• Nenhum resultado encontrado

A Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB/88), no Título II, traz em seu texto os direitos e garantias fundamentais.

59

O foco deste trabalho são aqueles direitos e garantias pertinentes a análise de eventuais conflitos, em um processo judicial, quando houver a necessidade da produção de prova pericial requerida pela parte assistida pela gratuidade de justiça. Desta feita, dadas as ponderações elencadas, passamos à análise de específicos direitos fundamentais inerentes a este trabalho.

2.1 ACESSO À JUSTIÇA – ART. 5º, XXXV, CRFB/88

O direito de acesso à justiça resta consagrado na Constituição da República Federativa do Brasil em seu art. 5º, inciso XXXV, determinando que: “[...] XXXV - a lei não excluirá da aprecia- ção do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; [...]” (BRASIL, 1988).

Importante ressaltar que a Constituição Federal (CRFB/88), em seu art. 5º, XXXV, traz o direito à prestação jurisdicional e não à tutela jurisdicional. Assim, há a garantia fundamental de que a lesão ou ameaça ao direito será analisada pelo Judiciário, não podendo este se recusar a fazê-lo, que é a prestação jurisdicional, diferente da tutela jurisdicional que, por sua vez, sig- nifica satisfazer o direito para uma das partes, e não o direito que a parte tem de ter o conflito submetido ao Judiciário (PADILHA, 2018, p. 397).

Desta feita, entende-se que o direito de acesso à justiça é o direito fundamental que toda e qualquer pessoa possui de que qualquer lesão, ou ameaça de lesão, a um direto seu seja analisado pelo Judiciário, não podendo haver lei ou outro empecilho legal que impeça que a parte provoque o Judiciário, sendo a este vedado, inclusive, apontar que a referida análise é de competência de outro órgão que a ele não esteja vinculado. Ao passo que se entende o direito de acesso à jurisdição como o direito que a parte tem de ter resolvido, e não tão somente ana- lisado, o direito que busca, sem que nada assim possa impedir.

Nesse sentido, é importante mencionar sobre a garantia constitucional daquele que não tem recursos financeiros suficientes para demandar ao Judiciário, o que será a seguir abordado.

2.2 ASSISTÊNCIA JURÍDICA INTEGRAL E GRATUITA (ART. 5º, LXXIV, CRFB/88) E A GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O direito fundamental de acesso à justiça vai diretamente de encontro com a limitação econômica do indivíduo que necessita da prestação jurisdicional, ao passo que a referida hipossuficiência importa em óbice à parte de buscar o Judiciário. Assim, resta ao ordenamento jurídico procurar soluções para que a sociedade tenha seus direitos fundamentais atendidos.

Neste sentido, a Constituição Federal (CRFB/88) em seu art. 5º, LXXIV, trouxe o direito da assistência jurídica integral e gratuita: “[...] LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica inte- gral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; [...]” (BRASIL, 1988).

A CRFB/88 alcançou patamar superior a todas as outras Constituições anteriores, no âmbito da assistência jurídica, pois consagrou que o Poder Público tem o dever de fornecer a assistência jurídica integral e gratuita (RAMOS, 2018, p. 25). Dessa forma, a assistência jurídica gratuita é um direito fundamental, o qual é realizado pelo Defensoria Pública, órgão custeado pelo Estado.

60

Ainda, há outro instrumento utilizado pelo ordenamento jurídico para facilitar o acesso à justiça de todo e qualquer cidadão que não possua recursos suficientes para adimplir as custas processuais, que é o benefício da justiça gratuita, também chamado de gratuidade de justiça.

Sobre o tema, importante mencionar os estudos de Mauro Cappelletti:

O progresso na obtenção de reformas da assistência jurídica e da busca de mecanismos para representação de interesses “públicos” é essencial para proporcionar um significativo acesso à justiça. Essas reformas serão bem sucedidas – e, em parte, já o foram – no objetivo de alcançar proteção judicial para interesses que por muito tempo foram deixados ao desabrigo. (CAPPEL- LETTI, GARTH, 1998)

O direito de gratuidade de justiça é regulamentado pela Lei 1.060/50, que foi parcialmente revogada pelo Código de Processo Civil de 2015, de modo que a regra vigente para conces- são deste benefício resta prevista nos artigos 98 e seguintes do CPC, combinados com a Lei 1.060/50 (ABELHA, 2016, p. 262).

O benefício da justiça gratuita importa na isenção das despesas processuais necessárias para o regular trâmite de um processo judicial, ao passo que a assistência jurídica se refere ao direito da parte de lhe ser prestada assistência por profissional do Direito, de modo que esta assistência não demanda a existência de um processo judicial. Por fim, a assistência jurídica abrange estes dois citados conceitos, incluindo todas as medidas do Poder Público que obje- tivam promover aproximação entre a sociedade e os serviços jurídicos (DIDIER JR; OLIVEIRA, 2016, p. 24).

Tratando-se mais precisamente da gratuidade de justiça, ou justiça gratuita, tem-se que, conforme apontado, “[...] refere-se à dispensa de pagamento de custas processuais ou extra- processuais aos que se declarem expressamente pobres nos termos da lei.” (RAMOS, 2018, p. 28). Ressalta-se, contudo, que se trata de um benefício de cunho personalíssimo, devendo haver requerimento, e comprovação de cumprimento dos requisitos para concessão, de forma individual por cada uma das partes do processo (NEVES, 2019, p. 300).

O Código de Processo Civil determina a necessidade de que haja insuficiência de recur- sos, mas não se demanda situação de miserabilidade, de forma que não há na lei imposição de valores, sendo, assim, possível que se conceda o benefício a uma pessoa que tenha boa renda, havendo tão somente a diferenciação no aspecto de comprovação da real necessidade da gratuidade de justiça, existindo hipótese em que se faz necessário que a parte comprove a sua situação de hipossuficiência econômica (DIDIER JR.; OLIVEIRA, 2016, p. 60-61).

Desta feita, a gratuidade de justiça, regulamentada pelo Código de Processo Civil (BRA- SIL, 2015) e pela Lei 1.060/50 (BRASIL, 1950), é um instituto processual inerente ao direito fun- damental da assistência jurídica integral e gratuita, de forma a garantir a assistência do Poder Público aos hipossuficientes.

O referido benefício se estende inclusive à produção de prova; no caso deste trabalho, abordar-se-á, em especial, a produção de prova pericial do beneficiário da gratuidade de jus- tiça. Dessa forma, adentramos ao cerne central deste estudo.

61