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cumprimento do devido processo legal ou ainda que sejam garantidos princípios como contra- ditório ou ampla defesa.

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Pelo uso deste instituto, milhares de casos concretos serão enquadrados em uma tese que supostamente abarca toda matéria ali discutida, sem que haja a observância dos princípios do contraditório, ampla defesa e do devido processo legal.

O processo somente será considerado devido quando contemplar a garantia do contradi- tório e ampla defesa; quando tiver duração razoável e garantia do acesso à jurisdição; quando respeitar a publicidade adequada e o regramento do juiz natural (DIDIER JR., 2015).

Ao implantar o IRDR e o julgamento em massa com a justificativa de uniformização da jurisprudência, não será garantido a todos aqueles litigantes daquela matéria tratada, a opor- tunidade de se manifestarem a respeito do julgamento de seu caso específico, sendo de plano inserido em uma tese, de modo que estará se suprimindo o direito constitucional de contradi- tório e ampla defesa deste cidadão.

O indivíduo será afetado por aquela decisão sem que dela tenha participado ou tenha tido a oportunidade de ter influência sobre seu resultado, não podendo esquivar-se, porém, de sua oponibilidade.

Seria a realização de audiências públicas previstas no §1º do art. 983 do CPC/15 suficien- tes para de fato dar ciência de todos e a oportunidade de os interessados exercerem seu direito de contraditório?

Ainda é cedo para se dizer sobre a efetividade deste novo procedimento e de seus efei- tos práticos na sociedade, mas é certo que a condução do IRDR, sob o pretexto de assegurar garantias fundamentais, pode acabar por inviabilizá-los.

7 CONCLUSÃO

Apesar de ainda haver muitas diferenças entre os sistemas do common law e civil law, fato é que estes dois modelos vêm em uma crescente aproximação ao longo do tempo, de modo que, países do civil law tem dado espaço para os precedentes judiciais.

No Brasil, essa aproximação vem sendo muito observada, principalmente com o advento do CPC/15 que traz em seu texto a determinação da vinculação do entendimento dos magis- trados e dos Tribunais Estaduais à orientação dada pelos Tribunais Superiores, por meio dos precedentes. O CPC/15 trouxe ainda o instituto do IRDR como inovação.

Percebe-se a patente valorização dos precedentes como nova fonte do direito, de modo que estes vêm perdendo seu caráter sugestivo e ganhando cunho cogente. A justificativa para essa mudança de paradigma está ligada à tentativa de preservação da segurança jurídica e a uniformização jurisprudencial.

Inegável que a adoção deste novo modelo possui diversos aspectos positivos e que em muito podem contribuir para que um mesmo tema jurídico tenha decisões judiciais uniformes, entretanto, é preciso fazer uma análise crítica do sistema judiciário brasileiro.

É necessário que os magistrados façam uma análise minuciosa do núcleo da decisão tomada como precedente e compare-as ao caso concreto. Assim, após uma decisão funda-

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mentada e levando em conta as peculiaridades daquela questão e, se de fato ela se encaixa no precedente.

No que tange ao IRDR, entende-se que há a imposição de uma decisão fixada por uma tese jurídica construída, sem que fosse dada a oportunidade das partes se manifestarem e exercerem seu direito de contraditório e ampla defesa.

Assim, não se pode deixar de lado a necessidade de adequação e até mesmo preparação do judiciário brasileiro para o uso deste novo tipo de “procedimento”, tendo em vista que a sin- gela importação destes mecanismos concebidos em culturas que muito diferem da brasileira podem gerar prejuízos aos bens que inicialmente procuravam proteger: segurança jurídica, contraditório, ampla defesa e o Estado Democrático de Direito.

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A JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA