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Você poderia nos falar sobre a alternativa de reprimir ou expressar nossas emoções ?

homem é o único ser capaz de reprimir suas energias ou capaz de transformá-las. Nenhum outro ser é capaz disso. A repressão e a transformação existem como dois aspectos de um fenômeno. E o fenômeno é este: o homem pode fazer as coisas por si mesmo.

As árvores existem, os animais existem, os pássaros existem, mas não podem fazer nada por suas existências — fazem parte delas. Não podem sair para fora, não podem ser os agentes. Estão de tal forma diluídos em suas energias que não podem separar-se delas.

O homem pode agir. Pode fazer alguma coisa por si mesmo. Pode observar-se à distância — pode olhar para sua própria energia como se estivesse separado dela. E então pode reprimi-la ou transformá-la. Reprimir significa apenas tentar ocultar certas energias que existem, impedindo-as de ser, impedindo-as de se manifestar. Transformar significa mudar as energias para uma outra dimensão.

Por exemplo, o sexo existe. Há alguma coisa no sexo que faz com que você se sinta embaraçado em relação a ele. Este embaraço não é causado apenas pelo que a sociedade lhe ensinou. No mundo todo existiram e existem muitos tipos de sociedade, mas nenhuma, nenhuma sociedade humana, considerou o sexo com tranqüilidade.

Há algo no próprio fenômeno do sexo, que o faz sentir-se embaraçado, culpado e constrangido. O que é isso? Mesmo que ninguém lhe ensine nada sobre sexo, ninguém o moralize, ninguém crie qualquer conceito sobre ele, assim mesmo, há algo no próprio fenômeno que não o deixa ficar à vontade. O que é?

Primeiro: o sexo mostra a sua profunda dependência — mostra que é preciso uma outra pessoa para o seu prazer. Não é possível o

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prazer sem o outro. Por isso, você depende, perde a sua independência e isto fere o ego. Portanto, quanto mais egoísta for uma pessoa, mais ela será contra o sexo.

Aqueles que vocês chamam de santos são contra o sexo, não porque o sexo seja mau, mas por seus egos. Eles não podem se imaginar dependendo de alguém, pedindo alguma coisa a alguém. Sexo é o que mais lhes fere o ego.

Segundo: No próprio fenômeno do sexo existe a possibilidade da rejeição — você pode ser rejeitado pelo outro. Não há certeza de que o outro o aceitará ou o rejeitará, o outro pode dizer não. E esta é a maior rejeição que pode haver — você se aproximar do outro por amor e ser rejeitado. Esta rejeição cria o medo. O ego diz que é melhor não tentar do que ser rejeitado.

Dependência e rejeição; a possibilidade de ser rejeitado. Há ainda outra coisa mais profunda: no sexo, você se assemelha aos animais.

Isto fere demais o ego humano, porque então não há nenhuma diferença entre um cachorro fazendo amor e você. Qual é a diferença? De repente, você é igual aos animais e todos os moralistas e sacerdotes sempre lhe disseram: não seja um animal! Não faça como eles! Esta é a maior condenação possível.

Em nada você é tão semelhante aos animais como no sexo, porque em nada você é mais natural — em tudo o mais você pode ser artificial.

Comemos. Criamos tanta sofisticação para comer que não nos assemelhamos mais aos animais. A coisa básica é semelhante, mas à mesa, as boas maneiras à mesa, a cultura, a etiqueta, tudo o que se criou em torno da comida é para nos distinguir dos animais.

Os animais gostam de comer a sós. Todas as sociedades então, criam na mente de cada indivíduo que não é bom comer só.

Compartilhe, coma com a família, com os amigos, convide pessoas. Nenhum animal quer saber de convidados, amigos ou família. Sempre que um animal está comendo, não quer que ninguém se aproxime; ele entra na sua solidão.

Se um homem quer comer só, dirão que é um animal, que não compartilha. Sua maneira de comer é natural, não tem sofisticação.

Criamos tanta sofisticação em torno da comida, que a fome tornou-se o menos importante. Nenhum animal importa-se com o sabor.

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A fome é uma necessidade básica — quando acaba o animal sente-se satisfeito. Mas o homem não; é como se a fome não contasse; o que importa é alguma outra coisa. O que importa é o sabor. O que importa são as boas maneiras. O que importa é como se come e não o que se come.

O homem criou um mundo próprio artificial ao seu redor com todas as outras coisas. Os animais são nus — e é por isso que não queremos ficar nus. Se alguém está nu, de repente, choca toda a nossa civilização, rompe suas próprias raízes. É por isso que há tanto antagonismo contra pessoas nuas. Isto acontece no mundo inteiro.

Se você sai na rua sem roupa não está ferindo ninguém em particular, não está praticando violência contra ninguém, está completamente inocente. Mas imediatamente virá a polícia e tudo ficará agitado. Ela o agarrará, o machucará e o porá numa cela. E você não fez absolutamente nada!

Um crime só acontece quando se faz alguma coisa. Você não está fazendo nada, apenas está nu! Mas por que a sociedade fica tão zangada? Ela não se zanga tanto nem com um assassino. Isto é estranho. Mas fica completamente zangada se um homem está nu.

É porque um assassinato ainda é humano. Nenhum animal comete assassinato. Mata para comer, mas não assassina. E nenhum animal assassina os que são da sua espécie, só o homem. Portanto, a sociedade aceita um assassinato porque é algo humano.

Mas a nudez, a sociedade não pode aceitar — porque uma pessoa nua nos faz cientes de que somos animais. Por mais que queiramos nos ocultar sob as roupas o animal está lá; nu, o animal nu existe, o macaco nu está presente.

Você se volta contra um homem nu, não pela nudez, mas porque fica ciente da sua própria nudez — e o ego sente-se ferido.

Vestido, o homem não é animal. Com boas maneiras à mesa, o homem não é animal. Com linguagem, moral, filosofia e religião, o homem não é animal.

O que há de mais religioso é ir a uma igreja ou a um templo para rezar. Por que isso é tão religioso? Porque nenhum animal vai à igreja e nenhum animal reza.

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Rezar é absolutamente humano. Rezar num templo é a diferença máxima de que você não é um animal.

Mas o sexo é uma atividade animal. Faça como fizer, oculte o quanto quiser, crie seja lá o que for em torno do sexo; o fato básico permanece animal. E quando você entra no sexo, torna-se semelhante aos animais.

Por isso, muitas pessoas não gostam do sexo. Não conseguem ser totalmente animais, porque seus egos não permitem.

Portanto, este é o conflito: sexo versus ego. Quanto mais egoísta for uma pessoa, mais estará contra o sexo. Quanto menos egoísta for, mais ela se envolverá com o sexo. Mesmo as menos egoístas sentem — menos, é claro, mas mesmo assim sentem que há algo errado, e sentem-se culpadas.

E, quando alguém se entrega totalmente ao sexo, o ego se perde. À medida que vai se aproximando do momento do ego desaparecer, um grande medo apodera-se de você.

As pessoas fazem amor, mas não entram intimamente no sexo, não entram profundamente, realmente. Apenas representam superficialmente que estão fazendo amor — porque para fazer amor realmente, você tem que abandonar toda a civilização. Sua mente tem que ser posta de lado — junto com sua religião, sua filosofia, com tudo. E, de repente, você percebe que brotou de seu interior um animal selvagem. De dentro, sai um rugido. Você começa a rugir de verdade como um animal selvagem — começa a rosnar e a gritar. E se permitir, a linguagem desaparecerá. Surgirão sons, exatamente como os dos pássaros e dos outros animais. De repente, toda uma civilização de milhões de anos desaparece. Você é outra vez um animal num mundo selvagem.

Existe medo. E por causa desse medo, o amor é quase impossível. O medo é real — porque quando você perde o ego, torna-se quase insano, selvagem, e tudo pode acontecer. Você sabe que alguma coisa pode acontecer. É possível até matar, assassinar a pessoa que se ama, é possível começar a comer o corpo do outro, pois todos os controles são removidos.

A repressão parece a maneira mais fácil de evitar tudo isso. Reprimir ou permitir só o suficiente para que não se corra perigo,

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permitir só um tanto que possa ser controlado. Você permanece no controle, manipulando. Permite até um ponto e depois não permite mais. Nesse momento, você se fecha e reprime.

A repressão existe como proteção, como salvaguarda, como medida de segurança. E as religiões sempre usaram essa medida de segurança. Exploram esse medo do sexo e o tornam ainda mais medroso. Criam um tremor interno. Fazem do sexo o pecado básico e dizem: você não entrará no Reino de Deus a menos que o sexo desapareça. Num certo sentido, estão certas, mas também estão erradas.

Eu também digo que a menos que o sexo desapareça você não conseguirá entrar no Reino de Deus. Mas o sexo só desaparece quando é totalmente aceito — não reprimido, mas sim transformado.

As religiões exploram o medo e a tendência humana para o egoísmo. Criam muitas técnicas de repressão. Não é difícil reprimir, mas custa muito — porque toda a sua energia fica dividida em si mesma, lutando, e então toda a vida é dissipada.