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A metáfora do canal no contexto da comunicação digital: uma questão de reenquadramento?

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM

MAYARA DE ARAÚJO MATTOS

A METÁFORA DO CANAL NO CONTEXTO DA

COMUNICAÇÃO DIGITAL: UMA QUESTÃO DE

REENQUADRAMENTO?

Niterói

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MAYARA DE ARAÚJO MATTOS

A

METÁFORA DO CANAL NO CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO

DIGITAL: UMA QUESTÃO DE REENQUADRAMENTO?

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem, da Universidade Federal Fluminense. Área de concentração: Linguística.

Orientadora: Profa. Dra. Solange Coelho Vereza

Niterói

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MAYARA DE ARAÚJO MATTOS

A METÁFORA DO CANAL NO CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO DIGITAL: UMA QUESTÃO DE REENQUADRAMENTO?

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem, da Universidade Federal Fluminense. Área de concentração: Linguística.

Aprovado em: _______________________________________________________________

Banca Examinadora:

__________________________________________ Profª. Drª. Tânia Mara Gastão Saliés

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

__________________________________________ Profª. Drª Tania Maria Granja Sheperd Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

__________________________________________ Profª. Drª. Solange Coelho Vereza

Universidade Federal Fluminense (UFF)

Niterói 2018

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, que iluminou o meu caminho durante esta longa jornada. Tudo o que eu vivi e recebi até aqui veio das mãos de Deus, e que tudo seja devolvido em glória e honra ao Seu nome.

Aos meus pais, por sempre me ajudarem com palavras de incentivo e pelo apoio incondicional. Agradeço por acreditarem em meu sonho e lutarem comigo pela realização dele.

A todos os meus familiares e amigos que, cоm muito carinho, nãо mediram esforços para quе еu chegasse аté aqui.

A minha orientadora Solange Vereza, por ter me ensinado a arte de pensar o trabalho acadêmico e pelo constante incentivo, sempre indicando a direção a ser tomada nos momentos de maior dificuldade.

Ao Gestum (Grupo de Estudos da Metáfora) pelo companheirismo e apoio. As contribuições de vocês foram imprescindíveis para a construção deste trabalho.

Às professoras Tânia Saliés e Tania Shepherd, membros da banca de Qualificação e Defesa de Mestrado, pelos conselhos, sugestões e interesse em contribuir para o desenvolvimento deste projeto.

A esta Universidade, sеu corpo docente, direção е administração, quе oportunizaram а janela em quе hoje vislumbro um horizonte superior.

À Capes, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela concessão da bolsa de Mestrado.

A todos que, mesmo não estando citados aqui, tanto contribuíram para a conclusão desta etapa. Áqueles que direta ou indiretamente fizeram parte da minha formação, o meu mais sincero agradecimento.

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"As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos."

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RESUMO

Tendo como base teórica a Linguística Cognitiva (GEERARDTS, 2006; FERRARI, 2014), este estudo tem como foco a Metáfora do Canal, proposta por Reddy (1979); mais especificamente, trata da relação entre a Metáfora do Canal e as novas formas de comunicação digital. Com a evolução da internet e a propagação das mídias sociais, o processo comunicativo tem sofrido algumas transformações, o que ocasiona mudanças também na maneira como as pessoas pensam e falam sobre a comunicação em si. Nesse sentido, seguindo os pressupostos da Linguística Cognitiva, acreditamos que a rede lexical acionada para se falar sobre um dado fenômeno revela as conceptualizações que constroem, cognitivamente, esse fenômeno. Investigar essas formas linguísticas emergentes e a maneira que se inserem no frame da Metáfora do Canal, ou, de alguma forma, o transformam, é, portanto, a proposta principal da presente pesquisa. Para tanto, foi empregada a Linguística de Corpus para analisar as possíveis instanciações da Metáfora do Canal no contexto digital de comunicação. A análise foi realizada com os colocados presentes no Corpus do Português (Corpus Geral e Corpus Web). Os resultados encontrados indicam que alguns termos, como os verbos “postar” e “publicar”, foram recrutados para o contexto digital de comunicação, representando, assim, a maneira como as pessoas pensam e falam sobre o processo comunicativo nesse meio : como “compartilhamento de mensagens”. Nesse sentido, pode-se concluir que o frame da Metáfora da Canal parece estar sendo atualizado e adaptado ao meio digital de comunicação, porém a ideia base desse frame (transmissão de ideias) ainda permanece presente nesse novo contexto comunicativo.

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ABSTRACT

Based on the theory of Cognitive Linguistics (GEERARDTS, 2006; FERRARI, 2014), this study focuses on the Conduit Metaphor, proposed by Reddy (1979); more specifically, it aims to discuss the relationship between the Conduit Metaphor and the new means of digital communication. With the evolution of the Internet and social media propagation, the communicative process has undergone some changes, which, in turn, affects the way people think and talk about communication itself. In this regard, following the assumptions of Cognitive Linguistics, we believe that the lexical network activated to talk about a given phenomenon reveals the conceptualizations that build, cognitively, this phenomenon. Investigating these emerging linguistic forms and the way they fit into the frame of the Conduit Metaphor or, somehow, transform it, is the main aim of the present research. To explore this goal, Corpus Linguistics was employed to analyze the possible instantiations of the Conduit Metaphor in communication digital contexts. The analysis was carried out with the collocates present in the “Corpus of Portuguese” (General Corpus and Corpus Web). The results found indicate that some terms, such as the verbs “post” and “publish”, were recruited to digital context communication, representing, thus, the way people think and talk about the communicative process in this context - such as “message sharing”. It is possible to conclude, therefore, that the Conduit Metaphor frame seems to have been updated and adapted to the digital context of communication; nonetheless, the basic idea of this frame (transmission of

ideas) is still present in this new communicative context.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Página inicial do site “O Corpus do Português” ... 37

FIGURA2: Corpora "Histórico/Gênero" e "Web/Dialetos" ... 37

FIGURA3: Página principal do site ... 38

FIGURA 4: Exemplo de pesquisa dos "colocados" de enviar ... 38

FIGURA 5: Frequência dos “colocados” ... 39

FIGURA 6: Contexto do colocado "comentário" ... 39

FIGURA 7: Verbos mais frequentes com o complemento "mensagem" ... 41

FIGURA 8: Colocados mais frequentes do Corpus Geral ... 42

FIGURA 9: Colocados mais frequentes do Corpus da Web ... 43

FIGURA 10: Contexto do colocado “enviar carta” ... 45

FIGURA 11: Resultado dos colocados do Corpus Geral ... 82

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 11

2. FUNDAMENTAÇAO TEÓRICA (I): METÁFORA NA PERSPECTIVA COGNITIVA ... 15

2.1 Linguística Cognitiva ... 15

2.1.1 Esquemas Imagéticos ... 19

2.1.2 Semântica de Frames... 19

2.1.3 Metáfora ... 21

2.1.3.1 Visão tradicional da Metáfora ... 21

2.1.3.2 Ascensão da Metáfora ... 23

2.1.3.3 Teoria da Metáfora Conceptual (TMC) ... 24

2.2 Metáfora do Canal ... 26

3.FUNDAMENTAÇAO TEÓRICA (II) COMUNICAÇÃO DIGITAL ... 31

3.1 A Linguagem na Comunicação Digital ... 31

3.2 Mídias Sociais Digitais ... 32

3.4 Redes Sociais Digitais ... 33

4. METODOLOGIA ... 36

4.1 Corpus do Português ... 36

4.2 Constituição do Corpus ... 40

5. ANÁLISE DOS COLOCADOS DO CORPUS GERAL ... 46

5.1 Verbo Enviar ... 46

5.2 Verbo Transmitir ... 50

5.3 Verbo Mandar ... 53

5.4 Verbo Receber ... 56

5.5 Verbo Levar ... 58

6. ANÁLISE DOS COLOCADOS DO CORPUS DA WEB ... 61

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6.2 Verbo Transmitir ... 64

6.3 Verbo Mandar ... 67

6.4 Verbo Receber ... 70

6.5 Verbo Postar ... 72

6.6 Verbo Publicar ... 77

7. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 82

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 92

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1 INTRODUÇÃO

A palavra comunicação deriva do latim communicare, que significa “partilhar algo, pôr em comum”. Como a etimologia da palavra sugere, comunicação se trata de um conceito eminentemente social, inerente à relação que os seres vivos mantêm quando se encontram em grupo. Segundo Reddy (1979 [2000]), autor que escreveu o ensaio “The Conduit Metaphor”, traduzido como “Metáfora do Canal”, as pessoas conceptualizam metaforicamente a comunicação como um processo de transmissão de ideias e informações: o emissor envia, através de um canal, as ideias para o receptor, que as recebe e decodifica. A nossa linguagem sobre a comunicação está, nesse sentido, ancorada numa metáfora complexa subjacente que se estruturaria da seguinte forma:

IDEIAS (OU SIGNIFICADOS) SÃO OBJETOS EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS SÃO RECIPIENTES COMUNICAR É ENVIAR

Deste modo, a comunicação é compreendida como um processo no qual “o falante coloca ideias (objetos) dentro de palavras (recipientes) e as envia (através de um canal) para o ouvinte, que retira as ideias-objetos das palavras-recipientes”. (LAKOFF; JOHNSON, 2002 [1980], p.54). As palavras – objetos passíveis de serem transportados – carregam as mensagens (cargas) e fazem a ligação entre a origem e o destino. A informação está contida dentro das palavras e é transmitida fisicamente do falante/escritor para o ouvinte/leitor. Nessa lógica, comunicar nada mais é do que transportar as ideias da mente de um falante para a de outro.

A Metáfora do Canal, segundo Reddy (1979 [2000]), estrutura a maneira como pensamos e falamos sobre o processo comunicativo. Nesse sentido, enunciados como “ele não conseguiu transmitir bem as suas ideias” são compreendidos com facilidade exatamente pelo fato de termos essa metáfora enraizada em nosso sistema conceptual. Contudo, o próprio autor salienta que, diferentemente do que essa teoria descreve, no processo comunicativo, nós não recebemos ideias diretamente em nossas mentes, mas, ao contrário disso, construímos, a partir de nosso próprio repertório, as ideias semelhantes às de outras pessoas. Falar e ouvir são, assim, ações participativas que vão além da simples transferência física de pensamentos.

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De acordo com o autor, a comunicação pode ser, dessa forma, comparada a uma construção, em que o sentido não estaria mais contido dentro do “contêiner” palavra, mas seria construído na interação dos comunicantes. A esse novo modelo de comunicação, Reddy (1979 [2000], p.14) deu o nome de paradigma dos construtores de instrumentos. Esse modelo busca expor como se dá, de fato, a comunicação entre os comunicantes, e como essa comunicação é desgastante e sujeita a falhas de interpretação.

Entre esse novo modelo de comunicação e a Metáfora do Canal há o que o autor chama de um conflito de enquadramentos, uma vez que, enquanto a Metáfora do Canal busca investigar as falhas na comunicação, visto que, segundo ela, o sucesso é automático; o

paradigma dos construtores de instrumentos, de modo contrário, considera que as falhas na

comunicação são aspectos naturais do processo, que só podem ser neutralizadas através de esforços contínuos.

Nesse sentido, a teoria da Metáfora do Canal e o paradigma dos construtores de

instrumentos constituem dois modelos divergentes de conceptualização do processo

comunicativo, sendo que o segundo, mesmo trazendo uma ideia coerente do que, de fato, ocorre na comunicação, não representa a maneira como pensamos e falamos sobre a mesma. A Metáfora do Canal estrutura o nosso modelo conceptual sobre a comunicação, e já é convencionalizada na língua de tal forma, que os falantes não têm consciência dela, isto é, comunicam-se com base na crença de que a comunicação é realmente um processo transparente e unívoco.

Essa metáfora é muito presente em nossa linguagem sobre a comunicação, e podemos notar isso através de instanciações corriqueiras na língua, como: “eu lhe dei essa ideia / não consigo pôr minhas ideias em palavras etc.” (LAKOFF; JOHNSON, 2002 [1980], p.17). Porém, é relevante ponderar que, com a evolução da internet e a propagação das mídias sociais, o processo comunicativo vem sofrendo algumas transformações e, consequentemente, podemos levanter a hipótese de que a maneira como as pessoas falam sobre ele também tenha mudado.

A internet viabilizou novas formas de interação entre seus usuários - como E-mail, Blog, Twitter, Facebook, WhatsApp – possibilitando maior rapidez e praticidade na comunicação. Com as mídias sociais digitais, o poder de voz tornou-se acessível a todos que utilizam os diferentes veículos como ferramentas de propagação de suas ideias, proporcionando a qualquer usuário, em qualquer lugar do mundo, comunicar-se com quem desejar.

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Diante disso, faz-se necessário retornar à teoria da Metáfora do Canal para observar se ela continua a ser reproduzida nesse novo meio de comunicação ou se foi, de alguma forma, relativizada. Assim como o paradigma dos construtores de instrumentos, descrito por Reddy (1979 [2000]), seria um tipo de reenquadramento do frame1 convencionalizado de comunicação, que tem como base a Metáfora do Canal. Levantamos a hipótese de que a rede lexical acionada para se falar sobre a comunicação digital pode revelar um novo reenquadramento no frame de comunicação.

Dentro dessa perspectiva, investigar essas formas linguísticas emergentes e a maneira que se inserem no frame da Metáfora do Canal, ou, de alguma forma, o transformam, é, portanto, a proposta principal da pesquisa a ser desenvolvida. Buscamos também compreender a nova era da linguagem na comunicação via internet e, para isso, investigamos a maneira como as pessoas falam sobre a comunicação digital e quais são as novas palavras empregadas para esse propósito.

Considerando o objetivo geral do estudo, as questões a seguir irão nortear a investigação. Buscar respondê-las constitui o nosso objetivo mais específico.

1. Como se configura o frame de comunicação digital?

2. A comunicação digital gera um reenquadramento do frame convencionalizado de comunicação, que tem como base a Metáfora do Canal?

3. Que novos termos são empregados para tratar da comunicação no contexto digital?

Para responder às perguntas de pesquisa, esta dissertação é estruturada da seguinte maneira:

No capítulo 2, é feita a revisão de literatura, em que se discorre sobre algumas das “ilhas” do arquipélago da Linguística Cognitiva (GEERAERTS, 2006), como a Teoria da Metáfora do Canal (LAKOFF; JOHNSON, 1980 [2002]), a Semântica de Frames (FILLMORE, 2006) e os Esquemas Imagéticos (LAKOFF, 1987). Além disso, versa-se sobre a Teoria da Metáfora do Canal (REDDY, 1979 [2000]), principal base teórica para a presente pesquisa.

1 O termo frame designa um sistema estruturado de conhecimento, armazenado na memória de longo prazo e organizado a partir de esquematização da experiência. Esse conceito será detalhado mais adiante.

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O capítulo 3 apresenta a revisão de literatura sobre o discurso mediado pela internet, em que é feito um detalhamento a respeito da Comunicação Digital (CRYSTAL, 2001; MARCUSCHI, 2010; SHEPHERD; SALIÉS, 2013), e das Redes Sociais (MARCUSCHI, 2010; RECUERO, 2009).

O capítulo 4 descreve a metodologia utilizada para a constituição do corpus de pesquisa, apresentando, primeiramente, o site “Corpus do Português”, que foi usado como base para a constituição do corpus, e, em seguida, explicando o passo a passo realizado na pesquisa para a seleção e análise dos dados.

Os capítulos 5 e 6 são destinados à análise dos colocados dos verbos extraídos do Corpus Geral e do Corpus da Web, respectivamente. Nesses capítulos, cada verbo é analisado com os seus respectivos complementos, e são destacados aqueles que revelam natureza abstrata, sendo, por isso, considerados possíveis instanciações da Metáfora do Canal.

No capítulo 7 são apresentados, numa tabela, os resultados gerais da pesquisa, e é feita uma discussão a respeito desses resultados.

Por fim, o capítulo 8 apresenta as conclusões desta dissertação. As questões norteadoras da pesquisa são retomadas e discutidas diante dos resultados da análise. Além disso, são apresentadas as limitações deste trabalho e as suas contribuições para pesquisas posteriores na área.

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2 FUNDAMENTAÇAO TEÓRICA (I): METÁFORA NA PERSPECTIVA COGNITIVA

Tendo como base a Linguística Cognitiva, trataremos, nesse estudo, da Metáfora do Canal, proposta por Reddy (1979 [2000]). Mais especificamente, discutiremos, devido à relevância para a investigação proposta, a relação entre a metáfora do canal e as novas formas de comunicação digital.

Como base dessa discussão, iremos nos apoiar na Teoria da Metáfora Conceptual (TMC), de Lakoff e Johnson (1980 [2002]) e nos postulados de Fillmore (2006) sobre a semântica de frames, assim como na noção de esquemas imagéticos (LAKOFF, 1987). Vale salientar que os conceitos que discutiremos a seguir são apenas algumas das “ilhas” do arquipélago que forma o conjunto de estudos que caracterizam a Linguística Cognitiva (GEERAERTS, 2006); além deles, os conceitos de metonímia (BARCELONA, 2006), MCI (LAKOFF, 1987), protótipo (ROSCHE, 1978) e construção gramatical (GOLDBERG, 2006) também estão na base das linhas de estudo da LC. O foco de nossa pesquisa, porém, cairá sobre as noções de metáfora conceptual, frame e esquema imagético, pois acreditamos serem os conceitos mais relevantes para explorar nossas perguntas de pesquisa e, consequentemente, para a análise a ser desenvolvida.

Ademais, faremos algumas considerações sobre a questão da comunicação digital, apoiando-nos, para isso, nos postulados de Crystal (2004) e Shepherd e Saliés (2013) sobre linguagem e internet, e nas considerações de Recuero (2009) a respeito das mídias e redes sociais.

2.1 Linguística Cognitiva

A Linguística Cognitiva (doravante LC) surgiu no final da década de 70, impulsionada pelo desejo de alguns estudiosos de encontrar soluções para o que não concordavam em relação às vertentes formais, principalmente o Gerativismo. Linguistas como George Lakoff, Ronald Langacker, Leonard Talmy, Charles Fillmore e Gilles Fauconier deram início a essa nova vertente de estudo, buscando uma teoria capaz de dar conta das relações entre forma e significado, entre sintaxe e semântica.

O emprego do cognitivismo à linguística constituiu uma alternativa ao paradigma gerativista que dominou, por um longo período, os estudos linguísticos. Na medida em que

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compreende o fenônemo linguístico como resultado da experiência física, cognitiva e sociocultural de um indivíduo, a linguística cognitiva assume um papel fundamental no panorama das ciências cognitivas. Essa junção corpo-cognição-mundo é o princício que está na base do que Lakoff e Johnson (1980 [2002]) designaram por experiencialismo, em oposição ao objetivismo dos paradigmas tradicionais.

A LC não constitui uma abordagem teórica homogênea e claramente delimitada, ao contrário disso, ela reúne um conjunto de abordagens que compartilham hipóteses centrais a respeito da linguagem e, ao mesmo tempo, detalham aspectos particulares relacionados aos desdobramentos dessas hipóteses. É nesse sentido que Gerraerts (2006) recorre à metáfora do arquipélago, pois, para o autor, o arcabouço cognitivista é o resultado de aportes teóricos com posições mais ou menos afins.

A seguir, apresentaremos algumas das premissas centrais da LC e discutiremos cada uma delas:

(i) não autonomia entre os sistemas cognitivos; (ii) inter-relação entre forma e significado; (iii) dinamicidade da gramática;

(iv) base experiencial (corporal e sensório-motora) da linguagem.

A primeira premissa, sobre a não autonomia entre os sistemas cognitivos, defende que, diferente do que prega o gerativismo, não existem módulos autônomos em nossa linguagem. Na verdade, há princípios gerais compartilhados pela linguagem e outras capacidades cognitivas, assim como uma interação entre estrutura linguística e conteúdo conceptual (FERRARI, 2014). Ao usarmos a língua para nos comunicarmos, fazemos uso de várias dessas faculdades em conjunto, pois precisamos acessar nossa memória, passar pelas emoções etc.

Ademais, a não autonomia dos sistemas cognitivos reflete a ideia de que a experiência sensório-motora e o pensamento abstrato estão relacionados (FERRARI, 2009, p. 20). Essa correlação pode ser observada, por exemplo, na Teoria da Metáfora Conceptual (LAKOFF; JOHNSON, 1980 [2002]), em que os autores definem a metáfora como resultado de uma projeção entre dois domínios cognitivos distintos (domínio fonte e alvo) e, além disso, a metáfora é concebida como um mecanismo cognitivo que opera no nível linguístico.

Partindo para o segundo postulado, temos a inter-relação entre forma e significado. Com a LC, a ideia de que o significado é o reflexo da realidade foi deixada para trás, passando-se, então, a compreender a relação entre palavra e mundo como mediada pela cognição. Dessa maneira,

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o significado deixa de ser um reflexo direto do mundo, e passa a ser visto como uma construção cognitiva através da qual o mundo é apreendido e experienciado. Sob essa perspectiva, as palavras não contêm significados, mas orientam a construção do sentido (FERRARI, 2004, p.14).

De acordo com esse ponto de vista, compreende-se que não há realidade objetiva que a linguagem possa refletir, pois o acesso a partes dessa realidade é limitado pela natureza de nossa estrutura corporal. A linguagem não reflete, portanto, o mundo, mas a construção humana da realidade a partir de perspectivas específicas. Segundo Langacker (1987), a perspectiva adotada para a conceptualização de uma cena é chamada de ponto de vantagem. Sentenças como, por exemplo, “a cerca está atrás da árvore” e “a árvore está na frente da cerca” são descrições possíveis de uma mesma cena, que diferem-se apenas por adotarem perspectivas ou pontos de vantagem diferentes.

Isso nos leva para a terceira premissa, que afirma que a gramática é dinâmica. Essa afirmativa se deve ao fato de a gramática ser o resultado de nossas conceptualizações, da maneira como enxergamos o mundo a nossa volta e de como categorizamos esse mundo. Para tratar desse assunto, é relevante trazer à tona os conceitos de propótipo e categorias radiais, ambos relacionados à questão da categorização. As categorias cognitivas se organizam de forma dinâmica e heterogênea, reunindo exemplares mais e menos prototípicos, a partir de um núcleo categorial (FERRARI, 2009, p.18).

Rosh (1973) estudou a estruturação interna de algumas categorias (como aves, mobília, ferramenta) e constatou que em cada categoria há um protótipo - que é o elemento que congrega todos (ou a maioria) dos traços definidores da categoria-, mas há também membros menos prototípicos – que são aqueles que possuem apenas alguns elementos definidores da categoria. A exemplo disso, temos, na categoria dos pássaros, o pardal como membro prototípico, pois ele possui penas, bico, duas asas e é capaz de voar, ou seja, possui todos os atributos da categoria pássaro. Diferente do pinguin, que além de não possuir penas, também não voa, e é, por isso, considerado um membro menos prototípico. Uma categoria estruturada dessa forma é chamada de categoria radial.

Por fim, a LC deixa de lado o pressuposto gerativista de que temos uma competência linguística e propõe, então, uma competência situada, que está relacionada à experiência do nosso corpo com o meio – uma experiência sensório-motora que interfere na formação de nossa cognição e, consequentemente, de nossa linguagem. Em outras palavras, a LC defende

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que temos uma cognição situada que se desenvolve de acordo com a nossa experiência corpórea no meio, e não um mecanismo pronto.

Isso se deve ao fato de que, para a LC, mente e corpo são indivisíveis e, por isso, a nossa percepção da realidade é construída a partir do formato do nosso corpo, do modo como ele se movimenta, da forma como os nossos sentidos percebem o entorno e da maneira como interagimos com o mundo. A hipótese da corporificação concebe a linguagem como reflexo da experiência do corpo no mundo, sendo assim, o que se passa em nosso corpo físico está diretamente relacionado ao que se passa em nossa mente. Para explicar essa percepção da realidade, Lakoff (1987) propõe a noção de realismo experiencialista. Os postulados desse realismo foram resumidos por Ferrari (2014, p.22):

 O pensamento é enraizado no corpo, de modo que as bases de nosso sistema conceptual são percepção, movimento corporal e experiências de caráter físico e social.

 O pensamento é imaginativo, de forma que os conceitos que não são diretamente ancorados em nossa experiência física empregam metáfora, metonímia e imagética mental, caracterizados por ultrapassar o simples espelhamento literal da realidade.

O pensamento tem propriedades gestálticas: os conceitos apresentam uma estrutura global não atomística, para além da mera reunião de “blocos conceptuais” a partir de regras específicas.

Partindo desses postulados gerais da LC, é relevante destacar que essa abordagem teórica busca soluções para questões como: (i) quais são os princípios cognitivos derivados da experienciação no mundo; (ii) como a mente corporificada concebe o mundo e (iii) como a mente corporificada categoriza a realidade experienciada nas línguas naturais (DIVINO, 2016, p.139). E, para isso, lança mão de estruturas que seriam a base de nosso conhecimento, tais como: os esquemas imagéticos (Eis), os frames, os Modelos Cognitivos Idealizados (MCIs), os protótipos e as operações de conceptualização, como as metáforas e as metonímas. A seguir, trataremos de alguns desses conceitos que farão parte do arcabouço teórico dessa pesquisa, a saber: a noção de esquemas imagéticos, semântica de frames e metáfora conceptual.

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2.1.1 Esquemas Imagéticos

Os esquemas imagéticos são “gestalts experienciais [...] que emergem a partir da atividade sensório-motora, conforme manipulamos objetos, nos orientamos espacial e temporalmente e direcionamos nosso foco perceptual com diferentes propósitos” (GIBBS; COLSTON, 1995, P.347). Trata-se, portanto, de representações conceptuais relativamente abstratas que surgem diretamente da nossa observação diária do mundo ao redor. Lakoff (1987) aponta alguns exemplos de esquemas imagéticos, entre os quais estaria o de recipiente (contêiner) e o de trajetória. Em relação ao primeiro, o autor declara que:

o esquema do recipiente define a distinção mais básica entre interior e exterior. Concebemos nosso próprio corpo como RECIPIENTE – talvez a coisa mais básica que fazemos seja ingerir e excretar, colocar ar nos pulmões (inspirar) e expirá-lo. Mas nossa concepção de nosso corpo como RECIPIENTE parece pequena, se comparada com todas as experiências cotidianas as quais entendemos em termos de RECIPIENTE. (LAKOFF, 1987, P.271)

Para exemplificar esse esquema, temos o enunciado Minha cabeça está cheia de ideias, que pressupõe que nosso corpo delimita uma parte interior, uma fronteira e uma parte exterior. Assim como colocamos coisas dentro de caixas ou recipientes, fazemos o mesmo em nossas cabeças, somos capazes de colocar e tirar ideias dela. Esse esquema imagético é também muito presente na Metáfora do Canal (REDDY, 1979), em que as palavras, frases e textos funcionam como recipientes capazes de suportar ideias e pensamentos. Nesse sentido, quando falamos ou escrevemos, inserimos nas palavras as nossas ideias e as enviamos para o receptor, que ao ouvir ou ler, extrai das palavras as ideias novamente. Por compreendermos as palavras (frases e textos) como recipientes de pensamentos e sentimentos, declaramos enunciados como: não consegui colocar minhas ideias em palavras, essas palavras estão vazias, nunca carregue uma frase com mais pensamentos do que ela pode conter, retire a ideia principal do texto.

Já a partir do esquema imagético trajetória, de acordo com Johson (1987), organizamos nossas experiências corpóreas através da relação que fazemos esquematicamente sobre um ponto de partida, uma trajetória e um ponto de chegada. Esse esquema envolve as noções de origem, movimento no espaço, trajetor (que seria uma entidade ou atividade percorrendo o trajeto), direção e meta. Podemos dizer, por exemplo, “estarei no trabalho, saindo de casa agora, em meia hora” – ORIGEM: casa; CAMINHO: o trajeto sendo percorrido; e META: trabalho, sendo o trajetor a própria pessoa.

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Nesse sentido, segundo Johnson (1987), o esquema da trajetória reflete a experiência de se movimentar no mundo e também de observar a movimentação dos corpos ocorrida nele. As características de toda trajetória – começo, fim, direção, sequencia espacial - são encontradas nas construções linguísticas que utilizam este esquema, como, por exemplo, na Metáfora do Canal (REDDY, 1979), uma vez que, segundo essa teoria, as palavras (recipientes) exercem a função de trajetor, e são descoladas de um ponto de partida (emissor) até um ponto de chegada (receptor).

2.1.2 Semântica de Frames

A Semântica de Frames, proposta por Charles J. Fillmore a partir de 1975, traz uma significativa mudança para a concepção do significado linguístico, na medida em que propõe que o significado é construído com base em esquemas conceptuais, que aproveitam a ideia gestáltica de que o todo é maior do que a soma das partes. Desta forma, uma palavra como “aluno”, por exemplo, evoca necessariamente noções como a de educação, professor, aprendizagem etc. Em outras palavras, a compreensão do sentido do item lexical “aluno” implica conhecer o frame no qual determinado sentido está relacionado.

Desta maneira, um frame pode ser definido como uma espécie de esquema, “um sistema de conceitos relacionados de tal forma que, para entendermos um deles, é necessário entendermos toda a estrutura na qual ele se encaixa” (FILLMORE, 1982, p. 111). Eles são, portanto, estruturas mentais que permitem que as pessoas compreendam a realidade. Lakoff (2006) salienta que os frames facilitam as nossas interações mais básicas com o mundo e, ainda mais, que constroem nossas ideias e conceitos, influenciando no modo como percebemos e agimos no mundo.

Fillmore (1982) afirma que o significado das palavras é subordinado a frames, sendo assim, a interpretação de uma palavra depende do acesso a essas estruturas de conhecimento. Para exemplificar, o autor nos apresenta a expressão “fim de semana”, que só pode ser compreendida em relação ao frame que inclui calendário cíclico, definido por meio da sucessão de dias e noites, da semana de sete dias e a da divisão entre dias de trabalho e dias de descanso. Tudo isso para dizer que o conceito não é compreensível por si só, mas apenas pela sua posição em uma rede de conhecimentos, estruturada em termos de frames.

Nesse sentido, de acordo com Reddy (1979 [2000]), a maneira como as pessoas falam sobre a comunicação humana é, em grande medida, determinada por estruturas semânticas,

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que seriam os frames. Segundo essa perspectiva, nós pensamos e falamos sobre a comunicação humana tendo como base um enquadramento cognitivo (frame), a que o autor chama de Metáfora do Canal. Reddy salienta também que pode haver uma mudança de enquadramento quando se tem uma estrutura em oposição à primeira, e demonstra que, ainda que o nosso pensamento sobre a comunicação seja ancorado no frame da Metáfora do Canal, há um outro enquadramento (o paradigma dos construtores de instrumentos)2, que poderia representar melhor o que, de fato, ocorre no processo comunicativo.

2.1.3 Metáfora

O termo metáfora vem do grego metapherein, que significa transferência ou transporte, em que meta quer dizer “mudança” e pherin “carregar”. Aristóteles (2000, p. 63), quem primeiro cunhou o termo, define metáfora como “uma transferência do nome de uma coisa para outra, ou do gênero para a espécie, ou da espécie para o gênero, ou de uma espécie para outra, ou por analogia”. Nesse sentido, uma definição tradicional para metáfora seria falar de algo em termos de outra coisa.

Já em termos da Teoria da Metáfora Conceptual, a metáfora é compreendida como um mecanismo cognitivo que faz o mapeamento de alguns aspectos de um elemento (domínio-fonte) para um outro elemento que se quer conceptualizar (domínio-alvo). Dessa forma, a metáfora, que anteriormente era compreendida como uma figura de linguagem, assume o estatuto de uma operação cognitiva fundamental, que estrutura nossos pensamentos e ações. Nesse sentido, para entendermos como essa mudança conceitual aconteceu, faz-se necessário traçarmos uma breve análise dos caminhos percorridos pela metáfora até o momento e, para isso, precisamos retornar à retórica clássica, conforme faremos a seguir.

2.1.3.1 Visão tradicional da Metáfora

De acordo com Vereza (2012), a retórica surgiu na Antiguidade Clássica, como uma prática oratória que visava à eloquência, num contexto em que a comunicação eficaz, e até mesmo persuasiva, era muito valorizada. No entanto, poucos séculos mais tarde, a retórica, já

2 Os conceitos de “Metáfora do Canal” e “Paradigma dos Construtores de Instrumentos” serão detalhados mais adiante.

(23)

como objeto de ensino, passou a ser condenada, por ser considerada uma arte de manipulação que fomentava a distorção da verdade em direção às intenções do falante, promovendo o engano e a mentira.

Sendo a retórica tratada como um instrumento de manipulação, a metáfora, por sua vez, passa a ser compreendida como um dos principais elementos utilizados para esse propósito. Nessa perspectiva, a metáfora começa também a ser rejeitada, tanto por ser um elemento supérfluo e, portanto, dispensável; como por ser considerada algo oposto ao real ou a verdade, e, por isso, indesejável em certos discursos, como o científico, que deveria utilizar apenas linguagem clara, objetiva e literal.

É importante salientar, entretanto, que a visão da metáfora como uma figura de linguagem meramente ornamental é, segundo Genette (1975) apud Vereza (2002, p.32), resultante do processo reducionista a que a retórica foi submetida. A retórica aristotélica, segundo o filósofo Ricoeur (1979, p.9) apud Vereza (2012, p.32), caracterizou-se, fundamentalmente, por ser uma teoria da argumentação (inventio), baseada na lógica demonstrativa, enquanto o restante da obra abordava os aspectos relacionados às partes do discurso e à léxis. Esses formam, portanto, os três eixos da retórica aristotélica, a saber: a

inventio, que está no nível das ideias; a dispositio, que abrange a organização dos argumentos;

e a ilocutio, que se refere à escolha do léxico. Para Ricoeur (2000, p. 17), a retórica começou a “morrer” quando foi “amputada”. Essa amputação diz respeito ao fato de que ela passou a ser definida apenas como ilocutio, deixando de compreender a inventio e a dispositio. Ou seja, ficou reduzida apenas à teoria dos tropos.

O percurso da retórica em direção ao reducionismo e ao consequente “anti-retoricismo” (FERNANDES, 2004, p. 7) representou um processo gradual de apagamento ou esvaziamento dos eixos mais diretamente relacionados aos aspectos lógico-discursivos da retórica, ou seja, a inventio e a dispositio. Esse processo solidificou-se na Idade Média, dando centralidade à elocutio, que é justamente aquela dimensão que abarca o uso do léxico e, principalmente, das figuras da linguagem. (VEREZA, 2012, p.32)

E é por meio dessa retórica reduzida (tropológica) que a metáfora também se reduziu ao nível puramente decorativo. Neste sentido,

“decretar a morte da retórica, como muitos o fizeram a partir do século XIX, é, por uma analogia metonímica, condenar os personagens principais, as figuras, do projeto retórico vigente à época, levando-os, se não ao extermínio completo, ao franco ostracismo, excluindo-os de qualquer proposta que pudesse ter um mínimo de legitimidade intelectual.” (VEREZA, 2012, P.34)

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Dessa maneira, assim como afirma Sardinha (2007, p.19), a metáfora passou a ser vista, na retórica reduzida, como um recurso supérfluo da linguagem, característico do discurso poético e retórico, sendo empregada, usualmente, com o objetivo de ornamentar ideias e provocar enganos no pensamento racional, ou seja, a metáfora passou a ser considerada apenas um desvio da linguagem, que deveria ser evitado.

Diante disso, a metáfora foi posta no segundo plano da linguagem, sendo o primeiro plano reservado apenas para a linguagem não figurada. A metáfora era vista, portanto, como algo agradável aos sentidos, mas não essencial diante da realidade; ela foi trivializada, perdendo qualquer função verdadeiramente relevante na construção de sentidos. (VEREZA, 2012, p.37). Além disso, a metáfora também passou a ser considerada um equivoco ou anomalia, como afirma Hobbes (2005, p.8, apud VEREZA, 2012, p.37):

Nomes são usualmente unívocos ou equívocos. Unívocos são aqueles que na mesma sequência discursiva significam sempre a mesma coisa; equívocos são aqueles que ora significam uma coisa, ora outra. Toda metáfora é, por sua própria natureza, equívoca.

A chamada visão tradicional da metáfora engloba também outras duas teorias, formalizadas por Max Black (1962): a teoria da substituição e a teoria da comparação. Segundo a primeira, uma metáfora pode ser sempre substituída por uma palavra ou expressão literal; segundo essa perspectiva, não há ganho de sentido, pois a mesma significação alcançada com o termo literal é também obtida com a metáfora. O falante empregaria a metáfora, dessa forma, apenas como um recurso para adornar ou enfeitar o seu discurso. Já de acordo com a teoria da comparação, a metáfora pressupõe uma similaridade preexistente entre os elementos a serem comparados; por exemplo, na metáfora Julieta é o sol, pressupõe-se uma similaridade entre os termos “Julieta” e “sol”, ou seja, as propriedades do sol devem também integrar o conceito de Julieta. Sabemos que, ao fazer essa comparação, não queremos dizer que Julieta tem todos os atributos do sol (cor, forma etc), mas apenas ressaltar algumas propriedades do sol, como o seu brilho, por exemplo, para falar de algumas características de Julieta. Porém, segundo a teoria da comparação, esse destaque em alguns aspectos do sol e não em outros não seria possível.

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2.1.3.2 Ascensão da Metáfora

A metáfora, tradicionalmente compreendida como um recurso linguístico – presente, especialmente, no discurso poético e retórico -, passou a ser objeto de estudo de campos como a linguística e a psicologia cognitiva. A metáfora tem sido um elemento chave para entendermos como se dá a cognição humana. Vereza (2012, p. 47) afirma que:

A metáfora que hoje se encontra sob os holofotes intelectuais, na verdade, não é a mesma metáfora que habitava as listas classificatórias dos tropos da retórica restrita. A sua ascensão foi impulsionada por reconceituações e redefinições que, na maioria das vezes, implicavam sua promoção ou valorização, como fenômeno de natureza não só linguística, mas também cognitiva e, mais recentemente, discursiva.

Nesse sentido, a ascensão da metáfora está estritamente relacionada ao reconhecimento e valorização do que podemos chamar de sua função cognitiva. O filósofo Giambattista Vico foi quem primeiro contribuiu para essa ascensão da metáfora, ao compreendê-la como parte da “sabedoria poética”. Segundo essa visão, o homem apreende e constrói a realidade para si mesmo e, nesse processo, “a capacidade de estabelecer analogias seria imprescindível e a metáfora seria „a operação mestra da mente‟ (HERRICK, 2005).

Após Vico, a dimensão cognitiva da metáfora foi retomada também por Richards (1936) e Black (1962), no que ficou conhecido como Teoria da Interação. De acordo com essa vertente, “a metáfora introduz um nível de significado inexistente em sua „versão‟ ou paráfrase literal” (VEREZA, 2012, p.50), o que comprova que a metáfora traz um ganho cognitivo. Além disso, diferentemente da teoria da comparação, aqui a similaridade entre os conceitos surge da interação entre eles, ou seja, a similaridade é criada cognitivamente; nesse sentido, a metáfora introduz um nível de significado inexistente no contexto literal. Com isso, a metáfora deixa de ser vista como um substituto dispensável da linguagem literal e passa a assumir a sua força cognitiva.

Essa força cognitiva da metáfora, mais à frente, levou à elaboração da Teoria da Metáfora Conceptual (TMC), segundo a qual a metáfora não é apenas um modo de falar, mas uma forma de pensar ou conceptualizar um domínio em termos de outro, conforme veremos a seguir.

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2.1.3.3 Teoria da Metáfora Conceptual (TMC)

Para compreendermos a natureza cognitiva da metáfora, é fundamental refletirmos sobre alguns aspectos da Teoria da Metáfora Conceptual (doravante TMC), proposta George Lakoff e Mark Johnson (1980 [2002]). Para esses autores, a metáfora não é apenas um adorno ou um fator de embelezamento da língua, mas, ao contrário disso, ela é parte essencial do pensamento. Isso significa que a forma como pensamos o mundo e o organizamos mentalmente é, em grande parte, metafórica.

Lakoff e Johnson (1980 [2002], p. 244) destacam que “a metáfora é fundamentalmente conceptual, e não linguística, em sua natureza”, sendo a linguagem metafórica uma manifestação de uma metáfora conceptual subjacente, isto é, “do modo como conceptualizamos um domínio mental em termos de outro” (p.203). Estes autores afirmam que a metáfora não consiste apenas num artifício literário, assumindo antes uma função fundamental em nosso sistema conceptual. Pinker (2007, p. 245), ao tratar da teoria conceptual, comenta “a metáfora não é um floreio que adorna a língua; (...) é, ao contrário, parte essencial do pensamento”.

A metáfora conceptual é definida como uma maneira de compreender e experienciar uma coisa em termos de outra (KÖVECSES, 2002). Ela é constituída por dois domínios de experiência; um domínio A, denominado de domínio-fonte, que geralmente é concreto e faz parte de nossa experiência no mundo; e um domínio conceptual B, chamado de domínio-alvo, que é mais abstrato e necessita de estruturação para ser compreendido. Segundo Lakoff e Johnson (1980 [2002]), na metáfora conceptual há uma transferência de parte de um conceito, já experienciado, para um novo conceito; ou seja, alguns aspectos do domínio-fonte são transferidos para o domínio-alvo. Por exemplo, na metáfora conceptual AMOR É UMA VIAGEM, utilizamos algumas características do domínio-fonte “viagem” para conceptualizar o domínio-alvo “amor” - como as noções de caminho, percurso, obstáculos, ponto de partida e de chegada etc. Desta maneira, falamos do amor em termos de uma viagem. Essa relação entre elementos de ambos os domínios é chamada de “mapeamento”. Lakoff (1987), baseando-se nessa metáfora, explica:

A metáfora envolve a compreensão de um domínio de experiência, o amor, em termos de outro domínio muito diferente da experiência, as viagens. A metáfora pode ser entendida como um mapeamento (no sentido matemático) de um domínio de origem (neste caso, viagens) a um domínio alvo (neste caso, amor). O mapeamento é estruturado sistematicamente. Há correspondências ontológicas de

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acordo com as quais as entidades no domínio do amor correspondem sistematicamente a entidades no domínio de uma viagem. (LAKOFF, 1987, p.17)

A projeção entre os domínios pode, erroneamente, sugerir que a metáfora existe devido à similaridade entre os elementos conceptuais dos domínios alvo e fonte, ou seja, que a metáfora realiza uma ligação entre elementos pré-existentes, comuns aos dois domínios. Contudo, é o conceito que se tem do domínio-fonte que formula o conceito do domínio-alvo. Compreender, então, uma metáfora significa efetuar o mapeamento entre os dois domínios de experiência.

Uma das características fundamentais da metáfora conceptual é o fato de ela ser convencional. Para que uma metáfora conceptual se estabeleça, é necessário que ela seja disseminada socioconitivamente e, assim, convencionalizada. Os falantes, de maneira inconsciente, naturalizam essa maneira de conceptualizar um domínio e reproduzem-na em seu discurso. Por exemplo, a metáfora conceptual supracitada AMOR É UMA VIAGEM, que licencia instanciações como Essa relação não vai a lugar algum ou Ela decidiu seguir seu

próprio caminho, faz parte da nossa cultura e está inscrita em nossa linguagem. O senso

comum costuma falar de relações amorosas em termos de viagem, sem que isso seja percebido como uma metáfora.

As expressões citadas acima são chamadas de expressões linguísticas metafóricas ou metáforas linguísticas. Elas são licenciadas pela metáfora conceptual AMOR É UMA VIAGEM. Ou seja, as metáforas conceptuais determinam a utilização de expressões linguísticas metafóricas, as quais, por sua vez, são evidências das metáforas conceptuais que lhe são subjacentes (KÖVECSES, 2002, p.7). A metáfora conceptual é um fenômeno mental, que nos permite fazer projeções entre domínios distintos, enquanto a expressão metafórica é a realização linguística, trata-se de uma manifestação do pensamento metafórico.

2.2 Metáfora do Canal

Reddy (1979 [2000]), em seu ensaio chamado “The Conduit Metaphor” (Metáfora do Canal), investigou a maneira como nós conceptualizamos metaforicamente o conceito de comunicação. Partindo da ideia de que uma sociedade com melhores comunicadores poderia ter menos conflitos, Reddy (1979 [2000]), a fim de investigar como o problema da comunicação se apresenta para os falantes, levantou duas questões: “que tipo de histórias as

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pessoas contam sobre seus atos de comunicação?” e “quando esses atos perdem o rumo, como é que as pessoas descrevem o que está errado ou o que precisa de conserto?” (REDDY, 1979 [2000], p.7).

Dessa forma, Reddy analisou diversos enunciados que as pessoas usam para falar da comunicação, por exemplo, quando são necessárias soluções para os problemas de comunicação (coloque aquelas ideias em outro lugar do parágrafo), em relação ao processo de inserção de ideias nas palavras (os versos podem rimar, mas estão vazios de significado e

sentimento), quando a comunicação perde o rumo (tente passar melhor seus pensamentos)

etc. Ele estendeu essa análise a um grande número de enunciados que usamos para falar sobre a comunicação e constatou que, de maneira geral, esses enunciados evidenciam que:

(1) a linguagem funciona como um conduto, transferindo pensamentos corporeamente de uma pessoa para a outra; (2) na fala e na escrita, as pessoas inserem nas palavras seus pensamentos ou sentimentos; (3) as palavras realizam a transferência ao conter pensamentos ou sentimentos e conduzi-los às outras pessoas; (4) ao ouvir e ler, as pessoas extraem das palavras os pensamentos e os sentimentos novamente (Reddy, 1979 [2000], p.12).

Sendo assim, podemos dizer que a comunicação é conceptualizada como um processo de transmissão de ideias ou informações, em que o emissor coloca as suas ideias em palavras e as envia, através de um canal, para o receptor. Nesse sentido, comunicar consiste em transmitir e, dentro disso, a linguagem é um canal para o envio das ideias e pensamentos. A ideia principal da Metáfora do Canal é a de que uma comunicação com êxito supõe que o ouvinte ou leitor receba o significado, já depositado nas palavras, em sua mente. As expressões linguísticas funcionam como recipientes em que colocamos as ideias e informações, e a comunicação se constitui no envio e recepção de pacotes de informação através de um canal condutor.

Basicamente, a ideia seria a codificação/decodificação de conceitos, em que falante e ouvinte não necessitam de qualquer habilidade comunicativa. O código atuaria como um conjunto de regras e sinais conhecidos por todos, formando assim um contexto único. Logo, essa metáfora não leva em consideração o mundo social, nem o fato de que os sujeitos são indivíduos que agem discursivamente nas relações sociais que estabelecem.

A Metáfora do Canal revela, portanto, uma idealização do processo comunicativo, em que emissor e receptor teriam uma simples função de colocar e retirar as ideias das palavras, respectivamente. Essa é uma forma congelada de se pensar e falar sobre a comunicação. Segundo Lakoff e Johnson (1980 [2002]), a Metáfora do Canal é um tipo de metáfora

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convencionalizada, incorporada de tal maneira à nossa comunicação do dia-a-dia, que já não exige qualquer esforço de nossa parte para compreensão e processamento, como se tratasse mesmo de uma linguagem literal. As pessoas não têm consciência dela, isto é, se comunicam com base na crença de que a comunicação é realmente um processo transparente e unívoco e não uma coconstrução com base em nossas experiências no mundo.

Lakoff e Johnson (1980 [2002]) destacam também que a Metáfora do Canal oculta alguns aspectos do processo comunicativo, apresentando explicações falsas sobre a natureza da linguagem. Segundo os autores, não é possível supor que as expressões sejam, de fato, recipientes de ideias ou significados, pois isso implicaria dizer que elas têm significado em si, sendo independentes de fatores externos, como os falantes e o contexto discursivo. Nota-se, então, que essa metáfora não leva em consideração a natureza do emissor e do receptor em suas capacidades de conhecimento, nem tão pouco o contexto em que ocorre a comunicação. O próprio Reddy (1979 [2000] p.8) admite que se fôssemos capazes de enviar diretamente nossos pensamentos uns aos outros, haveria pouca necessidade de um sistema de comunicação.

Reddy salienta que, diferentemente do que a Metáfora do Canal descreve, no processo comunicativo nós não recebemos ideias e pensamentos diretamente em nossas mentes, ao contrário disso, nós construímos, a partir de nosso próprio repertório, as ideias semelhantes a dos pensamentos de outras pessoas. Assim, falar e ouvir são ações participativas que ultrapassam a simples transferência física de pensamentos. De acordo com o autor, a comunicação pode ser comparada a uma construção, em que o significado não estaria mais contido dentro das palavras, mas seria construído na interação dos comunicantes. Nesse sentido, Reddy (1979 [2000], p.14) traz um outro modelo de comunicação que ele chama de

paradigma dos construtores de instrumentos. Esse paradigma busca expor como se dá, de

fato, a comunicação entre as pessoas, e como essa comunicação é desgastante e sujeita a falhas de interpretação.

O paradigma dos construtores de instrumentos sugere que, no processo comunicativo,

somos como pessoas isoladas em ambientes ligeiramente diferentes - que possuem diferentes tipos de árvores, terrenos, plantas, etc. Imaginemos um grande recinto, com o formato de uma pizza, em que em cada fatia habita uma pessoa que deve sobreviver ao seu próprio ambiente. No ponto central há um mecanismo capaz de enviar pequenas folhas de papel de um ambiente para o outro. E, através desse mecanismo, as pessoas passam a trocar informações sobre como fazer coisas úteis a sobrevivência, mesmo sem ter a mínima noção de como é o ambiente em que o outro se encontra.

(30)

Nessa alegoria, os conteúdos de cada ambiente representam os pensamentos e as ideias, os quais não podem ser enviados de uma pessoa para a outra. Os gráficos de instruções representam os sinais da nossa comunicação, esses sim são enviados. Digamos que a pessoa “A” aprendeu a construir um ancinho de madeira para juntar folhas mortas, e decidiu fazer um conjunto de instruções para as outras pessoas também construírem esse equipamento. A pessoa B, a partir das instruções recebidas, começou a construir a ferramenta, mas como o seu ambiente é rochoso, a construiu com pedras e não com madeira, como fez a pessoa A. Quando B terminou de construir o ancinho, ele percebeu que o utensílio ficou muito pesado e, consequentemente, difícil de manejar. Pensando sobre a utilidade dessa ferramenta, ele resolveu utilizá-la para desenterrar pedras pequenas, e notou que duas pontas grandes deixariam o equipamento mais leve e mais apropriado para o trabalho.

A pessoa B decidiu, portanto, fazer um conjunto de instruções sobre como construir o cata pedras e colocou no ponto central do recinto. A pessoa A, a partir das instruções, começou a construir essa ferramenta, mas toda de madeira, já que em seu ambiente não havia rochas. Porém, A não viu utilidade nesse instrumento e ficou preocupado de B não ter compreendido o ancinho. E, por essa razão, começou a desenhar novamente as instruções mais detalhadas para a confecção desse utensílio. As instruções dos dois simplesmente não combinavam, eles estavam tão frustrados a ponto de pensarem em desistir. Mas A descobriu uma forma de representar, através de símbolos icônicos, a pedra e madeira e, assim, eles conseguiram alcançar um novo patamar de inferência um sobre o outro e sobre o ambiente de cada um dos dois, tornando a comunicação um pouco mais clara.

Para fins de comparação, se essa alegoria fosse representada pela Metáfora do Canal, teríamos uma troca de elementos dos ambientes, incluindo as construções reais em si. Nesse sentido, A não enviaria instruções para a construção do ancinho, mas a própria réplica do mesmo. E B, por sua vez, não teria o trabalho de construir ou adivinhar nada, mas apenas de receber passivamente a réplica do ancinho enviada por A. Fica claro, portanto, que a tendência da Metáfora do Canal é representar um sistema de comunicação em que o sucesso é automático, sem haver necessidade de nenhum esforço para alcançá-lo.

Essa comparação traz à tona o conflito básico entre a Metáfora do Canal e o paradigma

dos construtores de instrumentos. Ambos os modelos explicam o fenômeno da comunicação,

entretanto o fazem de forma diferente. Enquanto a Metáfora do Canal se preocupa em observar as falhas na comunicação, visto que, segundo ela, o sucesso é automático. O

paradigma dos construtores de instrumentos, de maneira contrária, considera que as falhas no

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através de esforços contínuos e grandes quantidades de interação verbal. Nesse sentido, as coisas são naturalmente dispersas, a menos que nos esforcemos para reuni-las, o que leva Reddy (1979 [2000] p. 18) a concluir que: “A comunicação humana quase sempre perderá seu rumo, a não ser que muita energia seja despendida” (REDYY, 1979 [2000], p. 18).

Diante disso, Reddy levanta um questionamento em relação a forma como a linguagem pode influenciar os nossos processos mentais, e declara que o paradigma dos construtores de

instrumentos forma uma visão coerente do que acontece no processo comunicativo, entretanto

não corresponde à maneira como falamos e pensamos sobre tal. A nossa linguagem sobre a comunicação é estruturada pela metáfora do canal, e se tentamos evitá-la, ficamos praticamente sem palavras quando a comunicação passa a ser o assunto central.

O próprio autor afirma que, apesar de não ser imprescindível que se faça uso da metáfora do canal para falar sobre a comunicação, buscar evitá-la nos traria sérias dificuldades linguísticas, pois teríamos que falar cuidadosamente, com atenção constante, o que geraria um gasto de energia muito maior do que o necessário; além do quê, seria preciso criar uma nova linguagem à medida que fôssemos reestruturando nosso pensamento. Na prática, se tentássemos evitar todas as expressões da metáfora do canal, ficaríamos praticamente sem palavras para nos expressar, além do fato de que a mensagem dificilmente teria o mesmo impacto significativo.

Ademais, é válido destacar que Lakoff e Johnson (1980 [2002]) deram um tratamento mais explícito à Metáfora do Canal ao descobrirem metáforas conceptuais subjacentes às expressões linguísticas metafóricas. Com isso, eles demonstraram que o que foi considerado por Reddy como metáforas linguísticas individuais, são, na verdade, expressões metafóricas alicerçadas em metáforas conceptuais. Esses autores consideram que a Metáfora do Canal é uma metáfora complexa, constituída por uma rede de metáforas conceptuais, tais como MENTE É RECIPIENTE / IDEIAS (OU SENTIDOS) SÃO OBJETOS / PALAVRAS (OU EXPRESSÕES LINGUÍSTICAS) SÃO RECIPIENTES / COMUNICAR É ENVIAR OU TRANSFERIR A POSSE /COMPREENDER É PEGAR (OU VER) (LAKOFF, 1985, p. 49-68).

Concluindo, é válido ressaltar que é com base na teoria da Metáfora do Canal que buscaremos investigar, em nossa pesquisa, a maneira como as pessoas conceptualizam a comunicação digital. Para isso, observaremos se a teoria da Metáfora do Canal continua a ser reproduzida nesse novo contexto de comunicação, investigando o que configura o frame de comunicação digital e quais são as particularidades desse frame que o distingue do frame da Metáfora do Canal.

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3 FUNDAMENTAÇAO TEÓRICA (II) : COMUNICAÇÃO DIGITAL

3.1 A Linguagem na Comunicação Digital

De acordo com Sardinha (2013), a internet deu vazão a novas formas de comunicação - como E-mails, Blogs, Twitter, Facebook etc. - que trouxeram uma nova configuração à linguagem e ao processo comunicativo. O século XXI foi o marco dessa revolução digital que introduziu novas formas e conceitos à comunicação social. Pode-se dizer, dessa maneira, que, na atual sociedade da informação, a internet é uma espécie de protótipo de novas formas de comportamento comunicativo (MARCUSCHI, 2010).

Com a necessidade de uma forma de comunicação mediada pelo meio digital (CMD), houve uma crescente adaptação da forma escrita das línguas, em geral, e do português, especificamente, para o universo virtual. A interação na Web, articulada através do teclado do computador ou do celular, trouxe a necessidade de uma digitação mais rápida e simples, o que fez com que os usuários recorressem especialmente à abreviação de palavras, à troca, à omissão e ao uso de símbolos que conotam emoções, os chamados emoticons. O somatório desses recursos gerou uma forma de escrita que em português recebeu o nome de Internetês, e em inglês, Netspeak, termo cunhado por Crystal (2001).

Para Cristal (2005), a linguagem da internet é uma forma nova de comunicação que vem fazendo uma revolução na linguagem. Ele argumenta que a comunicação na internet tem características diferentes da fala, mesmo nos e-mails, pois são mensagens completas, unidirecionais, sem a ajuda da entonação, nem da expressão facial, sendo uma forma de comunicação muito mais lenta do que a fala. No entanto, essas novas formas de linguagem também diferem-se da escrita, pois são mais passageiras e voláteis, possuem mobilidade na forma, e também possíveis ligações com outros textos (links). E, além de tudo, possibilitam uma mudança no caráter formal da língua, uma vez que introduzem inúmeras abreviações (vc, pq, tbm) e reduções (facu), e têm a liberdade de empregar a ortografia fora do padrão, diferente do que ocorre na escrita convencional (CARVALHO; KRAMER, 2013).

Nesse sentido, Crystal (2005) defende que a comunicação digital emprega uma forma de linguagem que é mais do que um agregado de características da fala e da escrita, pois faz coisas que nenhum desses outros meios faz. Esse meio deve ser visto como uma forma de comunicação que gerou a sua própria variante linguística, com as suas próprias características e regras. Corroborando a afirmativa de Thurlow (2001), que diz que “na medida em que as

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tecnologias de comunicação continuam a se desenvolver e se transformar, o mesmo acontecerá com as formas linguísticas e práticas comunicativas correspondentes” (THURLOW, 2001, p.289).

3.2 Mídias Sociais Digitais

De acordo com Recuero (2012), as Mídias Sociais Digitais são ferramentas de comunicação que permitem a emergência das redes sociais. Para permitir que as redes sociais emergissem, esses meios de comunicação subverteram a lógica da mídia de massa (um > todos) para a lógica da participação (todos < > todos). Mídia social, assim, segundo a autora, é social porque permite a apropriação para a sociabilidade, a partir da construção do espaço social e da interação com outros atores.

Nesse sentido, para pensar a respeito das Mídias Sociais Digitais, faz-se necessário recrutar um conceito que é frequentemente chamado em conjunto com as mídias: Web 2.0. A Web 2.0 é um termo usado pela primeira vez em 2004 para descrever uma plataforma na qual os conteúdos podem ser continuamente modificados por todos os usuários em um processo participativo e de forma colaborativa. Enquanto a ideia de publicação de conteúdo pertence a era da Web 1.0, a Web 2.0 traz projetos colaborativos, como blogs, wikis e as redes sociais.

Nesse sentido, as Mídias Digitais Sociais são consideradas “um grupo de aplicativos da Internet que se baseiam nos fundamentos ideológicos e tecnológicos da Web 2.0, e que permitem a criação e troca de Conteúdo Gerado pelo Usuário” (KAPLAN; HAENLEIN, 2010). Essas mídias revolucionaram a comunicação, pois trouxeram uma diversidade de fluxos de informação entre seus participantes, além de permitirem uma comunicação participativa, incentivando, assim, a emergência das redes sociais virtuais (RECUERO, 2008). De acordo com Recuero (2012), as Mídias Sociais Digitais teriam alguns aspectos que a diferenciam das demais ferramentas de comunicação. Esses aspectos, definidos pela autora, são listados a seguir:

Apropriação Criativa: Os usos da mídia social são sempre criativos, diferentes do

propósito original, dentro da lógica dos usos que o André Lemos apresenta no seu livro, "Cibercultura". Inclusive, a apropriação da mídia social é um forte indicativo de sua pertinência e vida junto a um grupo social. Na mídia social, esses usos seriam uma

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constante da presença de novos grupos e sua construção como artefato cultural desses. Uma mídia social que deixa de apresentar usos criativos está fadada.

Conversação: Mídia social é conversação. Mais do que a mera participação, ela

permite que os atores possam engajar-se de forma coletiva, através da cooperação e mesmo, da competição. Assim, a possibilidade de conversação síncrona ou assíncrona é uma característica desse tipo de ferramenta. Por isso, mídia social é tão relacionada ao buzz das redes.

Diversidade de Fluxos de informações: A mídia social permite que vários fluxos de

informações diferentes circulem através das estruturas sociais estabelecidas nela. Esses fluxos podem ser, inclusive, opostos, e podem gerar mobilização social, bem como capital social e discussão. A diversidade desses fluxos é uma característica desse tipo de mídia, consequência direta da Sociedade da Informação e das trocas sociais dos atores.

Emergência de Redes Sociais: A mídia social possibilita a emergência de redes

sociais através de sua apropriação e conversação. Isso se deve ao fato de ela permitir que os rastros da interação fiquem visíveis, permitam que a interação seja extendida no tempo e que as redes sociais sejam mais observáveis. A mídia social, assim, complexifica o espaço social, permitindo novas emergências de grupos. Esses grupos podem constituir-se também como comunidades virtuais.

3.3 Redes Sociais Digitais

De acordo com Raquel Recuero (2009), o advento da Internet trouxe diversas mudanças para a sociedade, entre as quais, a possibilidade de expressão e sociabilização através das ferramentas de comunicação mediada pelo meio digital (CMD). O cientista Steve Harnad (1991, p.39) afirma que estamos vivendo uma era marcada por profundas mudanças no modo de nos comunicarmos, que caracteriza o que ele chama de “quarta revolução” nos meios de comunicação, equiparada as suas antecessoras, que são: (1) o surgimento da linguagem oral, (2) a invenção da escrita, e (3) a criação do texto impresso. Com a tecnologia digital, as formas de interação têm sofrido inúmeras modificações; não podemos dizer, por exemplo, que

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