã ocidental.

Nesta primeira disciplina, Teoria da História I, você vai analisar

um longo percurso das concepções históricas e da escrita da História. Esse percurso se inicia com apanhado semântico-conceitual dos termos

 história, historicidadee historiografia.

Em seguida, você verá a análise e a crítica das posturas tradicionais sobre as concepções históricas das sociedades sem escrita presentes na historiografia contemporânea.

 A seguir, irá para as primeiras formas de concepção da escrita da história nos povos antigos, com destaque para a primeira construção de identidade histórica, com o estudo de caso do antigo povo de Israel. Depois, terá uma breve passagem pela historiografia do Antigo Extremo Oriente, especificamente da China, para analisar os seus rudimentos.

O percurso de análise historiográfica irá levá-lo, depois, para os fundamentos da historiografia ocidental, com a análise das concepções historiográficas na cultura grega, helenística, berços das concepções históricas e historiográficas do Ocidente.

Partindo da Grécia e da expansão helenística, você passará a analisar a influência helenística sobre a historiografia da Roma Antiga e as características originais do pensamento historiográfico romano.

O advento do cristianismo, com sua origem nas matrizes judaica, helenística e romana e sua concepção finalista de História, será analisado a seguir, em sua constituição e formas de expressão historiográfica na  Antigüidade Tardia. A consolidação da hegemonia e o início da crise da historiografia cristã na Idade Média e no Renascimento serão abordados na seqüência.

O curso conclui-se com a análise da crise da História no século XVII, com o advento do racionalismo cientificista cartesiano e o processo de redirecionamento da escrita da História para uma vertente filosófica e outra metódico-científica.

 A proposta de abordagem do conteúdo do curso não é factualizante, mas centrada nas possibilidades de compreensão crítica das concepções históricas e da escrita da história nas diferentes culturas e sociedades estudadas.

É um curso que se funda em concepções de história e de historiografia centradas em sua dimensão cultural e social, expressão de projetos identitários tanto externa quanto internamente a cada sociedade analisada.

(9)
(10)

OBJETIVOS & EMENTA

A presente disciplina tem por objetivo construir o campo

conceitual-se-mântico da história para compreender suas formas de escrita e

funcionalida-des sociais nas sociedafuncionalida-des antigas, medieval, renascentista e moderna, como

subsídio para a compreensão das diferentes dimensões do conhecimento

his-tórico na contemporaneidade.

O

BJETIVOS

Construir, a partir da análise dos termos história, historicidade e historiografia,

o campo conceitual da história enquanto prática social.

Analisar as diferentes formas de expressão e de função social da escrita da

história nas sociedades antigas, medieval, renascentista e moderna.

Construir conceitualmente a concepção de história como produto social, cultural

e ideológico, com formas e sentidos diversos nas diferentes sociedades, culturas e relações de poder.

Fornecer subsídios para a compreensão das formas de expressão e funções

sociais da história na contemporaneidade pela análise das expressões da historiografia em outras sociedades, ao longo do tempo.

E

MENTA

Conceitos de história, historiografia e historicidade. A historiografia nas

sociedades sem escrita. Mitos de origem e crônicas reais. A historiografia grega antiga. A historiografia em Roma. A historiografia cristã antiga. Historiografia medieval. Historiografia no Renascimento. A ruptura cartesiana e o nascimento da erudição.

(11)
(12)

O

Conceito de

História

O

BJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Compreender o significado semântico e historiográfico dos termos

fundamentais para a Teoria da História: História, Historicidade e Historiografia. Entender e analisar a aplicação correta das diversas dimensões do termo

História.

Construir as dimensões distintas de emprego do termo Historicidade e sua

aplicação na escrita da História.

Compreender o conceito de Historiografia e dominar a distinção entre esse

conceito e os de História e Historicidade.

Elaborar, a partir do estudo da Unidade, definições de História e da prática

■ da escrita da História.

R

OTEIRO DE ESTUDOS

SEÇÃO 1 – História ■ SEÇÃO 2 – Historicidade ■ SEÇÃO 3 – Historiografia ■

   U

   N

   I

   D

   A

   D

   E

   I

MARCO AURÉLIO MONTEIRO PEREIRA  JANAÍNA DE PAULA DO ESPÍRITO SANTO RODRIGO CARNEIRO DOS SANTOS

(13)

   U  n    i  v  e   r   s    i    d  a    d  e    A    b  e   r    t  a    d  o    B  r   a   s    i    l 12 UNIDADE 1

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Olá!!! Bem-vindo(a) ao curso de Teoria da História I. Aqui você terá um apanhado conceitual e historiográfico sobre a escrita da História ao longo de vários séculos em diversas culturas e sociedades.

Tratar as dimensões conceituais que dizem respeito à história é sempre um desafio. Esse desafio é respondido por mais de uma disciplina deste curso. Aqui, em Teoria da História I, nós vamos discutir as

possibilidades de uma definição dos termos centrais do campo histórico a partir de uma análise dos próprios termos.

 As palavras carregam significados, não apenas em relação àquilo que designam, mas em si próprias. A tentativa de compreensão destes significados intrínsecos ajuda muito a compreender aquilo que as palavras pretendem significar.

Compreender a formação etimológica e semântica dos termos principais do campo do conhecimento histórico é um ótimo ponto de partida para a análise das formas de concepção e escrita da história nas diversas culturas e sociedades humanas ao longo do tempo.

Assim, vamos iniciar nossa jornada tentando construir propostas de denições, não para os campos, mas para as palavras que signicam os principais campos do conhecimento histórico e que sintetizam as concepções e fazeres históricos:história, historicidadee historiografa.

SEÇÃO 1

HISTÓRIA

Nesta seção, você tomará contato com as diferentes significações e acepções da palavra História, e também conhecerá uma proposta de conceituação de História a partir de suas dimensões semânticas.O conceito de História é uma coisa bastante complexa e difícil de ser trabalhada. Complexa porque o termo História é polissêmico, isto é, tem mais que

um significado. A palavra História tem, pelo menos, três significados

principais:

História como o processo de vida dos homens em sociedade no

(14)

   T  e   o   r    i  a    d  a    H    i  s    t    ó  r    i  a    1 13 UNIDADE 1

História como as representações do processo de vida dos homens

em sociedade no tempo. É o que poderíamos chamar de “História representada”. É o campo da História como produto de uma “elaboração científica”.

História como a designação de uma “narração ordenada” qualquer. É o espaço, quer de uma narração baseada na “realidade histórica”, quer dos contos de fadas, dos “romances históricos”. Seu caráter é essencialmente narrativo, e a questão da verdade acontecimental não se coloca aí como fundamental.

E para complicar um pouco mais a coisa, estes três significados se misturam, se interpenetram numa relação de amálgama que torna bastante difícil sua separação em definições específicas e estanques.

 Alguns idiomas tentam escapar desta ambigüidade. O inglês, com

History e Story ; o italiano, que usa a palavra storigrafia para designar

a ciência histórica e sua produção; e o alemão, que designa a ciência histórica como Geschichtwissenschafte a atividade “científica” em geral

como Geschichtschreibung.

Mas, de toda forma, sempre há uma zona de sombra, um espaço ambíguo e indefinível que constitui a própria essência da história. Como diz Jacques Le Goff: “Falar de História não é fácil, mas estas dificuldades de linguagem introduzem-nos no próprio âmago das ambigüidades da história” (LE GOFF, 1985, p. 158).

Mas, enm, o que signica a palavra História?

Uma das saídas possíveis para uma proposta de conceituação, mesmo que aproximada, é um panorama etimológico e semântico da palavraHistória.

 A palavra história vem do grego jônico historie.Esta forma, por sua

vez, se origina da raiz indo-européia wid - weid, que se refere a “ver”.

Desta raiz se originam o sânscrito vettas “testemunha” e o grego histor ,

também significando “testemunha”, no sentido de “aquele que vê”. “Esta concepção da visão como fonte essencial do conhecimento leva-nos à idéia que histor ‘aquele que vê’ é também aquele que sabe; historien

em grego antigo é ‘procurar saber’, ‘informar-se’. Historie significa pois

‘procurar’”. E é este o sentido da palavra história em suas origens na tradição ocidental. Para Heródoto, suas Histórias são “investigações”,

(15)

   U  n    i  v  e   r   s    i    d  a    d  e    A    b  e   r    t  a    d  o    B  r   a   s    i    l 14 UNIDADE 1

“procuras” (LE GOFF, 1985, p.158).

História pode se definir, assim, como o espaço do conhecimento não apenas visto e elaborado, mas também transmitido, testemunhado. O testemunho é um “ato de fé”, uma ação social.Ver ,saberetestemunharse

configuram, assim, na essência conceitual da palavra História.

Isto nos coloca diante da segunda assertiva do início do texto. Por ser ambígua, a conceituação de História é difícil. E fica ainda mais difícil porque a ambigüidade do termo não é apenas semântica, é também de caráter epistemológico. Como visão, testemunho e conhecimento, a História assume formas diferentes em sociedades diversas e mesmo em espaços sociais distintos numa mesma sociedade.

Estas formas respondem a uma questão fundamental comum a todas as expressões do campo: como definir o que é e o que não é histórico? A resposta para isto está no conceito de historicidade, que você irá estudar

a seguir.

SEÇÃO 2

HISTORICIDADE

O fato de a palavra História ser polissêmica deve levá-lo a refletir sobre o que é histórico e o que não é. Esta reflexão será auxiliada pelo estudo de um segundo termo fundamental para o seu estudo, o conceito de historicidade. Grosso modo, pode-se dizer que historicidadeé o atributo

daquilo que é histórico. Porém esta definição simples não satisfaz, pois não especifica os parâmetros de definição daquilo que é histórico e aquilo que não é.Le Goff, ao discutir a questão em seu artigo História na Enciclopédia Einaudi, coloca dois momentos de constituição do conceito

de historicidade.

O termo historicidadesurge no francês em 1872 (LE GOFF, 1985, p.

159). Num primeiro momento, durante o século XIX, historicidade é vista como “uma função, ou melhor, uma categoria do real”. Na definição de Charles Morazé:

Devemos procurar para além da geopolítica, do comércio, das artes e da própria ciência, aquilo que justifica a atitude de obscura certeza dos homens que se unem, arrastados pelo enorme fluxo do progresso que os especifica, opondo-os. Sente-se que esta solidariedade está ligada à

(16)

   T  e   o   r    i  a    d  a    H    i  s    t    ó  r    i  a    1 15 UNIDADE 1

existência implícita que cada um experimenta em si, duma certa função comum a todos. Chamamos a esta função historicidade (MORAZÉ, 1967, p. 59, apud LE GOFF, 1985, p. 159).

O segundo momento ocorre mais tarde, contemporaneamente, na segunda metade do século XX, onde o conceito de historicidade desliga-se de suas origens do século XIX e passa a assumir um papel de ponta na escrita da história como produção cultural e social intrinsecamente ligada à prática do historiador.

Ela obriga a inserir a própria história numa  perspectiva histórica: “Há uma historicidade da história que implica o movimento que liga uma prática interpretativa a uma práxis social”

[CERTEAU 1970, p. 484].

(...) Paul Veyne tira uma dupla lição do fundamento do conceito de historicidade. A historicidade permite a inclusão no campo da ciência histórica de novos objetos da história: o non-événementiel; trata-se de acontecimentos ainda não reconhecidos como tais: história rural, das mentalidades, da loucura ou da procura de segurança através das épocas. Chamaremos non-événementiel à historicidade de que não temos consciência enquanto tal. Por outro lado, a historicidade exclui a idealização da  história, a existência da História com H maiúsculo: “Tudo é histórico, logo a história não existe” (LE GOFF, 1985, p. 159).

- Mas como a historicidade dene limites para o trabalho do historiador?

 A partir do conceito de historicidade como definidor de limites para a prática do historiador, as ambigüidades da história encontram um espaço onde se constituem num discurso coerente e rigoroso, embora centrado na narrativa e que contém uma carga indissociável de componentes sócioculturais e ideológicos.

Para Paul Veyne, a história é um “conhecimento mutilado”, imperfeito: “A história não comporta o limite de conhecimento nem o mínimo de inteligibilidade e nada do que foi, desde que o foi, é inadmissível. A história não é, portanto, uma ciência; ela não tem por isso menos rigor, mas esse rigor coloca-se ao nível da crítica.” (VEYNE, 1983, p. 25)

(17)

   U  n    i  v  e   r   s    i    d  a    d  e    A    b  e   r    t  a    d  o    B  r   a   s    i    l 16 UNIDADE 1

Le Goff, neste contexto, aborda a história a partir de uma definição dura e pessimista de Paul Ricoeur:

 A história só é história na medida em que não consente nem no discurso absoluto, nem na singularidade absoluta, na medida em que o seu sentido se mantém confuso, misturado (...)  A história é essencialmente equívoca, no sentido que é virtualmente événementielle e virtualmente estrutural. A história é na verdade o reino do inexacto. Esta descoberta não é inútil; justifica o historiador. Justifica todas suas incertezas. O método histórico só pode ser um método inexacto... A história quer ser objectiva e não pode sê-lo. Quer fazer reviver e só pode reconstruir. Ela quer tornar as coisas contemporâneas, mas ao mesmo tempo tem de reconstituir a distância e a profundidade da lonjura histórica. Finalmente, esta reflexão procura justificar todas as aporias do ofício de historiador, as que Marc Bloch tinha assinalado na sua apologia da história e do ofício de historiador. Estas dificuldades não são vícios do método, são equívocos bem fundamentados. (RICOEUR 1961, p.226, apud LE GOFF, 1985, p. 161)

 Assim, a atribuição de historicidade possui, inicialmente, uma dimensão ideológica nacionalista que se ressignifica, até pelo próprio triunfo do Estado Nacional no Ocidente, em uma dimensão de delimitação de objetos de estudo e,em última análise, de campo de conhecimento.

Porém, fica claro, a partir da análise dos termos história e historicidade, o caráter definidor da prática concreta do historiador, daquele que escreve a história, para o campo do conhecimento histórico. No entanto, esta prática de escrita da história não é nem individual nem difusa. É construída cultural e socialmente e tem objetivos, propósitos de diversos matizes (políticos, ideológicos, religiosos, econômicos, etc.), que não são excludentes, mas se articulam no fazer a si mesmas das culturas e sociedades.

É este conjunto de concepções e práticas que especificam as formas pelas quais as diferentes sociedades concebem e praticam a escrita da história que você verá a seguir na análise do termo historiografia.

(18)

   T  e   o   r    i  a    d  a    H    i  s    t    ó  r    i  a    1 17 UNIDADE 1

SEÇÃO 3

HISTORIOGRAFIA

Os conceitos de História e Historiografia que você trabalhou até aqui devem, naturalmente, encaminhá-lo para uma terceira dimensão conceitual no campo da História. É o estudo do termo Historiografia, que você verá a seguir.

É no espaço do “equívoco bem fundamentado” posto anteriormente por Paul Veyne, que se desenrola a prática do historiador, enquanto construtor e narrador de fatos, ações, pensamentos, conjunturas e estruturas dos homens no tempo e no seu tempo.

É nesse momento que deve ser considerado, ao lado dos termos

História e Historicidade, o terceiro elemento da tríade básica do

conhecimento histórico: o conceito de Historiografia.

Pode-se conceituar historiografia utilizando a definição doDicionário  Aurélio, onde historiografia é o “estudo histórico e crítico acerca da história

ou dos historiadores” (FERREIRA, s/d, verbete Historiografia, p. 729).

O conhecimento histórico se produz social e historicamente. Mas as sociedades possuem idéias e concepções diversas sobre a natureza e a dimensão da produção desse conhecimento. A recuperação e a análise das diferentes formas de concepção e escrita da história, nas diferentes sociedades, definem o âmbito da historiografia.

Ela é uma produção cultural, um processo social e ideológico dotado de intencionalidades e objetivos explícitos e também implícitos em suas formulações e práticas. Historiografia não é conceito universal, “nomotético”, isto é, que é relativo a lei ou a legislação. E aqui diz respeito a um conhecimento que se formula explicitando leis de validade universal.  É, sim, um conjunto de concepções históricas e práticas de escrita da história que atende às demandas de seu espaço e tempo cultural e social.

Ela é, por definição, plural e multiforme, posto que fundamental para a construção de identidades sociais fundadas na especificação e diferenciação de uma cultura, sociedade, nação ou Estado dos demais.

 Assim, a partir da constatação dessa pluralidade característica e intrínseca à historiografia, é que você vai, ao longo de nosso curso, fazer um estudo crítico, percorrendo as matrizes relevantes para a compreensão

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   U  n    i  v  e   r   s    i    d  a    d  e    A    b  e   r    t  a    d  o    B  r   a   s    i    l 18 UNIDADE 1

de nossa contemporaneidade, dos processos de construção, representação e finalidades das concepções de história e práticas de escrita da história em seus diversos espaços, geográficos e sociais, e tempos, cronológicos e culturais, que especificam as diferentes culturas e sociedades.

Neste “estudo crítico” vai ser adotada uma perspectiva histórica, na descrição das relações que diversas culturas e sociedades mantiveram com seu passado e o lugar nelas ocupado pela história. É usada uma perspectiva cronológica, evidentemente descartada a idéia de progresso, e privilegiada, até por conta da bibliografia disponível, a tradição ocidental.

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   T  e   o   r    i  a    d  a    H    i  s    t    ó  r    i  a    1 19 UNIDADE 1

Construa três narrativas curtas, cada uma delas a partir de uma das dimensões do termo 1.

História.

Quais são os limites dos objetos que podem ser tratados pela História? Construa sua reexão a

2.

partir da citação de Paul Veyne feita por Jacques Le Goff. Se

3. Historiografa é , conforme você já viu, o “estudo histórico e crítico acerca da história ou dos historiadores”, com qual dimensão da palavra História ela se relaciona?

O texto nos fala de um passado construído culturalmente e de forma diversa pela Historiograa.

4.

Reita e construa um texto, com sua opinião sobre a questão da verdade na escrita da História.

Elabore, a partir dos conceitos de

5. História,Historicidade e Historiografa, uma denição pessoal,

sua, sobre o que é aquilo que Marc Bloch chama de “ofício de Historiador”.

Um texto fundamental para a compreensão das nuances conceituais envolvidas no fazer histórico pode

ser encontrado em:

LE GOFF, Jacques. História. In. LE GOFF, Jacques (coord.).Memória-História. Enciclopédia Einaudi, vol.1. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985.

É uma leitura imprescindível para que você domine de forma segura o campo conceitual da História.

Nesta Unidade I: O Conceito de História, você conheceu as denições dos três termos fundamentais

para o campo do conhecimento histórico e para a prática do historiador.

Na Seção 1 – História, você pôde perceber que a conceituação do termo Históriaé complexa e difícil,

pela polissemia da palavra história e porque os seus três signicados principais são usados de forma livre. Aprendeu, também, a genealogia da palavraHistória, desde suas origens remotas no sânscrito até

sua concepção grega, que se traduzem na tríade “ver, saber, testemunhar”.

Na seção seguinte, que trata da historicidade, você viu que a palavra diz respeito à denição daquilo que é histórico e aquilo que não é. Viu também as complexidades e ambigüidades presentes no fazer

histórico.

Já a Seção 3 – Historiograa, apresentou-lhe as possibilidades de visões diferenciadas na escrita da

História, e anunciou o rumo de seu estudo daqui pra frente.

Siga em frente, sempre pensando na História como o espaço do passado vivido e construído,

presenciado e representado, mas, principalmente, vivo para você e para aqueles que o cercam. Bom estudo!!!

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   U  n    i  v  e   r   s    i    d  a    d  e    A    b  e   r    t  a    d  o    B  r   a   s    i    l 20 UNIDADE 1

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   T  e   o   r    i  a    d  a    H    i  s    t    ó  r    i  a    1 21 UNIDADE 2

A

Historiografia

nos primórdios e na

antiguidade oriental

O

BJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Apreender as dimensões essenciais da historiografia dos povos sem

escrita e as leituras etnocêntricas de que são objeto pela historiografia

européia tradicional.

Conhecer as dimensões de uma incipiente historiografia postas nos

mitos de origem e nas crônicas reais do Antigo Oriente Próximo.

Tomar contato com as dimensões da história na cultura chinesa

antiga, com suas especificidades e idiossincrasias que a distinguem das

concepções historiográficas ocidentais.

R

OTEIRO DE ESTUDOS

SEÇÃO 1 - As Sociedades sem Escrita: um Diálogo Crítico

SEÇÃO 2 - Mitos de Origem e Crônicas Reais

SEÇÃO 3 - O Extremo Oriente: o Caso da China

   U

   N

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   D

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   D

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   I

   I

MARCO AURÉLIO MONTEIRO PEREIRA  JANAÍNA DE PAULA DO ESPÍRITO SANTO RODRIGO CARNEIRO DOS SANTOS

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   U  n    i  v  e   r   s    i    d  a    d  e    A    b  e   r    t  a    d  o    B  r   a   s    i    l 22 UNIDADE 2

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Olá!!! Bem-vindo à segunda unidade do curso de Teoria da História I. Nesta unidade, você irá tratar das primeiras formas de expressão de concepções históricas e das origens remotas da historiografia. É um percurso que o levará à interpretação das concepções históricas dos povos sem escrita e sua possibilidade, num diálogo crítico com um dos maiores expoentes da análise historiográfica do século XX, Charles-Olivier Carbonell. Este diálogo se estabelece principalmente com as assertivas de Carbonell no seu livro Historiografia, no capítulo I: “Pré-História, a

memória antes da escrita” (CARBONELL, 1987, p. 9-13).

Em seguida, você analisará as primeiras manifestações escritas de concepções e relatos históricos nos anais e crônicas reais do Antigo Oriente Próximo, com a análise de um caso clássico de construção de identidade étnica, cultural e social fundada na história: o Israel Antigo.

Outro estudo de caso, até para a percepção da extrema variedade de concepções históricas e práticas historiográficas virá do Antigo Extremo Oriente: a China, com suas dimensões ideológicas, moralizantes e augurais da escrita da história.

SEÇÃO 1

AS SOCIEDADES SEM ESCRITA: UM DIÁLOGO CRÍTICO

Nesta seção você irá tomar contato com as formas de expressão histórica das sociedades sem escrita, a leitura de cunho etnocêntrico que é feita destas expressões por uma historiografia européia tradicional, além da crítica a estas leituras.

 As primeiras manifestações de algo similar a uma consciência histórica e da elaboração de concepções e práticas de narrativa histórica estão nas genealogias preservadas pela tradição oral, recorrentes nas sociedades tribais africanas e da Oceania.

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   T  e   o   r    i  a    d  a    H    i  s    t    ó  r    i  a    1 23 UNIDADE 2

Mas como isso é representado na produção dos historiadores?

São manifestações sem a sofisticação metodológica e conceitual das sociedades mais complexas, consideradas por expressivos contingentes dos historiógrafos modernos como a pré-história da historiografia, fundados numa concepção de historiografia definida pela presença da escrita.

É o caso de Charles-Olivier Carbonell, que define como “pré-história da historiografia” as sociedades que fundam suas práticas historiográficas na tradição oral. Apesar disso, o autor reconhece nessas sociedades a busca do conhecimento de seu passado, de sua memória coletiva.

Foram muito numerosas [...] as sociedades sem historiografia. Mas não se conhece nenhuma, por mais rude que sejam a sua linguagem, a sua organização, as suas técnicas e os seus modos de pensar, que não possua um conhecimento do seu passado. Nenhum grupo é amnésico. Para qualquer grupo, recordar-se é existir; perder a memória é desaparecer. (CARBONELL, 1987, p. 9)

Porém, esta preservação da memória coletiva não configura para Carbonell uma atitude historiográfica concreta, por ser essa forma de preservação da memória “pobre, confusa e frágil”:

- Pobre, porque depende unicamente das capacidades do cérebro e, qual depósito sagrado, está confiada a um grupo restrito: quimbandas da África ocidental, biru do Ruanda, haérè-po da Polinésia... Pobre, principalmente, porque há pouco a conservar nas sociedades cristalizadas, muitas vezes isoladas, em que as técnicas estagnam e os géneros de vida se perpetuam. O tempo cíclico do eterno retorno das estações e o tempo imutável de um mundo em equilíbrio decretam o vazio da história.

[...]

- Confusa porque a memória veicula o que está fora do tempo. Ela não diz a evolução do grupo, mas as suas origens. Não ensina o que foi vivido, mas a fábula; não revela uma direção , mas uma mensagem ontológica: De onde vem o homem? O que é morrer? Que laços se podem urdir com Deus? No essencial, a memória mobiliza-se para a transmissão impecável dos mitos fundadores.

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   U  n    i  v  e   r   s    i    d  a    d  e    A    b  e   r    t  a    d  o    B  r   a   s    i    l 24 UNIDADE 2 [...]

- Frágil é a memória histórica, sem dúvida ainda mais do que a mítica. As vicissitudes políticas comandam por vezes prudentes amnésias – primeira forma do revisionismo histórico! – ou acrobáticas fusões de listas. A falha pode também ser involuntária. Tomam-se certamente precauções para preservar a pureza das tradições : as recitações são públicas e solenes, os depositários podem formar uma espécie de colégio (quatro biru em Ruanda, o conjunto dos príncipes do reino dos Mossi, por exemplo). Apesar disso, o fio pode quebrar-se e a litania salmodiada interromper-se [...].(CARBONELL, 1987, p. 10-12)

 A esta tripla dimensão de pobreza, confusão e fragilidade, Carbonell acrescenta a ausência de concepções temporais definidas e organizadas em padrões contemporâneos de linearidade e universalidade.

 A memória gasta-se. Por isso, quando se trata de acontecimentos humanos, a profundidade do olhar raramente atinge três séculos. É o caso das tradições merina escolhidas por volta de 1870 pelo P.e Callet. Mas quando Ibn Batuta, «o viajante

do Islão», visita em 1352 as grandes cidades do Mali, não consegue aprender lá nada que seja anterior ao ano de 1150 de nossa era. Quanto aos Fang do Gabão, se alguma de suas genealogias têm a riqueza de uma dezena de gerações, é porque chegam até Deus! (CARBONELL, 1987, p. 12-13)

Veja agora como essa questão pode ser vista com um olhar diferente.

Essa demonstração de Carbonell, da aparente fragilidade e inconsistência das formas de preservação da memória coletiva e concepções temporais das sociedades fundadas na tradição oral, merece uma análise mais detida, por representar o senso comum da visão, de cunho etnocêntrico, européia em relação às formas de concepção de história, memória e tempo das sociedades não inseridas na tradição ocidental.

Fica evidente a influência de uma herança de mentalidade colonialista e etnocêntrica na análise do historiador francês, numa postura inspirada de forma clara pela historiografia metódica do século XIX na França, onde o científico, e portanto verdadeiro, em História é apenas o

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   T  e   o   r    i  a    d  a    H    i  s    t    ó  r    i  a    1 25 UNIDADE 2 que é provado documentalmente.

O modelo da escola metódica reduz à pobreza, confusão e fragilidade, isto é, à barbárie e à selvageria, as concepções e fazeres históricos das sociedades não européias, notadamente as de cunho tribal.

 As objeções de “pobreza, confusão e fragilidade” apenas se sustentam a partir de um enfoque definido pelas concepções européias de história e historiografia como nomotéticas e universalizantes.

Considerar pobre uma tradição histórica oral, por ser a oralidade dependente das capacidades do cérebro, denota não consideração pelas formas não escritas de construção da memória coletiva.

O fato de sua difusão ser monopolizada por um grupo restrito de indivíduos no grupo, mostra de forma clara a resistência contra a inclusão, por exemplo, dos acima citados biru de Ruanda na tradicional

e acadêmica “tribo dos historiadores” europeus, expressão cunhada por François Simiand, colaborador da Révue de Synthése no início do século

XX.

 A afirmação da imobilidade social nestas sociedades “cristalizadas”, como se isso fosse possível, revela a não aceitação das dinâmicas sociais diferentes da velocidade capitalista da sociedade européia.

Enfim, a afirmação de que a adoção pelas sociedades menos complexas do tempo cíclico da natureza gera um mundo em equilíbrio e decreta o vazio da história, reflete de forma atroz a dificuldade que possui uma moderna linhagem dos historiadores europeus de perceber dinâmicas sociais diversas da velocidade factual política de suas análises da história e a conseqüente condenação das sociedades regidas pela dinâmica natural dos ciclos naturais ao “vazio da história”.

Em relação à alegada confusão da tradição oral, Carbonell a acusa de ser causada por sua atemporalidade e sua ênfase nas origens do grupo.

Mas por que deveriam estes grupos, cuja identidade se constrói pela certeza de uma mesma origem e não pela mudança das dinâmicas políticas, agir de forma diferente?

Por que deveria ser o mito de origem do outro desclassificado a fábula, enquanto que os análogos da tradição européia são vistos como fruto da revelação divina?

Por que a preocupação com a origem, o destino e as relações do homem com Deus são confusas enquanto praticadas pelos haérè-po da

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  r   r   s   s    i    i    d    d  a  a    d    d  e  e    A    A    b    b  e  e   r   r    t    t  a  a    d    d  o  o    B    B  r  r   a   a   s   s    i    i    l    l 26 26 UNIDADE 2 UNIDADE 2

Polinésia, mas se constituem na respeitadíssima Escola Providencialista

Polinésia, mas se constituem na respeitadíssima Escola Providencialista

de historiografia européia quando elaboradas dentro da tradição cristã

de historiografia européia quando elaboradas dentro da tradição cristã

dogmática por Agostinho de Hipona?

dogmática por Agostinho de Hipona?

E o que faz a historiografia tradicional européia além de constituir

E o que faz a historiografia tradicional européia além de constituir

e transmitir mitos e mitologias políticas fundadoras das sociedades

e transmitir mitos e mitologias políticas fundadoras das sociedades

ocidentais modernas, tais como os de Nação, Estado, Bem Comum,

ocidentais modernas, tais como os de Nação, Estado, Bem Comum,

Trabalho, Justiça e outros?

Trabalho, Justiça e outros?

Finalmente, no tocante à alegada fragilidade da memória

Finalmente, no tocante à alegada fragilidade da memória

histórica, creio que nem é necessário discutir o fato de que a prática de

histórica, creio que nem é necessário discutir o fato de que a prática de

suprimir, selecionar, adicionar, criar ou fundir tradições em um relato

suprimir, selecionar, adicionar, criar ou fundir tradições em um relato

politicamente conveniente não é apanágio das sociedades primevas, mas

politicamente conveniente não é apanágio das sociedades primevas, mas

elemento constitutivo da própria natureza do conhecimento histórico

elemento constitutivo da própria natureza do conhecimento histórico

ocidental, desde a Doação de Constantino até a supressão da figura de

ocidental, desde a Doação de Constantino até a supressão da figura de

Trotsky da iconografia da Revolução Russa promovida por Stálin, ou da

Trotsky da iconografia da Revolução Russa promovida por Stálin, ou da

desqualificação dos indígenas como agentes históricos promovida pela

desqualificação dos indígenas como agentes históricos promovida pela

quase totalidade da historiografia brasileira, principalmente nos livros

quase totalidade da historiografia brasileira, principalmente nos livros

didáticos, bem exemplificados nas considerações de Marc Ferro em

didáticos, bem exemplificados nas considerações de Marc Ferro em  A A

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 manipulação da Históda História no ria no ensino e ensino e nos meios nos meios de comunde comunicaçãoicação (FERRO, (FERRO,

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 A

 A partir partir dessa dessa visão, visão, como como é é possível possível ver ver as as formas formas de de expressãoexpressão

histórica nos povos sem escrita?

histórica nos povos sem escrita?

Uma abordagem temporalmente definida das manifestações

Uma abordagem temporalmente definida das manifestações

historiográficas, mesmo que delimitada à tradição ocidental na sua maior

historiográficas, mesmo que delimitada à tradição ocidental na sua maior

parte, deve considerar as manifestações historiográficas das diversas

parte, deve considerar as manifestações historiográficas das diversas

sociedades analisadas dentro de seu espírito, mais que pela sua forma.

sociedades analisadas dentro de seu espírito, mais que pela sua forma.

Desse modo, é necessário evitar o simplismo de atribuir a Heródoto

Desse modo, é necessário evitar o simplismo de atribuir a Heródoto

a paternidade da História, hegemônica entre nós desde o século XIX.

a paternidade da História, hegemônica entre nós desde o século XIX. DaDa

mesma forma, embora a

mesma forma, embora a História surja como gênero específico de escritaHistória surja como gênero específico de escrita

entre os gregos, seu nascimento não deve ser considerado como sendo na

entre os gregos, seu nascimento não deve ser considerado como sendo na

Grécia Antiga.

Grécia Antiga.

É necessário considerar o surgimento da historiografia nas primeiras

É necessário considerar o surgimento da historiografia nas primeiras

manifestações intencionais de preservação da identidade cultural das

manifestações intencionais de preservação da identidade cultural das

sociedades mais antigas, mesmo que estas manifestações não sejam

sociedades mais antigas, mesmo que estas manifestações não sejam

frutos da construção m

frutos da construção metódica e cientificista da escrita da História.etódica e cientificista da escrita da História.

Mas a complexização das sociedades humanas levou à gradativa

Mas a complexização das sociedades humanas levou à gradativa

complexização da produção histórica, resultando numa historiografia que

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   T    T  e  e   o   o   r   r    i

   i  a  a

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   i  a  a

   1    1 27 27 UNIDADE 2 UNIDADE 2

refletia as novas relações sociais dos grupos

refletia as novas relações sociais dos grupos sedentários e já organizadossedentários e já organizados

em sociedades-estado de natureza centralizada e hierarquizada.

em sociedades-estado de natureza centralizada e hierarquizada.

Na próxima seção você irá

Na próxima seção você irá conhecer um caso tipo dessa historiografiaconhecer um caso tipo dessa historiografia

de crônicas reais e mitos de origem muito importante para a tradição

de crônicas reais e mitos de origem muito importante para a tradição

ocidental: o Antigo Israel.

ocidental: o Antigo Israel.

SEÇÃO 2

SEÇÃO 2

MITOS DE ORIGEM E CRÔNICAS REAIS

MITOS DE ORIGEM E CRÔNICAS REAIS

 As

 As consolidações consolidações das das tradições tradições orais orais das das sociedades sociedades primevasprimevas

manifestam de forma clara a intenção de preservação de uma dada

manifestam de forma clara a intenção de preservação de uma dada

construção da memória coletiva que dota aquelas sociedades de uma

construção da memória coletiva que dota aquelas sociedades de uma

identidade própria e única. Estas construções, na Antigüidade, se

identidade própria e única. Estas construções, na Antigüidade, se

efetivaram principalmente através das genealogias preservadas pela

efetivaram principalmente através das genealogias preservadas pela

tradição oral, dos “mitos de origem”, e das crônicas e anais reais e

tradição oral, dos “mitos de origem”, e das crônicas e anais reais e

dinásticos.

dinásticos.

 Assim,

 Assim, para para uma uma rápida rápida abordagem abordagem dos dos mitos mitos de de origem origem e e dasdas

crônicas e anais reais, é exemplar ater-se a um dos mitos e

crônicas e anais reais, é exemplar ater-se a um dos mitos e tradições maistradições mais

conhecidos da tradição ocidental: o mito de

conhecidos da tradição ocidental: o mito de origem e as crônicas judaicas,origem e as crônicas judaicas,

integrantes fundamentais da tradição judaico-cristã.

integrantes fundamentais da tradição judaico-cristã.

Butterfield, citado em Le

Butterfield, citado em Le Goff, analisa o caso hebraico:Goff, analisa o caso hebraico:

Nenhuma nação – nem mesmo a Inglaterra com

Nenhuma nação – nem mesmo a Inglaterra com

a Magna Carta –

a Magna Carta – esteve alguma vez tão obsecadaesteve alguma vez tão obsecada

(sic!) pela história, e não é estranho que os

(sic!) pela história, e não é estranho que os

 Antigos

 Antigos Judeus teJudeus tenham revelado nham revelado poderosos poderosos dotesdotes

narrativos e tenham sido os primeiros a produzir

narrativos e tenham sido os primeiros a produzir

uma espécie de história nacional, os primeiros a

uma espécie de história nacional, os primeiros a

fazer um esboço da história da humanidade desde

fazer um esboço da história da humanidade desde

a Criação. Atingiram uma grande qualidade na

a Criação. Atingiram uma grande qualidade na

construção da pura narrativa, especialmente na

construção da pura narrativa, especialmente na

de acontecimentos recentes, como no caso da

de acontecimentos recentes, como no caso da

morte de David e da sucessão ao seu trono. Depois

morte de David e da sucessão ao seu trono. Depois

do Exílio concentraram-se mais no Direito que na

do Exílio concentraram-se mais no Direito que na

história e voltaram a atenção para a especulação

história e voltaram a atenção para a especulação

sobre o futuro, em especial sobre o fim da ordem

sobre o futuro, em especial sobre o fim da ordem

terrestre. Em certo sentido, perderam contacto

terrestre. Em certo sentido, perderam contacto

com a terra. (BUTTERFIELD, 1973, p. 466, apud

com a terra. (BUTTERFIELD, 1973, p. 466, apud

LE GOFF, 1985, p. 186)

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Essa obsessão dos antigos hebreus pela história os torna

Essa obsessão dos antigos hebreus pela história os torna ideais paraideais para

a análise dos mitos de origem e crônicas reais.

a análise dos mitos de origem e crônicas reais.

Os hebreus fundam sua “identidade social e cultural” numa

Os hebreus fundam sua “identidade social e cultural” numa

perspectiva introvertida, de legitimação do ordenamento teocrático da

perspectiva introvertida, de legitimação do ordenamento teocrático da

sociedade por meio de um mito de origem centrado na revelação e na

sociedade por meio de um mito de origem centrado na revelação e na

escolha do povo como eleito de Deus. (OBS: Não se usam aqui os termos

escolha do povo como eleito de Deus. (OBS: Não se usam aqui os termos

nação e nacional para a análise dos tempos primitivos das sociedades

nação e nacional para a análise dos tempos primitivos das sociedades

antigas, para não provocar confusão entre as sociedades antigas e os

antigas, para não provocar confusão entre as sociedades antigas e os

modernos estados nacionais, que tão pouco têm em comum.)

modernos estados nacionais, que tão pouco têm em comum.)

Mas onde tudo isso está registrado?

Mas onde tudo isso está registrado?

Este mito de origem se funda numa cosmogonia que identifica

Este mito de origem se funda numa cosmogonia que identifica

a criação do Universo como o primeiro passo no processo da eleição

a criação do Universo como o primeiro passo no processo da eleição

dos hebreus a povo escolhido de Deus. Fruto de uma consolidação

dos hebreus a povo escolhido de Deus. Fruto de uma consolidação

escrita posterior das tradições orais eloísta e javista, além das fontes

escrita posterior das tradições orais eloísta e javista, além das fontes

deuteronômica e sacerdotal, mais recentes, a cosmogonia hebraica se

deuteronômica e sacerdotal, mais recentes, a cosmogonia hebraica se

encontra no Pentateuco, conjunto dos primeiros cinco livros da Bíblia:

encontra no Pentateuco, conjunto dos primeiros cinco livros da Bíblia:

Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e

Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.Deuteronômio.

Nesse processo, cada um dos livros contém uma faceta específica no

Nesse processo, cada um dos livros contém uma faceta específica no

processo de constituição da identidade hebraica. No

processo de constituição da identidade hebraica. No Gênesis, se constróiGênesis, se constrói

a criação do universo e do homem; a vida paradisíaca dos primórdios e a

a criação do universo e do homem; a vida paradisíaca dos primórdios e a

posterior queda do gênero humano; a escolha por Deus do clã

posterior queda do gênero humano; a escolha por Deus do clã de Abraãode Abraão

para ser tronco e linhagem do povo eleito para religar os laços rompidos

para ser tronco e linhagem do povo eleito para religar os laços rompidos

quando da queda do Paraíso: os hebreus.

quando da queda do Paraíso: os hebreus.

No livro do Êxodo, se elabora a

No livro do Êxodo, se elabora a criação da identidade cultural destecriação da identidade cultural deste

povo eleito, quando das provações no Egito e no êxodo propriamente

povo eleito, quando das provações no Egito e no êxodo propriamente

dito, período em que se dá toda a ordenação social, moral e ética da

dito, período em que se dá toda a ordenação social, moral e ética da

sociedade hebraica em meio à migração pelo deserto do Sinai rumo à

sociedade hebraica em meio à migração pelo deserto do Sinai rumo à

Terra Prometida.

Terra Prometida.

O livro do Levítico estrutura a dimensão religiosa e teocrática da

O livro do Levítico estrutura a dimensão religiosa e teocrática da

sociedade hebraica, consagrando ao mesmo tempo a especificidade

sociedade hebraica, consagrando ao mesmo tempo a especificidade

hebraica e as relações de dominação teocrática dentro da sociedade dos

hebraica e as relações de dominação teocrática dentro da sociedade dos

hebreus, com a hegemonia sacerdotal e política da tribo de Levi.

hebreus, com a hegemonia sacerdotal e política da tribo de Levi.

O livro de Números traz a explicitação demográfica da eleição

O livro de Números traz a explicitação demográfica da eleição

divina dos hebreus através da descrição de linhagens genealógicas

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   T  e   o   r    i  a    d  a    H    i  s    t    ó  r    i  a    1 29 UNIDADE 2 remontando a Adão, primeiro homem e fundador do povo eleito e a fase

final da jornada do povo pelo deserto até a chegada à terra prometida na Palestina.

No Deuteronômio, se faz a reelaboração consolidada do processo descrito nos quatro primeiros livros do Pentateuco, já sob o olhar da consolidação das hegemonias internas na sociedade hebraica posterior.

Habilmente inserida numa dinâmica historicamente definida, essa tradição, fundada numa mítica de criação e eleição, se prolonga com a ocupação da terra prometida, narrada nos livros de Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel.

Os livros de I e II Reis narram a consolidação da estrutura monárquica e a crise do modelo teocrático em Israel. São livros que marcam a transição da tradição mítica cosmogônica para a legitimação dessa tradição nas camadas superiores da sociedade judaica através da enumeração das linhagens monárquicas e crônicas reais, com um olhar claro do Reino de Israel.

Os livros de I e II Crônicas, retomam a narração de I e II Reis numa perspectiva de restauração religiosa, mas sob o olhar do núcleo sacerdotal do Templo de Jerusalém, no Reino de Judá. Os livros de II Reis e II Crônicas terminam na mesma conjuntura: a deportação de Israel e  Judá para a Babilônia.

Os livros de Esdras e Neemias tratam do retorno da Babilônia e da restauração do Templo. Os livros de I e II Macabeus, deuterocanônicos, narram as lutas dos judeus contra os helenistas selêucidas.

É nessa perspectiva histórica que se funda a identidade cultural hebraica e, mais tarde, a identidade política judaica, num processo de transição do tribal ao político exemplar da tradição da escrita da história na Antigüidade Oriental.

Mas será que foi só no Israel antigo que as coisas aconteciam assim?

Outras sociedades podem ser vistas no Oriente a partir do IV milênio antes de Cristo, na mesma perspectiva. Le Goff enuncia que

No Médio Oriente, esta preocupação com acontecimentos datados parece sobretudo ligada às estruturas políticas: à existência dum estado e, mais especificamente, de um estado monárquico.

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   U  n    i  v  e   r   s    i    d  a    d  e    A    b  e   r    t  a    d  o    B  r   a   s    i    l 30 UNIDADE 2

Inscrições que descrevem as campanhas militares e as vitórias dos soberanos, lista real suméria (cerca de 2000 a.C.), anais dos reis assírios, gestas dos reis do Irão antigo que se reencontram nas lendas reais da tradição medo-persa antiga, arquivos reais de Mari (século XIX a.C.), de Ugarit e de Rãs Samra, de Hattusa a Bogarkzöy (século XV a XIII a.C). (LE GOFF, 1985, p. 185)

Todas essas formas de escrita da história no Antigo Oriente Próximo são voltadas para dentro da sociedade, introvertidas, com função principal de legitimação interna do poder político ou teocrático-político. É uma forma de historiografia voltada para o interior da sociedade, constituinte de identidades sociais através dos mitos de origem e da inserção das linhagens e/ou dinastias governantes como expressão da continuidade desses mitos.

Porém, a diversidade de concepções históricas no Antigo Oriente Próximo vai muito além da lógica da eleição presente no Antigo Israel e dos povos da Mesopotâmia. No Extremo Oriente você verá agora o caso da cultura chinesa clássica, onde a função da escrita da história era algo completamente distinto do que foi visto até aqui e também de praticamente tudo o que você conhece como função do conhecimento histórico.

SEÇÃO 3

O Extremo Oriente: o Caso da China

No Antigo Extremo Oriente, a função da escrita da História era radicalmente diferente daquelas existentes na tradição ocidental. Para exemplificar essa questão você vai tomar contato agora com a as concepções de história em uma das sociedades exemplares do Antigo Extremo Oriente: A China Clássica.

Os primórdios da historiografia chinesa se prendem, como os demais inícios historiográficos, ao duplo de mitos de origem e anais e/ou crônicas reais. A tradição faz de Confúcio o pai da história da China, quando lhe atribui a autoria dos cinco Clássicos (Whu King), que são a base da cultura

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   T  e   o   r    i  a    d  a    H    i  s    t    ó  r    i  a    1 31 UNIDADE 2 que abarca os tempos primitivos e lendários da China (±2357 a 1122

a.C., pela cronologia ocidental cristã) e a Crônica das Primaveras e dos Outonos (Tch’chuen Ts’ieu), que narra os fatos notáveis do reino de Lu,

pátria de Confúcio, de ±722 a 481 a.C. Embora a crítica moderna ponha em questão a autoria confuciana destas obras, elas são importantes como expressões das formas de escrita da história na China arcaica.

E como essa visão mítica e moralista se transforma?

 A partir do século VIII a.C., a historiografia chinesa abandona, paulatinamente, os “mitos como relato dos nascimentos maravilhosos de soberanos imaginários, exaltação da idade de ouro original, fábula das grandes invenções e canto das proezas sobre-humanas” (CARBONELL, 1987, p. 44). Ela se torna documental e rigorosamente analítica.

O encargo da escrita da história passa a ser atribuído aos áugures, “homens encarregados de dizer o futuro, de o ordenar nos seus calendários benéficos, distinguindo-lhe os dias fastos dos nefastos. (CARBONELL, 1987, p. 45)”. São eles que dão à China a sua primeira memória fiel, anotando os acontecimentos que testemunhavam e que serviam de matéria-prima para a confecção de anais que continham trechos extraídos das chancelarias reais e indicações augurais. Desta forma, surgiram, do século V ao III a.C. os Anais do país de Tsin, do país de Wei e do país de

Lu (CARBONELL, 1987, p. 45).

Com a unificação da China em 221 a.C. e a destruição da ordem feudal pelos imperadores Han, a história muda de estatuto, sendo-lhe atribuída, na classificação bibliográfica elaborada por Tcheng Mo no século III a.C., uma das quatro maiores categorias, junto com os clássicos, as obras literárias e os escritos filosóficos.

Neste processo, porém, consolida seu caráter augural e burocrático. Sob os Han,

Foi criado o cargo de arquivista da corte; seguiu-se o de historiógrafo. Não tardou a surgir um ofício dos historiógrafos e foram criadas comissões historiográficas para compor biografias imperiais e histórias dinásticas. Foi assim que os historiadores entraram na burocracia celeste. (CARBONELL, 1987, p. 46)

Referências

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