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6. ANÁLISE DOS COLOCADOS DO CORPUS DA WEB

6.5 Verbo Postar

O verbo postar deriva do latim posto+-ar, que significa “pôr algo em certa posição ou local para ali permanecer algum tempo”. A origem desse verbo está na palavra poste ou

postalete, que era o local em que se colocavam placas indicativas de lugares ou logradouros.

Nesse sentido, o termo postar designava, outrora, o ato de afixar cartazes em postes com a finalidade de serem vistos pelas pessoas. Já atualmente, esse termo tem sido empregado para se referir ao compartilhamento de mensagens nas redes sociais. Nota-se, assim, que a diferença de sentido no emprego desse verbo em relação ao passado manifesta-se apenas no meio de veiculação da mensagem; se antes as mensagens eram afixadas num poste físico, hoje passaram a ser compartilhadas nas redes sociais.

É relevante salientar, também, que o verbo “postar” com o sentido de “enviar pelo correio” - sentido esse ausente em todas suas ocorrências no Corpus- tem outra origem, derivando do francês pôster. Por essa razão, não nos referimos a esse sentido ao falarmos do emprego do verbo postar nos dias atuais. Trataremos aqui de postar como verbo característico do contexto digital, sendo empregado com o sentido de “compartilhamento de mensagens em mídias sociais”. Esse verbo selecionou, no Corpus da Web, os seguintes complementos:

comentário, foto, vídeo, link, mensagem, anúncio, tutorial, bobagem e Tweet. Analisaremos, a

seguir, cada um deles.

O complemento comentário, dentro do contexto digital, está relacionado à comunicação escrita, exercendo a função de um gênero discursivo veiculado nas mídias sociais, como podemos notar nos exemplos a seguir:

(i)“Qualquer comentário é só postar lá no blog (...)”; (ii) “Que fotos e comentários ela costuma postar?”.

A partir dos enunciados (i) e (ii), nota-se que o colocado “postar comentário” refere-se ao ato de enviar uma mensagem de texto com ponderações acerca de uma publicação, uma foto etc. Os comentários são veiculados nas mídias sociais e, por sua materialidade textual, mesmo que virtual, revelam natureza concreta.

O complemento foto também é de natureza concreta e, como já mencionado, traz um novo “contêiner” para “armazenar” as ideias e informações. Segundo a teoria da Metáfora do Canal, apenas as palavras e os textos verbais funcionam como “recipientes de ideias”. Contudo, o Corpus da Web mostra complementos que evidenciam outros tipos de “recipientes”, como as fotos, por exemplo, que apresentam a imagem como “recipiente”, conforme podemos verificar nos enunciados (iii) e (iv):

(iii) “Evito postar fotos no Instagram de biquíni ou decote”; (v) (...) então, o que a gente mais faz é postar foto no Twitter”.

A partir dos exemplos, nota-se que o colocado “postar foto” está relacionado ao contexto das redes sociais digitais. No exemplo (iii), a foto é compartilhada no Instagram, enquanto no exemplo (iv) é tornada pública por meio do Twitter. Em ambos os casos, esse complemento tem natureza concreta, além de ser, semioticamnte auto-suficiente, não dependendo das palavras como “recipientes de ideias”. No enunciado (iii), por exemplo, o emissor declara que evita postar fotos de biquíni ou decote, o que indica que as fotos publicadas na rede social de uma pessoa apresentam informações relevantes sobre quem essa pessoa é, do que gosta etc. As redes sociais cresceram exponencialmente, inclusive aquelas utilizadas para compartilhamento de fotos, como o Instagram, por exemplo. Nesse sentido, podemos notar que a imagem tem se tornado cada vez mais relevante, tomando a forma de um recipiente que contém diversas informações a serem interpretadas pelo receptor.

O mesmo pode ser observado a respeito do complemento vídeo, que, assim como a foto, também é uma modalidade comunicativa, verbo-visual, de natureza concreta, característico do meio virtual de comunicação, conforme podemos verificar nos exemplos:

7 “(...) é ir até o canal do Google Chrome no Youtube e postar um vídeo sobre porque você quer um notebook e como você o usaria”;

8 “Para isso, nada melhor que fazer um vídeo e postar no Youtube, genial, não? Hahahaha assista!”.

Nos dois enunciados, temos exemplos do complemento vídeo sendo veiculado pela mídia Youtube, apesar de vídeos serem também compartilhados nas redes sociais. Assim como ocorre com a foto, no vídeo a imagem “contém” muitas ideias e informações, funcionando, cognitivamente, como seu recipiente. Geralmente, no vídeo, a imagem e a palavra são complementares, mas há casos em que o vídeo é formado apenas por imagens, que precisam “conter” toda a informação necessária para o receptor.

É relevante notar também que o verbo postar, no contexto digital, traz a noção de “tornar público”, sendo a comunicação caracterizada como o compartilhamento de conteúdo de um emissor para muitos receptores. Nesse sentido, quando alguém posta um vídeo no Youtube, por exemplo, esse vídeo fica disponível para ser visualizado por milhares de pessoas. Diferentemente do que ocorre no frame da Metáfora do Canal, em que o emissor envia as ideias diretamente para um receptor, o verbo postar não pressupõe o envio para um receptor específico, mas uma maneira de “colocar” o conteúdo numa plataforma para se tornar público para qualquer receptor que desejar visualizá-lo

O verbo postar também selecionou o complemento link, que é característico do contexto digital de comunicação, uma vez que é definido, segundo o dicionário Houaiss, como um “elemento de hipermídia formado por um trecho de texto em destaque ou por um elemento gráfico que, ao ser acionado (ger. mediante um clique de mouse), provoca a exibição de novo hiperdocumento”. Podemos dizer, desta forma, que um link é uma “ligação” entre documentos na internet, podendo ser ligações de um texto para outro texto, imagem, vídeo etc. Nesse sentido, o colocado “postar link” refere-se ao ato de compartilhar, nas mídias sociais, esses elementos de hipermídia, como podemos observar nos enunciados a seguir:

9 “É rápido, em menos de 3 minutos você consegue postar seu link e ajuda a ampliar a rede de informações”;

10 “Eu não sei se é permitido postar link aqui. Meu blogue se chama (...)”.

Diferentemente do link, o complemento mensagem não é específico do meio virtual, mas engloba todo o contexto comunicativo, sendo assim selecionado por todos os verbos analisados. Esse complemento, enquanto objeto do verbo postar, assume o caráter de gênero discursivo, apresentando, assim, natureza concreta, como podemos observar a seguir:

11 “Muitas mulheres, indignadas, começaram a postar mensagens no próprio Twitter”; 12 “Envie mensagens para postar no blog pelo e-mail: comunicacaocrbio04.gov.br

domingo”.

A partir dos enunciados, nota-se que o colocado “postar mensagem” remete ao compartilhamento de mensagens de texto nas mídias sociais, no caso dos enunciados, no Twitter e no Blog. O mesmo se pode observar em relação ao complemento anúncio que, segundo o dicionário Houaiss, significa “notícia ou aviso por meio do qual se divulga algo ao público” e, enquanto objeto do verbo postar, o compartilhamento de tal notícia ou aviso é realizado no contexto digital, conforme observa-se nos exemplos a seguir:

13 “Quantas pessoas milhares aprendendo a lidar com Voip e postar anúncios na internet”; 14 “Eles são remunerados por vender os pacotes de minutos, por postar anúncios na internet

e por angariar mais gente para a rede”.

O complemento tutorial apresenta, no dicionário Priberam, a seguinte definição: “conjunto de instruções ou explicações relativas a um assunto específico”. No contexto digital, o tutorial pode assumir a forma de uma gravação de vídeo, um documento escrito (online ou download) ou um arquivo de áudio, em que uma pessoa dá instruções passo a passo sobre como fazer alguma coisa. Nesse sentido, o colocado “postar tutorial” refere-se ao compartilhamento desse conjunto de instruções por intermédio das mídias sociais, conforme podemos notar a seguir:

15 “Espero que tenham gostado:) em breve irei postar o tutorial aqui e no Youtube. Beijinhooooooo!”;

16 “Camila querida, por favor, você poderia postar um tutorial falando como fazer a manutenção dos nossos pinceis?”.

É importante ressaltar, novamente, que, de modo distinto do que ocorre na teoria da Metáfora do Canal, quando se posta um tutorial ou qualquer outro conteúdo na internet, não há um receptor predefinido, nem tão pouco há controle de quais receptores poderão ter acesso ao conteúdo postado. A comunicação se dá de um emissor para muitos receptores.

O verbo postar também selecionou, no corpus, o complemento bobagens, que pode ser caracterizado como uma metonímia (valor pela mensagem). De acordo com o dicionário Houaiss, esse termo apresenta o significado de “dito ou ação inconveniente” e, enquanto complemento do verbo postar, bobagem apresenta o sentido de uma mensagem inepta, como podemos observar nos exemplos a seguir:

17 “(...) escreva sua própria resenha, não venha postar bobagens aqui no meu blog”; 18 “Sugiro que este que se diz "« blogueiro "» se informe antes de postar bobagens”.

E, para finalizar, o verbo postar selecionou o complemento Tweet, que é característico do contexto digital, visto que é o nome utilizado para designar as publicações feitas na rede social Twitter. Esse complemento se apresenta como um gênero digital, manifestando, assim, natureza concreta, como podemos observar nos exemplos:

19 “(...) nada mais natural que eu entrasse também na tuitoesfera e sentisse o gostinho de postar tweets”;

20 “Desde então, as coisas ficaram ainda mais estranhas quando ela começou a postar tweets e vídeos exibindo um comportamento cada vez mais preocupante”.

O termo Tweet em inglês significa, literalmente, “gorjeio” ou “pio de passarinhos”. Nesse sentido, a ideia do Tweet na rede social é uma comparação com a sequência de pequenas publicações que os usuários do Twitter fazem, já que só é possível apenas a postagem de textos com até 140 caracteres. O colocado “postar Tweet” significa, desta forma, o ato de tornar públicas as pequenas mensagens na rede social Twittter.

A partir dos colocados analisados, podemos constatar que o verbo postar, empregado no contexto digital, tende a selecionar apenas complementos concretos. Acreditamos que isso se dá pelo fato desse verbo, replicando a sua origem, pressupor uma comunicação escrita, a ser lida (“vista”) no contexto digital, o que o distanciaria da Metáfora da Canal, pela sua concretude textual. Além disso, com exceção do complemento mensagem, todos os demais

complementos foram selecionados apenas no Corpus da Web, sendo assim caracterizados como próprios do contexto digital de comunicação.

O verbo postar selecionou, no corpus, os complementos foto e vídeo, que trazem a imagem como novo tipo de “contêiner” para armazenar as ideias, não se limitando mais apenas ao uso das palavras. Esse verbo selecionou também os complementos link e Tweet, que são palavras recrutadas para o uso no contexto digital, sendo o Tweet considerado um gênero digital. Ademais, é importante salientar que o verbo postar se distancia do frame da Metáfora do Canal, uma vez que, além de apresentar complementos concretos, não se enquadra no princípio central da teoria, que é o envio de mensagens de um emissor para um receptor. O verbo postar não pressupõe movimento, e podemos observar isso a partir da etimologia da palavra; em sua origem, postar significava “pôr algo em certa posição ou local, para ali permanecer algum tempo” e, trazendo para os dias atuais, postar numa rede social nada mais é do que colocar um conteúdo em determinada plataforma, para ali permanecer e ser visto pelas pessoas. Não há envio de mensagem para um receptor específico, mas a mensagem é compartilhada ou “posta” numa rede social, e assim qualquer receptor tem acesso ao conteúdo compartilhado.

É relevante salientar, também, que não há, no corpus, ocorrência do verbo postar com o sentido de “postagem” (envio pelo correio). Acreditamos que isso se dê pelo fato de o Corpus da Web ser constituído por textos extraídos do contexto digital de comunicação e, nesse contexto, não há postagem de carta, mas envio (a carta é enviada via e-mail, por exemplo). Ademais, se observarmos os complementos selecionados pelo verbo, podemos notar que a grande maioria deles tem relação direta com o contexto digital de comunicação (comentário, foto, vídeo, link Tweet,etc.).

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