• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3 – Resultados e Discussão: Experts e domínios de expertise

3.3. Vida Adulta

Enquanto adultos, os três participantes consolidaram suas carreiras destacando-se em seus meios profissionais como experts de renome. No caso do advogado, ele apresenta grande sucesso nas audiências em que participa. Relata pegar os processos e ler e reler

incessantemente, colocar a sua equipe para simular julgamentos e fazer prognósticos de cada uma das situações que lhe aparece como desafios, assim como as define. Busca, então,

informações sobre todos os que estão envolvidos no julgamento. Diz que o prazer inicial era o dinheiro que advinha de seu sucesso, mas seu patamar econômico chegou a um nível tal, que o simples desafio o coloca a serviço das demandas que lhe são colocadas. Não tem descanso, nem dia de domingo, mas é casado e tem a sua rede de amigos, embora adie muitas

gratificações em torno do seu objeto de estudo. Um ponto interessante a ser destacado é que dedica parte de seu tempo a ações sociais, porém não de uma forma assistencialista, mas responsabilizando cada um a tomar parte de suas próprias vidas e conquistas.

Preciso de informação, porque como eu acho que a nossa fábrica é a cabeça, então quanto maior informação eu tiver, maior será a minha chance. (advogado)

No caso do músico, após a sua decisão em deixar o Direito e assumir a sua carreira enquanto músico, ele passou a exercer diversas funções na esfera musical. Diz atuar no

mercado da música, ou seja, fazer música para casamentos, recepções, festas e solenidades em geral. Diz fazer parte de um quarteto musical, com o qual viaja e grava discos. Participa, também, da Orquestra Sinfônica, como músico principal e coloca que, dentro dessas

atividades, múltiplas outras atividades se desenvolvem como desafios. É casado, sempre teve vida social, a qual caminha paralelamente à sua carreira. Diz que a música reflete:

... o constante desafio pessoal de uma evolução dentro do que aquele universo pode me proporcionar.” (...) Então, esses desafios, novos desafios, desafios de cada uma dessas áreas faz com que, realmente, eu fique muito

motivado pra estar buscando melhorar e me superar. Então, quando às vezes vem uma pressão muito grande , uma mudança, uma exigência maior, quer dizer , pra mim não é ruim. Eu gosto e encaro como um desafio que vai me levar a um patamar superior, entendeu? Esse é o tipo de conforto que me traz. E também te proporciona muito. O conhecimento é vasto. (músico)

E já no caso da acadêmica, ela pontua que começou com a Engenharia Química e trabalhando numa grande agência de petróleo. Mas com a influência do marido, quem conheceu nesse trabalho na agência de petróleo, decidiu realizar o Mestrado, o Doutorado, vindo a realizar o seu Pós-Doutorado fora do país. Logo em seguida, fora convidada para assumir a Vice-Diretoria da Escola. Mas como se envolve muito com todas as suas atribuições, começou a resolver os problemas de todos no que tangia a relação com a faculdade. Não suportava respostas burocráticas de que algo podia ou não podia. Dizia que teria que provar a ela o porquê de não ser possível. E foi conhecendo tanta gente e tomando parte de tudo que lhe cabia que veio a assumir o posto de Diretora. Tudo isso veio a refletir na sua área de atuação, já que seu trabalho diz muito da área da administração. Havia chegado um momento em que se começou a falar em Inovação, em Gestão, então pensou porque não estudar Indústria Química, Gestão e Inovação. Economistas e administradores assim o faziam, portanto num nível macro, por desconhecimento das propriedades da Química. Foi quando desenvolveu métodos de estudo relativos à Indústria Farmacêutica e à Petroquímica, utilizando mais detalhes e técnica. Foi o que a tornou conhecida e lhe rendeu uma procura por orientação em teses de Doutorado bastante significativa, chegando rapidamente as 50 teses de Doutorados

orientadas por ela. Número significativo que a fez ganhar o prêmio “Tese de Ouro”, apenas tendo sido ganho por um outro Químico, anteriormente, na Escola da qual faz parte. Diz ter 21 outras teses em andamento e diz ser um reconhecimento por unir uma área técnica a uma área de administração e gestão, o que não havia sido feito anteriormente ou a demanda pela área estaria reprimida até então. Muitas vezes, vê-se em longas viagens e tempo indeterminado dedicado ao trabalho. É casada e busca não deixar de aproveitar oportunidades em ver amigos e familiares. E destaca o cinema como um prazer indispensável em sua vida, uma forma de sair um pouco da realidade e viver uma história outra, que não a sua. Diz que traz uma sensação de relaxamento para seguir em frente com as suas outras atividades. Tendo em vista que esta participante está em uma curva da vida que busca diminuir as suas atividades

acadêmicas, com a aposentadoria se aproximando, a necessidade em realizar qualquer atividade que seja ou realizar-se permanece acesa.

O estudo traz um prazer. E como a gente tem mais coisa pra fazer que tempo... Eu fui procurando e hoje em dia acaba que eu tô num momento da minha vida que eu quero diminuir isso. (...) Uma coisa puxa outra, né? Então, eu procurei e foi um bola de neve. Eu gosto. E se eu não tivesse nada pra fazer, eu procuraria alguma coisa, nem que fosse arrumar um álbum. Sabe como é que é? Eu tenho que ter alguma coisa para me ocupar. Não sou de ficar parada, olhando. Não dá, não dá... (acadêmica em química)

Do ponto de vista Freudiano, todos tiveram que se ligar a uma atividade num momento bastante inicial, tendo sido a música, os estudos ou mesmo as brincadeiras, incorporadas de tal forma a tornar cada um dos participantes visível diante dos demais a partir das atividades desempenhadas. De acordo com Bergeret (2006), na fase oral, o bebê tem como zona erógena a boca ou tudo que o tocar, como a área corpórea tocada pela mãe. Tem a incorporação como meio para a auto-conservação, bem como para o seu prazer parcial sexual. Esse momento pode

ser pensado numa fase primária ou canibalística, quando o bebê incorpora o objeto como parte de seu próprio corpo, por não haver uma diferenciação entre o eu e o não-eu. Uma fase

posterior seria a da mordida, quando ao perceber que o objeto que lhe dá o prazer não faz parte de si, tenta destruí-lo e marcá-lo como possibilidade de incorporação. Ou, de outra forma, tenta uma união com o objeto externo, percebido separado do mesmo.

Como já discutido, a relação que cada um dos participantes estabelece com o objeto de estudo coloca a reflexão de uma posição objetal narcísica. O narcisismo primitivo está

relacionado com o momento no qual são instaurados no sujeito, a partir do olhar das pessoas, qualidades que o definem tanto para os outros quanto para si, o que é fundamental para a constituição do sujeito. É o investimento exterior que diz desse narcisismo primário e um estado precoce no qual a criança investe a sua libido em si mesma. Trata-se de uma ilusão inicial que integra uma imagem perfeita e onipotente a partir da qual irá se definir, se

identificar e se reconhecer enquanto tal, no processo de sua constituição. Assim, a imagem de si é cultivada como uma satisfação narcísica e necessária nessa etapa do desenvolvimento do sujeito. Trata-se de uma relação consigo próprio a partir da qual implicará a demanda de ser objeto de amor de outro (Freud, 1914/1969). E é nessa busca pela completude enquanto sujeitos que as atividades multifacetadas de cada um dos participantes ganhou espaço. Na incessante busca em preencher a falta constituinte a todo ser humano.

Documentos relacionados