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O dever de fundamentação das decisões judiciais, garantia constitucional e direito fun- damental do processo compõe, ao lado de outros princípios, o conteúdo mínimo do devido processo constitucional, necessário para proteger os cidadãos contra o exercício abusivo e arbitrário do poder do Estado.

Por sua vez, as decisões judiciais, enquanto normas jurídicas individualizadas, devem conter todas as razões lógico-jurídicas utilizadas para a construção da verdade possível e da tomada de decisão, de forma que as partes tenham total conhecimento dos motivos decisórios

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para o efetivo exercício da ampla defesa, e se permita à comunidade o exercício do controle externo dos atos processuais.

A sua inobservância acarreta nulidade, tal como previsto em norma infraconstitucional, porquanto contraria garantia fundamental. Há, todavia, exceção à regra, como é o caso da deci- são de suspeição do juiz por motivo de foro íntimo, segundo disposto no art. 145, §1º do CPC/15 (BRASIL, 2015).

A dispensa em declarar as razões de foro íntimo para se afastar do exercício da jurisdição em determinado processo judicial tem como fundamento a proteção ao direito de intimidade do magistrado que, contudo, não pode ser motivo para deixar de aplicar princípios estruturan- tes do Estado de Direito, como o é o devido processo constitucional e corolários.

Em juízo de ponderação dos princípios é possível preservar o direito à intimidade do magistrado, tornando sigilosa a decisão de suspeição por motivos de foro íntimo e restringindo a publicidade externa do ato processual. Contudo, deve estar fundamentada, permitindo que os sujeitos processuais possam exercer o controle interno e o direito à ampla defesa, efetivando o princípio do devido processo constitucional.

Portanto, a fundamentação da decisão de suspeição do juiz por motivo de foro íntimo é imprescindível, reconhecendo-se inconstitucional a dispensa legal.

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