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3.2 SEGUNDA FASE DA PESQUISA – TURISTAS SURDOS

4.2.1 William

William tem 38 anos e é noivo de uma moça ouvinte, que trabalha como intérprete de Libras. Ele trabalha em duas escolas: como assistente de turma em uma escola em Belford Roxo, e como assistente educacional na mesma escola em que Vinícius trabalha. Quando perguntado sobre qual a função do assistente de turma, deu a seguinte explicação:

Eu sou o chefe dos professores que trabalham em sala de aula. Eu vou meio que “consertando” o trabalho deles. [...] Eu vejo o que eles prepararam pra dar na aula, e libero: “Ah, assim tá bom! Pode ir lá dar sua aula.”. Vejo se eles precisam fazer algum passeio com os alunos, alguma visita que tenha que marcar ônibus e intérprete. Aí vejo se tem dia disponível na agenda pra essa atividade... E dou meus comentários. (William)

Na época em que a entrevista foi realizada, ele estava concluindo a graduação em Pedagogia, ao mesmo tempo em que se preparava para concluir o curso de Licenciatura em Letras Libras, pela UFSC à distância. Ele fez as duas graduações simultaneamente.

Ele contou que nasceu ouvinte e ficou surdo devido ao uso de antibióticos que teve de tomar depois de ter sobrevivido a um incêndio, aos 5 (cinco) anos de idade.

Como ensurdeceu depois de aprender a falar a língua portuguesa, continuou comunicando nesta língua, através de leitura labial, até os 18 anos de idade. A falta de contato com outros surdos o fez criar vários estereótipos acerca da surdez.

59 William: Antigamente, eu tinha contato mais com pessoas ouvintes. Desde pequeno até os 18 anos. Aí com 18 anos eu conheci outros surdos. Foi um choque! Eu nunca tinha visto outros surdos. Foi uma sensação horrível! Eu me senti estranho, fiquei com medo...

Entrevistadora: Medo, é? (risos)

W: Não, e o pior: eu pensava que o INES era um hospício. E: (risos)

W: É. Eu pensava. Porque eu nunca tinha visto um surdo antes! (Trecho da entrevista com William)

Aos 18 anos, ele passou a estudar no INES e, segundo seu próprio relato, sofreu discriminação por parte dos colegas surdos por ser oralizado em um ambiente onde todos utilizavam apenas os sinais. Com um grande esforço inicial, ele aprendeu a Libras, e em 6 (meses) já conseguia manter uma conversa em sinais. Hoje ele tem mais facilidade com sinais do que com as palavras da língua portuguesa, embora continue oralizando em alguns momentos. “[Português é] Língua difícil pro surdo! Aí é mais difícil pra guardar as palavras... (risos)” (William)

William contou com detalhes como fazia para viajar com os colegas surdos, mesmo sem ter muito dinheiro. O direito à gratuidade no transporte permitiu que ele e os colegas, mesmo sem muitos recursos, pudessem fazer muitas viagens, com uma frequência bastante alta. Na década de 1990, segundo o entrevistado, a forma de comprovar o direito a gratuidade não era regulamentada. Portanto bastava apresentar o comprovante de estudante do INES.

Com a caderneta a gente podia pegar o metrô, o ônibus comum, ônibus de viagem... Podia até ir de avião! Só que de avião era mais difícil. Tinha que provar que tinha familiares morando lá em São Paulo, aí alguém que trabalhava com os aviões ligava pra lá pra confirmar que a gente tinha família lá [...] Agora eles cortaram isso tudo. Com o passe livre ficou mais difícil por que só serve pra viajar pra outro estado. Aqui dentro do Rio não serve. Aí é chato! Tem que fazer o cartão da gratuidade azulzinho, pra usar aqui dentro da cidade, mais o cartão verde da ADL, mais o cartão de gratuidade do metrô... É muito cartão! [...] (risos) É muita coisa! Com a caderneta era mais fácil, era um documento só. E a gente tinha a liberdade de ir aos lugares sem ter que se preocupar com nada. Hoje dá muito mais trabalho. (William)

E a prática do turismo tinha um significado especial para as pessoas surdas. O entrevistado entende viajar como uma forma de ter “outros assuntos” para conversar. Isso porque os ouvintes têm acesso às informações sobre o mundo e sobre o modo de vida em outras culturas através dos meios de comunicação: telejornais, rádio, revistas, etc. Porém, todas as informações veiculadas nestes

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meios de comunicação estão em língua portuguesa. Nenhuma está em Libras. E a maior parte delas é difundida por meio do som. Sendo assim, viajar é uma forma de “ver a vida acontecer” com os próprios olhos, sem a barreira de uma língua diferente no meio do caminho.

Sempre no Rio! E aí num dá [sic.]! Surdo gosta de viajar pra lugares diferentes! Pra ver coisas novas. Se formos comparar com os ouvintes, por exemplo, se você fala sempre sobre os mesmos assuntos, enjoa, né? [...] Como os ouvintes: cansa escutar sempre a mesma música! Aí, quando escuta uma música nova, a sensação é outra, bem melhor! É mais ou menos assim. (William)

William é o único surdo na família. Viajar é seu hobby favorito. Mas ele prefere a companhia de pessoas que saibam Libras para fazer suas viagens.

4.2.2. Rafael

Rafael tem 29 anos e trabalha como instrutor20 de Libras em uma escola inclusiva. Já trabalhou também como assistente educacional. A Libras não é a única língua de sinais que ele conhece. Sabe também sinais internacionais (SI) e língua de sinais americana (ASL)21.Algumas línguas de sinais estrangeiras ele não sabe com fluência, mas consegue usá-las para estabelecer uma conversa com um usuário daquela língua.

Sendo no Brasil, é mais fácil de se comunicar. Às vezes a pessoa tá aprendendo sinais, ou às vezes já sabe. Aparece muita gente que sabe! Desculpa, só os sinais do Brasil não. Outras línguas também: ASL, LSF22, a língua de sinais da Argentina. Eu já tentei me comunicar com gente que usava os sinais da Argentina e a comunicação foi ótima! (Rafael)

Formou-se em Licenciatura em Letras Libras, pela UFSC, na mesma turma que o entrevistado William. Rafael também estuda Pedagogia no INES.

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No período anterior a Lei 10.436, que legalizou a Libras, não havia formação superior específica para professores de Libras. Para que a profissão de professor de Libras pudesse ser exercida, sem exigência de um curso superior (que não existia até então), a Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS) começou a utilizar a nomenclatura “instrutor de Libras” para as pessoas surdas que eram contratadas para ensinar a Libras. Esta nomenclatura tende a desaparecer, pois já começam a aparecer cursos superiores de formação de professores de Libras.

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Em inglês, “American Sign Language”. 22

Sigla referente a Língua de Sinais Francesa (LSF), conforme mencionado no referencial teórico deste trabalho.

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O hobby de Rafael também é viajar, mas ele não se importa se tiver que fazer isso sozinho. Costuma conhecer cerca de 50 (cinquenta) cidades por ano. Muitas dessas cidades, ele decide visitar quando já está realizando uma viagem e percebe a proximidade e a facilidade para conhecer a outra. Seu estilo é bastante aventureiro. “Viajar é a minha vida!”, ele diz.

Rafael participa do movimento de Jovens Surdos, que realiza encontros com certa periodicidade. A Federação Mundial dos Surdos tem um Departamento de Jovens, que lidera o Movimento de Jovens Surdos no mundo todo. Este movimento está comprometido com os direitos civis, humanos e linguísticos de todos os jovens surdos do mundo. A FENEIS apoia os encontros de Jovens Surdos, nas categorias: internacional, regional e estadual. Nesses encontros, além das discussões pertinentes ao evento, o entrevistado troca informações com outros surdos e dicas de como aproveitar melhor a viagem.

Ele relata os costumes diferentes das cidades onde esteve, mas vê isso como uma experiência positiva, que faz com que ele jamais volte para casa da mesma maneira que antes.

Rafael: [...] Então, eu estranhei muito o lugar. O banheiro, por exemplo, não tinha água! E muitas coisas também eles não tinham.

Entrevistadora: Ué, não tinha água no banheiro?!

R: Tinha bem pouco. Tinha que jogar água com uma jarra... Porque não tinha descarga não.

E: Aaah!

R: E aí eu olhava e ficava pensando “E agora? Como faz?”... Era o costume deles, as limitações. Eles não tinham pia. Tinha que andar até o poço, e isso só até uma determinada hora... Então muita coisa eles não tinham! Mas eu aceitava bem... o lugar, né? E aí parece que a cidade te modifica. Você tem que aceitar o sacrifício, né? Mas a comida deles me deu um certo nojo...

E: É?

R: É. Eu tive que ter paciência... Assim, por exemplo: eu via a comida até achava bonito o prato. Eu comi, aí depois, eu uma criança me falou... quando eu perguntei que comida era aquela. Ela me falou que era morcego! [...]

E: Ui!

R: Mas aí já era! Eu já tinha comido! E: É, né?! (risos)

R: Porque lá as coisas eram muito escassas, então tinha que se fazer um sacrifício. Ninguém tinha me falado antes da comida. Porque o lugar era diferente... Então eu resolvi aceitar essas diferenças. Em outro lugar, no Peru... O sinal de Peru é assim... A comida era muito estranha lá! Eu passei um certo sufoco pra comer... Era diferente! A gente pensa “Ah, a comida é boa!”, mas por exemplo, quando eu fui na França, a carne lá era macia, desmanchava na boca! Mas no Peru, eu ficava um tempão mastigando e a carne ainda tava inteirinha dentro da boca! Parecia até chiclete! Eu fazia um

62 monte de coisa, sabe? E tava lá mastigando, a carne continuava igual! Parecia plástico!

E: (Risos!)

R: É, era estranho. [...] São as diferenças, né? Dos lugares. (Trecho da entrevista com Rafael)

Ele começou a viajar sozinho na adolescência. A família só deixava ele visitar cidades próximas. Até que ele,aos 18 anos, se aventurou e foi para uma cidade mais distante. A família só soube depois que ele voltou.

Eu menti... [...] Porque se eu falasse que ia pra uma cidade perto, eles iam deixar. Mas pra uma cidade mais longe, eles não deixavam. E aí eu tentei dizendo que ia pra uma cidade próxima, eles deixaram, eu peguei e fui pra longe. E aí quando eu voltei eu disse pra família aonde eu tinha ido. Porque aí já era, né? Eu já tinha ido! (risos) (Rafael)

Ele contou que já esteve em todos os estados do Brasil, menos Rondônia. Mas está nos planos dele ir para lá, e também conhecer ainda muitos outros países.

4.2.3 Rute

Rute tem 25 anos e é a filha mais nova de Hilza, que fora entrevistada na primeira fase da pesquisa. Ela estava noiva de Vinícius – que também foi entrevistado na primeira fase – quando a entrevista com ela aconteceu.

No período em que a entrevista foi realizada, Rute trabalhava como assistente educacional em uma escola de surdos, e como tutora da turma de Bacharelado em Letras Libras da UFSC, na modalidade à distância. Atualmente ela trabalha como professora de Libras em uma universidade pública.

Além de ter se formado em Pedagogia, formou-se também em Licenciatura em Letras Libras, à distância, pela UFSC. Atualmente cursa especialização em Libras em uma universidade pública.

Ela disse que ensurdeceu aos 2 anos de idade e, embora não se lembre com certeza, isso foi antes que ela aprendesse a língua portuguesa.

O interessante é que, quando a mãe dela foi entrevistada, passou boa parte da entrevista contando o episódio em que a filha viajou sozinha e teve complicações com a mudança dos portões de embarque na última hora. Neste momento em que Rute foi entrevistada, ela pôde contar sua própria versão dos

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fatos. Ela ratifica a falta de acessibilidade para surdos no aeroporto, que sua mãe já havia mencionado.

Foi a primeira vez que eu viajei sozinha de avião. E foi bem difícil porque as informações dos voos vêm sempre por áudio, né? Então não dá pra saber, se acontece alguma mudança. Eu quase perdi o avião. [...] Fiquei pensando se o avião já tinha saído ou não. Fui ficando preocupada. Fiquei tentando ver na tela se já tinha passado. Mas eu não entendo muito do que tá escrito naquela tela, uma linguagem diferente, esquisita. Aí eu virei pra uma mulher, uma estranha, eu não a conhecia, pedi desculpas assim, perguntei se ela ia pro mesmo voo que eu, mostrei minha passagem. E ela falou: “Ah, espera que vai chegar ainda.”. Falei: “Ah, ainda vai chegar? Ufa!” (Rute)

Segundo ela, as informações dos voos fornecidas em português escrito são confusas demais. Nesta mesma viagem, quando regressou para casa junto com outros surdos, os amigos explicaram para ela que é possível avisar a companhia aérea, assim que chegar ao aeroporto, que ela é surda e que não vai ouvir as informações dadas por áudio. Há companhias aéreas que, nestes casos, disponibilizam um funcionário que acompanha o passageiro até o embarque, lhe instruindo quanto às mudanças de última hora.

Rute: Eu não sabia que eu podia comunicar isso pra empresa. Eu aprendi com os surdos que me avisaram. Eles disseram que se eu disser: “Olha, sou surda, como vou entender o que anunciarem?”, eles disponibilizam um guia. Não sei se é guia que fala... Uma pessoa...

Entrevistadora: Um funcionário da companhia?

R: É, da companhia. E esse funcionário vai junto comigo. Eu não sabia. E: Ah, então se você avisar que é surda, um funcionário te acompanha? R: É! Isso! Na volta, um homem da companhia veio e me acompanhou... (Trecho da entrevista com Rute)

Porém, deve-se observar que nem todas as pessoas surdas gostam ou desejam este serviço.

E aí um amigo meu falou que não gostava de ter alguém acompanhando. Eu perguntei “Ué, por que?”. Ele falou: “Ah, eu vou ficar conversando em Libras com meus amigos e ele não vai entender nada!”. (Rute)

4.2.4 Maurício

Maurício nasceu ouvinte, e ficou surdo aos 3 anos de idade, depois de ter sobrevivido à meningite. Ele permaneceu comunicando-se oralmente e através de

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leitura labial até os 20 anos de idade, quando finalmente aprendeu a língua de sinais e teve contato com a comunidade surda. Hoje ele se comunica bem tanto em Libras quanto em língua portuguesa, dependendo da necessidade da pessoa com quem ele conversa.

Ele tem 39 anos e é casado com uma mulher ouvinte, que trabalha há anos como intérprete de Libras. Eles têm dois filhos ouvintes e moram na Taquara, no Rio de Janeiro.

Maurício trabalha como instrutor de Libras, e muitas vezes viaja para outras cidades ou outros estados para dar aulas. Ele também é pastor evangélico e costuma ser convidado para pregar em outras cidades.

O caso de Maurício é bastante peculiar porque, diferentemente dos outros entrevistados, todas as vezes em que ele viaja tem um intérprete de Libras viajando com ele ou esperando-o no destino para onde vai. Mesmo nas viagens de lazer que faz com a família, não há grandes problemas de comunicação, mesmo porque sua família é toda ouvinte e sabe sinais. Mas não só por isso. Maurício é plenamente bilíngue, se dá bem com português oral, escrito e com a Libras. Em sua entrevista não relatou nenhuma barreira de comunicação nas viagens que fez.

Quando eu viajo sozinho e encontro uma pessoa com quem não to conseguindo me comunicar, eu vou escrevendo no papel. Eu escrevo em português porque eu sei português. (Maurício)

Durante a entrevista, Maurício relatou algumas experiências de viagens que já fez: a estranheza com certos costumes diferentes dos seus habituais, atrasos na aterrissagem do avião e também falou das motivações de suas viagens e de como costuma comprar uma viagem.

Maurício: Eu sofri no avião, porque ele ficou preso 3 horas dando voltas no ar. [...] Porque tava uma chuva muito forte! Então ele teve que ficar no ar aguardando. Ficou 3 horas dando voltas, até que a chuva parou e a gente pousou. Eu fiquei preocupado por causa da minha esposa, minha família. Entrevistadora: Eles tavam junto com você?

M: Fiquei preocupado dela não conseguir dormir. Eu não tava junto com minha família não. Eu tava sozinho.

E: E como ela sabia, pra ficar preocupada? M: Ela ficou preocupada...

E: Ela sabia que o avião tava dando voltas no ar, sem poder pousar? M: Sabia.

65 M: Porque ela sabia a hora que o avião ia chegar no destino, e eu sempre mando mensagem pra ela quando eu chego. (Trecho da entrevista com Maurício)

4.2.5 Carolina

Carolina mora na Barra, no Rio de Janeiro; tem 33 anos, é casada com um surdo e tem um filho ouvinte. Ensurdeceu aos 2 anos depois de ter tido uma doença, mas só teve contato com Libras e com a comunidade surda aos 26 anos. Utiliza a língua de sinais para se comunicar e organizar seus pensamentos. “Quando eu durmo, eu sonho em Libras! [...] no sonho todo mundo sinaliza, né?” (Carolina)

Carolina contou que estudava Engenharia em uma renomada universidade particular, mas desistiu no meio do curso. Ela se sentia bastante deslocada, pois os ouvintes da turma não pareciam predispostos a interagir com alguém que não ouve nada.

Graduou-se então em Licenciatura em Letras Libras, na modalidade à distância, pela UFSC; e agora estuda em uma pós-graduação lato sensu em Libras. Em ambos os cursos, Carolina foi colega de turma de Rute, entrevistada também neste trabalho.

Ela contou que trabalha em vários lugares: presta consultoria na área de Libras, é professora e coordenadora de Libras em uma associação de intérpretes de Libras, e também trabalha com a tradução de livros para a Libras na editora Arara Azul. A editora Arara Azul23 produz materiais voltados para pessoas surdas e profissionais da área da surdez. Atualmente, Carolina é também professora de Libras em uma universidade pública.

Carolina já viajou para o exterior algumas vezes. Ela explicou como tenta lidar com a língua estrangeira.

Às vezes eu viajo pro exterior... Só quando eu viajo pro exterior. Quando eu chego na viagem, eu fico pensando como eu vou fazer, né? Eu preciso me esforçar. Eu me sinto bem turista! Então tenho que me esforçar pra lidar com o inglês, o espanhol. Eu fico queimando os neurônios tentando ler as informações escritas que tem no país. Às vezes eu consigo, às vezes não.

23 Há mais informações sobre a Editora Arara Azul, no site: http://editora-arara- azul.com.br/portal/index.php/about-us Acesso em: 11 de janeiro de 2013.

66 Quando é espanhol, eu consigo fazer leitura labial. Eu vou me acostumando com a língua, em uma semana assim já to conseguindo. Mas o primeiro dia é bem complicado. [...] Às vezes eu tento falar, vejo se a pessoa entende o que eu falei. Aí a pessoa me responde falando, eu não entendo nada. Então, eu peço pra pessoa escrever no papelzinho. Ela escreve e me dá, e eu entendo. (Carolina)

Ela comenta que, embora já tenha visitado outros estados e outros países, ainda não conhece alguns atrativos turísticos principais da cidade em que mora, como o Jardim Botânico.

4.2.6 Bianca

Bianca tem dois filhos adultos, ambos ouvintes. Já foi casada com um surdo, mas atualmente mora com a mãe, no bairro do Catete, no Rio de Janeiro. Ficou surda aos 3 anos de idade, quando já sabia falar a língua portuguesa.

[...] Mas como eu fiquei surda, eu fui parando de falar em português. [...] Aí depois, eu fiz tratamento com fonoaudiólogo. Aí voltei a falar. (Bianca)

Bianca se comunica em Libras atualmente. Possui formação em pós- graduação lato sensu, e trabalha como professora de Libras também em uma universidade pública. No período em que a entrevista foi realizada, Bianca trabalhava também como tutora do curso de Licenciatura em Letras Libras da UFSC, à distância. Ela era tutora da turma em que William e Rafael, que também participaram da presente pesquisa, estudavam.

O que motiva as viagens de Bianca é principalmente o lazer. Ela confessa que não tem muita paciência para passeios culturais, e que gosta de lugares que tenham praias e muito sol. E não se importa de viajar sozinha.

Ficar vendo memórias da cidade... Eu não tenho o menor interesse! Meu negócio é água! Até meu signo é peixes! Então eu sou mesmo como um peixe! Sou viciada em água! (risos) [...] Meus filhos já estão grandes, querem sair com as namoradas, cuidar da vida deles... Agora eu quero aproveitar o tempo que é meu. (Bianca)

A compra da viagem é feita, principalmente, em sites de compra coletiva. Bianca gasta um bom tempo procurando ofertas e promoções, e fica muito satisfeita de encontrar opções bastante baratas. “Eu vou comparando e vejo o que

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tá mais barato. Se tem uma promoção, eu vou lá e compro! Passo o cartão.” (Bianca)

Bianca já viajou algumas vezes para o exterior, para eventos relacionados a comunidade surda. Ela conta como fez para se comunicar em diferentes línguas.

Bianca: [...] nos Estados Unidos eu escrevia no papel em inglês pra conversar com as pessoas... Tinham alguns surdos que eu encontrei lá e