• Nenhum resultado encontrado

A Constituição da República prevê garantias constitucionais, com destaque para o que dispõe a norma do artigo 5º, que trata de princípios constitucionais que são os pilares para o ordenamento jurídico brasileiro.

Assim, os princípios norteiam a atividade jurisdicional e preenchem eventuais lacunas dei- xadas por lei, permitindo que as decisões judiciais sejam mais eficazes, bem como torná-las nulas em caso de sua inobservância. Com efeito, convém discorrer acerca dos princípios cons- titucionais do processo.

3.1 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

É considerado direito fundamental e encontra previsão no artigo 5º, LV, da Constituição da República de 1988: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”

(BRASIL, 1988).

Rosemiro Pereira Leal afirma que “o processo, ausente o contraditório, perderia sua base democrático-jurídico-proposicional e se tornaria um meio procedimental inquisitório em que o arbítrio do julgador seria a medida colonizadora da liberdade das partes.” (LEAL, 2018, p. 155).

Nesse sentido, mencionado princípio encontra-se revestido de caráter absoluto, não podendo processos ou procedimentos serem disciplinados sem que as partes exerçam o devido contraditório, salvo situações legais que permitam que seu exercício seja postergado, não havendo, neste caso, violação ao princípio constitucional.

As partes, portanto, devem ser mais que meramente polo ativo e polo passivo à espera de um provimento ou não judicial. Com efeito, surgiu o elemento substancial do princípio do con- traditório, no qual as partes de forma efetiva participam do processo, podendo exercer influên- cia na decisão judicial. Exatamente por isso, o acesso e a manifestação dos litigantes devem ser o mais amplo possível no curso do processo.

93

A propósito da temática, Nelson Nery Júnior afirma que:

Em outras palavras, não se pode economizar, minimizar, a participação do litigante no processo, porque isso contraria o comando emergente da norma comentada. O órgão julgador deve dar a mais ampla possibilidade de o liti- gante manifestar-se no processo. Significa, ainda, poder acompanhar e parti- cipar da colheita da prova, de modo a poder, in continenti, fazer a contraprova, por exemplo, reperguntando para a testemunha. (NERY JÚNIOR, 2016, p. 246) Nesse contexto, o princípio em comento não somente traz maior efetividade para o pro- cesso, mas também as partes ficam seguras e certas de que na relação processual não haverá surpresa, eis que estarão cientes de todos os atos praticados.

Portanto, o contraditório significa “a constante oportunidade de manifestação, sobre ques- tões colacionadas ou que afetem os autos, pelos afetados pelo provimento final, superando o mero dizer e contradizer” (FREITAS; RIBEIRO, 2019, P. 17).

Pelo exposto, qualquer decisão que venha a ser proferida ou ato processual executado sem que uma das partes tenha exercido de forma efetiva o contraditório, incorre em nulidade, assim como dispositivos legais que, de qualquer forma, restrinja os modos de manifestação violam o comando constitucional.

3.2 PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA

No princípio da ampla defesa, considerado complementar ao princípio do contraditório, as partes do processo têm o direito de arguir todas as teses defensivas e utilizar os meios de provas que forem permitidos em direito. Também valer-se do recurso cabível para combater decisões que lhe seja desfavorável.

E, nos dizeres de Sérgio Henriques Zandona Freitas, o princípio da ampla defesa “regula as relações existentes entre os interessados e o julgador, até que este último explicite a decisão (administrativa ou judicial) tutelando os afetados litigantes, por meio da atividade realizada no curso do procedimento” (FREITAS, 2014, p. 85).

Nelson Nery Júnior assim afirma:

Feitas as alegações, os titulares da garantia da ampla defesa têm o direito à prova dessas mesmas alegações. De nada adiantaria garantir-se a eles com u’a mão o direito de alegar e subtrair-lhes, com a outra, o direito de fazer prova das alegações. O direito à prova, pois está imbricado com a ampla defesa e dela é indissociável. (NERY, 2016, p. 283)

O exercício da ampla defesa pode ocorrer por meio da autodefesa, tendo a parte o direito de audiência, interrogatório e de presença nos atos processuais. É, pois, um direito disponível, não sendo a parte obrigada a exercer sua autodefesa. No entanto, este ato se mostra restrito, principalmente pelo fato de que na maior parte das vezes será exercido por pessoa leiga.

Assim, a defesa somente será exercida de forma ampla se for técnica, sendo este um direito indisponível a parte, devendo nos autos ter advogado devidamente habilitado, e em sua ausência deverá ser nomeado defensor público.

94

Isso porque a Constituição da República de 1988, atribuiu ao princípio em comento, assim como os demais, o status de garantia fundamental a fim de que os litigantes possam gozar de igualdade na relação processual (BRASIL, 1988).

Anote-se, ainda, que o princípio da ampla defesa “está vinculado à oportunidade de ofere- cer alegações e provas admitidas no direito, observadas as questões fáticas e jurídicas atinen- tes, em tempo e modo próprios para sua prática” (FREITAS; RIBEIRO, 2019, p.17)

Dessa forma, em hipótese alguma poderá haver supressão do seu exercício, sob pena de nulidade dos atos e decisões proferidas sem sua devida observância.

3.3 PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

É possível compreender ser este a base de todos os outros princípios e regras processuais.

Na Constituição da República, o princípio do devido processo legal, está previsto no inciso LIV, do art. 5º, a saber: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” (BRASIL, 1988).

Os processos existentes devem guardar conformidade com todo o ordenamento jurídico.

Nessa esteira, Fredie Didier explica que:

A locução “devido processo legal” corresponde à tradução para o português da expressão inglesa “due process of law”. Law, porém, significa Direito, e não lei. A observação é importante: o processo há de estar em conformidade com o Direito como um todo, e não apenas em consonância com a lei. (DIDIER, 2018, p. 87).

Portanto, este princípio está intimamente ligado a ideia de um processo constitucional, pelo fato de garantir a eficácia aos direitos fundamentais para existência de uma relação pro- cessual isonômica.

Acerca do tema, Humberto Theodoro Júnior afirma:

A garantia do devido processo legal, porém, não se exaure na observância das formas da lei para a tramitação das causas em juízo. Compreende algumas categorias fundamentais, como a garantia do juiz natural (CF, art. 5º, XXXVII) e do juiz competente (CF, art. 5º, LIII), a garantia de acesso à Justiça (CF, art.

5º, XXXV), de ampla defesa e contraditório (CF, art. 5º, LV) e, ainda, a de fun- damentação de todas as decisões judiciais (art. 93, IX). (THEODORO JUNIOR, 2018, p. 47).

Desse modo, deve ser assegurada a todos os litigantes a garantia de condições iguais para que eles possam trazer ao processo todos os elementos possíveis ao esclarecimento da verdade.

Entende José Miguel Garcia Medina entende que “o devido processo legal, consoante con- cepção tradicional e bastante ampla, no processo civil, subsume-se na garantia da ação e da defesa, em juízo. Assim considerado, o princípio acaba por compreender todos os demais”

(MEDINA, 2016, p.120).

Nessa linha, a Constituição da República de 1988 apresenta o princípio em comento sob duas dimensões: a formal e a substancial. A primeira diz respeito a observâncias das garantias processuais durante a elaboração de uma norma, sendo voltada para o legislador de forma a

95

delimitar a sua atuação. A segunda, por sua vez, se refere a observância do devido processo legal quando houver atuação estatal, vale dizer, do magistrado, que deverá observar o procedi- mento adequado para a prática de seus atos, sob pena de incorrer em nulidade (BRASIL, 1988).

Dessa forma, só existirá o devido processo legal se, para realizações de atos, assim como para proferir decisões, forem observados todos os demais princípios constitucionais, ainda que se esteja diante de uma medida urgente.