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Vantagens didático-pedagógicas dos objetos de aprendizagem

3.2 Objetos de aprendizagem

3.2.4 Vantagens didático-pedagógicas dos objetos de aprendizagem

A inclusão das TICs, ou de qualquer outra ferramenta, no ambiente educacional não representa uma garantia de aprendizado tampouco, uma melhora do processo de ensino- aprendizagem. Antes de incorporar um novo recurso a sua prática pedagógica, o professor precisa conhecer as suas possibilidades de uso para de fato ampliar as condições de aprendizagem dos seus estudantes, ou seja,

[...] caracterizar uma ferramenta em si, em vez de, o seu uso adequado, como um recurso didático, é uma impropriedade. Qualquer componente que se queira inserir na educação exige que se tenha um conhecimento [prévio] de sua aplicabilidade, para definir o que é apropriado no seu emprego em termos de conteúdo, metodologia e objetivos. Inclusive lembrando que o conteúdo de cada disciplina tem características próprias que exigem soluções específicas. (SÁ FILHO; MACHADO, 2003, p. 1).

O desenvolvimento e uso de objetos de aprendizagem como forma de articular o processo de ensino-aprendizagem também precisam ser pensados e avaliados pelo professor, visto que a incorporação desses recursos educacionais digitais no processo de ensino- aprendizagem não indica que o estudante se desenvolverá melhor e mais rápido. A aprendizagem constitui-se de um processo de apropriação dos significados e reestruturação de conceitos já formados, o qual demanda uma duração própria em cada sujeito, uma vez que

depende de seu engajamento pessoal. Ensinar não significa repassar informações; para aprender o sujeito precisa internalizar os significados socializados, reelaborando-as por meio da comparação e avaliação com os conhecimentos já consolidados (VIGOTSKI, 2007, p. 56), de forma não linear e num ritmo variável. Conforme os PCNs,

o desenvolvimento de capacidades, como as de relação interpessoal, as cognitivas, as afetivas, as motoras, as éticas, as estéticas de inserção social, torna-se possível mediante o processo de construção e reconstrução de conhecimentos. Essa aprendizagem é exercida com o aporte pessoal de cada um, o que explica por que, a partir dos mesmos saberes, há sempre lugar para a construção de uma infinidade de significados, e não a uniformidade destes. (BRASIL, 1997, p. 34).

É na perspectiva de formação de novos conceitos que um objeto de aprendizagem pode ser desenvolvido e inserido no processo de ensino-aprendizagem. Este recurso, ao abordar um conteúdo educacional relacionado a uma área do conhecimento, poderá fazê-lo propondo situações da vida real, do cotidiano. O estudante, ao interagir com o objeto de aprendizagem, traz consigo toda a sua história de vida, do lugar onde mora, a sua bagagem cultural, experiências vivenciadas e os conhecimentos consolidados; logo, interage com o recurso com toda esta carga de fatores pessoais, sociais e políticos. Cada estudante de uma turma tem a sua carga de fatores pessoais, sociais e políticos, sendo que poderá haver estudantes que possuam em comum os mesmos fatores. Caso o objeto de aprendizagem apresente uma atividade com conceitos ainda não compreendidos pelo estudante, para resolver essa atividade ele poderá compará-los com os conhecimentos que já consolidou; ou, ao observar os outros estudantes, tentar resolver a atividade por imitação; ou, até mesmo, socializar com professor e/ou com os colegas o seu entendimento sobre os conceitos abordados e junto com esses sujeitos resolver a atividade. Com essa interação com o meio e com os outros sujeitos que dele compartilham, o estudante reestrutura os seus conhecimentos e interage com o objeto de aprendizagem de forma ressignificada.

Por isso, todo o objeto de aprendizagem deve ser desenvolvido com base em objetivos pedagógicos a serem alcançados, os quais devem estar claros tanto para o professor, que irá incorporá-lo a sua prática, quanto para os estudantes, que irão se valer do recurso. Os objetivos pedagógicos de um objeto de aprendizagem determinam motivo de seu desenvolvimento, o porquê de seu uso e apresentam as vantagens didático-pedagógicas que

podem ser alcançadas com a sua utilização pelos estudantes em determinado momento e/ou contexto de aprendizagem.

Os objetos de aprendizagem não devem apenas se limitar a apresentar informações sobre determinado conteúdo educacional de uma área do conhecimento, mas também provocar a reflexão do estudante sobre o tema de estudo, por meio de atividades interativas, nas quais o estudante possa pensar e avaliar suas respostas, fazer outros questionamentos ao professor e/ou aos colegas, retomar o conteúdo e refazer suas atividades quantas vezes for necessário, inclusive propondo melhorias no recurso. Conforme Sá Filho e Machado,

um objeto que se limita a apresentar uma informação, mesmo tendo um objetivo educacional definido e claro, deveria ser classificado como objeto de ensino. Deixando a definição de objeto de aprendizagem para os objetos que comportassem algum tipo de resposta ao estudante, que lhe permitisse refletir sobre a reação do objeto. (2003, p. 5).

Longmire ([2000?]) também apresenta a sua preocupação quanto à forma como os objetos de aprendizagem articulam os conteúdos educacionais e ao modo como possibilitam que os estudantes contextualizem as informações, ou seja, que se apropriem dos significados dos conceitos. Para esse autor, os estudantes contextualizam informações explorando, experimentando, testando e aplicando os conhecimentos já consolidados.

Um objeto de aprendizagem representa um recurso educacional digital que o professor poderá desenvolver e fazer uso no processo de ensino-aprendizagem. Contudo, para desenvolvê-lo e utilizá-lo, o professor precisa identificar o conteúdo educacional que será abordado no objeto de aprendizagem; definir em que nível de ensino será essa abordagem e em que estágio (algo como conhecimento básico, intermediário, avançado); identificar que conhecimentos prévios o recurso deverá exigir, ou seja, qual deve ser o nível de desenvolvimento real dos estudantes que farão uso dele; verificar se o conteúdo educacional irá se referir a apenas a uma área do conhecimento ou poderá ser articulado em mais de uma área do conhecimento; avaliar se o objeto de aprendizagem poderá ser combinado com outro objeto de aprendizagem; identificar quais atividades poderão ser propostas após a utilização do recurso e, inclusive, verificar junto com os seus estudantes quais melhorias poderão ser implementadas nele. Isso tudo significa ter clareza dos objetivos pedagógicos de um objeto de aprendizagem.

Segundo Dall’Asta (2004, p. 81), o valor pedagógico de um material didático em mídia digital pode estar em atividades que reconheçam as diferenças de conhecimento, de interesses, de habilidades e de experiências dos estudantes; em atividades que exploram o erro como uma oportunidade de aprendizado e em atividades que permitam a reflexão e a construção social do conhecimento. Por isso, há a necessidade de enfatizar nesta pesquisa a importância de um objeto de aprendizagem apresentar objetivos pedagógicos definidos e claros para os sujeitos que irão utilizá-lo, pois não é “qualquer coisa” em mídia digital que pode ser considerada um objeto de aprendizagem.