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5 UMA PEDAGOGIA NOVA: A INVENÇÃO DE QUEM ENVELHECE

5.4 VÃO CHEGANDO AS MULHERES: DE-VA-GA-RI-NHO

O Fórum Permanente em Defesa do Idoso, por meio de seminários, debates, manifestações públicas sobre a problemática do envelhecimento, busca, com esforço especial, o engajamento das mulheres que participam dos grupos de convivência na luta pela afirmação e (re)afirmação das pessoas idosas como sujeito de suas ações, empenhando–se para sua inserção crítica na situação concreta em que se encontram. Esse processo se faz pelo estímulo á participação delas nas manifestações em defesa da Previdência Pública, em defesa do direito de ir e vir sem constrangimentos nos transportes coletivos gratuitos, nas ações em favor da punição de seus agressores/as, na defesa da participação do idoso/a na definição e gestão de políticas públicas destinadas a melhorar seu modo de vida, aliados aos seminários e encontros para refletir sobre os resultados desses eventos, discutir sobre as questões específicas da opressão das mulheres por serem mulheres e traçar novos encaminhamentos dessas ações. Essas mulheres idosas, porém, tiveram dificuldades para expressar o entendimento da participação delas nessas manifestações públicas. Não é difícil inferir de suas trajetórias de vida a interpretação de tal situação; a participação dessa geração de mulheres nas atividades de cunho político, ainda que na fase inicial, é uma experiência muito nova para elas.

Não obstante, essa nova experiência já vem contribuindo para que suas vidas assumam outros sentidos, com a reelaboração das representações e significados que tradicionalmente orientaram suas práticas. Tais práticas, educação e cuidado de filhos, assistência às pessoas mais vulneráveis, crianças, idosos e enfermos, organização e execução do trabalho domiciliar, dentre outras, foram conformadas

nos limites do processo de socialização para a subordinação, voltado para a atuação no universo doméstico privado, do qual estavam ausentes as discussões dos temas e o envolvimento na dinâmica do mundo público, no qual se desenvolvem as tramas das decisões sociais. Com as atividades promovidas pelo Fórum Permanente em Defesa do Idoso, direcionadas principalmente a esse público, as idosas começam a perceber de forma mais crítica seu cotidiano e pensar outros caminhos a serem pisados, nos quais sejam enfrentados e desconstruídos os estereótipos que marcaram suas vidas e ainda perpassam por toda a sociedade.

“A gente tem muita palestra aqui. Tem palestra com advogado, tem palestra com outras pessoas. É muito bom, porque pelo menos a gente aprende, tem conhecimento. (Tanira – 23/07/07 – CSU).

“Já teve várias vezes palestras sobre os nossos direitos. O que é que a gente pode fazer, o que é que não pode. A gente só não deve é tá discutindo com o povo sobre o nosso lugar no ônibus. Se o lugar é nosso eles têm que dar sem a gente tá pedindo”. (Nelma – 23/07/2007 – CSU).

“O idoso nem sempre é respeitado. Lá no meu bairro, graças a Deus, são raros os que não tratam bem a gente, porque nós sabemos do nosso direito”. (Aldina – 04/12/08 – SESC).

“[...] a pessoa idosa tem direito a transporte de graça, né? Se precisar tem a delegacia da gente prá ir. Se a gente não sabe alguma coisa, pede orientação, tem advogado que pode orientar. O movimento dos aposentados é a favor do idoso, a gente não está sozinha.” (Camerina – 22/11/2008 – ASAPREV).

“[...] a parte da carência que todo mundo acha que é só passeio, mas não é só isso não [...] é tanto idoso [...] que entregou a carteirinha com a senha prá neto, filho e que hoje está sofrendo por falta de dinheiro!.” (Etelina – 12/07/07 – CSU).

O caráter pedagógico dessas ações que levam à organização das pessoas idosas que começam, criticamente, a se autorreconhecerem como destituídas de poder, constrói nessas pessoas um saber da realidade que as desafia a atuarem sobre ela como suas reelaboradoras. Assim é que elas entendem.

“Eu digo que nós temos o Estatuto do Idoso, mas infelizmente tem muita gente que tem o Estatuto porque recebeu o livrinho; todo grupo de idosos por si mesmo deveria, uma vez no mês, estudar um pedacinho, porque quase ninguém vai abrir o livro para ler sozinho, nem fazer nada sozinho não... Eu sei que tem o direito no transporte, mais eu não vou gritar sozinha, quem vai me garantir que eu não vou ser agredida quando eu for reivindicar?” (Olinda – 18/07/07 – CSU).

“[...] se é o governo, o pessoal do governo que devia ajudar a gente, fica roubando e deixa a saúde do jeito que tá; veja o quê que eles estão fazendo da vida dos

modernos? Os idosos tão vivendo e os modernos tão morrendo [...] porque deu pro que não presta, porque não teve educação [...] o que é que a policia faz? Mata.” (Marina – 18/07/07 – CSU).

“[...] eu tenho direito a não ficar em fila; a ser a primeira a ser atendida; sei a minha fila que eu tenho que pegar. Ja ouvi muita coisa por causa disso. Ai eu disse: meu filho, leia o Estatuto do Idoso que você vai saber se eu estou fora da lei ou não. Muitos lugares que eu ando eu protesto. Ate no ônibus eu falo com o motorista: não fique de cara feia que você tem obrigação de receber a gente alegre e se fosse sua mãe ou sua avó que entrasse aqui você iria tratar bem [...] então não fique assim não que isso é muito triste...seja feliz como eu sou e peça a Jesus que você chegue a minha idade.” (Elisângela – 02/12/08 – SESC).

“Ah! agora estou batendo palma, essa semana eu fiquei dois dias de vigília. Porque não pude ir pra Brasília com Gilson Costa e eu fiquei na frente da televisão até Paulo Paim falar sobre os direitos dos aposentados que trabalhou a vida toda, pagou a previdência, deixou de comer, deixou de educar seus filhos para pagar 20 salários mínimos e hoje recebe dois (SM). Daqui há uns dias vai receber um ou ½ salário mínimo.” (Anália – 02/12/2008 – SESC/ASAPREV-BA).

E os saberes que mais aparecem nos discursos dos idosos/as são referentes aos direitos previdenciários, aos transportes coletivos e à violência contra a pessoa idosa, tema pautado para o próximo capítulo. Isso retrata um domínio maior exatamente daqueles temas que correspondem às principais lutas que o Fórum tem encampado. Demonstram, então, um maior desenvolvimento da consciência de direitos com o trabalho realizado pelo Fórum. A divulgação do Estatuto do Idoso e outras definições legais da política da pessoa idosa pela sistematização de suas definições apresentadas em palestras, seminários, debates, têm servido, desse modo, para ampliar os conhecimentos dos/as participantes desse movimento, sobre os direitos a que fazem jus os que envelhecem, como têm revelado seus depoimentos. Tais conhecimentos não bastam para mudar as relações de dominação geradoras de desigualdades, mas sem seu domínio a luta política não se efetiva e sem luta política não se faz possível a construção de novos valores, de uma outra sociedade ancorada no reconhecimento da igualdade, respeitando as diferenças. Essas ações políticas vêm propiciando um grau maior de consciência dos/as idosos/as sobre a situação de opressão em que se encontram na vida real. Com tal ferramenta, num exercício cotidiano, eles/as vêm desafiando para o cumprimento de seus direitos e assim contribuindo para transformar sua realidade, colocando com firmeza sua voz na escuta, principalmente daqueles/as que nunca quiseram ouví-los.

A Casa do Aposentado, na qual o Fórum está sediado, é referência, quando tratam da organização das atividades de cunho político e discussões sobre os direitos da pessoa idosa. Os grupos de convivência e outras entidades que trabalham com idosos/as não tomam a iniciativa de promover ações reivindicativas, segundo informações, principalmente, das/os participantes desses grupos. É na Casa do Aposentado que buscam apoio quando compreendem que seus direitos, enquanto cidadãos/ãs, estão sendo violados.

“A Casa do Aposentado, [...] é que mais trabalha, que mais discute e dá esclarecimento sobre os nossos direitos. Nos outros lugares não trabalham. Lá no SESI está começando a trabalhar agora por minha causa. Eu falei com Maria que é a assistente social de lá que por minha causa apresentou o livro [Estatuto do Idoso] para todo mundo lê e está marcando o dia para esclarecer, falar... Aqui [SESC] quase ninguém conhece esse livro.” (Zônia – 01/12/2008 – SESC/ASAPREV-BA). “Porque a Casa do Aposentado tem batalhado muito a nosso favor. A Casa do Aposentado dirigido por Gilson tem trabalhado muito a favor dos aposentados”. (Evandro – 12/12/ 2008 – SESC).

“Essas atividades que participo são sempre promovidas pela Casa do Aposentado.” (Walmon – 27/10/2007 – ASPREV-BA).

“A Casa do Aposentado convida muito, é sem comentário, porque se a gente está lá dentro [nos grupos de convivência de idosas/os] é para participar também desses encontros, eles convidam muito.” (Olinda – 18/07/07 – CSU).

“[...] qualquer pessoa que aborrecer a gente na rua a gente pode vir aqui prá resolver. Aqui [casa do aposentado] tem quem cuida da gente, Tudo isso é muito bom, né?” (Camerina – 22/11/2008 – ASAPREV-BA).

“[...] esse movimento da Casa do Aposentado é muito importante, porque a gente aprende como defender os nossos direitos de cidadão; esse movimento. as reuniões... já fui duas vezes em Brasília correr atrás de nossos direitos [...] nunca é tarde para se lutar, né?” (Gerônimo – 29/09/2007 – ASAPREV-BA)

“[...] quando a mulher do meu filho botou ele na justiça a intimação veio pra ele; o pessoal falou que eu devia dar a despesa prá menina. Eu fui procurei dona Penha [...] na Casa do Aposentado; ela me disse: ‘não se preocupe se você receber intimação [...] pode vir me procurar.” (Tanira – 23/07/07 – CSU).

“[...] é mais na Casa do Aposentado, o grupo dos aposentados que preparam esses esclarecimentos sobre o direito do idoso. Principalmente a Casa do Aposentado. (Etelina – 12/07/07 – CSU).

“[...] a gente agora tá indo mais para as entidades [...] aquela entidade dos aposentados alí na Mouraria. [Casa do Aposentado]. Eles convidam a gente pra”s palestras.” (Aurino João dos Santos – 05/12/2008 – SESC).

“Eu sei que existe essa organização aqui na Bahia, [a Casa do Aposentado] mas exatamente o local onde funciona eu ainda não sei, não.” (Agnelo – 03/12/2008 – SESC).

Como já venho enfatizando anteriormente, os/as idosas que militam e os que têm menor nível de participação no movimento político pensam de forma diversa suas estratégias de ação para conquistar seus direitos e fazerem-se sujeitos. As representações dessa dinâmica, marcadas decisivamente pela dimensão social de gênero, justificam-se desde o nível de envolvimento no processo reivindicativo em que os homens estão, em maioria, nas entidades que lideram as ações de cunho político. A conscientização das mulheres dos grupos de convivência para tal processo está se iniciando e até por isso o posicionamento delas ainda está vacilante, mergulhado profundamente na cultura de negação do confronto como estratégia de solução dos conflitos. Entendem o investimento na educação como a solução para se alcançar o respeito aos mais velhos e seus demais direitos, até mesmo aquelas com um maior nível de consciência política. Tal cultura veiculada no processo de socialização constitui-se como elemento marcante na estruturação de suas práticas.

“Seminários gratuitos de esclarecimentos. Seminário para esclarecer as leis de todo país. Devia ter seminário para os aposentados, que é minha classe. Seminário para empresa de ônibus para ensinar como deve tratar o idoso. Os motoristas horrivelmente mal educados. [...] Tinha que ter seminários para conscientizar os donos de empresa, os motoristas para tratar bem os idosos.” (Zônia – 01/12/2008 – SESC/ASAPREV-BA).

“[...] eu acho que devia ter alguma atividade prá que tenha um pouco mais de respeito, é preciso mais reunião prá se ter mais respeito pro nosso lado. Da parte dos idosos têm que respeitar os mais jovens também.” (Nelma – 23/07/2007 – CSU).

“Educar o motorista, educar o pessoal que sobe, que desce, mas começando da gente mesmo que faz essa mistura toda oitenta, uma confusão... [...] não só para idoso, mas também para os não idosos saberem o direito, garantir o que é de Lei e respeitarem a gente, né?” (Olinda – 18/07/07 – CSU).

“Ah! eu acho que deve ter uma fiscalização melhor, entendeu, uma fiscalização nos ônibus prá ver todas essas coisas.” (Camerina – 22/11/2008 – ASAPREV-BA).

“Acho que tem que reivindicar mais, né. Os próprios idosos sair, fazer essa assembleia... [no sentido de manifestação reivindicativa] porque eu acho assim, a gestante deve respeitar os direitos das outras... os deficientes, os idosos também devem saber respeitar uns aos outros.” (Tanira – 23/07/07 – CSU).

“[...] e eu estou pedindo a todos, a cada pessoa, –Oh, meu filho, você é neto de um aposentado, você é filho de um aposentado, vocês vão se manifestar, porque a união é que faz a força, porque nós somos aposentados hoje e pensionistas e amanhã serão vocês. Então esse é o recado que eu quero dar não é só pro aposentado não, não é só pro pensionista não, é pro Brasil inteiro porque a maioria desses netos hoje depende do aposentado, que trabalhou e deixou de pagar o estudo para o filho porque fez o quê? Pagou a previdência social.” (Anália – 02/12/2008 – SESC/ASAPREV-BA).

Os homens, ao contrário, propõem ações mais bem elaboradas, mais radicais quanto a sua expressividade, com mais segurança quanto ao que deve ser feito.

“Para garantir esses direitos os aposentados devem se unir e fazer um movimento grande e forte para poder chamar a atenção das autoridades. Com essa luta, essa mobilização, garantimos os direitos e chamamos a atenção das autoridades.” (Walmon – 27/10/2007 – ASAPREV-BA).

“[...] 23 milhões de aposentados sofrendo. Nós vamos invadir aquele Congresso, o Senado, e fazer um “enxame” lá dentro. Vamos obrigar aqueles caras a assinar o nosso projeto.” (Gerônimo – 29/09/2007 – ASAPREV/BA).

“Eu acho o seguinte: que a atividade melhor para reivindicação, seria em plenário, entendeu? Na assembleia, na Câmara Municipal. Um dia desses, mesmo, foi o pessoal todo prá lá, prá Câmara Municipal prá discutir o problema do idoso e às vezes vai prá Assembleia também.” (Aurino – 05/12/2008 – SESC).

Quanto à crença nas possibilidades da luta política melhorar a situação de desautorização, consequência última do processo de destituição do poder de certos grupos de pessoas, por terem passado mais tempo na vida e não acumularam riqueza, por serem mulheres, ou negros/as, é carregada de ambiguidades, vacilações, incredulidade. Algumas pessoas observadas ou entrevistadas nesta pesquisa são totalmente descrentes quanto à eficácia da legislação relativa aos direitos dos idosos/as a uma vida com dignidade Outras têm duvidas, mas não deixam de reconhecer mudanças como consequência prática das ações políticas para sua efetivação.

“[...] eu acho que... eu nem sei dizer, viu? Acho que não ta garantido não [os direitos dos idosos/as]. Nem todos tão respeitando a gente mesmo não.” (Nelma – 23/07/2007).

“Então, eu acho prá mim que é muito difícil chegar a consertar as coisas como deve ser. Eu acho muito difícil! É difícil consertar [...] dá a impressão de que vai mudar, mas não é d’agora que tem feito isso [manifestações] já tem muito tempo e continua a mesma coisa.” (Samir – 11/12/2008).

“Embora a gente veja que nem é muito reconhecido [os direitos dos idosos/as] e começa pelos ônibus [...] eu até já fiquei assim meio acanhada para entregar aqueles folhetos na Lapa – ‘não sentem nesses lugares que são do idoso’. Depois disso os motoristas estão até melhorando, ficando mais conscientes.” (Etelina – 12/07/07). “Eu estou deixando de acreditar [...] estou perdendo a esperança, sim, porque o homem, Lula não quer dar o direito que a gente tem; estou perdendo a fé, porque ele não dá nada ao aposentado, ele está muito cruel com os aposentados para o que ele era, para o que ele lutou [...] ele desprezou as partes que elegeu ele. Ele fez alguma coisa boa, foi dá direito de aposentadoria a quem não estava contribuindo, mas de resto. só está enriquecendo quem é rico e agora eu não estou votando mais, não pela idade, mas porque não tenho mais interesse.” (Leandro – 16/10/07 – ASAPREV-BA).

Mas é também carregada de certezas:

“Acredito. Acredito. Com certeza porque é lógico [...] mas nós temos que entender o que a história mostra. Que houve evolução em todas as situações da vida humana. E esta evolução é muito por conta [...] dos próprios movimentos que buscam reivindicar os direitos, por exemplo, os negros tão até hoje lutando pelos seus direitos, né?” (Agnelo – 03/12/2008).

“[...] pode sim trazer benefícios para os aposentados, eu acredito nisso; ainda não houve muitos benefícios, mas estamos lutando prá isso, o governo ainda não olhou prá gente, mas estamos lutando prá isso, acredito que nós lutando podemos conseguir, tenho fé que a luta vai reverter esta situação.” (Walmon – 27/10/2007). “Tem idoso aí que a gente dá o livro [Estatuto do Idoso] a ele, ‘Isso aí não vai surtir efeito’.Oh! você tem que acreditar!. A gente tá com esse mundo cheio de lutas, como é que você não vai acreditar que amanhã a gente vai escolher alguém pra governar melhor? Acabar a esperança que você tem? Tem que ter, a esperança é a última que morre! E a vida fica aonde? Não é porque o cidadão tá idoso, ‘Ah! porque estou no fim da vida’... Fim da vida é “estória”, eu não estou no fim da vida coisa nenhuma!” (Anália – 02/12/2008 – SESC/ASAPREV-BA).

“Acredito, acredito, e já vi alguns benefícios que se conseguiu prá muitos aposentados aqui na Bahia. Contra as perdas, então, é uma luta antiga, alguns até já conseguiram aqueles 147%!” (Evandro – 12/122008).

As mulheres que acorrem aos grupos de convivência e “terceira idade” têm suas ações voltadas, principalmente, para trabalhos que foram definidos como próprios do sexo feminino, artesanato, corte e costura, artes diversas. Desse modo, a agenda desses grupos se distancia do planejamento de atividades reivindicativas

que impliquem em manifestações políticas. Em função disto, a criação do Fórum Permanente em Defesa do Idoso, como anteriormente enfatizado, aponta para seu alvo principal: o convencimento das pessoas desses grupos, as mulheres idosas, que não se envolviam com as ações políticas do movimento, conforme apontam as pesquisas. Mas hoje elas são a maioria dos presentes em muitos seminários e discussões sobre direitos e condições de vida dos/as idosos/as promovidos pelo Fórum.

Para facilitar a articulação com esses grupos foi escolhida para coordenar o Fórum, uma mulher assistente social recém – aposentada da coordenação do setor de recursos humanos do INSS, em Salvador, com experiência, sobretudo, em liderança, isto é, uma trajetória de trabalho que a credencia para aglutinar, essas organizações que têm como tarefa cuidar do bem-estar dos velhos e velhas, como ela assegura em seu depoimento no dia 23/11/2009: “Eu tinha em Lauro de Freitas um programa com idosos na escola do Rotary. No SESI, eu fui diretora do serviço social 21 anos. Lá não tinha trabalho com idosos, ai eu fundei o grupo de aposentados de lá, que vai fazer 30 anos agora” E como pelos postulados ideológicos de gênero o cuidar se constitui em papel das mulheres, não cabe estranhamento à presença massiva delas, tanto como membros quanto como coordenadoras nessas entidades, visto que em geral as mulheres se incorporam ao mercado de trabalho assumindo funções análogas às atividades realizadas no âmbito doméstico. Até mesmo quando investem em postos públicos não fogem a este padrão, como registrado por Costa (1998, p. 78):

[...] a atuação da mulher [...] gravita ao redor de atividades que, de certa forma, refletem também o mundo privado. Quando raramente alcançam os altos postos da hierarquia burocrática do aparelho estatal, são como secretárias de educação e bem-estar-social. No Brasil, poucas foram as mulheres que conseguiram chegar aos altos escalões dos ministérios considerados de maior importância para a estrutura político-administrativa...

Não é outra a razão pela qual as reuniões e atividades promovidas pelo Fórum conseguem agrupar um contingente muito significativo de mulheres. Grande parte delas assistentes sociais de Instituições que desenvolvem trabalho de assistência ao envelhecimento e com razoável influência nessas organizações, investidas do micropoder que lhes confere o lugar de gestoras da velhice. A Delegada Márcia Telma, da Delegacia do Idoso, preferiu delegadas e outras policiais mulheres para compor sua equipe justificando que

“[...] a mulher tem mais sensibilidade neste tipo de trabalho, tem mais jeito pra trabalhar com homens e mulheres que estão numa situação de muita vulnerabilidade, necessitando muito de um carinho, de uma palavra de conforto, de um chazinho. Quantas e quantas vezes chegam aqui e, antes até mesmo de falarem, a gente sente o estado que eles estão. Aí então, a gente vai e dá um chazinho. Tudo isso a mulher, eu acho que pela própria formação dela e também pela própria cultura, tem mais jeito.” (Delegada Márcia Telma Bithencourt – 24/09/2008).

Marise, por razões semelhantes, incluiu cinco mulheres em sua equipe para dirigir a FEASAPEB, um contingente feminino na direção dessa entidade nunca antes imaginado

“[...] não porque eu seja mulher, mas é que eu percebo que a mulher tem uma característica de organização, tem uma forma de controle muito produtiva, até pela educação que nós recebemos, né? A gente assimila essa organização e esse controle. Além disso, eu acho que nós temos uma habilidade política exemplar, é uma característica feminina que é muito positiva para o movimento político, porque a gente sem agressividade, sem briga vai colocando tudo que é preciso colocar.” (Marise Costa Sansão – 23/09/08).

O Presidente da Casa do Aposentado explica o convite feito a Maria da