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Você nos disse que não devemos renunciar ao mundo, mas estar meditativos dentro dele Disse também que devemos ser

espontâneos e loucos. Como podemos integrar esses dois aspectos

sem nos alienarmos de nossas famílias, amigos e da sociedade

que nos circunda?

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e você começar a pensar em termos de duas contradições e em como fazê-las encontrarem-se, estará sempre em dificuldade. Então, tudo será um compromisso — e com um compromisso, ninguém nuca se sente satisfeito. Algo está sempre ausente, deficiente. Se você fizer isto, então algo neste pólo ficará perdido. Se você fizer aquilo, então algo neste pólo ficará perdido. E seja lá o que for que você perca, continuará pairando na mente. E nunca lhe permitirá ser feliz. Portanto, a primeira coisa é: nunca pense em termos de compromisso. Se você pensar em termos de contradições e em como fazê-las unirem-se, acabará pensando em termos de compromisso. Assim, o que posso lhe sugerir?

A primeira coisa é: esteja sempre integrado por dentro, e não pense em qualquer integração exterior — porque você é o ponto de encontro. Sozinho, sente-se silenciosamente. Na vida, você tem que estar ativo, envolvido. O silêncio e o envolvimento são contraditórios, mas ambos encontram-se em você. Você é o silencioso e o envolvido.

Se estiver integrado, seu silêncio e seu envolvimento estarão integrados. Estar sozinho, e estar com sua mulher, seu marido ou seus amigos, são duas coisas contraditórias, mas você está em ambas. Se estiver integrado, estará feliz sozinho. Se estiver integrado, estará feliz com outros. A felicidade será a sua qualidade. A felicidade não depende de estar sozinho ou de estar com os outros. Se dependesse, então haveria problemas.

Se você sentir que é feliz apenas quando está só, sua felicidade dependerá da solidão e haverá dificuldades. A solidão será uma necessidade. Então, quando estiver com os outros, se sentirá infeliz e começará a pensar em como fazer com que esses dois pólos opostos se encontrem. O problema surge quando você dependente da solidão para ser feliz. Não seja dependente.

Seja feliz na solidão. Deixe que a felicidade seja a sua qualidade. E quando sair da solidão para o envolvimento, para a comunicação, para o relacionamento, conserve essa qualidade de felicidade que existia na solidão — conserve-a.

No começo será difícil, porque quase sempre se esquecerá. Será difícil por causa do esquecimento, por você não estar constantemente alerta, mas, pouco a pouco, poderá conservar a qualidade. Mesmo

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vivendo com alguém, poderá estar tão só quanto estava na solidão. Permaneça uma alma integrada. Quando você não faz nada, sente-se feliz, tranquilo. Essa tranquilidade deve tornar-se uma qualidade sua — e não da inatividade.

Conserve essa qualidade na atividade e não haverá nenhum problema. No começo será difícil, mas o ponto a ser lembrado é que sua felicidade, sua benção, seu êxtase, não devem depender de qualquer condição exterior. Se depender, então vive agora, está sempre dependendo. As pessoas sentem que são felizes quando estão com seus amigos, então ao estarem sós, ficam aborrecidas, miseráveis — alguém é necessário.

Essas pessoas são do tipo extrovertido. O outro tipo é o introvertido. Sempre que está só, sente-se feliz; sempre que está com alguém, fica infeliz. Ambos estão limitados pelo tipo. O tipo é uma barreira. Você deve ficar livre dos tipos. Não deve ser extrovertido, nem introvertido — ou então os dois. Em ambos os casos, você ficará livre do tipo.

Portanto, o que deve ser feito? Nunca se fixe em uma situação, mova-se sempre para o oposto, e conserve a qualidade. Mova-se tanto quanto possível de um oposto ao outro, e conserve a qualidade. Logo você se tornará consciente de que a qualidade pode ser conservada em qualquer lugar.

Então, não poderá ser mandado para o inferno — porque mesmo que seja mandado, conservará sua felicidade lá. E nunca terá medo.

As pessoas religiosas têm medo do inferno, e buscam, anseiam pelo céu. Essas pessoas não são religiosas de modo algum, porque o céu e o inferno são condições exteriores —não são qualidades suas. Essas pessoas mundanas. É isso o que as pessoas mundanas estão fazendo. Elas dizem: Se tal condição for satisfeita, serei feliz. Então a felicidade depende da condição. Se eu tiver um palácio, então serei feliz; Se tiver um muito dinheiro no banco, serei feliz; Se tiver uma belíssima mulher, serei feliz, ou um marido muito bom e amável, então eu serei feliz. Você só é feliz quando algo no exterior é satisfeito. E diz: Se isto não acontecer, serei infeliz.

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É assim que um homem sem religião se comporta. E os homens chamados de religiosos também continuam buscando o céu, evitando o inferno. Eles estão fazendo a mesma coisa!

O jeito

ara você, esta deverá ser a sadhana — a disciplina: mover-se para os opostos tanto quanto possível e procurar conservar a integridade interior.

Sentado em silêncio, senta qual é a qualidade interna. Então, vá para a atividade com essa qualidade retida no seu interior. Ela será perdida muitas vezes — não se preocupe. Se conseguir conservá-la pelo menos uma vez no pólo oposto, tornar-se-á mestre nisso. Saberá o jeito de fazer isso.

Então, algumas vezes andará pelas montanhas — elas são lindas. Depois voltará para o mundo — que também é bonito. Se montanhas são belas, porque não as pessoas? Elas também são montanhas por seu próprio direito. Esteja só algumas vezes; outras vezes, esteja com os outros. E se você estiver alerta, não só não haverá nenhuma contradição, como haverá ajuda vinda do oposto.

Se você puder levar a qualidade de ser feliz da solidão para a sociedade, de repente, perceberá um novo fenômeno, um novo acontecimento em seu interior; que a sociedade ajuda-o a ficar só, e a solidão ajuda-o a se relacionar profundamente com as pessoas.

Um homem que nunca viveu na solidão não pode conhecer a beleza do relacionamento — não pode conhecer, eu digo, porque nunca esteve só. Ele nunca foi uma pessoa — como ele pode conhecer a beleza do relacionamento?

E uma pessoa que nunca viveu em sociedade não pode conhecer o êxtase da solidão. Uma pessoa que nasce num lugar solitário, que é criada num lugar solitário, você pensa que ela estar em êxtase? Você pensa que ela tem prazer com a solidão? Ele é simplesmente insensível e estúpida.

Vá para as montanhas, vá aos Himalaias. Existem pessoas vivendo lá — elas vivem lá há milhares de anos, elas nasceram lá —, mas

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não sentem tanto quanto você a beleza dos Himalaias. Elas não conseguem desfrutar do silêncio tanto quanto você.

Elas nem percebem que o silêncio existe. Quando chegam às cidades, sentem-se emocionadas — sentem a mesma emoção que você quando vai às montanhas. As pessoas que vivem em Bombaim, Londres ou Nova York, sentem-se emocionadas quando vão aos Himalaias. As pessoas que vivem nos Himalaias, só quando chegam Bombaim, Nova York ou Londres, é quem sentem o quanto o mundo é belo.

Para sentir, o oposto é necessário — ele forma o contraste. O dia é belo, porque a noite existe. A vida tem tanta alegria, porque a morte existe. O amor se torna uma dança interna, porque o ódio existe.

O amor leva-o a um alto pico de consciência — porque pode ser perdido! Não é algo do qual você possa estar seguro. Neste momento, ele está presente e no seguinte não estará. A possibilidade de ausência dá profundidade à presença.

O silêncio torna-se mais silencioso quando no fundo existe barulho. Um avião passou há poucos minutos. É possível olhá-lo de duas maneiras: se você é um homem perturbado interiormente, sentirá que ele é uma perturbação do silêncio, se você estiver integrado interiormente, o barulho do avião tornará mais profundo o silêncio aqui. O barulho torna- se um pano de fundo, que dá cor, forma ao silêncio. Ela dá colorido. Depois que o avião passa, O silêncio é maior do que o que havia antes. Depende de você.