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ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DOS MEIOS DE VALORAÇÃO DA PROVA PERICIAL

2 PRINCÍPIOS INFORMADORES DA PROVA PERICIAL NO PROCESSO CIVIL

4. ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DOS MEIOS DE VALORAÇÃO DA PROVA PERICIAL

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4. ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DOS MEIOS DE

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de todos os meios probatórios produzidos, e fundamentar o motivo de acolher e rejeitar cada uma delas.

Ultrapassado o sistema tarifado, surge o modelo de valorização por meio da convicção íntima do juiz. Aqui a liberdade valorativa é extremamente exagerada, e o juiz passa a ter total liberdade de proferir suas decisões sem a necessidade de justificar ou motivar, bastando deci- dir com base em suas experiências e impressões pessoais estabelecidas em relação ao pro- cesso, ainda que não sejam dotadas de racionalidade.

Com este pequeno esboço sobre o sistema de convicção íntima do juiz, percebe-se que houve a extinção total daquela figura passiva dada ao magistrado nos sistemas anteriores.

Porém, essa abertura interpretativa sem limites é um ponto extremamente negativo. Ora, dar ao juiz o direito de decidir como bem entender, proporciona total desequilíbrio e insegurança aos jurisdicionados (LUNA, 2018).

O atual ordenamento jurídico, em tese, não tem espaço para esse tipo de decisão, pois, de acordo com o inciso IX, artigo 93 da Constituição Brasileira, todos os julgamentos deverão ser públicos, e com decisões devidamente fundamentadas, sob pena de declaração de nulidade do ato (BRASIL, 1988). Persistem resquícios deste sistema no âmbito do Direito Penal, especi- ficamente quanto ao Tribunal do Júri, no qual os integrantes são pessoas leigas, decidindo em sigilo, e com base em suas impressões pessoais sem expressar a motivação que os fizeram chegar a tal conclusão.

Sendo o Direito um estudo baseado nas ciências culturais, quando surgem dois extremos, é necessário buscar uma forma de adequar as normas à realidade social. Dessa forma, diante de dois extremos, quais sejam o sistema de prova tarifada e o da livre convicção, foi necessá- rio criar um sistema intermediário, chamado de “livre convencimento motivado”, adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro, no qual persiste a aplicação do livre convencimento do juiz, mas, dessa vez, por força constitucional, impõe-se que a sentença proferida detenha de um convencimento racional e motivado (LUNA, 2018).

Tal forma de valoração da prova dava ao magistrado a liberdade de escolher qual objeto fundamentaria melhor sua decisão, sendo necessário fundamentar todas as provas que foram produzidas nos autos, mas tão somente aquelas que contribuíram para formação do seu con- vencimento.

Porém, com o passar do tempo os critérios do sistema de livre convencimento motivado foi se distorcendo, e o magistrado passou a atuar discricionariamente, estipulando critérios pessoais sobre as provas que seriam necessárias para formar seu convencimento. Todavia, este adjetivo “livre” era mal interpretado, como se o juiz pudesse valorar a prova como bem entendesse (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2015, p. 103), o que estava ocasionando uma grande frustração tanto aos operadores do direito, quanto aos jurisdicionados

Com o advento do CPC/15 (BRASIL, 2015), a palavra “livremente” foi retirada do texto normativo, antes previsto no artigo 131 do Código de Processo Civil de 1973 (BRASIL, 1973), criando barreiras para impedir justamente que o magistrado conduza suas decisões com base em uma valoração discricionária. Surge a partir daí uma discussão sobre o nascimento de um novo modelo de valoração de prova.

Nessa esteira, todas as referências de “livre convencimento motivado” foram extintas do texto normativo, não sendo mais correta a utilização deste jargão para fundamentar as deci-

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sões judiciais (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2015, p. 103). Dessa forma, não basta que o juiz se convença, ele tem o dever de também convencer as partes que sua decisão é a mais pertinente para resolução do caso. Assim, com esta mudança trazida pela Lei nº 13.105/15 (BRASIL, 2015), os jurisdicionados passaram a ter seu direito ao contraditório mais amplo, além de participar efetivamente da construção da decisão judicial, tornando o sistema ainda mais democrático.

4.1 CRITÉRIOS QUE DEVEM SER ESTABELECIDOS PARA APRECIAÇÃO E VALORAÇÃO DA PROVA PERICIAL

Diante de toda a construção argumentativa exposta até aqui, já é exequível a delimitação de alguns problemas que necessitam ser solucionados, para começar a prever uma prova peri- cial de qualidade e efetividade nas demandas judiciais civis brasileiras. Conforme exposto, o primeiro problema está na grande confiança que o magistrado atribui à prova pericial, agindo praticamente como um ratificador de laudos periciais, o que é totalmente inaceitável no atual sistema jurídico brasileiro. O segundo problema está atribuído à ausência de observação das mudanças ocorridas no sistema de valorização da prova, no qual a inadmissibilidade da prova pericial tem sido realizada por meio de critérios meramente subjetivos (LUNA, 2018).

Ao longo deste artigo, demonstrou-se que a prova pericial, como todas as outras, possui algum ponto falho ou incontroverso. Todavia, na maioria das vezes, o magistrado realiza seu juízo de valorização privilegiando o laudo pericial, sem a devida análise, e se amparando ao fato de ser uma prova dotada de cunho especializado.

Antes de dar prosseguimento na problematização, deixa-se claro que não se defende a ideia de afastamento das provas baseadas em conhecimentos técnicos científicos, pois não há dúvidas do quanto são importantes para proporcionar ao magistrado um entendimento mais claro dos fatos, bem como proferir decisões pertinentes para solução do conflito. Entretanto, não se permite a exaltação da prova técnica para alterar o resultado final do processo, sendo essa a problemática trazida.

Retomando a análise sobre as falhas da prova pericial, Didier Junior, Braga e Oliveira (2015), entendem que não existe uma verdade absoluta, mas sim, relativa, por meio da qual se despen- dem esforços tanto das partes quanto do magistrado para se aproximar de uma verdade.

Fato é que, muitos laudos periciais são dotados de linguagem compreendida exclusiva- mente por uma pessoa especialista na área, que, ao final, conclui seu relatório em palavras objetivas que decretam o sim/não. Nesses casos, o juiz não deveria sequer conhecer o docu- mento, pois o próprio artigo 473 do Código de Processo Civil estipula os elementos que devem constar no laudo pericial, e uma das premissas mais importantes que o legislador fez constar expressamente é a linguagem simples e coerente (BRASIL, 2015).

Todavia, o Judiciário brasileiro, além de moroso, está sobrecarregado de demandas, o que faz com que o juiz deposite uma confiança exacerbada no perito, dificilmente confrontando o laudo pericial a fim de requerer a adequação aos parâmetros legalmente exigidos. Ao revés, geralmente, as decisões que envolvem esse tipo de prova são fundamentadas conferindo um alto índice de credibilidade ao laudo pericial.

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Infelizmente, quando se trata de laudo pericial, o juiz esquece todos os procedimentos a serem seguidos, bem como o seu dever de analisar criteriosamente os elementos probatórios para proferir decisões claras e dotadas de segurança.